Bolsonaro se reúne com deputada de partido da extrema-direita alemã


Beatrix von Storch já havia sido recebida pelos deputados Bia Kicis e Eduardo Bolsonaro

Por Gustavo Côrtes

BRASÍLIA – O presidente Jair Bolsonaro se encontrou com a deputada alemã Beatrix von Storch, no Palácio do Planalto. Neta de um ministro de Adolf Hitler, ela integra o partido Alternativa para a Alemanha, sigla acusada de difundir ideias neonazistas. 

Bolsonaro recebeu parlamentar alemãde partido da extrema-direita,investigado pordifundir ideias neonazistas. Foto: Reprodução/Instagram

Uma foto do encontro, que não estava previsto na agenda oficial, foi publicada pela parlamentar em seu perfil no Instagram nesta segunda-feira. “Um encontro impressionante no Brasil: gostaria de agradecer ao Presidente brasileiro a amistosa recepção e estou impressionada com sua clara compreensão dos problemas da Europa e dos desafios políticos de nosso tempo”, escreveu Beatrix. 

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Ela é investigada pelo serviço de Inteligência alemão por propagar ideias neonazistas, xenofóbicas e extremistas. Na foto, além da parlamentar e de Bolsonaro, também está o marido de Beatrix, Sven von Storch.

Na semana passada, Beatrix já havia se reunido com os deputados federais Eduardo Bolsonaro (PSL-DF) e Bia Kicis (PSL-DF), presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara. Tanto o Museu do Holocausto quanto a Confederação Israelita do Brasil (Conib) criticaram o encontro, sem citar os nomes dos envolvidos. Beatrix é neta de Lutz Graf Schwer, que foi ministro das Finanças de Hitler.

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“Alternativa para a Alemanha é um partido político alemão de extrema-direita, fundado em 2013, com tendências racistas, sexistas, islamofóbicas, antissemitas, xenófobas e forte discurso anti-imigração”, disse o Museu do Holocausto em nota no dia do encontro de Beatriz com Bia Kicis. “É evidente a preocupação e a inquietude que esta aproximação entre tal figura parlamentar brasileira e Beatrix von Storch representam para os esforços de construção de uma memória coletiva do Holocausto no Brasil e para nossa própria democracia.”

“A Conib lamenta a recepção dada a representante do partido Alternativa para a Alemanha (AfD) em Brasília. Trata-se de partido extremista, xenófobo, cujos líderes minimizam as atrocidades nazistas e o Holocausto. O Brasil é um país diverso, pluralista, que tem tradição de acolhimento a imigrantes. A Conib defende e busca representar a tolerância, a diversidade e a pluralidade que definem a nossa comunidade, valores estranhos a esse partido xenófobo e extremista”, afirmou a entidade nesta segunda-feira.

Banida do Twitter

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Em 2018, Beatrix foi temporariamente banida do Twitter e investigada por discurso de ódio após chamar muçulmanos de "horda de estupradores e bárbaros".  A deputada questionou a decisão da polícia da cidade de Colônia de divulgar uma mensagem em árabe como parte de uma campanha para divulgar o tema das festas de fim de ano: “Comemore - com respeito”, dizia a mensagem, postada em inglês, francês e persa, língua oficial de países como Irã, ‎Afeganistão e ‎Tajiquistão‎. 

“O que diabos há de errado com este país? Por que a página oficial da polícia tuíta em árabe?”, escreveu Beatrix em 31 de dezembro. “Eles estão tentando apaziguar as hordas de homens bárbaros, muçulmanos e estupradores?”. O post foi excluído imediatamente.

‘Alternativa para a Alemanha’

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O Alternativa para a Alemanha foi fundado em 2013 por um grupo de conservadores de elite, muitos deles haviam crescido em meio aos membros da União Democrata-Cristã (CDU), partido liderado por Merkel. Eles estavam frustrados com o que viam como uma mudança de rumo das políticas, que estariam se encaminhando mais para o centro. Em 2015, após a chegada de quase 1 milhão de imigrantes à Alemanha procurando asilo, o AfD focou em segurança doméstica e imigração. Sua retórica se tornou cada vez mais nacionalista, populista e até mesmo, segundo alguns críticos, racista.

