Bruno Soller analisa o comportamento do eleitor brasileiro com base em big data e pesquisa

Opinião|Na era digital, astros da televisão seguem sendo protagonistas nas eleições brasileiras


A televisão segue com credibilidade e promotora de conteúdo. O mundo digital é um aliado para carregar essa mensagem. Na política, a essência não mudou, o que se ganhou foram novas formas do público receber informação para decisão eleitoral

Por Bruno Soller

Entre os maiores debates que a comunicação política tem nos dias de hoje, a importância dos meios de mensagem é sempre um dos que dominam a pauta entre especialistas no assunto. A relevância dos meios tradicionais, como as televisões, os jornais e os rádios parecem sempre gerar frenesi em quem quer carimbar que as eleições viraram unicamente digitais. A realidade, no entanto, parece muito diferente disso, principalmente quando se analisa muitos dos políticos e concorrentes que pontuam com grande protagonismo nas pesquisas de opinião. Dividir importância está longe de ser ostracismo. A política brasileira é recheada de astros televisivos e a eleição de 2024 tem mostrado muitos deles em condições de pleitear a chefia do Executivo de importantes conglomerados urbanos País afora.

online broadcast of the event.TV studio Foto: Aliaksei - stock.adobe.com

A capacidade de massificação da mensagem televisiva parece ter ganhado um aliado, apesar de muitos quererem imputar uma disputa entre os meios, que não tem o menor cabimento. As televisões migraram para o digital e isso fez com que o alcance da notícia se espraiasse para além do tradicional. O comentário deixou de ser ilustrativo e se mostrou visível. Quando algo de extraordinário acontece e uma pessoa ainda não foi impactada, com o celular e as plataformas digitais, o cidadão recorre rapidamente ao fato para tomar conhecimento. Não à toa, os sites de busca são os mais acessados em todo. O digital virou um carteiro de melhor qualidade da produção televisiva.

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Exemplo disso, o candidato que disputa as primeiras posições na cidade de Manaus, o deputado federal Amon Mandel, do Cidadania, viralizou nas redes e alcançou votação histórica no pleito passado, ultrapassando os 288 mil votos, utilizando o horário eleitoral televisivo, em queda de audiência (pensando nas eleições municipais, a queda de 2016 para 2020, as últimas locais, foi de 16%) para mandar uma mensagem sui generis: “beba água”. O ineditismo da mensagem só teve sucesso porque foi feito na Televisão, em um ambiente que ainda parece intocável para muitos brasileiros. O sucesso do espraiamento, no entanto, deveu-se aos tentáculos do alcance digital.

Ficando pelo Amazonas, o governador do Estado, Wilson Lima, chegou ao posto em função de sua popularidade televisiva. Apresentador do programa Alô Amazonas, da TV A Crítica, antiga retransmissora da TV Record, Wilson Lima ficou conhecido da população por sua postura combativa e de denúncias sobre crise de segurança pública, malversação do dinheiro público e prestação de serviços cotidianos. Venceu sua primeira eleição, derrotando um dos maiores políticos da história do Estado, Amazonino Mendes, que havia sido nada menos que três vezes governador do Estado, três vezes prefeito da capital e senador da República.

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A TV Record com seu jornalismo local extremamente popular e de grande audiência virou uma fábrica de produzir parlamentares, sempre muito bem votados entre os eleitores. Seu programa vespertino Balanço Geral, de tanta audiência, foi responsável por imputar mudanças significativas na grade da Rede Globo, líder do mercado, e sua principal oponente. Fred Linhares, no Distrito Federal, Silvye Alves, em Goiás, Carlos Viana, senador por Minas Gerais são exemplos e oriundos dessa escola. Marcelo Crivella, ex-senador, ministro e prefeito do Rio de Janeiro, hoje deputado federal, líder religioso da Igreja Universal do Reino de Deus, tornou-se conhecido em todo o país e estourou a bolha de conhecimento, quando começou a fazer o seu Momento de Oração, no horário nobre da emissora, cujo o tio dele, o bispo Edir Macedo é o proprietário.

