Bruno Soller analisa o comportamento do eleitor brasileiro com base em big data e pesquisa

Opinião|Caso das joias expõe resiliência do bolsonarismo, e ex-presidente mantém eleitor fiel


Investigação não é capaz de afetar imagem do ex-presidente perante a núcleo duro de apoiadores; maior pesadelo é aumento da aprovação de Lula

Por Bruno Soller

Certa vez o dramaturgo russo Anton Tchekhov disse: “Todos nós sabemos o que é uma ação desonesta, mas o que é a honestidade, isso, ninguém sabe.” Essa colocação pode resumir muito bem todo o imbróglio que envolve o ex-presidente Jair Bolsonaro e o episódio das vendas de presentes recebidos enquanto Chefe de Estado. A priori, a ação desperta dúvidas entre seus eleitores, mas não consegue manchar a áurea de honestidade que atribuem a Bolsonaro.

Em pesquisa realizada pela consultoria Quaest para o Banco Genial, em março de 2022, 59% dos que escolhiam Jair Bolsonaro afirmavam que o fato preponderante para o voto era o candidato ser honesto. Em um cenário obvio, praticamente condenavam Lula a ser o sinônimo da corrupção. Todavia, a percepção sobre o que é ser honesto ultrapassa apenas os fatos. E esse é o ponto crucial para analisar que, apesar da ranhura causada pelo episódio das joias, para o eleitor bolsonarista, em sua maioria, há uma absolvição quase que imediata de sua liderança-mor.

Jair Bolsonaro passou por diversas crises que poderiam afetar sua imagem de homem probo. O ex-presidente teve um rompimento público com seu ministro da Justiça, o até então quase herói nacional Sérgio Moro, que o acusou de interferir na Polícia Federal para proteger um de seus filhos. Viu diversas denúncias sobre “rachadinhas” em seu gabinete. Transitou pelo caso Queiroz, pelo orçamento secreto e pela compra das vacinas. O resultado de tudo isso foi que, apesar de diversos fatos, Bolsonaro não perdeu seu eleitor mais fiel.

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Jair Bolsonaro deixa sede da PF, em Brasília, após prestar depoimento em abril sobe 8 de janeiro; investigações não racham base de apoio do ex-presidente Foto: WILTON JUNIOR/ ESTADÃO

Para 40,5% do eleitorado brasileiro, Bolsonaro está sendo vítima de uma caça às bruxas, promovida pelo atual governo. O recente levantamento feito pela Atlas mostra ainda que 1/3 dos entrevistados não acredita nem sequer no envolvimento do ex-presidente no caso das joias. Esses números demonstram uma resiliência muito forte do bolsonarismo, em uma condição absolutamente adversa.

O guru da extrema direita internacional e um dos colaboradores das campanhas de Jair Bolsonaro, Steve Bannon, é um defensor contumaz da ideia de se criar um adversário tão forte, que justifique qualquer ação, já que o objetivo maior é derrotar esse algoz. No caso do bolsonarismo, do trumpismo e de outras linhas ideológicas pelo mundo, há de se combater a “modernidade”, no sentido de se preservar tradições e valores, cunhados principalmente na fé judaico-cristã.

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Esse sentimento cria uma reação a tudo que se imputa contra os líderes desses movimentos. Donald Trump, nos Estados Unidos, é réu pela quarta vez e tem sofrido uma implacável caçada pela justiça americana, e mesmo assim segundo pesquisa do New York Times/Siena College, de julho deste ano, o ex-presidente americano lidera as prévias dos Republicanos com 54% das intenções de voto, 37 pontos porcentuais a mais que Ron DeSantis, governador da Flórida, que tem apenas 17%. Quando se pesquisa o eleitorado como um todo, Trump empata com o atual presidente Joe Biden, com 43% dos votos cada.

