Bruno Soller analisa o comportamento do eleitor brasileiro com base em big data e pesquisa

Opinião|Brasil tem uma massa de eleitores que preferem não mais comparecer às urnas e eles têm poder


Com multa de pouco mais de R$ 3, a questão do voto obrigatório no Brasil parece estar sendo resolvida na prática

Por Bruno Soller

Quanto mais popular a ideia de que custa pouco mais que R$ 3 para não ter a necessidade de ir às urnas votar nas eleições, mais tem aumentado a quantidade de eleitores que têm optado por essa baixa sanção para se livrar de um peso de ter que escolher candidatos que não os representam. Amplamente já discutida, a questão do voto obrigatório no Brasil parece estar sendo resolvida na prática. Mais de 32 milhões de brasileiros decidiram por não votar na última eleição e esse número vem crescendo pleito após pleito.

Quase que do tamanho eleitoral da vizinha Argentina, esses eleitores que buscam justificar o voto ou simplesmente o ignorar e pagar a multa posteriormente poderiam ter modificado qualquer cenário eleitoral no Brasil desde que as eleições passaram a ser livres e democráticas. O aumento nos últimos 20 anos é constante, saindo de 17,7%, em 2002, para 20,9% em 2022. São 5 milhões de brasileiros, uma cidade do Rio de Janeiro, de eleitores, que decidiram nesse período não votar. Um volume considerável e que tem uma tendência de crescente cada vez mais aguda.

Urna eletrônica usada nas eleições pelo TSE Foto: L. R. Moreira/TSE
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Em grupos qualitativos realizados com esse não eleitor fica nítido que a falta de esperança em mudanças verdadeiras é o que mais afeta na hora de sufragar. O público não acredita nas mesmas faces que dominam a política brasileira há tanto tempo e culpabilizam um metafórico sistema como o responsável pelas coisas não se alterarem. Nesse simbólico sistema está inclusa a ideia de que nada pode ter diferente rumo do que aquilo que os donos desse arranjo definirem. Não há certeza, no entanto, sobre quem são essas pessoas, elas não são nominadas, mas existe uma alegoria de poder que é projetada pelos eleitores para idealizar esse complô maligno que serve a interesses escusos e não ao povo.

O discurso antissistema bolsonarista chegou a fisgar alguns desses eleitores em 2018, ano em que se teve o menor crescimento proporcional de abstenções durante todo o período. No entanto, muitos acabaram decepcionados e mais certos de que o sistema no final sempre vence. Alguns até viram boa intenção em Bolsonaro, mas não conseguiram enxergar qualquer melhoria ou mudança na prática, justamente, por ele ter ido contra esse monstro. Outros se desiludiram com a aliança feita entre Bolsonaro e partidos do dito centrão, uma das imagens do status quo dominante. O fato é que de um jeito ou de outro, seja pela fraqueza do ex-presidente, seja pelas amarras, esse sistema venceu novamente.

Com o aumento da polarização no mundo como um todo, as abstenções têm aumentado em quase todos os países democráticos. Nos que o voto não é obrigatório, taxas irrisórias estão sendo vistas em algumas contendas. No México, um plebiscito convocado pelo presidente Andrés Manuel Lopez Obrador chegou a ter menos de 20% de participantes. Na contramão da tendência mundial, os Estados Unidos, em 2020, tiveram recorde de participação, mas o fenômeno tem relação direta com a forma como a eleição se desencadeou, em função da pandemia global de coronavírus. Os eleitores tiveram mais tempo para o voto e o puderam fazer pelos correios. As projeções caso esse modelo não tivesse sido adotado eram desoladoras, já que o governo Trump, outro antissistema, não passava por boa avaliação e seu concorrente era um político da tradicional burocracia norte-americana, o ex-vice presidente Joe Biden.

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O engessamento do modelo de votação em um mundo cada vez mais tecnológico e rápido é um dos motivos que também desencorajam os eleitores a irem no dia eleitoral. O exemplo americano é um indicativo disso. As longas filas nas sessões eleitorais e a dificuldade de transporte público para se locomover, aliadas a uma baixa disposição em relação às candidaturas, são uma combinação perfeita para a abstenção. Fazer o eleitor, que já não está empolgado com as alternativas apresentadas, passar por obstáculos nessa corrida que não o interessa é um prato cheio para lhe dar a justificativa necessária para o não comparecimento.