Líder isolado nas pesquisas em Belo Horizonte, com 29% das intenções de votos na pesquisa Globo/Quaest e 26% na Record/RealTime Big Data, o recém licenciado apresentador do Balanço Geral, Mauro Tramonte tem uma distância considerável do pelotão de baixo de adversários que concorrem com ele pela vaga de prefeito da cidade. Sua popularidade e a expectativa de vitória gerada, fez com que adversários viscerais se juntassem para apoia-lo. O ex-prefeito do município, Alexandre Kalil, abandonou o PSD, partido do atual prefeito Fuad Noman, eleito seu vice, e por onde ele concorreu ao governo de Minas Gerais, para se filiar ao Republicanos de Tramonte e apoiá-lo. Romeu Zema, que derrotou Kalil, há menos de dois anos, indicou a vice na chapa comandada pelo apresentador.

A expectativa de poder gerada pela alta popularidade dos apresentadores de TV, fez com que o PSDB Nacional comprasse uma briga interna para filiar José Luiz Datena, que apresentava o Brasil Urgente, na Rede Bandeirantes, para disputar a cadeira mais cobiçada do Edifício Matarazzo. Datena, em franco crescimento nas pesquisas de opinião, encontrando-se em empate técnico na liderança, na pesquisa Globo/Quaest, não tem muito a ver com a história do partido em São Paulo, sendo um estranho no ninho tucano. Todavia, para abrigá-lo, o partido indicou um dirigente de alta plumagem, que foi presidente nacional da sigla, o ex-senador José Aníbal para sua vice.

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Nessa corrida paulistana, um fenômeno interessante traz para a concretude esse embate ideológico sobre a importância dos meios de comunicação. Pablo Marçal, candidato pelo PRTB, é um fenômeno nas redes sociais e que tinha pouco alcance nas mídias tradicionais. Seus 12 milhões de seguidores no Instagram já estavam habituados à sua maneira excêntrica de se comunicar e o seguiam justamente por isso. Todavia, dois pontos merecem reflexão sobre sua candidatura. Após enfrentar a Rede Globo no episódio das enchentes no Rio Grande do Sul, em que Marçal se colocou como voluntário, os trackings das campanhas de seus adversários perceberam uma mudança de patamar do candidato, que rompeu a barreira dos dois dígitos, confirmada pelos maiores institutos de pesquisa do país, como Datafolha, Quaest e RealTime Big Data.

Esse fato fez com que Marçal saísse do mundo virtual e fosse para o analógico, onde ainda é a casa de grande parte dos brasileiros. Com quase metade da população vivendo nas classes C e D e com precariedade de serviços infraestruturais além do custo elevado de pacotes de internet, a televisão se mantém como fonte primária de informação de boa parte do público. A adaptação a esse mundo, para quem sai da velocidade do virtual, não foi bem captada pelo coach multimilionário. Marçal entrou em uma rotação completamente diferente no primeiro debate televisivo das eleições de 2024, organizado pelo Grupo Bandeirantes. Suas falas atropeladas, suas afirmações pessoais sobre sua riqueza, capacidade física e vida afetiva, assustou parte do eleitorado que nunca o havia visto. Virou notícia, mas precisa ver se a estratégia terá sucesso ou se vai acabar por tornar meme.

Por mais antiquada que possa ser para o jovem moderno, a televisão segue sendo ponto de credibilidade. Em pesquisa do Datafolha e da TecBan, a maioria dos brasileiros confiam mais em uma publicidade feita pela televisão do que pela internet. A conexão emocional com as marcas televisivas, poucas no Brasil, mas conhecidas na totalidade pela população, traz segurança a quem assiste a mensagem. Por mais críticos que possam ser às linhas editorais dos jornalismos das emissoras, o brasileiro ainda entende que a veiculação de marca com as gigantes televisivas é um sinal de crédito. A TV segue sendo criadora e promotora de conteúdo e o mundo digital é um aliado para carregar essa mensagem. Na política, a essência não mudou, o que se ganhou foram novas formas do público receber informação para sua tão importante decisão eleitoral.