Há uma ideia errônea de que o caso das joias respingará tão forte em Bolsonaro a ponto de transformá-lo em um cabo eleitoral negativo para as eleições locais de 2024. A corrente do bolsonarismo seguirá forte, mesmo isso não sendo o determinante para o voto municipal, que engloba uma outra dúzia de fatores, que têm impacto mais preponderante para o eleitor. Apenas, para exemplificar, Lula foi eleito presidente da Republica ano passado e na última eleição municipal, de 2020, o PT não conseguiu fazer qualquer prefeito de capital.

Nem mesmo uma possível prisão de Jair Bolsonaro afetará esse bloco eleitoral. Ele pode sofrer pequenas rachaduras, mas no todo deve ser preservado. Não se pode esquecer que dois anos antes de se tornar pela terceira vez presidente da República, Lula estava encarcerado. É bem verdade que, para o eleitor de Bolsonaro, o tema corrupção parece ser mais valioso, mas mesmo assim há um entendimento generalizado neste nicho de que há uma perseguição promovida pelo atual governo, pelo STF e pelas mídias tradicionais ao presidente. O sorteio que culminou com Alexandre de Moraes como relator no caso das joias pode ser muito comemorado por quem não gosta de Bolsonaro, mas será ainda mais um combustível para o seu eleitor defende-lo desse suposto acossamento.

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A fala de Lula, quando preso, que disse: “eu não sou um homem, mas sim uma ideia. E não adianta tentar acabar com as ideias”, cabe perfeitamente para a situação de Bolsonaro. Há uma corrente filosófica espalhada pelos quatro cantos do mundo, que defende valores e credos explícitos no bolsonarismo. A vitória de Milei no PASO argentino é a renovação desse pensamento antissistema na América Latina. Bolsonaro foi um dos apoiadores do líder argentino da coalizão política A Liberdade Avança.

O maior pesadelo para o bolsonarismo está longe de ser as denúncias que envolvem Jair Bolsonaro. O grande drama para esse espectro é o aumento da aprovação de Lula. Em medição recente feito pela Quaest, 60% dos brasileiros estão aprovando o trabalho do presidente, impulsionados por um sentimento de melhora da economia, principalmente no preço dos alimentos e de alguns bens básicos como o gás de cozinha. A aceitação só não é maior porque há uma percepção de aumento de impostos com as novas taxações feitas pelo governo.

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A aglutinação eleitoral em torno de Bolsonaro continuará perene. Não serão esses casos que abalarão essa relação. O combate ao petismo e às perdas dos valores tradicionais são suficientemente fortes para amparar o bolsonarismo e mantê-lo vívido. Cabe ao ex-presidente e seus súditos conseguirem dialogar com um público que pode pender para um lado ou outro dessa política binária brasileira. Os extremos só conseguem sair vitoriosos em um mundo dicotômico quando conseguem ganhar as intersecções.

Certa vez o dramaturgo russo Anton Tchekhov disse: “Todos nós sabemos o que é uma ação desonesta, mas o que é a honestidade, isso, ninguém sabe.” Essa colocação pode resumir muito bem todo o imbróglio que envolve o ex-presidente Jair Bolsonaro e o episódio das vendas de presentes recebidos enquanto Chefe de Estado. A priori, a ação desperta dúvidas entre seus eleitores, mas não consegue manchar a áurea de honestidade que atribuem a Bolsonaro.

Em pesquisa realizada pela consultoria Quaest para o Banco Genial, em março de 2022, 59% dos que escolhiam Jair Bolsonaro afirmavam que o fato preponderante para o voto era o candidato ser honesto. Em um cenário obvio, praticamente condenavam Lula a ser o sinônimo da corrupção. Todavia, a percepção sobre o que é ser honesto ultrapassa apenas os fatos. E esse é o ponto crucial para analisar que, apesar da ranhura causada pelo episódio das joias, para o eleitor bolsonarista, em sua maioria, há uma absolvição quase que imediata de sua liderança-mor.