Utilizando o termo da moda, bem pontuado por Felipe Nunes e Thomas Traumann, em a Biografia do Abismo, a calcificação eleitoral entre polos antagônicos e muito densos na sociedade não tem deixado espaço para a construção de outras vias no xadrez eleitoral e, portanto, conversar com quem está fora desse jogo, mas que pode jogar, talvez seja a única alternativa para se conseguir nesse atual estágio romper com essa realidade. O fato é que os dois polos que estão à disposição e são amplamente conhecidos foram incapazes de arregimentar esses eleitores, deixando caminho aberto para novas forças se apresentarem.

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O erro de quem busca romper com essa polarização é apresentar o mais do mesmo. Candidatos como Simone Tebet e Ciro Gomes, terceiro e quarto colocados na última eleição, nada tem de inovador para esse eleitorado. São enxergados como integrantes desse todo que não deu certo. A alta pontuação de Pablo Marçal, um coach midiático, das redes sociais, nos levantamentos recentes feitos pela RealTime Big Data/TV Record e Atlas/CNN, atingindo dois dígitos na disputa pela Prefeitura de São Paulo, mostra que existe um eleitorado à espera de um nome de fora da caixa para representá-lo. Ultrapassando os 30% de intenção de voto entre os jovens de 16 a 24 anos, Marçal incomoda diretamente os dois líderes das pesquisas, que representam a polarização Lula versus Bolsonaro no certame municipal.

Os ensaios do apresentador Luciano Huck, em 2018 e 2022, tiraram dele o ineditismo da disputa, mas mesmo assim ainda pode surtir efeito para o próximo pleito. Joaquim Barbosa e Sérgio Moro, antes de entrar para a política por outros meios, chegaram a suscitar esperança no cansado eleitor brasileiro. A realidade é que para atrair esse público que se acostumou a justificar ou pagar a irrisória multa de R$ 3,50, o candidato a ser apresentado tem que trazer elementos que a política tradicional não mais traz. O fenômeno Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, talvez seja a exceção para confirmar a regra. Com uma imagem altamente preservada, o governador paulista tem gerado curiosidade Brasil afora entre eleitores não polarizados, principalmente por carregar consigo a pecha de um político técnico, discreto, honesto e realizador.

Convencer o eleitor a ir votar virou ativo das campanhas eleitorais. Com uma massa de 1/5 dos aptos a votarem não indo para as urnas e em um momento de alta rigidez na polarização política, esse eleitor desolado e desconfiado com o futuro do País e com as amarras do sistema político é justamente o alvo a ser atingido para que uma candidatura seja vitoriosa. Para tanto, mais do que nunca, é necessário entender as angústias desse público e ter a capacidade de lhe oferecer soluções ou gerar o mínimo de credibilidade para despertar o estímulo ao voto. Mudar a forma de se comunicar, todavia, é fundamental, já que a utilizada até agora só tem feito esse número crescer e o eleitor escapar. Resumindo a cantiga, quem menos quer votar é, justamente, quem pode decidir.

Quanto mais popular a ideia de que custa pouco mais que R$ 3 para não ter a necessidade de ir às urnas votar nas eleições, mais tem aumentado a quantidade de eleitores que têm optado por essa baixa sanção para se livrar de um peso de ter que escolher candidatos que não os representam. Amplamente já discutida, a questão do voto obrigatório no Brasil parece estar sendo resolvida na prática. Mais de 32 milhões de brasileiros decidiram por não votar na última eleição e esse número vem crescendo pleito após pleito.

Quase que do tamanho eleitoral da vizinha Argentina, esses eleitores que buscam justificar o voto ou simplesmente o ignorar e pagar a multa posteriormente poderiam ter modificado qualquer cenário eleitoral no Brasil desde que as eleições passaram a ser livres e democráticas. O aumento nos últimos 20 anos é constante, saindo de 17,7%, em 2002, para 20,9% em 2022. São 5 milhões de brasileiros, uma cidade do Rio de Janeiro, de eleitores, que decidiram nesse período não votar. Um volume considerável e que tem uma tendência de crescente cada vez mais aguda.

