Bruno e Dom: vítimas da tragédia anunciada com ativistas de direitos humanos; leia análise


Dados da ONU mostram que foram assassinados 174 defensores entre 2015 e 2019 no Brasil

Por Melina Girardi Fachin, Catarina Mendes Valente Ramos e Bianca Ketlyn Anderle Correia*
Atualização:

Bruno Pereira e Dom Phillips são defensores de direitos humanos e vítimas de desaparecimento forçado e homicídio na região amazônica do Vale do Javari. Mais do que isto: Bruno e Dom são vítimas de uma tragédia anunciada envolta pelo contexto sistêmico de violações contra o ambiente, os povos indígenas e os ativistas de direitos humanos no Brasil.

Dados da ONU mostram que, de 2015 a 2019, foram assassinados 174 defensores em nosso país, em um total de 1.323 mortes ao redor do mundo. Nas pautas ambiental, indigenista e de trabalhadores rurais, os dados são ainda mais alarmantes: em 2020, o Brasil se tornou o país com o quarto maior número de assassinatos de defensoras e defensores do meio ambiente no mundo, sendo os indigenistas os maiores alvos de ameaças.

Homens de diversas forças de segurança seguem nas buscas pelo indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips, desaparecidos na região do Vale do Javari, no extremo oeste do estado do Amazonas desde o dia 05.06.2022. Foto: Wilton Junior/Estadão
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Infelizmente, o desaparecimento forçado e o homicídio de Bruno e Dom apenas confirma este cenário de desproteção, agravado pelas violações estruturais de direitos humanos em relação à população indígena do Vale do Javari - alvo de pesca, garimpo, madeireiros ilegais, bem como de tráfico de drogas e de pessoas -; tudo fomentado pela ausência e desmonte de políticas públicas.

Convém lembrar que, na mesma região, em 2019, ocorreu o assassinato ainda não solucionado de Maxciel dos Santos, também servidor da FUNAI, causando sensação de impunidade. Soma-se a essa grave situação, as investigações estatais inefetivas e nada diligentes. Quando identificados os culpados materiais e intelectuais, na maior parte dos casos, não são levados à Justiça. Cristaliza-se, assim, preocupante condição de impunidade dos responsáveis por violência e assassinato de defensores e defensoras de direitos humanos.

Tudo isso corrobora para não estarmos diante de mais uma situação de desaparecimento, mas sim de um desaparecimento forçado. Este, segundo a Corte Interamericana de Direitos Humanos, comporta a privação de liberdade com intervenção direta de agentes do Estado ou sua aquiescência (omissão ou falta de diligência), qualificada pela recusa em reconhecer a detenção e revelar o destino ou paradeiro do interessado.

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O contexto sistemático de desproteção dos direitos dos defensores de direitos humanos, sobretudo ambientais e indígenas, associado à ausência de medidas estatais de devida diligência para esclarecimento das circunstâncias e responsabilização adequada, caracteriza, no presente caso, a aquiescência do Estado brasileiro pelo desaparecimento e ativa sua responsabilidade, interna e internacional.

*Melina Girardi Fachin: Professora associada da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e coordenadora do Núcleo de Estudos em Direitos Humanos da UFPR

Catarina Mendes Valente Ramos: Pesquisadora do Núcleo de Estudos em Direitos Humanos da UFPR

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Bianca Ketlyn Anderle Correia: Pesquisadora do Núcleo de Estudos em Direitos Humanos da UFPR

Bruno Pereira e Dom Phillips são defensores de direitos humanos e vítimas de desaparecimento forçado e homicídio na região amazônica do Vale do Javari. Mais do que isto: Bruno e Dom são vítimas de uma tragédia anunciada envolta pelo contexto sistêmico de violações contra o ambiente, os povos indígenas e os ativistas de direitos humanos no Brasil.

Dados da ONU mostram que, de 2015 a 2019, foram assassinados 174 defensores em nosso país, em um total de 1.323 mortes ao redor do mundo. Nas pautas ambiental, indigenista e de trabalhadores rurais, os dados são ainda mais alarmantes: em 2020, o Brasil se tornou o país com o quarto maior número de assassinatos de defensoras e defensores do meio ambiente no mundo, sendo os indigenistas os maiores alvos de ameaças.

Homens de diversas forças de segurança seguem nas buscas pelo indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips, desaparecidos na região do Vale do Javari, no extremo oeste do estado do Amazonas desde o dia 05.06.2022. Foto: Wilton Junior/Estadão

Infelizmente, o desaparecimento forçado e o homicídio de Bruno e Dom apenas confirma este cenário de desproteção, agravado pelas violações estruturais de direitos humanos em relação à população indígena do Vale do Javari - alvo de pesca, garimpo, madeireiros ilegais, bem como de tráfico de drogas e de pessoas -; tudo fomentado pela ausência e desmonte de políticas públicas.