Jair Bolsonaro passou por diversas crises que poderiam afetar sua imagem de homem probo. O ex-presidente teve um rompimento público com seu ministro da Justiça, o até então quase herói nacional Sérgio Moro, que o acusou de interferir na Polícia Federal para proteger um de seus filhos. Viu diversas denúncias sobre “rachadinhas” em seu gabinete. Transitou pelo caso Queiroz, pelo orçamento secreto e pela compra das vacinas. O resultado de tudo isso foi que, apesar de diversos fatos, Bolsonaro não perdeu seu eleitor mais fiel.

Jair Bolsonaro deixa sede da PF, em Brasília, após prestar depoimento em abril sobe 8 de janeiro; investigações não racham base de apoio do ex-presidente Foto: WILTON JUNIOR/ ESTADÃO

Para 40,5% do eleitorado brasileiro, Bolsonaro está sendo vítima de uma caça às bruxas, promovida pelo atual governo. O recente levantamento feito pela Atlas mostra ainda que 1/3 dos entrevistados não acredita nem sequer no envolvimento do ex-presidente no caso das joias. Esses números demonstram uma resiliência muito forte do bolsonarismo, em uma condição absolutamente adversa.

O guru da extrema direita internacional e um dos colaboradores das campanhas de Jair Bolsonaro, Steve Bannon, é um defensor contumaz da ideia de se criar um adversário tão forte, que justifique qualquer ação, já que o objetivo maior é derrotar esse algoz. No caso do bolsonarismo, do trumpismo e de outras linhas ideológicas pelo mundo, há de se combater a “modernidade”, no sentido de se preservar tradições e valores, cunhados principalmente na fé judaico-cristã.

Esse sentimento cria uma reação a tudo que se imputa contra os líderes desses movimentos. Donald Trump, nos Estados Unidos, é réu pela quarta vez e tem sofrido uma implacável caçada pela justiça americana, e mesmo assim segundo pesquisa do New York Times/Siena College, de julho deste ano, o ex-presidente americano lidera as prévias dos Republicanos com 54% das intenções de voto, 37 pontos porcentuais a mais que Ron DeSantis, governador da Flórida, que tem apenas 17%. Quando se pesquisa o eleitorado como um todo, Trump empata com o atual presidente Joe Biden, com 43% dos votos cada.

Há uma ideia errônea de que o caso das joias respingará tão forte em Bolsonaro a ponto de transformá-lo em um cabo eleitoral negativo para as eleições locais de 2024. A corrente do bolsonarismo seguirá forte, mesmo isso não sendo o determinante para o voto municipal, que engloba uma outra dúzia de fatores, que têm impacto mais preponderante para o eleitor. Apenas, para exemplificar, Lula foi eleito presidente da Republica ano passado e na última eleição municipal, de 2020, o PT não conseguiu fazer qualquer prefeito de capital.

Nem mesmo uma possível prisão de Jair Bolsonaro afetará esse bloco eleitoral. Ele pode sofrer pequenas rachaduras, mas no todo deve ser preservado. Não se pode esquecer que dois anos antes de se tornar pela terceira vez presidente da República, Lula estava encarcerado. É bem verdade que, para o eleitor de Bolsonaro, o tema corrupção parece ser mais valioso, mas mesmo assim há um entendimento generalizado neste nicho de que há uma perseguição promovida pelo atual governo, pelo STF e pelas mídias tradicionais ao presidente. O sorteio que culminou com Alexandre de Moraes como relator no caso das joias pode ser muito comemorado por quem não gosta de Bolsonaro, mas será ainda mais um combustível para o seu eleitor defende-lo desse suposto acossamento.

A fala de Lula, quando preso, que disse: “eu não sou um homem, mas sim uma ideia. E não adianta tentar acabar com as ideias”, cabe perfeitamente para a situação de Bolsonaro. Há uma corrente filosófica espalhada pelos quatro cantos do mundo, que defende valores e credos explícitos no bolsonarismo. A vitória de Milei no PASO argentino é a renovação desse pensamento antissistema na América Latina. Bolsonaro foi um dos apoiadores do líder argentino da coalizão política A Liberdade Avança.