Entre os maiores debates que a comunicação política tem nos dias de hoje, a importância dos meios de mensagem é sempre um dos que dominam a pauta entre especialistas no assunto. A relevância dos meios tradicionais, como as televisões, os jornais e os rádios parecem sempre gerar frenesi em quem quer carimbar que as eleições viraram unicamente digitais. A realidade, no entanto, parece muito diferente disso, principalmente quando se analisa muitos dos políticos e concorrentes que pontuam com grande protagonismo nas pesquisas de opinião. Dividir importância está longe de ser ostracismo. A política brasileira é recheada de astros televisivos e a eleição de 2024 tem mostrado muitos deles em condições de pleitear a chefia do Executivo de importantes conglomerados urbanos País afora.

online broadcast of the event.TV studio Foto: Aliaksei - stock.adobe.com

A capacidade de massificação da mensagem televisiva parece ter ganhado um aliado, apesar de muitos quererem imputar uma disputa entre os meios, que não tem o menor cabimento. As televisões migraram para o digital e isso fez com que o alcance da notícia se espraiasse para além do tradicional. O comentário deixou de ser ilustrativo e se mostrou visível. Quando algo de extraordinário acontece e uma pessoa ainda não foi impactada, com o celular e as plataformas digitais, o cidadão recorre rapidamente ao fato para tomar conhecimento. Não à toa, os sites de busca são os mais acessados em todo. O digital virou um carteiro de melhor qualidade da produção televisiva.

Exemplo disso, o candidato que disputa as primeiras posições na cidade de Manaus, o deputado federal Amon Mandel, do Cidadania, viralizou nas redes e alcançou votação histórica no pleito passado, ultrapassando os 288 mil votos, utilizando o horário eleitoral televisivo, em queda de audiência (pensando nas eleições municipais, a queda de 2016 para 2020, as últimas locais, foi de 16%) para mandar uma mensagem sui generis: “beba água”. O ineditismo da mensagem só teve sucesso porque foi feito na Televisão, em um ambiente que ainda parece intocável para muitos brasileiros. O sucesso do espraiamento, no entanto, deveu-se aos tentáculos do alcance digital.

Ficando pelo Amazonas, o governador do Estado, Wilson Lima, chegou ao posto em função de sua popularidade televisiva. Apresentador do programa Alô Amazonas, da TV A Crítica, antiga retransmissora da TV Record, Wilson Lima ficou conhecido da população por sua postura combativa e de denúncias sobre crise de segurança pública, malversação do dinheiro público e prestação de serviços cotidianos. Venceu sua primeira eleição, derrotando um dos maiores políticos da história do Estado, Amazonino Mendes, que havia sido nada menos que três vezes governador do Estado, três vezes prefeito da capital e senador da República.

A TV Record com seu jornalismo local extremamente popular e de grande audiência virou uma fábrica de produzir parlamentares, sempre muito bem votados entre os eleitores. Seu programa vespertino Balanço Geral, de tanta audiência, foi responsável por imputar mudanças significativas na grade da Rede Globo, líder do mercado, e sua principal oponente. Fred Linhares, no Distrito Federal, Silvye Alves, em Goiás, Carlos Viana, senador por Minas Gerais são exemplos e oriundos dessa escola. Marcelo Crivella, ex-senador, ministro e prefeito do Rio de Janeiro, hoje deputado federal, líder religioso da Igreja Universal do Reino de Deus, tornou-se conhecido em todo o país e estourou a bolha de conhecimento, quando começou a fazer o seu Momento de Oração, no horário nobre da emissora, cujo o tio dele, o bispo Edir Macedo é o proprietário.

