Bruno Soller analisa o comportamento do eleitor brasileiro com base em big data e pesquisa

Opinião|Ricardo Nunes precisa do voto anti-Lula, mas só se escorar em Bolsonaro não resolve


Não basta ao prefeito ser o ‘bolsonarista da eleição’ contra Guilherme Boulos; São Paulo conservadora é um mito

Por Bruno Soller
Atualização:

Plural, dinâmica e cosmopolita, a cidade de São Paulo é um caldeirão de vertentes e possibilidades que concentra os mais variados pensamentos e ideologias, tendo já experimentado diversas administrações, sejam elas conservadoras, progressistas, liberais ou de viés socialista. O maior erro que se pode ter é tachar a capital paulista em um único espectro. O processo eleitoral em São Paulo é extremamente complexo, o que o torna único e absolutamente aberto.

A imagem da São Paulo trabalhadora e pujante gera automaticamente a sensação de que o eleitorado paulistano caminha para um perfil eleitoral mais conservador, mas os números provam que essa é uma inverdade que acaba por ser repetida tantas vezes, que parece real. São Paulo já elegeu uma mulher nordestina como prefeita, nos anos 80, um negro carioca, nos anos 90, uma sexóloga de esquerda, nos anos 2000, além de um professor uspiano, na segunda década do novo século.

Luiza Erundina, quando assumiu a prefeitura de São Paulo, em 1989 Foto: Estadão
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Berço do sindicalismo, da parada LGBT+, da luta pela anistia, pelas Diretas Já, São Paulo, pela sua importância econômica e política, é o centro que gera tendências pelo Brasil. As diversas manifestações que ditaram rumos da política brasileira tiveram a Avenida Paulista como cartão postal. Manifestações essas, de esquerda ou de direita, se assim podemos dizer, que mostram que a ânsia por mudanças faz parte da realidade do eleitor paulistano.

Com 15,4% de população concentrada nas classes A/B1 e 11,6% nas classes D/E, segundo dados do Critério Brasil, elaborado pela ABEP, São Paulo tem um equilíbrio entre as classes mais ricas e a mais pobre. Com 74%, ou seja, ¾ do eleitorado B2 e C, São Paulo pode ser considerada uma cidade de classe média, o que a difere em absoluto da maioria das capitais brasileiras, que concentram níveis muito mais altos de pobreza.

Ao se analisar os mapas de votação dos pleitos anteriores é interessante perceber um certo padrão que eleição a eleição se repete. Nas franjas da cidade, onde se encontra a maioria da classe D, os candidatos mais identificados com o lulismo acabam sendo majoritários. No centro expandido, onde se concentram as classes A e B1, os candidatos anti-Lula normalmente são a escolha do eleitor. No zonal Indianópolis, região rica da cidade, Bruno Covas fez 75,87% dos votos em 2020. Já em Cidade Tiradentes, no extremo da Zona Leste, região de classe C2/D, Guilherme Boulos, seu adversário, fez 56,42%. Todos os 8 zonais que deram vitória ao candidato do PSOL são de regiões periféricas, onde os índices de pobreza são mais agudos.

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Pré-candidato à Prefeitura, Guilherme Boulos chegou ao segundo da disputa em 2020 Foto: Felipe Rau/Estadão

Partindo dessa premissa, em que nas regiões mais ricas os candidatos anti-Lula saem vitoriosos e nas mais pobres os lulistas vencem, o principal desafio de quem quer ser prefeito da capital é conseguir vencer nessa zona intermediária, que circunda o centro, mas ainda não está nas franjas da cidade. Bairros como Santana, Tatuapé, Vila Prudente, Carrão, Casa Verde e Cursino são os que concentram o maior índice de classe B2 e C da cidade.

É interessante, no entanto, perceber um fenômeno que ocorreu na última eleição presidencial. Lula voltou a vencer na capital, algo que não ocorria desde 2002, quando foi eleito pela primeira vez. Além do voto massificado no subúrbio, Lula conseguiu equilibrar o jogo no centro expandido, muito em função do aumento significativo da rejeição a Bolsonaro nas classes mais altas paulistanas. Bolsonaro venceu na zona intermediária, mas perdeu de lavada nas franjas e em boa parte do centro expandido.

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Esse dado pode ser preocupante para quem tentar se escorar em Bolsonaro no próximo pleito. O prefeito Ricardo Nunes tem vencido a cada dia um certo desconhecimento. Eleito como vice-prefeito de Bruno Covas, Nunes assumiu a gestão praticamente de forma integral, já que Covas veio a falecer bem no início mandato. O atual prefeito tem conseguido, por meio da articulação política, retirar do jogo candidatos mais identificados com o bolsonarismo, deixando essa raia anti-Lula ou de direita aberta para suas pretensões de reeleição.

