BRASÍLIA – A briga no União Brasil vai muito além da disputa paroquial pelo poder no Rio de Janeiro. Nascido da fusão do DEM com o PSL, em 2021, o partido já é chamado no meio político de “Desunião” e está rachado em vários Estados e no Congresso. A crise se agravou depois que a ministra do Turismo, Daniela Carneiro, e outros cinco deputados federais ingressaram com ação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), pedindo a desfiliação do União Brasil por “justa causa”. Agora, uma ala da bancada quer aproveitar o imbróglio para pressionar o governo a substituir a titular do Turismo.
Daniela e o seu grupo estão de malas prontas para o Republicanos, partido que tem ligações com a Igreja Universal do Reino de Deus e não comanda nenhum ministério. Não podem, porém, se filiar a outra legenda se não forem autorizados pelo TSE, pois, caso contrário, correm o risco de perder os mandatos. A lei eleitoral considera que o mandato de deputados e vereadores pertence ao partido e mudanças só podem ocorrer em situações específicas, como perseguição política, como alegam os dissidentes.
“Nós gastamos mais de R$ 60 milhões para eleger esses deputados. Não podemos abrir mão deles”, disse o presidente do União Brasil, Luciano Bivar (PE). Até neste ponto a sigla está dividida: uma ala quer que o União Brasil libere os insatisfeitos. Bivar, no entanto, afirma que irá até o fim para exigir “fidelidade partidária”.
O Palácio do Planalto tenta um acordo. A ideia é manter Daniela e “compensar” o União Brasil com outros cargos, como diretorias da Embratur, se a ministra for mesmo para o Republicanos. Na campanha do ano passado, Daniela e o prefeito de Belfort Roxo, Wagner Carneiro – marido dela, conhecido como Waguinho –, apoiaram Luiz Inácio Lula da Silva, contrariando o partido, que, apesar de se declarar “independente”, na prática ficou com Jair Bolsonaro. Lula até hoje acha que tem uma dívida com o casal. Daniela foi acusada de ser próxima de milicianos, mas o presidente achou a denúncia frágil.
“Essa decisão da ministra Daniela e do prefeito Waguinho, além de personalíssima, é pautada não pela relação do União Brasil com o governo, mas por uma questão política local”, disse ao Estadão o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha. “Então, esse é um tema que vai ser conduzido não pelo governo, mas dentro do partido. Nós teremos serenidade para conversar com todos, sem pressa.”
Sem entregas
A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, reclamou que o partido de Bivar não está “entregando” nada no plenário, embora tenha três ministérios (Turismo, Comunicações e Integração). Dirigentes da legenda rebatem e calculam que vão dar aproximadamente 40 votos ao governo, mais do que o MDB e o PSD. O União Brasil tem 59 deputados, 9 senadores e é a terceira maior bancada da Câmara.
Deputado reeleito, Bivar está em queda de braço com o ex-prefeito de Salvador ACM Neto, que antes presidia o DEM e hoje é secretário-geral do União Brasil. O embate, no entanto, não é apenas com Neto: há confronto aberto do presidente do partido com o líder da sigla na Câmara, Elmar Nascimento (BA), e com o senador Davi Alcolumbre (AP), padrinho das indicações para a equipe de Lula.
Em conversas reservadas, congressistas dizem que Bivar administra o partido como se fosse um “cartório”, sem ouvir “as bases”, fato contestado por ele. Antes, o deputado dirigia o PSL, legenda que elegeu Bolsonaro. Um ano e oito meses depois, no entanto, os dois romperam.
A cúpula do União Brasil também trava uma batalha na Justiça com o grupo do deputado Mendonça Filho (PE) pelo comando do diretório do partido em Pernambuco. No Rio, o conflito é com o prefeito de Belfort Roxo. Após perder o controle do diretório fluminense para Bivar e o vice-presidente do União Brasil, Antonio Rueda, Waguinho se filiou ao Republicanos, abrindo caminho para seu grupo. Bivar e Rueda também são acusados de emplacar apenas seus indicados em cargos estratégicos no governo e na prefeitura do Rio.
Na quarta-feira, 12, o presidente do Republicanos, Marcos Pereira (SP), reuniu parlamentares para um almoço, em Brasília, e abordou a questão do União Brasil. “Ele só queria comunicar a vinda da turma do Rio e explicou que vai fortalecer o partido no Estado. Reafirmou que, até 31 de dezembro de 2026, não entraremos na base do governo Lula”, disse a senadora Damares Alves (Republicanos-DF), ex-ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos na gestão de Bolsonaro.
Além dos problemas no Rio e em Pernambuco, há uma crise nas seções do União Brasil em São Paulo – onde o partido enfrenta um processo de desidratação após a derrota do PSDB na eleição para o Palácio dos Bandeirantes –, Mato Grosso do Sul, Ceará, Rio Grande do Sul e Amapá.
”Está se consolidando um sentimento anticúpula porque essas disputas contaminam o partido todo. Se o pessoal do Rio conseguir se desfiliar sem perder o mandato, vai ser um enxame de gente correndo para sair também”, afirmou o deputado Danilo Forte (União Brasil- CE).