Líder isolado nas pesquisas em Belo Horizonte, com 29% das intenções de votos na pesquisa Globo/Quaest e 26% na Record/RealTime Big Data, o recém licenciado apresentador do Balanço Geral, Mauro Tramonte tem uma distância considerável do pelotão de baixo de adversários que concorrem com ele pela vaga de prefeito da cidade. Sua popularidade e a expectativa de vitória gerada, fez com que adversários viscerais se juntassem para apoia-lo. O ex-prefeito do município, Alexandre Kalil, abandonou o PSD, partido do atual prefeito Fuad Noman, eleito seu vice, e por onde ele concorreu ao governo de Minas Gerais, para se filiar ao Republicanos de Tramonte e apoiá-lo. Romeu Zema, que derrotou Kalil, há menos de dois anos, indicou a vice na chapa comandada pelo apresentador.

A expectativa de poder gerada pela alta popularidade dos apresentadores de TV, fez com que o PSDB Nacional comprasse uma briga interna para filiar José Luiz Datena, que apresentava o Brasil Urgente, na Rede Bandeirantes, para disputar a cadeira mais cobiçada do Edifício Matarazzo. Datena, em franco crescimento nas pesquisas de opinião, encontrando-se em empate técnico na liderança, na pesquisa Globo/Quaest, não tem muito a ver com a história do partido em São Paulo, sendo um estranho no ninho tucano. Todavia, para abrigá-lo, o partido indicou um dirigente de alta plumagem, que foi presidente nacional da sigla, o ex-senador José Aníbal para sua vice.

Nessa corrida paulistana, um fenômeno interessante traz para a concretude esse embate ideológico sobre a importância dos meios de comunicação. Pablo Marçal, candidato pelo PRTB, é um fenômeno nas redes sociais e que tinha pouco alcance nas mídias tradicionais. Seus 12 milhões de seguidores no Instagram já estavam habituados à sua maneira excêntrica de se comunicar e o seguiam justamente por isso. Todavia, dois pontos merecem reflexão sobre sua candidatura. Após enfrentar a Rede Globo no episódio das enchentes no Rio Grande do Sul, em que Marçal se colocou como voluntário, os trackings das campanhas de seus adversários perceberam uma mudança de patamar do candidato, que rompeu a barreira dos dois dígitos, confirmada pelos maiores institutos de pesquisa do país, como Datafolha, Quaest e RealTime Big Data.

Esse fato fez com que Marçal saísse do mundo virtual e fosse para o analógico, onde ainda é a casa de grande parte dos brasileiros. Com quase metade da população vivendo nas classes C e D e com precariedade de serviços infraestruturais além do custo elevado de pacotes de internet, a televisão se mantém como fonte primária de informação de boa parte do público. A adaptação a esse mundo, para quem sai da velocidade do virtual, não foi bem captada pelo coach multimilionário. Marçal entrou em uma rotação completamente diferente no primeiro debate televisivo das eleições de 2024, organizado pelo Grupo Bandeirantes. Suas falas atropeladas, suas afirmações pessoais sobre sua riqueza, capacidade física e vida afetiva, assustou parte do eleitorado que nunca o havia visto. Virou notícia, mas precisa ver se a estratégia terá sucesso ou se vai acabar por tornar meme.

Por mais antiquada que possa ser para o jovem moderno, a televisão segue sendo ponto de credibilidade. Em pesquisa do Datafolha e da TecBan, a maioria dos brasileiros confiam mais em uma publicidade feita pela televisão do que pela internet. A conexão emocional com as marcas televisivas, poucas no Brasil, mas conhecidas na totalidade pela população, traz segurança a quem assiste a mensagem. Por mais críticos que possam ser às linhas editorais dos jornalismos das emissoras, o brasileiro ainda entende que a veiculação de marca com as gigantes televisivas é um sinal de crédito. A TV segue sendo criadora e promotora de conteúdo e o mundo digital é um aliado para carregar essa mensagem. Na política, a essência não mudou, o que se ganhou foram novas formas do público receber informação para sua tão importante decisão eleitoral.

