Após boicotes e protestos, o presidente Jair Bolsonaro recebeu o prêmio de personalidade do ano, oferecido pela Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos, nesta terça-feira em Dallas, no Texas. O evento de duas horas contou com um discurso de 11 minutos do presidente, uma continência prestada por Bolsonaro à bandeira americana e o bordão de governo refeito: “Brasil e Estados unidos acima de tudo”.
Na segunda parte do slogan governamental, contudo, Bolsonaro errou a frase. No lugar de “Deus acima de todos”, o presidente brasileiro emendou: “Brasil acima de todos”.
O evento no Texas foi um almoço preparado para cerca de 100 empresários organizado às pressas depois que Bolsonaro cancelou a ida Nova York, onde receberia a premiação, diante críticas, inclusive do prefeito nova-iorquino, Bill de Blasio, que classificou Bolsonaro como perigoso e preconceituoso. O Itamaraty articulou a agenda no Texas, um Estado conservador, e a organização World Affairs Council aceitou receber o evento.
“Lamento muito o ocorrido nos últimos dias. Eu não posso ir na casa de uma pessoa onde alguém da sua família não me queira bem, mas meu amor por todo os Estados Unidos, inclusive os nova-iorquinos, continuará da mesma forma”, afirmou Bolsonaro, que disse ainda que o Brasil de hoje é “amigo dos EUA, respeita os EUA e quer o povo americano, os empresários americanos, ao nosso lado”.
Bolsonaro classificou como um “milagre” sua chegada ao poder. Ele fez críticas à mídia brasileira e a governos anteriores. Ao falar sobre as manifestações de terça no Brasil, contra o bloqueio do orçamento da educação, Bolsonaro afirmou que “a esquerda brasileira infiltrou e tomou não só a imprensa, mas também as universidades e as escolas do ensino médio de fundamental”. Bolsonaro afirmou ainda que a política no Brasil era de antagonismo aos EUA, mas que agora há intenção de “fazer comércio, assinar muitos acordos, trazer mais que a felicidade para esses dois países”.
Na porta do evento, cerca de 20 pessoas protestavam contra a homenagem. Os protestantes levaram ao local bandeiras da causa LGBT, cartazes contra o fascismo escritos em inglês e português e gritavam “Ele não”. No início do almoço, um outro grupo de cerca de dez pessoas vestidas com a camisa da seleção brasileira de futebol faziam um ato de apoio a Bolsonaro. Os apoiadores deixaram a portaria logo depois da entrada do presidente.
O almoço durou duas horas e foi muito menor do que a homenagem de Nova York, feita na terça-feira à noite, e sem os ares de festa. Tradicionalmente, o evento é realizado no Museu de História Natural de Nova York. Neste ano, depois de o museu – e mais uma casa de eventos – se recusar a sediar uma homenagem a Bolsonaro, o jantar de gala da última terça-feira foi realizado em uma das salas do hotel Marriott, na Times Square.
Coube a Alexandre Bettamio, presidente da Câmara de Comércio, viajar de Nova York para Dallas para premiar Bolsonaro. No discurso de homenagem, o executivo afirmou que era a primeira vez que a homenagem acontece fora de Nova York, mas disse que isso mostra “a tremenda admiração” que brasileiros têm pelos Estados Unidos. Na terça-feira, Bettamio teve de segurar por duas horas e meia, os discursos no evento de premiação que teve a ausência dos premiados em Nova York.
O prêmio é tradicionalmente entregue a um brasileiro e um americano. Neste ano, os homenageados foram Bolsonaro e o chefe da diplomacia americana, Mike Pompeo. Nenhum dos dois compareceu ao jantar de gala para 1 mil empresários em Nova York. Para Dallas, Pompeo enviou um representante. Em vídeo transmitido no evento, Pompeo agradeceu a homenagem e disse que há um “elo muito forte entre os dois países”. “Acho que presidente Bolsonaro vai concordar comigo de que últimos meses têm sido fantásticos na cooperação (entre os dois países)”, afirmou Pompeo na mensagem.
“Presidente Trump e Bolsonaro estão tentando eliminar alguns obstáculos entre os países”, disse Pompeo, que mencionou ainda o apoio político americano ao desejo do Brasil de dar início ao processo de adesão à OCDE.
Antes de Bolsonaro, ministros da comitiva fizeram breves discursos aos investidores. O ministro da Economia, Paulo Guedes, falou que “a esquerda tentou unificar a América Latina com ideias obsoletas”, e que Bolsonaro irá “unificar a América Latina com uma economia de mercado”.
Sem dizer a quem se referia, Bolsonaro falou ainda que "quem até há pouco ocupava o governo" matou um capitão no período de ditadura militar no Brasil. "Quem até há pouco ocupava o governo teve suas mãos manchadas de sangue na luta armada, matando inclusive um capitão, como eu sou capitão, naqueles anos tristes que tivemos no passado", disse Bolsonaro. Na sequência, o presidente brasileiro fez uma homenagem a Charles Chander, capitão americano que foi morto na luta armada no período de ditadura.
Pompeo diz que Bolsonaro e Trump tentam eliminar obstáculos entre os países
O secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, afirmou há pouco que os presidentes do Brasil, Jair Bolsonaro, e dos Estados Unidos, Donald Trump, tentam eliminar os obstáculos entre os dois países. "Vamos continuar nossas conversas e o diálogo de comércio e de negócios", afirmou Pompeo, num vídeo transmitido na cerimônia de entrega do Prêmio Personalidade do Ano, entregue aos dois presidentes pela Câmara de Comércio Brasil-EUA. O secretário de Estado dos EUA não compareceu à solenidade.
Pompeo afirmou que os dois países têm um elo forte, com enfoque na segurança, prosperidade, democracia e direitos humanos. Ele disse também que está "motivado" e que há uma "dedicação" de Bolsonaro para melhorar a economia, com reformas. "Eu gostaria de continuar o trabalho que temos com Bolsonaro, de oportunidade econômica e paz entre os dois países", disse.
Pompeo disse também que quer criar um fórum de energia para melhorar a relação de negócios entre os dois países. / COLABOROU DANIEL GALVÃO