Os membros do AfD prometem restaurar a lei e a ordem e um senso de orgulho nacional na Alemanha. Após os resultados da eleição, manifestantes criticaram a retórica nacionalista do partido. O grupo também prometeu aumentar a segurança nas fronteiras, recuar contra a integração da União Europeia, e se opor ao uso do dinheiro dos contribuintes alemães para resgatar bancos estrangeiros. O AfD chega a se aproximar do sentimento anti-islâmico, rejeitando a linguagem usada por Merkel e ex-presidentes, e dizendo que uma religião que não respeita a Constituição e as leis do país não é compatível com a democracia alemã.

Cerca de 6 milhões de pessoas votaram no Alternativa para a Alemanha nas eleições para o parlamento alemão em 2016. A sigla ganhou destaque em meio à crise da imigração na Europa e a ascensão de seus quadros, como von Storch, se deu justamente na disseminação de suas ideias consideradas mais radicais e extremistas. Foi em 2015, após a chegada de quase 1 milhão de imigrantes à Alemanha procurando asilo, que o AfD focou em segurança doméstica e imigração. Sua retórica se tornou cada vez mais nacionalista, populista e extremista. 

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Para o cientista social Daniel Douek, diretor do Instituto Brasil-Israel, o encontro de Bolsonaro com von Storch é uma tentativa de mostrar a seus respectivos apoiadores que existem, no exterior, pessoas com ideias convergentes às suas. Uma forma de diminuir a sensação do próprio isolamento diante da queda de popularidade que enfrentam. “O viés nacionalista que caracteriza discursos de líderes autoritários por vezes encobre as tentativas de se criar um eixo global em torno de bandeiras comuns. Trata-se de uma demonstração de força. Identificam-se aliados de fora para melhor combater os inimigos de dentro.” 

3 perguntas para... 

Carolina Pavese, professora de Relações Internacionais da ESPM

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1. O perfil do AfD pode ser considerado neonazista?

O AfD foi criado em 2013 a partir de uma mobilização de acadêmicos, com uma agenda crítica em especial à participação da Alemanha na zona do euro. Em 2015. o partido deu uma guinada à extrema-direita e capitalizou em cima da crise de migração se opondo à política de acolhimento de refugiados de Merkel. A Alemanha tem uma política clara que não permite a participação de grupos declaradamente neonazistas na política institucionalizada. Assim, o AfD não se coloca explicitamente com partido neonazista e busca, muitas vezes em vão, desvincular-se dessa associação. Na prática, porém, isso tem sido cada vez mais difícil.

2. Qual seria o interesse do contato de von Sporch com os bolsonaristas?

Beatrix será candidata nas eleições gerais de setembro de 2021 na Alemanha. Ela tem uma agenda que endossa toda a agenda do partido, uma agenda conservadora, nacionalista, anti-imigração, que se encontra limitada a transitar e a dialogar com políticos de outros países que tenham uma agenda que se identifique com a dela. O AfD não permite diálogo democrático, rejeita isso. Ela só vai ter diálogo com seus análogos. A visita ao Brasil tem o papel simbólico de legitimar a existência de seu próprio partido e de mostrar que há reconhecimento internacional, mesmo que limitado.

3. O que Bolsonaro sinaliza ao receber a parlamentar e aparecer a seu lado mesmo depois de duras críticas contra deputados que fizeram o mesmo?