O maior pesadelo para o bolsonarismo está longe de ser as denúncias que envolvem Jair Bolsonaro. O grande drama para esse espectro é o aumento da aprovação de Lula. Em medição recente feito pela Quaest, 60% dos brasileiros estão aprovando o trabalho do presidente, impulsionados por um sentimento de melhora da economia, principalmente no preço dos alimentos e de alguns bens básicos como o gás de cozinha. A aceitação só não é maior porque há uma percepção de aumento de impostos com as novas taxações feitas pelo governo.

A aglutinação eleitoral em torno de Bolsonaro continuará perene. Não serão esses casos que abalarão essa relação. O combate ao petismo e às perdas dos valores tradicionais são suficientemente fortes para amparar o bolsonarismo e mantê-lo vívido. Cabe ao ex-presidente e seus súditos conseguirem dialogar com um público que pode pender para um lado ou outro dessa política binária brasileira. Os extremos só conseguem sair vitoriosos em um mundo dicotômico quando conseguem ganhar as intersecções.

Certa vez o dramaturgo russo Anton Tchekhov disse: “Todos nós sabemos o que é uma ação desonesta, mas o que é a honestidade, isso, ninguém sabe.” Essa colocação pode resumir muito bem todo o imbróglio que envolve o ex-presidente Jair Bolsonaro e o episódio das vendas de presentes recebidos enquanto Chefe de Estado. A priori, a ação desperta dúvidas entre seus eleitores, mas não consegue manchar a áurea de honestidade que atribuem a Bolsonaro.

Em pesquisa realizada pela consultoria Quaest para o Banco Genial, em março de 2022, 59% dos que escolhiam Jair Bolsonaro afirmavam que o fato preponderante para o voto era o candidato ser honesto. Em um cenário obvio, praticamente condenavam Lula a ser o sinônimo da corrupção. Todavia, a percepção sobre o que é ser honesto ultrapassa apenas os fatos. E esse é o ponto crucial para analisar que, apesar da ranhura causada pelo episódio das joias, para o eleitor bolsonarista, em sua maioria, há uma absolvição quase que imediata de sua liderança-mor.

Jair Bolsonaro passou por diversas crises que poderiam afetar sua imagem de homem probo. O ex-presidente teve um rompimento público com seu ministro da Justiça, o até então quase herói nacional Sérgio Moro, que o acusou de interferir na Polícia Federal para proteger um de seus filhos. Viu diversas denúncias sobre “rachadinhas” em seu gabinete. Transitou pelo caso Queiroz, pelo orçamento secreto e pela compra das vacinas. O resultado de tudo isso foi que, apesar de diversos fatos, Bolsonaro não perdeu seu eleitor mais fiel.

Jair Bolsonaro deixa sede da PF, em Brasília, após prestar depoimento em abril sobe 8 de janeiro; investigações não racham base de apoio do ex-presidente Foto: WILTON JUNIOR/ ESTADÃO

Para 40,5% do eleitorado brasileiro, Bolsonaro está sendo vítima de uma caça às bruxas, promovida pelo atual governo. O recente levantamento feito pela Atlas mostra ainda que 1/3 dos entrevistados não acredita nem sequer no envolvimento do ex-presidente no caso das joias. Esses números demonstram uma resiliência muito forte do bolsonarismo, em uma condição absolutamente adversa.

O guru da extrema direita internacional e um dos colaboradores das campanhas de Jair Bolsonaro, Steve Bannon, é um defensor contumaz da ideia de se criar um adversário tão forte, que justifique qualquer ação, já que o objetivo maior é derrotar esse algoz. No caso do bolsonarismo, do trumpismo e de outras linhas ideológicas pelo mundo, há de se combater a “modernidade”, no sentido de se preservar tradições e valores, cunhados principalmente na fé judaico-cristã.

Esse sentimento cria uma reação a tudo que se imputa contra os líderes desses movimentos. Donald Trump, nos Estados Unidos, é réu pela quarta vez e tem sofrido uma implacável caçada pela justiça americana, e mesmo assim segundo pesquisa do New York Times/Siena College, de julho deste ano, o ex-presidente americano lidera as prévias dos Republicanos com 54% das intenções de voto, 37 pontos porcentuais a mais que Ron DeSantis, governador da Flórida, que tem apenas 17%. Quando se pesquisa o eleitorado como um todo, Trump empata com o atual presidente Joe Biden, com 43% dos votos cada.