Entre os maiores debates que a comunicação política tem nos dias de hoje, a importância dos meios de mensagem é sempre um dos que dominam a pauta entre especialistas no assunto. A relevância dos meios tradicionais, como as televisões, os jornais e os rádios parecem sempre gerar frenesi em quem quer carimbar que as eleições viraram unicamente digitais. A realidade, no entanto, parece muito diferente disso, principalmente quando se analisa muitos dos políticos e concorrentes que pontuam com grande protagonismo nas pesquisas de opinião. Dividir importância está longe de ser ostracismo. A política brasileira é recheada de astros televisivos e a eleição de 2024 tem mostrado muitos deles em condições de pleitear a chefia do Executivo de importantes conglomerados urbanos País afora.

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A capacidade de massificação da mensagem televisiva parece ter ganhado um aliado, apesar de muitos quererem imputar uma disputa entre os meios, que não tem o menor cabimento. As televisões migraram para o digital e isso fez com que o alcance da notícia se espraiasse para além do tradicional. O comentário deixou de ser ilustrativo e se mostrou visível. Quando algo de extraordinário acontece e uma pessoa ainda não foi impactada, com o celular e as plataformas digitais, o cidadão recorre rapidamente ao fato para tomar conhecimento. Não à toa, os sites de busca são os mais acessados em todo. O digital virou um carteiro de melhor qualidade da produção televisiva.

Exemplo disso, o candidato que disputa as primeiras posições na cidade de Manaus, o deputado federal Amon Mandel, do Cidadania, viralizou nas redes e alcançou votação histórica no pleito passado, ultrapassando os 288 mil votos, utilizando o horário eleitoral televisivo, em queda de audiência (pensando nas eleições municipais, a queda de 2016 para 2020, as últimas locais, foi de 16%) para mandar uma mensagem sui generis: “beba água”. O ineditismo da mensagem só teve sucesso porque foi feito na Televisão, em um ambiente que ainda parece intocável para muitos brasileiros. O sucesso do espraiamento, no entanto, deveu-se aos tentáculos do alcance digital.

Ficando pelo Amazonas, o governador do Estado, Wilson Lima, chegou ao posto em função de sua popularidade televisiva. Apresentador do programa Alô Amazonas, da TV A Crítica, antiga retransmissora da TV Record, Wilson Lima ficou conhecido da população por sua postura combativa e de denúncias sobre crise de segurança pública, malversação do dinheiro público e prestação de serviços cotidianos. Venceu sua primeira eleição, derrotando um dos maiores políticos da história do Estado, Amazonino Mendes, que havia sido nada menos que três vezes governador do Estado, três vezes prefeito da capital e senador da República.

A TV Record com seu jornalismo local extremamente popular e de grande audiência virou uma fábrica de produzir parlamentares, sempre muito bem votados entre os eleitores. Seu programa vespertino Balanço Geral, de tanta audiência, foi responsável por imputar mudanças significativas na grade da Rede Globo, líder do mercado, e sua principal oponente. Fred Linhares, no Distrito Federal, Silvye Alves, em Goiás, Carlos Viana, senador por Minas Gerais são exemplos e oriundos dessa escola. Marcelo Crivella, ex-senador, ministro e prefeito do Rio de Janeiro, hoje deputado federal, líder religioso da Igreja Universal do Reino de Deus, tornou-se conhecido em todo o país e estourou a bolha de conhecimento, quando começou a fazer o seu Momento de Oração, no horário nobre da emissora, cujo o tio dele, o bispo Edir Macedo é o proprietário.