O Brasil atravessa uma crise de reputação internacional sem precedentes. São poucos os chefes de Estado que gostariam de ser vistos como aliados do presidente brasileiro. Sobraram poucas oportunidades de diálogo. O que sobra de estratégia é se agarrar às poucas e patéticas oportunidades de estar com personalidades internacionais. Aí, sobram representantes de partidos que se identificam com a linha de governo bolsonarista. O encontro com Beatrix é também uma provocação à oposição, para incitar e tentar chocar a oposição ao colocar-se ao lado de líderes de extrema-direita. /COLABOROU MATHEUS LARA

BRASÍLIA – O presidente Jair Bolsonaro se encontrou com a deputada alemã Beatrix von Storch, no Palácio do Planalto. Neta de um ministro de Adolf Hitler, ela integra o partido Alternativa para a Alemanha, sigla acusada de difundir ideias neonazistas. 

Bolsonaro recebeu parlamentar alemãde partido da extrema-direita,investigado pordifundir ideias neonazistas. Foto: Reprodução/Instagram

Uma foto do encontro, que não estava previsto na agenda oficial, foi publicada pela parlamentar em seu perfil no Instagram nesta segunda-feira. “Um encontro impressionante no Brasil: gostaria de agradecer ao Presidente brasileiro a amistosa recepção e estou impressionada com sua clara compreensão dos problemas da Europa e dos desafios políticos de nosso tempo”, escreveu Beatrix. 

Ela é investigada pelo serviço de Inteligência alemão por propagar ideias neonazistas, xenofóbicas e extremistas. Na foto, além da parlamentar e de Bolsonaro, também está o marido de Beatrix, Sven von Storch.

Na semana passada, Beatrix já havia se reunido com os deputados federais Eduardo Bolsonaro (PSL-DF) e Bia Kicis (PSL-DF), presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara. Tanto o Museu do Holocausto quanto a Confederação Israelita do Brasil (Conib) criticaram o encontro, sem citar os nomes dos envolvidos. Beatrix é neta de Lutz Graf Schwer, que foi ministro das Finanças de Hitler.

“Alternativa para a Alemanha é um partido político alemão de extrema-direita, fundado em 2013, com tendências racistas, sexistas, islamofóbicas, antissemitas, xenófobas e forte discurso anti-imigração”, disse o Museu do Holocausto em nota no dia do encontro de Beatriz com Bia Kicis. “É evidente a preocupação e a inquietude que esta aproximação entre tal figura parlamentar brasileira e Beatrix von Storch representam para os esforços de construção de uma memória coletiva do Holocausto no Brasil e para nossa própria democracia.”

“A Conib lamenta a recepção dada a representante do partido Alternativa para a Alemanha (AfD) em Brasília. Trata-se de partido extremista, xenófobo, cujos líderes minimizam as atrocidades nazistas e o Holocausto. O Brasil é um país diverso, pluralista, que tem tradição de acolhimento a imigrantes. A Conib defende e busca representar a tolerância, a diversidade e a pluralidade que definem a nossa comunidade, valores estranhos a esse partido xenófobo e extremista”, afirmou a entidade nesta segunda-feira.

Banida do Twitter

Em 2018, Beatrix foi temporariamente banida do Twitter e investigada por discurso de ódio após chamar muçulmanos de "horda de estupradores e bárbaros".  A deputada questionou a decisão da polícia da cidade de Colônia de divulgar uma mensagem em árabe como parte de uma campanha para divulgar o tema das festas de fim de ano: “Comemore - com respeito”, dizia a mensagem, postada em inglês, francês e persa, língua oficial de países como Irã, ‎Afeganistão e ‎Tajiquistão‎. 

“O que diabos há de errado com este país? Por que a página oficial da polícia tuíta em árabe?”, escreveu Beatrix em 31 de dezembro. “Eles estão tentando apaziguar as hordas de homens bárbaros, muçulmanos e estupradores?”. O post foi excluído imediatamente.

‘Alternativa para a Alemanha’

O Alternativa para a Alemanha foi fundado em 2013 por um grupo de conservadores de elite, muitos deles haviam crescido em meio aos membros da União Democrata-Cristã (CDU), partido liderado por Merkel. Eles estavam frustrados com o que viam como uma mudança de rumo das políticas, que estariam se encaminhando mais para o centro. Em 2015, após a chegada de quase 1 milhão de imigrantes à Alemanha procurando asilo, o AfD focou em segurança doméstica e imigração. Sua retórica se tornou cada vez mais nacionalista, populista e até mesmo, segundo alguns críticos, racista.