Há uma ideia errônea de que o caso das joias respingará tão forte em Bolsonaro a ponto de transformá-lo em um cabo eleitoral negativo para as eleições locais de 2024. A corrente do bolsonarismo seguirá forte, mesmo isso não sendo o determinante para o voto municipal, que engloba uma outra dúzia de fatores, que têm impacto mais preponderante para o eleitor. Apenas, para exemplificar, Lula foi eleito presidente da Republica ano passado e na última eleição municipal, de 2020, o PT não conseguiu fazer qualquer prefeito de capital.

Nem mesmo uma possível prisão de Jair Bolsonaro afetará esse bloco eleitoral. Ele pode sofrer pequenas rachaduras, mas no todo deve ser preservado. Não se pode esquecer que dois anos antes de se tornar pela terceira vez presidente da República, Lula estava encarcerado. É bem verdade que, para o eleitor de Bolsonaro, o tema corrupção parece ser mais valioso, mas mesmo assim há um entendimento generalizado neste nicho de que há uma perseguição promovida pelo atual governo, pelo STF e pelas mídias tradicionais ao presidente. O sorteio que culminou com Alexandre de Moraes como relator no caso das joias pode ser muito comemorado por quem não gosta de Bolsonaro, mas será ainda mais um combustível para o seu eleitor defende-lo desse suposto acossamento.

A fala de Lula, quando preso, que disse: “eu não sou um homem, mas sim uma ideia. E não adianta tentar acabar com as ideias”, cabe perfeitamente para a situação de Bolsonaro. Há uma corrente filosófica espalhada pelos quatro cantos do mundo, que defende valores e credos explícitos no bolsonarismo. A vitória de Milei no PASO argentino é a renovação desse pensamento antissistema na América Latina. Bolsonaro foi um dos apoiadores do líder argentino da coalizão política A Liberdade Avança.

O maior pesadelo para o bolsonarismo está longe de ser as denúncias que envolvem Jair Bolsonaro. O grande drama para esse espectro é o aumento da aprovação de Lula. Em medição recente feito pela Quaest, 60% dos brasileiros estão aprovando o trabalho do presidente, impulsionados por um sentimento de melhora da economia, principalmente no preço dos alimentos e de alguns bens básicos como o gás de cozinha. A aceitação só não é maior porque há uma percepção de aumento de impostos com as novas taxações feitas pelo governo.

A aglutinação eleitoral em torno de Bolsonaro continuará perene. Não serão esses casos que abalarão essa relação. O combate ao petismo e às perdas dos valores tradicionais são suficientemente fortes para amparar o bolsonarismo e mantê-lo vívido. Cabe ao ex-presidente e seus súditos conseguirem dialogar com um público que pode pender para um lado ou outro dessa política binária brasileira. Os extremos só conseguem sair vitoriosos em um mundo dicotômico quando conseguem ganhar as intersecções.

Certa vez o dramaturgo russo Anton Tchekhov disse: “Todos nós sabemos o que é uma ação desonesta, mas o que é a honestidade, isso, ninguém sabe.” Essa colocação pode resumir muito bem todo o imbróglio que envolve o ex-presidente Jair Bolsonaro e o episódio das vendas de presentes recebidos enquanto Chefe de Estado. A priori, a ação desperta dúvidas entre seus eleitores, mas não consegue manchar a áurea de honestidade que atribuem a Bolsonaro.

Em pesquisa realizada pela consultoria Quaest para o Banco Genial, em março de 2022, 59% dos que escolhiam Jair Bolsonaro afirmavam que o fato preponderante para o voto era o candidato ser honesto. Em um cenário obvio, praticamente condenavam Lula a ser o sinônimo da corrupção. Todavia, a percepção sobre o que é ser honesto ultrapassa apenas os fatos. E esse é o ponto crucial para analisar que, apesar da ranhura causada pelo episódio das joias, para o eleitor bolsonarista, em sua maioria, há uma absolvição quase que imediata de sua liderança-mor.