Líder isolado nas pesquisas em Belo Horizonte, com 29% das intenções de votos na pesquisa Globo/Quaest e 26% na Record/RealTime Big Data, o recém licenciado apresentador do Balanço Geral, Mauro Tramonte tem uma distância considerável do pelotão de baixo de adversários que concorrem com ele pela vaga de prefeito da cidade. Sua popularidade e a expectativa de vitória gerada, fez com que adversários viscerais se juntassem para apoia-lo. O ex-prefeito do município, Alexandre Kalil, abandonou o PSD, partido do atual prefeito Fuad Noman, eleito seu vice, e por onde ele concorreu ao governo de Minas Gerais, para se filiar ao Republicanos de Tramonte e apoiá-lo. Romeu Zema, que derrotou Kalil, há menos de dois anos, indicou a vice na chapa comandada pelo apresentador.

A expectativa de poder gerada pela alta popularidade dos apresentadores de TV, fez com que o PSDB Nacional comprasse uma briga interna para filiar José Luiz Datena, que apresentava o Brasil Urgente, na Rede Bandeirantes, para disputar a cadeira mais cobiçada do Edifício Matarazzo. Datena, em franco crescimento nas pesquisas de opinião, encontrando-se em empate técnico na liderança, na pesquisa Globo/Quaest, não tem muito a ver com a história do partido em São Paulo, sendo um estranho no ninho tucano. Todavia, para abrigá-lo, o partido indicou um dirigente de alta plumagem, que foi presidente nacional da sigla, o ex-senador José Aníbal para sua vice.

Nessa corrida paulistana, um fenômeno interessante traz para a concretude esse embate ideológico sobre a importância dos meios de comunicação. Pablo Marçal, candidato pelo PRTB, é um fenômeno nas redes sociais e que tinha pouco alcance nas mídias tradicionais. Seus 12 milhões de seguidores no Instagram já estavam habituados à sua maneira excêntrica de se comunicar e o seguiam justamente por isso. Todavia, dois pontos merecem reflexão sobre sua candidatura. Após enfrentar a Rede Globo no episódio das enchentes no Rio Grande do Sul, em que Marçal se colocou como voluntário, os trackings das campanhas de seus adversários perceberam uma mudança de patamar do candidato, que rompeu a barreira dos dois dígitos, confirmada pelos maiores institutos de pesquisa do país, como Datafolha, Quaest e RealTime Big Data.

Esse fato fez com que Marçal saísse do mundo virtual e fosse para o analógico, onde ainda é a casa de grande parte dos brasileiros. Com quase metade da população vivendo nas classes C e D e com precariedade de serviços infraestruturais além do custo elevado de pacotes de internet, a televisão se mantém como fonte primária de informação de boa parte do público. A adaptação a esse mundo, para quem sai da velocidade do virtual, não foi bem captada pelo coach multimilionário. Marçal entrou em uma rotação completamente diferente no primeiro debate televisivo das eleições de 2024, organizado pelo Grupo Bandeirantes. Suas falas atropeladas, suas afirmações pessoais sobre sua riqueza, capacidade física e vida afetiva, assustou parte do eleitorado que nunca o havia visto. Virou notícia, mas precisa ver se a estratégia terá sucesso ou se vai acabar por tornar meme.

Por mais antiquada que possa ser para o jovem moderno, a televisão segue sendo ponto de credibilidade. Em pesquisa do Datafolha e da TecBan, a maioria dos brasileiros confiam mais em uma publicidade feita pela televisão do que pela internet. A conexão emocional com as marcas televisivas, poucas no Brasil, mas conhecidas na totalidade pela população, traz segurança a quem assiste a mensagem. Por mais críticos que possam ser às linhas editorais dos jornalismos das emissoras, o brasileiro ainda entende que a veiculação de marca com as gigantes televisivas é um sinal de crédito. A TV segue sendo criadora e promotora de conteúdo e o mundo digital é um aliado para carregar essa mensagem. Na política, a essência não mudou, o que se ganhou foram novas formas do público receber informação para sua tão importante decisão eleitoral.