Os membros do AfD prometem restaurar a lei e a ordem e um senso de orgulho nacional na Alemanha. Após os resultados da eleição, manifestantes criticaram a retórica nacionalista do partido. O grupo também prometeu aumentar a segurança nas fronteiras, recuar contra a integração da União Europeia, e se opor ao uso do dinheiro dos contribuintes alemães para resgatar bancos estrangeiros. O AfD chega a se aproximar do sentimento anti-islâmico, rejeitando a linguagem usada por Merkel e ex-presidentes, e dizendo que uma religião que não respeita a Constituição e as leis do país não é compatível com a democracia alemã.

Cerca de 6 milhões de pessoas votaram no Alternativa para a Alemanha nas eleições para o parlamento alemão em 2016. A sigla ganhou destaque em meio à crise da imigração na Europa e a ascensão de seus quadros, como von Storch, se deu justamente na disseminação de suas ideias consideradas mais radicais e extremistas. Foi em 2015, após a chegada de quase 1 milhão de imigrantes à Alemanha procurando asilo, que o AfD focou em segurança doméstica e imigração. Sua retórica se tornou cada vez mais nacionalista, populista e extremista. 

Para o cientista social Daniel Douek, diretor do Instituto Brasil-Israel, o encontro de Bolsonaro com von Storch é uma tentativa de mostrar a seus respectivos apoiadores que existem, no exterior, pessoas com ideias convergentes às suas. Uma forma de diminuir a sensação do próprio isolamento diante da queda de popularidade que enfrentam. “O viés nacionalista que caracteriza discursos de líderes autoritários por vezes encobre as tentativas de se criar um eixo global em torno de bandeiras comuns. Trata-se de uma demonstração de força. Identificam-se aliados de fora para melhor combater os inimigos de dentro.” 

3 perguntas para... 

Carolina Pavese, professora de Relações Internacionais da ESPM

1. O perfil do AfD pode ser considerado neonazista?

O AfD foi criado em 2013 a partir de uma mobilização de acadêmicos, com uma agenda crítica em especial à participação da Alemanha na zona do euro. Em 2015. o partido deu uma guinada à extrema-direita e capitalizou em cima da crise de migração se opondo à política de acolhimento de refugiados de Merkel. A Alemanha tem uma política clara que não permite a participação de grupos declaradamente neonazistas na política institucionalizada. Assim, o AfD não se coloca explicitamente com partido neonazista e busca, muitas vezes em vão, desvincular-se dessa associação. Na prática, porém, isso tem sido cada vez mais difícil.

2. Qual seria o interesse do contato de von Sporch com os bolsonaristas?

Beatrix será candidata nas eleições gerais de setembro de 2021 na Alemanha. Ela tem uma agenda que endossa toda a agenda do partido, uma agenda conservadora, nacionalista, anti-imigração, que se encontra limitada a transitar e a dialogar com políticos de outros países que tenham uma agenda que se identifique com a dela. O AfD não permite diálogo democrático, rejeita isso. Ela só vai ter diálogo com seus análogos. A visita ao Brasil tem o papel simbólico de legitimar a existência de seu próprio partido e de mostrar que há reconhecimento internacional, mesmo que limitado.

3. O que Bolsonaro sinaliza ao receber a parlamentar e aparecer a seu lado mesmo depois de duras críticas contra deputados que fizeram o mesmo?

O Brasil atravessa uma crise de reputação internacional sem precedentes. São poucos os chefes de Estado que gostariam de ser vistos como aliados do presidente brasileiro. Sobraram poucas oportunidades de diálogo. O que sobra de estratégia é se agarrar às poucas e patéticas oportunidades de estar com personalidades internacionais. Aí, sobram representantes de partidos que se identificam com a linha de governo bolsonarista. O encontro com Beatrix é também uma provocação à oposição, para incitar e tentar chocar a oposição ao colocar-se ao lado de líderes de extrema-direita. /COLABOROU MATHEUS LARA

BRASÍLIA – O presidente Jair Bolsonaro se encontrou com a deputada alemã Beatrix von Storch, no Palácio do Planalto. Neta de um ministro de Adolf Hitler, ela integra o partido Alternativa para a Alemanha, sigla acusada de difundir ideias neonazistas. 