Jair Bolsonaro passou por diversas crises que poderiam afetar sua imagem de homem probo. O ex-presidente teve um rompimento público com seu ministro da Justiça, o até então quase herói nacional Sérgio Moro, que o acusou de interferir na Polícia Federal para proteger um de seus filhos. Viu diversas denúncias sobre “rachadinhas” em seu gabinete. Transitou pelo caso Queiroz, pelo orçamento secreto e pela compra das vacinas. O resultado de tudo isso foi que, apesar de diversos fatos, Bolsonaro não perdeu seu eleitor mais fiel.

Jair Bolsonaro deixa sede da PF, em Brasília, após prestar depoimento em abril sobe 8 de janeiro; investigações não racham base de apoio do ex-presidente Foto: WILTON JUNIOR/ ESTADÃO

Para 40,5% do eleitorado brasileiro, Bolsonaro está sendo vítima de uma caça às bruxas, promovida pelo atual governo. O recente levantamento feito pela Atlas mostra ainda que 1/3 dos entrevistados não acredita nem sequer no envolvimento do ex-presidente no caso das joias. Esses números demonstram uma resiliência muito forte do bolsonarismo, em uma condição absolutamente adversa.

O guru da extrema direita internacional e um dos colaboradores das campanhas de Jair Bolsonaro, Steve Bannon, é um defensor contumaz da ideia de se criar um adversário tão forte, que justifique qualquer ação, já que o objetivo maior é derrotar esse algoz. No caso do bolsonarismo, do trumpismo e de outras linhas ideológicas pelo mundo, há de se combater a “modernidade”, no sentido de se preservar tradições e valores, cunhados principalmente na fé judaico-cristã.

Esse sentimento cria uma reação a tudo que se imputa contra os líderes desses movimentos. Donald Trump, nos Estados Unidos, é réu pela quarta vez e tem sofrido uma implacável caçada pela justiça americana, e mesmo assim segundo pesquisa do New York Times/Siena College, de julho deste ano, o ex-presidente americano lidera as prévias dos Republicanos com 54% das intenções de voto, 37 pontos porcentuais a mais que Ron DeSantis, governador da Flórida, que tem apenas 17%. Quando se pesquisa o eleitorado como um todo, Trump empata com o atual presidente Joe Biden, com 43% dos votos cada.

Há uma ideia errônea de que o caso das joias respingará tão forte em Bolsonaro a ponto de transformá-lo em um cabo eleitoral negativo para as eleições locais de 2024. A corrente do bolsonarismo seguirá forte, mesmo isso não sendo o determinante para o voto municipal, que engloba uma outra dúzia de fatores, que têm impacto mais preponderante para o eleitor. Apenas, para exemplificar, Lula foi eleito presidente da Republica ano passado e na última eleição municipal, de 2020, o PT não conseguiu fazer qualquer prefeito de capital.

Nem mesmo uma possível prisão de Jair Bolsonaro afetará esse bloco eleitoral. Ele pode sofrer pequenas rachaduras, mas no todo deve ser preservado. Não se pode esquecer que dois anos antes de se tornar pela terceira vez presidente da República, Lula estava encarcerado. É bem verdade que, para o eleitor de Bolsonaro, o tema corrupção parece ser mais valioso, mas mesmo assim há um entendimento generalizado neste nicho de que há uma perseguição promovida pelo atual governo, pelo STF e pelas mídias tradicionais ao presidente. O sorteio que culminou com Alexandre de Moraes como relator no caso das joias pode ser muito comemorado por quem não gosta de Bolsonaro, mas será ainda mais um combustível para o seu eleitor defende-lo desse suposto acossamento.