Entre os maiores debates que a comunicação política tem nos dias de hoje, a importância dos meios de mensagem é sempre um dos que dominam a pauta entre especialistas no assunto. A relevância dos meios tradicionais, como as televisões, os jornais e os rádios parecem sempre gerar frenesi em quem quer carimbar que as eleições viraram unicamente digitais. A realidade, no entanto, parece muito diferente disso, principalmente quando se analisa muitos dos políticos e concorrentes que pontuam com grande protagonismo nas pesquisas de opinião. Dividir importância está longe de ser ostracismo. A política brasileira é recheada de astros televisivos e a eleição de 2024 tem mostrado muitos deles em condições de pleitear a chefia do Executivo de importantes conglomerados urbanos País afora.

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A capacidade de massificação da mensagem televisiva parece ter ganhado um aliado, apesar de muitos quererem imputar uma disputa entre os meios, que não tem o menor cabimento. As televisões migraram para o digital e isso fez com que o alcance da notícia se espraiasse para além do tradicional. O comentário deixou de ser ilustrativo e se mostrou visível. Quando algo de extraordinário acontece e uma pessoa ainda não foi impactada, com o celular e as plataformas digitais, o cidadão recorre rapidamente ao fato para tomar conhecimento. Não à toa, os sites de busca são os mais acessados em todo. O digital virou um carteiro de melhor qualidade da produção televisiva.

Exemplo disso, o candidato que disputa as primeiras posições na cidade de Manaus, o deputado federal Amon Mandel, do Cidadania, viralizou nas redes e alcançou votação histórica no pleito passado, ultrapassando os 288 mil votos, utilizando o horário eleitoral televisivo, em queda de audiência (pensando nas eleições municipais, a queda de 2016 para 2020, as últimas locais, foi de 16%) para mandar uma mensagem sui generis: “beba água”. O ineditismo da mensagem só teve sucesso porque foi feito na Televisão, em um ambiente que ainda parece intocável para muitos brasileiros. O sucesso do espraiamento, no entanto, deveu-se aos tentáculos do alcance digital.

Ficando pelo Amazonas, o governador do Estado, Wilson Lima, chegou ao posto em função de sua popularidade televisiva. Apresentador do programa Alô Amazonas, da TV A Crítica, antiga retransmissora da TV Record, Wilson Lima ficou conhecido da população por sua postura combativa e de denúncias sobre crise de segurança pública, malversação do dinheiro público e prestação de serviços cotidianos. Venceu sua primeira eleição, derrotando um dos maiores políticos da história do Estado, Amazonino Mendes, que havia sido nada menos que três vezes governador do Estado, três vezes prefeito da capital e senador da República.

A TV Record com seu jornalismo local extremamente popular e de grande audiência virou uma fábrica de produzir parlamentares, sempre muito bem votados entre os eleitores. Seu programa vespertino Balanço Geral, de tanta audiência, foi responsável por imputar mudanças significativas na grade da Rede Globo, líder do mercado, e sua principal oponente. Fred Linhares, no Distrito Federal, Silvye Alves, em Goiás, Carlos Viana, senador por Minas Gerais são exemplos e oriundos dessa escola. Marcelo Crivella, ex-senador, ministro e prefeito do Rio de Janeiro, hoje deputado federal, líder religioso da Igreja Universal do Reino de Deus, tornou-se conhecido em todo o país e estourou a bolha de conhecimento, quando começou a fazer o seu Momento de Oração, no horário nobre da emissora, cujo o tio dele, o bispo Edir Macedo é o proprietário.

Líder isolado nas pesquisas em Belo Horizonte, com 29% das intenções de votos na pesquisa Globo/Quaest e 26% na Record/RealTime Big Data, o recém licenciado apresentador do Balanço Geral, Mauro Tramonte tem uma distância considerável do pelotão de baixo de adversários que concorrem com ele pela vaga de prefeito da cidade. Sua popularidade e a expectativa de vitória gerada, fez com que adversários viscerais se juntassem para apoia-lo. O ex-prefeito do município, Alexandre Kalil, abandonou o PSD, partido do atual prefeito Fuad Noman, eleito seu vice, e por onde ele concorreu ao governo de Minas Gerais, para se filiar ao Republicanos de Tramonte e apoiá-lo. Romeu Zema, que derrotou Kalil, há menos de dois anos, indicou a vice na chapa comandada pelo apresentador.