Convém lembrar que, na mesma região, em 2019, ocorreu o assassinato ainda não solucionado de Maxciel dos Santos, também servidor da FUNAI, causando sensação de impunidade. Soma-se a essa grave situação, as investigações estatais inefetivas e nada diligentes. Quando identificados os culpados materiais e intelectuais, na maior parte dos casos, não são levados à Justiça. Cristaliza-se, assim, preocupante condição de impunidade dos responsáveis por violência e assassinato de defensores e defensoras de direitos humanos.

Tudo isso corrobora para não estarmos diante de mais uma situação de desaparecimento, mas sim de um desaparecimento forçado. Este, segundo a Corte Interamericana de Direitos Humanos, comporta a privação de liberdade com intervenção direta de agentes do Estado ou sua aquiescência (omissão ou falta de diligência), qualificada pela recusa em reconhecer a detenção e revelar o destino ou paradeiro do interessado.

O contexto sistemático de desproteção dos direitos dos defensores de direitos humanos, sobretudo ambientais e indígenas, associado à ausência de medidas estatais de devida diligência para esclarecimento das circunstâncias e responsabilização adequada, caracteriza, no presente caso, a aquiescência do Estado brasileiro pelo desaparecimento e ativa sua responsabilidade, interna e internacional.

*Melina Girardi Fachin: Professora associada da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e coordenadora do Núcleo de Estudos em Direitos Humanos da UFPR

Catarina Mendes Valente Ramos: Pesquisadora do Núcleo de Estudos em Direitos Humanos da UFPR

Bianca Ketlyn Anderle Correia: Pesquisadora do Núcleo de Estudos em Direitos Humanos da UFPR

Bruno Pereira e Dom Phillips são defensores de direitos humanos e vítimas de desaparecimento forçado e homicídio na região amazônica do Vale do Javari. Mais do que isto: Bruno e Dom são vítimas de uma tragédia anunciada envolta pelo contexto sistêmico de violações contra o ambiente, os povos indígenas e os ativistas de direitos humanos no Brasil.

Dados da ONU mostram que, de 2015 a 2019, foram assassinados 174 defensores em nosso país, em um total de 1.323 mortes ao redor do mundo. Nas pautas ambiental, indigenista e de trabalhadores rurais, os dados são ainda mais alarmantes: em 2020, o Brasil se tornou o país com o quarto maior número de assassinatos de defensoras e defensores do meio ambiente no mundo, sendo os indigenistas os maiores alvos de ameaças.

Homens de diversas forças de segurança seguem nas buscas pelo indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips, desaparecidos na região do Vale do Javari, no extremo oeste do estado do Amazonas desde o dia 05.06.2022. Foto: Wilton Junior/Estadão

Infelizmente, o desaparecimento forçado e o homicídio de Bruno e Dom apenas confirma este cenário de desproteção, agravado pelas violações estruturais de direitos humanos em relação à população indígena do Vale do Javari - alvo de pesca, garimpo, madeireiros ilegais, bem como de tráfico de drogas e de pessoas -; tudo fomentado pela ausência e desmonte de políticas públicas.

Convém lembrar que, na mesma região, em 2019, ocorreu o assassinato ainda não solucionado de Maxciel dos Santos, também servidor da FUNAI, causando sensação de impunidade. Soma-se a essa grave situação, as investigações estatais inefetivas e nada diligentes. Quando identificados os culpados materiais e intelectuais, na maior parte dos casos, não são levados à Justiça. Cristaliza-se, assim, preocupante condição de impunidade dos responsáveis por violência e assassinato de defensores e defensoras de direitos humanos.

Tudo isso corrobora para não estarmos diante de mais uma situação de desaparecimento, mas sim de um desaparecimento forçado. Este, segundo a Corte Interamericana de Direitos Humanos, comporta a privação de liberdade com intervenção direta de agentes do Estado ou sua aquiescência (omissão ou falta de diligência), qualificada pela recusa em reconhecer a detenção e revelar o destino ou paradeiro do interessado.

O contexto sistemático de desproteção dos direitos dos defensores de direitos humanos, sobretudo ambientais e indígenas, associado à ausência de medidas estatais de devida diligência para esclarecimento das circunstâncias e responsabilização adequada, caracteriza, no presente caso, a aquiescência do Estado brasileiro pelo desaparecimento e ativa sua responsabilidade, interna e internacional.

*Melina Girardi Fachin: Professora associada da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e coordenadora do Núcleo de Estudos em Direitos Humanos da UFPR

Catarina Mendes Valente Ramos: Pesquisadora do Núcleo de Estudos em Direitos Humanos da UFPR

Bianca Ketlyn Anderle Correia: Pesquisadora do Núcleo de Estudos em Direitos Humanos da UFPR

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