A fala de Lula, quando preso, que disse: “eu não sou um homem, mas sim uma ideia. E não adianta tentar acabar com as ideias”, cabe perfeitamente para a situação de Bolsonaro. Há uma corrente filosófica espalhada pelos quatro cantos do mundo, que defende valores e credos explícitos no bolsonarismo. A vitória de Milei no PASO argentino é a renovação desse pensamento antissistema na América Latina. Bolsonaro foi um dos apoiadores do líder argentino da coalizão política A Liberdade Avança.

O maior pesadelo para o bolsonarismo está longe de ser as denúncias que envolvem Jair Bolsonaro. O grande drama para esse espectro é o aumento da aprovação de Lula. Em medição recente feito pela Quaest, 60% dos brasileiros estão aprovando o trabalho do presidente, impulsionados por um sentimento de melhora da economia, principalmente no preço dos alimentos e de alguns bens básicos como o gás de cozinha. A aceitação só não é maior porque há uma percepção de aumento de impostos com as novas taxações feitas pelo governo.

A aglutinação eleitoral em torno de Bolsonaro continuará perene. Não serão esses casos que abalarão essa relação. O combate ao petismo e às perdas dos valores tradicionais são suficientemente fortes para amparar o bolsonarismo e mantê-lo vívido. Cabe ao ex-presidente e seus súditos conseguirem dialogar com um público que pode pender para um lado ou outro dessa política binária brasileira. Os extremos só conseguem sair vitoriosos em um mundo dicotômico quando conseguem ganhar as intersecções.

Certa vez o dramaturgo russo Anton Tchekhov disse: “Todos nós sabemos o que é uma ação desonesta, mas o que é a honestidade, isso, ninguém sabe.” Essa colocação pode resumir muito bem todo o imbróglio que envolve o ex-presidente Jair Bolsonaro e o episódio das vendas de presentes recebidos enquanto Chefe de Estado. A priori, a ação desperta dúvidas entre seus eleitores, mas não consegue manchar a áurea de honestidade que atribuem a Bolsonaro.

Em pesquisa realizada pela consultoria Quaest para o Banco Genial, em março de 2022, 59% dos que escolhiam Jair Bolsonaro afirmavam que o fato preponderante para o voto era o candidato ser honesto. Em um cenário obvio, praticamente condenavam Lula a ser o sinônimo da corrupção. Todavia, a percepção sobre o que é ser honesto ultrapassa apenas os fatos. E esse é o ponto crucial para analisar que, apesar da ranhura causada pelo episódio das joias, para o eleitor bolsonarista, em sua maioria, há uma absolvição quase que imediata de sua liderança-mor.

Jair Bolsonaro passou por diversas crises que poderiam afetar sua imagem de homem probo. O ex-presidente teve um rompimento público com seu ministro da Justiça, o até então quase herói nacional Sérgio Moro, que o acusou de interferir na Polícia Federal para proteger um de seus filhos. Viu diversas denúncias sobre “rachadinhas” em seu gabinete. Transitou pelo caso Queiroz, pelo orçamento secreto e pela compra das vacinas. O resultado de tudo isso foi que, apesar de diversos fatos, Bolsonaro não perdeu seu eleitor mais fiel.

Jair Bolsonaro deixa sede da PF, em Brasília, após prestar depoimento em abril sobe 8 de janeiro; investigações não racham base de apoio do ex-presidente Foto: WILTON JUNIOR/ ESTADÃO

Para 40,5% do eleitorado brasileiro, Bolsonaro está sendo vítima de uma caça às bruxas, promovida pelo atual governo. O recente levantamento feito pela Atlas mostra ainda que 1/3 dos entrevistados não acredita nem sequer no envolvimento do ex-presidente no caso das joias. Esses números demonstram uma resiliência muito forte do bolsonarismo, em uma condição absolutamente adversa.

O guru da extrema direita internacional e um dos colaboradores das campanhas de Jair Bolsonaro, Steve Bannon, é um defensor contumaz da ideia de se criar um adversário tão forte, que justifique qualquer ação, já que o objetivo maior é derrotar esse algoz. No caso do bolsonarismo, do trumpismo e de outras linhas ideológicas pelo mundo, há de se combater a “modernidade”, no sentido de se preservar tradições e valores, cunhados principalmente na fé judaico-cristã.