Bolsonaro recebeu parlamentar alemãde partido da extrema-direita,investigado pordifundir ideias neonazistas. Foto: Reprodução/Instagram

Uma foto do encontro, que não estava previsto na agenda oficial, foi publicada pela parlamentar em seu perfil no Instagram nesta segunda-feira. “Um encontro impressionante no Brasil: gostaria de agradecer ao Presidente brasileiro a amistosa recepção e estou impressionada com sua clara compreensão dos problemas da Europa e dos desafios políticos de nosso tempo”, escreveu Beatrix. 

Ela é investigada pelo serviço de Inteligência alemão por propagar ideias neonazistas, xenofóbicas e extremistas. Na foto, além da parlamentar e de Bolsonaro, também está o marido de Beatrix, Sven von Storch.

Na semana passada, Beatrix já havia se reunido com os deputados federais Eduardo Bolsonaro (PSL-DF) e Bia Kicis (PSL-DF), presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara. Tanto o Museu do Holocausto quanto a Confederação Israelita do Brasil (Conib) criticaram o encontro, sem citar os nomes dos envolvidos. Beatrix é neta de Lutz Graf Schwer, que foi ministro das Finanças de Hitler.

“Alternativa para a Alemanha é um partido político alemão de extrema-direita, fundado em 2013, com tendências racistas, sexistas, islamofóbicas, antissemitas, xenófobas e forte discurso anti-imigração”, disse o Museu do Holocausto em nota no dia do encontro de Beatriz com Bia Kicis. “É evidente a preocupação e a inquietude que esta aproximação entre tal figura parlamentar brasileira e Beatrix von Storch representam para os esforços de construção de uma memória coletiva do Holocausto no Brasil e para nossa própria democracia.”

“A Conib lamenta a recepção dada a representante do partido Alternativa para a Alemanha (AfD) em Brasília. Trata-se de partido extremista, xenófobo, cujos líderes minimizam as atrocidades nazistas e o Holocausto. O Brasil é um país diverso, pluralista, que tem tradição de acolhimento a imigrantes. A Conib defende e busca representar a tolerância, a diversidade e a pluralidade que definem a nossa comunidade, valores estranhos a esse partido xenófobo e extremista”, afirmou a entidade nesta segunda-feira.

Banida do Twitter

Em 2018, Beatrix foi temporariamente banida do Twitter e investigada por discurso de ódio após chamar muçulmanos de "horda de estupradores e bárbaros".  A deputada questionou a decisão da polícia da cidade de Colônia de divulgar uma mensagem em árabe como parte de uma campanha para divulgar o tema das festas de fim de ano: “Comemore - com respeito”, dizia a mensagem, postada em inglês, francês e persa, língua oficial de países como Irã, ‎Afeganistão e ‎Tajiquistão‎. 

“O que diabos há de errado com este país? Por que a página oficial da polícia tuíta em árabe?”, escreveu Beatrix em 31 de dezembro. “Eles estão tentando apaziguar as hordas de homens bárbaros, muçulmanos e estupradores?”. O post foi excluído imediatamente.

‘Alternativa para a Alemanha’

O Alternativa para a Alemanha foi fundado em 2013 por um grupo de conservadores de elite, muitos deles haviam crescido em meio aos membros da União Democrata-Cristã (CDU), partido liderado por Merkel. Eles estavam frustrados com o que viam como uma mudança de rumo das políticas, que estariam se encaminhando mais para o centro. Em 2015, após a chegada de quase 1 milhão de imigrantes à Alemanha procurando asilo, o AfD focou em segurança doméstica e imigração. Sua retórica se tornou cada vez mais nacionalista, populista e até mesmo, segundo alguns críticos, racista.