Urna eletrônica usada nas eleições pelo TSE Foto: L. R. Moreira/TSE

Em grupos qualitativos realizados com esse não eleitor fica nítido que a falta de esperança em mudanças verdadeiras é o que mais afeta na hora de sufragar. O público não acredita nas mesmas faces que dominam a política brasileira há tanto tempo e culpabilizam um metafórico sistema como o responsável pelas coisas não se alterarem. Nesse simbólico sistema está inclusa a ideia de que nada pode ter diferente rumo do que aquilo que os donos desse arranjo definirem. Não há certeza, no entanto, sobre quem são essas pessoas, elas não são nominadas, mas existe uma alegoria de poder que é projetada pelos eleitores para idealizar esse complô maligno que serve a interesses escusos e não ao povo.

O discurso antissistema bolsonarista chegou a fisgar alguns desses eleitores em 2018, ano em que se teve o menor crescimento proporcional de abstenções durante todo o período. No entanto, muitos acabaram decepcionados e mais certos de que o sistema no final sempre vence. Alguns até viram boa intenção em Bolsonaro, mas não conseguiram enxergar qualquer melhoria ou mudança na prática, justamente, por ele ter ido contra esse monstro. Outros se desiludiram com a aliança feita entre Bolsonaro e partidos do dito centrão, uma das imagens do status quo dominante. O fato é que de um jeito ou de outro, seja pela fraqueza do ex-presidente, seja pelas amarras, esse sistema venceu novamente.

Com o aumento da polarização no mundo como um todo, as abstenções têm aumentado em quase todos os países democráticos. Nos que o voto não é obrigatório, taxas irrisórias estão sendo vistas em algumas contendas. No México, um plebiscito convocado pelo presidente Andrés Manuel Lopez Obrador chegou a ter menos de 20% de participantes. Na contramão da tendência mundial, os Estados Unidos, em 2020, tiveram recorde de participação, mas o fenômeno tem relação direta com a forma como a eleição se desencadeou, em função da pandemia global de coronavírus. Os eleitores tiveram mais tempo para o voto e o puderam fazer pelos correios. As projeções caso esse modelo não tivesse sido adotado eram desoladoras, já que o governo Trump, outro antissistema, não passava por boa avaliação e seu concorrente era um político da tradicional burocracia norte-americana, o ex-vice presidente Joe Biden.

O engessamento do modelo de votação em um mundo cada vez mais tecnológico e rápido é um dos motivos que também desencorajam os eleitores a irem no dia eleitoral. O exemplo americano é um indicativo disso. As longas filas nas sessões eleitorais e a dificuldade de transporte público para se locomover, aliadas a uma baixa disposição em relação às candidaturas, são uma combinação perfeita para a abstenção. Fazer o eleitor, que já não está empolgado com as alternativas apresentadas, passar por obstáculos nessa corrida que não o interessa é um prato cheio para lhe dar a justificativa necessária para o não comparecimento.

Utilizando o termo da moda, bem pontuado por Felipe Nunes e Thomas Traumann, em a Biografia do Abismo, a calcificação eleitoral entre polos antagônicos e muito densos na sociedade não tem deixado espaço para a construção de outras vias no xadrez eleitoral e, portanto, conversar com quem está fora desse jogo, mas que pode jogar, talvez seja a única alternativa para se conseguir nesse atual estágio romper com essa realidade. O fato é que os dois polos que estão à disposição e são amplamente conhecidos foram incapazes de arregimentar esses eleitores, deixando caminho aberto para novas forças se apresentarem.

O erro de quem busca romper com essa polarização é apresentar o mais do mesmo. Candidatos como Simone Tebet e Ciro Gomes, terceiro e quarto colocados na última eleição, nada tem de inovador para esse eleitorado. São enxergados como integrantes desse todo que não deu certo. A alta pontuação de Pablo Marçal, um coach midiático, das redes sociais, nos levantamentos recentes feitos pela RealTime Big Data/TV Record e Atlas/CNN, atingindo dois dígitos na disputa pela Prefeitura de São Paulo, mostra que existe um eleitorado à espera de um nome de fora da caixa para representá-lo. Ultrapassando os 30% de intenção de voto entre os jovens de 16 a 24 anos, Marçal incomoda diretamente os dois líderes das pesquisas, que representam a polarização Lula versus Bolsonaro no certame municipal.