A expectativa de poder gerada pela alta popularidade dos apresentadores de TV, fez com que o PSDB Nacional comprasse uma briga interna para filiar José Luiz Datena, que apresentava o Brasil Urgente, na Rede Bandeirantes, para disputar a cadeira mais cobiçada do Edifício Matarazzo. Datena, em franco crescimento nas pesquisas de opinião, encontrando-se em empate técnico na liderança, na pesquisa Globo/Quaest, não tem muito a ver com a história do partido em São Paulo, sendo um estranho no ninho tucano. Todavia, para abrigá-lo, o partido indicou um dirigente de alta plumagem, que foi presidente nacional da sigla, o ex-senador José Aníbal para sua vice.

Nessa corrida paulistana, um fenômeno interessante traz para a concretude esse embate ideológico sobre a importância dos meios de comunicação. Pablo Marçal, candidato pelo PRTB, é um fenômeno nas redes sociais e que tinha pouco alcance nas mídias tradicionais. Seus 12 milhões de seguidores no Instagram já estavam habituados à sua maneira excêntrica de se comunicar e o seguiam justamente por isso. Todavia, dois pontos merecem reflexão sobre sua candidatura. Após enfrentar a Rede Globo no episódio das enchentes no Rio Grande do Sul, em que Marçal se colocou como voluntário, os trackings das campanhas de seus adversários perceberam uma mudança de patamar do candidato, que rompeu a barreira dos dois dígitos, confirmada pelos maiores institutos de pesquisa do país, como Datafolha, Quaest e RealTime Big Data.

Esse fato fez com que Marçal saísse do mundo virtual e fosse para o analógico, onde ainda é a casa de grande parte dos brasileiros. Com quase metade da população vivendo nas classes C e D e com precariedade de serviços infraestruturais além do custo elevado de pacotes de internet, a televisão se mantém como fonte primária de informação de boa parte do público. A adaptação a esse mundo, para quem sai da velocidade do virtual, não foi bem captada pelo coach multimilionário. Marçal entrou em uma rotação completamente diferente no primeiro debate televisivo das eleições de 2024, organizado pelo Grupo Bandeirantes. Suas falas atropeladas, suas afirmações pessoais sobre sua riqueza, capacidade física e vida afetiva, assustou parte do eleitorado que nunca o havia visto. Virou notícia, mas precisa ver se a estratégia terá sucesso ou se vai acabar por tornar meme.

Por mais antiquada que possa ser para o jovem moderno, a televisão segue sendo ponto de credibilidade. Em pesquisa do Datafolha e da TecBan, a maioria dos brasileiros confiam mais em uma publicidade feita pela televisão do que pela internet. A conexão emocional com as marcas televisivas, poucas no Brasil, mas conhecidas na totalidade pela população, traz segurança a quem assiste a mensagem. Por mais críticos que possam ser às linhas editorais dos jornalismos das emissoras, o brasileiro ainda entende que a veiculação de marca com as gigantes televisivas é um sinal de crédito. A TV segue sendo criadora e promotora de conteúdo e o mundo digital é um aliado para carregar essa mensagem. Na política, a essência não mudou, o que se ganhou foram novas formas do público receber informação para sua tão importante decisão eleitoral.

Opinião por Bruno Soller

Bruno Soller é estrategista eleitoral. Especializado em pesquisas de opinião pública, é graduado em Relações Internacionais pela PUC-SP, com especialização em Comunicação Política pela George Washington University. Trabalhou no governo federal, Câmara dos Deputados e Comissão Europeia.

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