Os membros do AfD prometem restaurar a lei e a ordem e um senso de orgulho nacional na Alemanha. Após os resultados da eleição, manifestantes criticaram a retórica nacionalista do partido. O grupo também prometeu aumentar a segurança nas fronteiras, recuar contra a integração da União Europeia, e se opor ao uso do dinheiro dos contribuintes alemães para resgatar bancos estrangeiros. O AfD chega a se aproximar do sentimento anti-islâmico, rejeitando a linguagem usada por Merkel e ex-presidentes, e dizendo que uma religião que não respeita a Constituição e as leis do país não é compatível com a democracia alemã.

Cerca de 6 milhões de pessoas votaram no Alternativa para a Alemanha nas eleições para o parlamento alemão em 2016. A sigla ganhou destaque em meio à crise da imigração na Europa e a ascensão de seus quadros, como von Storch, se deu justamente na disseminação de suas ideias consideradas mais radicais e extremistas. Foi em 2015, após a chegada de quase 1 milhão de imigrantes à Alemanha procurando asilo, que o AfD focou em segurança doméstica e imigração. Sua retórica se tornou cada vez mais nacionalista, populista e extremista. 

Para o cientista social Daniel Douek, diretor do Instituto Brasil-Israel, o encontro de Bolsonaro com von Storch é uma tentativa de mostrar a seus respectivos apoiadores que existem, no exterior, pessoas com ideias convergentes às suas. Uma forma de diminuir a sensação do próprio isolamento diante da queda de popularidade que enfrentam. “O viés nacionalista que caracteriza discursos de líderes autoritários por vezes encobre as tentativas de se criar um eixo global em torno de bandeiras comuns. Trata-se de uma demonstração de força. Identificam-se aliados de fora para melhor combater os inimigos de dentro.” 

3 perguntas para... 

Carolina Pavese, professora de Relações Internacionais da ESPM

1. O perfil do AfD pode ser considerado neonazista?

O AfD foi criado em 2013 a partir de uma mobilização de acadêmicos, com uma agenda crítica em especial à participação da Alemanha na zona do euro. Em 2015. o partido deu uma guinada à extrema-direita e capitalizou em cima da crise de migração se opondo à política de acolhimento de refugiados de Merkel. A Alemanha tem uma política clara que não permite a participação de grupos declaradamente neonazistas na política institucionalizada. Assim, o AfD não se coloca explicitamente com partido neonazista e busca, muitas vezes em vão, desvincular-se dessa associação. Na prática, porém, isso tem sido cada vez mais difícil.

2. Qual seria o interesse do contato de von Sporch com os bolsonaristas?

Beatrix será candidata nas eleições gerais de setembro de 2021 na Alemanha. Ela tem uma agenda que endossa toda a agenda do partido, uma agenda conservadora, nacionalista, anti-imigração, que se encontra limitada a transitar e a dialogar com políticos de outros países que tenham uma agenda que se identifique com a dela. O AfD não permite diálogo democrático, rejeita isso. Ela só vai ter diálogo com seus análogos. A visita ao Brasil tem o papel simbólico de legitimar a existência de seu próprio partido e de mostrar que há reconhecimento internacional, mesmo que limitado.

3. O que Bolsonaro sinaliza ao receber a parlamentar e aparecer a seu lado mesmo depois de duras críticas contra deputados que fizeram o mesmo?

O Brasil atravessa uma crise de reputação internacional sem precedentes. São poucos os chefes de Estado que gostariam de ser vistos como aliados do presidente brasileiro. Sobraram poucas oportunidades de diálogo. O que sobra de estratégia é se agarrar às poucas e patéticas oportunidades de estar com personalidades internacionais. Aí, sobram representantes de partidos que se identificam com a linha de governo bolsonarista. O encontro com Beatrix é também uma provocação à oposição, para incitar e tentar chocar a oposição ao colocar-se ao lado de líderes de extrema-direita. /COLABOROU MATHEUS LARA

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