Os ensaios do apresentador Luciano Huck, em 2018 e 2022, tiraram dele o ineditismo da disputa, mas mesmo assim ainda pode surtir efeito para o próximo pleito. Joaquim Barbosa e Sérgio Moro, antes de entrar para a política por outros meios, chegaram a suscitar esperança no cansado eleitor brasileiro. A realidade é que para atrair esse público que se acostumou a justificar ou pagar a irrisória multa de R$ 3,50, o candidato a ser apresentado tem que trazer elementos que a política tradicional não mais traz. O fenômeno Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, talvez seja a exceção para confirmar a regra. Com uma imagem altamente preservada, o governador paulista tem gerado curiosidade Brasil afora entre eleitores não polarizados, principalmente por carregar consigo a pecha de um político técnico, discreto, honesto e realizador.

Convencer o eleitor a ir votar virou ativo das campanhas eleitorais. Com uma massa de 1/5 dos aptos a votarem não indo para as urnas e em um momento de alta rigidez na polarização política, esse eleitor desolado e desconfiado com o futuro do País e com as amarras do sistema político é justamente o alvo a ser atingido para que uma candidatura seja vitoriosa. Para tanto, mais do que nunca, é necessário entender as angústias desse público e ter a capacidade de lhe oferecer soluções ou gerar o mínimo de credibilidade para despertar o estímulo ao voto. Mudar a forma de se comunicar, todavia, é fundamental, já que a utilizada até agora só tem feito esse número crescer e o eleitor escapar. Resumindo a cantiga, quem menos quer votar é, justamente, quem pode decidir.

Quanto mais popular a ideia de que custa pouco mais que R$ 3 para não ter a necessidade de ir às urnas votar nas eleições, mais tem aumentado a quantidade de eleitores que têm optado por essa baixa sanção para se livrar de um peso de ter que escolher candidatos que não os representam. Amplamente já discutida, a questão do voto obrigatório no Brasil parece estar sendo resolvida na prática. Mais de 32 milhões de brasileiros decidiram por não votar na última eleição e esse número vem crescendo pleito após pleito.

Quase que do tamanho eleitoral da vizinha Argentina, esses eleitores que buscam justificar o voto ou simplesmente o ignorar e pagar a multa posteriormente poderiam ter modificado qualquer cenário eleitoral no Brasil desde que as eleições passaram a ser livres e democráticas. O aumento nos últimos 20 anos é constante, saindo de 17,7%, em 2002, para 20,9% em 2022. São 5 milhões de brasileiros, uma cidade do Rio de Janeiro, de eleitores, que decidiram nesse período não votar. Um volume considerável e que tem uma tendência de crescente cada vez mais aguda.

Urna eletrônica usada nas eleições pelo TSE Foto: L. R. Moreira/TSE

Em grupos qualitativos realizados com esse não eleitor fica nítido que a falta de esperança em mudanças verdadeiras é o que mais afeta na hora de sufragar. O público não acredita nas mesmas faces que dominam a política brasileira há tanto tempo e culpabilizam um metafórico sistema como o responsável pelas coisas não se alterarem. Nesse simbólico sistema está inclusa a ideia de que nada pode ter diferente rumo do que aquilo que os donos desse arranjo definirem. Não há certeza, no entanto, sobre quem são essas pessoas, elas não são nominadas, mas existe uma alegoria de poder que é projetada pelos eleitores para idealizar esse complô maligno que serve a interesses escusos e não ao povo.

O discurso antissistema bolsonarista chegou a fisgar alguns desses eleitores em 2018, ano em que se teve o menor crescimento proporcional de abstenções durante todo o período. No entanto, muitos acabaram decepcionados e mais certos de que o sistema no final sempre vence. Alguns até viram boa intenção em Bolsonaro, mas não conseguiram enxergar qualquer melhoria ou mudança na prática, justamente, por ele ter ido contra esse monstro. Outros se desiludiram com a aliança feita entre Bolsonaro e partidos do dito centrão, uma das imagens do status quo dominante. O fato é que de um jeito ou de outro, seja pela fraqueza do ex-presidente, seja pelas amarras, esse sistema venceu novamente.