Esse sentimento cria uma reação a tudo que se imputa contra os líderes desses movimentos. Donald Trump, nos Estados Unidos, é réu pela quarta vez e tem sofrido uma implacável caçada pela justiça americana, e mesmo assim segundo pesquisa do New York Times/Siena College, de julho deste ano, o ex-presidente americano lidera as prévias dos Republicanos com 54% das intenções de voto, 37 pontos porcentuais a mais que Ron DeSantis, governador da Flórida, que tem apenas 17%. Quando se pesquisa o eleitorado como um todo, Trump empata com o atual presidente Joe Biden, com 43% dos votos cada.

Há uma ideia errônea de que o caso das joias respingará tão forte em Bolsonaro a ponto de transformá-lo em um cabo eleitoral negativo para as eleições locais de 2024. A corrente do bolsonarismo seguirá forte, mesmo isso não sendo o determinante para o voto municipal, que engloba uma outra dúzia de fatores, que têm impacto mais preponderante para o eleitor. Apenas, para exemplificar, Lula foi eleito presidente da Republica ano passado e na última eleição municipal, de 2020, o PT não conseguiu fazer qualquer prefeito de capital.

Nem mesmo uma possível prisão de Jair Bolsonaro afetará esse bloco eleitoral. Ele pode sofrer pequenas rachaduras, mas no todo deve ser preservado. Não se pode esquecer que dois anos antes de se tornar pela terceira vez presidente da República, Lula estava encarcerado. É bem verdade que, para o eleitor de Bolsonaro, o tema corrupção parece ser mais valioso, mas mesmo assim há um entendimento generalizado neste nicho de que há uma perseguição promovida pelo atual governo, pelo STF e pelas mídias tradicionais ao presidente. O sorteio que culminou com Alexandre de Moraes como relator no caso das joias pode ser muito comemorado por quem não gosta de Bolsonaro, mas será ainda mais um combustível para o seu eleitor defende-lo desse suposto acossamento.

A fala de Lula, quando preso, que disse: “eu não sou um homem, mas sim uma ideia. E não adianta tentar acabar com as ideias”, cabe perfeitamente para a situação de Bolsonaro. Há uma corrente filosófica espalhada pelos quatro cantos do mundo, que defende valores e credos explícitos no bolsonarismo. A vitória de Milei no PASO argentino é a renovação desse pensamento antissistema na América Latina. Bolsonaro foi um dos apoiadores do líder argentino da coalizão política A Liberdade Avança.

O maior pesadelo para o bolsonarismo está longe de ser as denúncias que envolvem Jair Bolsonaro. O grande drama para esse espectro é o aumento da aprovação de Lula. Em medição recente feito pela Quaest, 60% dos brasileiros estão aprovando o trabalho do presidente, impulsionados por um sentimento de melhora da economia, principalmente no preço dos alimentos e de alguns bens básicos como o gás de cozinha. A aceitação só não é maior porque há uma percepção de aumento de impostos com as novas taxações feitas pelo governo.

A aglutinação eleitoral em torno de Bolsonaro continuará perene. Não serão esses casos que abalarão essa relação. O combate ao petismo e às perdas dos valores tradicionais são suficientemente fortes para amparar o bolsonarismo e mantê-lo vívido. Cabe ao ex-presidente e seus súditos conseguirem dialogar com um público que pode pender para um lado ou outro dessa política binária brasileira. Os extremos só conseguem sair vitoriosos em um mundo dicotômico quando conseguem ganhar as intersecções.

Opinião por Bruno Soller

Bruno Soller é estrategista eleitoral. Especializado em pesquisas de opinião pública, é graduado em Relações Internacionais pela PUC-SP, com especialização em Comunicação Política pela George Washington University. Trabalhou no governo federal, Câmara dos Deputados e Comissão Europeia.

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