Com o aumento da polarização no mundo como um todo, as abstenções têm aumentado em quase todos os países democráticos. Nos que o voto não é obrigatório, taxas irrisórias estão sendo vistas em algumas contendas. No México, um plebiscito convocado pelo presidente Andrés Manuel Lopez Obrador chegou a ter menos de 20% de participantes. Na contramão da tendência mundial, os Estados Unidos, em 2020, tiveram recorde de participação, mas o fenômeno tem relação direta com a forma como a eleição se desencadeou, em função da pandemia global de coronavírus. Os eleitores tiveram mais tempo para o voto e o puderam fazer pelos correios. As projeções caso esse modelo não tivesse sido adotado eram desoladoras, já que o governo Trump, outro antissistema, não passava por boa avaliação e seu concorrente era um político da tradicional burocracia norte-americana, o ex-vice presidente Joe Biden.

O engessamento do modelo de votação em um mundo cada vez mais tecnológico e rápido é um dos motivos que também desencorajam os eleitores a irem no dia eleitoral. O exemplo americano é um indicativo disso. As longas filas nas sessões eleitorais e a dificuldade de transporte público para se locomover, aliadas a uma baixa disposição em relação às candidaturas, são uma combinação perfeita para a abstenção. Fazer o eleitor, que já não está empolgado com as alternativas apresentadas, passar por obstáculos nessa corrida que não o interessa é um prato cheio para lhe dar a justificativa necessária para o não comparecimento.

Utilizando o termo da moda, bem pontuado por Felipe Nunes e Thomas Traumann, em a Biografia do Abismo, a calcificação eleitoral entre polos antagônicos e muito densos na sociedade não tem deixado espaço para a construção de outras vias no xadrez eleitoral e, portanto, conversar com quem está fora desse jogo, mas que pode jogar, talvez seja a única alternativa para se conseguir nesse atual estágio romper com essa realidade. O fato é que os dois polos que estão à disposição e são amplamente conhecidos foram incapazes de arregimentar esses eleitores, deixando caminho aberto para novas forças se apresentarem.

O erro de quem busca romper com essa polarização é apresentar o mais do mesmo. Candidatos como Simone Tebet e Ciro Gomes, terceiro e quarto colocados na última eleição, nada tem de inovador para esse eleitorado. São enxergados como integrantes desse todo que não deu certo. A alta pontuação de Pablo Marçal, um coach midiático, das redes sociais, nos levantamentos recentes feitos pela RealTime Big Data/TV Record e Atlas/CNN, atingindo dois dígitos na disputa pela Prefeitura de São Paulo, mostra que existe um eleitorado à espera de um nome de fora da caixa para representá-lo. Ultrapassando os 30% de intenção de voto entre os jovens de 16 a 24 anos, Marçal incomoda diretamente os dois líderes das pesquisas, que representam a polarização Lula versus Bolsonaro no certame municipal.

Os ensaios do apresentador Luciano Huck, em 2018 e 2022, tiraram dele o ineditismo da disputa, mas mesmo assim ainda pode surtir efeito para o próximo pleito. Joaquim Barbosa e Sérgio Moro, antes de entrar para a política por outros meios, chegaram a suscitar esperança no cansado eleitor brasileiro. A realidade é que para atrair esse público que se acostumou a justificar ou pagar a irrisória multa de R$ 3,50, o candidato a ser apresentado tem que trazer elementos que a política tradicional não mais traz. O fenômeno Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, talvez seja a exceção para confirmar a regra. Com uma imagem altamente preservada, o governador paulista tem gerado curiosidade Brasil afora entre eleitores não polarizados, principalmente por carregar consigo a pecha de um político técnico, discreto, honesto e realizador.

Convencer o eleitor a ir votar virou ativo das campanhas eleitorais. Com uma massa de 1/5 dos aptos a votarem não indo para as urnas e em um momento de alta rigidez na polarização política, esse eleitor desolado e desconfiado com o futuro do País e com as amarras do sistema político é justamente o alvo a ser atingido para que uma candidatura seja vitoriosa. Para tanto, mais do que nunca, é necessário entender as angústias desse público e ter a capacidade de lhe oferecer soluções ou gerar o mínimo de credibilidade para despertar o estímulo ao voto. Mudar a forma de se comunicar, todavia, é fundamental, já que a utilizada até agora só tem feito esse número crescer e o eleitor escapar. Resumindo a cantiga, quem menos quer votar é, justamente, quem pode decidir.

Opinião por Bruno Soller

Bruno Soller é estrategista eleitoral. Especializado em pesquisas de opinião pública, é graduado em Relações Internacionais pela PUC-SP, com especialização em Comunicação Política pela George Washington University. Trabalhou no governo federal, Câmara dos Deputados e Comissão Europeia.

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