Jair Bolsonaro e Ricardo Nunes; prefeito de São Paulo tem vencido a cada dia um certo desconhecimento Foto: REPRODUÇÃO/PL

Conseguir esse feito é fundamental para seu projeto, já que uma candidatura bolsonarista praticamente o encurralaria em um centro, que tem dificuldades de sair vitorioso, visto o ocorrido com ex-governador Rodrigo Garcia, que ficou sem posição na sua reeleição ao assumir a campanha, “nem esquerda, nem direita” que culminou na sua nem ida para o segundo turno. Todavia, não basta apenas ser o “bolsonarista” da eleição, já que para ser eleito prefeito, o candidato precisa ser majoritário, ou seja, ter 50% mais um dos votos.

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Com uma gestão totalmente regular para 49% dos entrevistados pelo Datafolha, em pesquisa divulgada nesta sexta-feira, 1º de setembro, Nunes precisará melhorar seus índices de aprovação para conseguir a reeleição. O desejo de mudança no rumo da atual administração atinge incríveis 79%. Quando somados as intenções de votos entre candidatos mais identificados com cada espectro, Nunes, Kim Kataguiri e Vinicius Poit somam 34%, sendo os candidatos à direita, e Boulos e Tábata Amaral somam 43%, sendo candidatos mais à esquerda. Uma diferença de 11 pontos percentuais, tendo ainda 23% do eleitorado que diz votar nulo, branco ou que ainda não sabe escolher.

O desafio do atual prefeito é recuperar o voto anti-lula do centro expandido e surfar no bolsonarismo das regiões intermediárias. Se serve de alento, em grupos qualitativos ainda é perceptivo que a construção de Nunes como persona política está em fase mediana, com o paulistano não possuindo grandes considerações a seu respeito. A gestão não conseguiu por ora comunicar uma entrega impactante para os munícipes, o que explica esse alto número de entrevistados que a consideram regular.

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Um ano resta para que o eleitor volte às urnas e esse tempo em política é uma eternidade. Há muito o que se debater e discutir, em uma eleição que está totalmente aberta. Esperar apenas por um jogo posicional, apostando no conservadorismo do paulistano é um erro crasso. Não seria nenhuma novidade ou grande surpresa um líder dos sem-teto conquistar a prefeitura. São Paulo já dormiu com Jânio Quadros, um populista de direita na cadeira de prefeito e acordou com uma ativista social, nordestina, Luiza Erundina, lá sentada. Para se entender a complexidade dessa cidade, vale lembrar uma frase atribuída a Fernando Gabeira: “São Paulo é por onde a gente respira, apesar da poluição.”

Plural, dinâmica e cosmopolita, a cidade de São Paulo é um caldeirão de vertentes e possibilidades que concentra os mais variados pensamentos e ideologias, tendo já experimentado diversas administrações, sejam elas conservadoras, progressistas, liberais ou de viés socialista. O maior erro que se pode ter é tachar a capital paulista em um único espectro. O processo eleitoral em São Paulo é extremamente complexo, o que o torna único e absolutamente aberto.

A imagem da São Paulo trabalhadora e pujante gera automaticamente a sensação de que o eleitorado paulistano caminha para um perfil eleitoral mais conservador, mas os números provam que essa é uma inverdade que acaba por ser repetida tantas vezes, que parece real. São Paulo já elegeu uma mulher nordestina como prefeita, nos anos 80, um negro carioca, nos anos 90, uma sexóloga de esquerda, nos anos 2000, além de um professor uspiano, na segunda década do novo século.

Luiza Erundina, quando assumiu a prefeitura de São Paulo, em 1989 Foto: Estadão

Berço do sindicalismo, da parada LGBT+, da luta pela anistia, pelas Diretas Já, São Paulo, pela sua importância econômica e política, é o centro que gera tendências pelo Brasil. As diversas manifestações que ditaram rumos da política brasileira tiveram a Avenida Paulista como cartão postal. Manifestações essas, de esquerda ou de direita, se assim podemos dizer, que mostram que a ânsia por mudanças faz parte da realidade do eleitor paulistano.

Com 15,4% de população concentrada nas classes A/B1 e 11,6% nas classes D/E, segundo dados do Critério Brasil, elaborado pela ABEP, São Paulo tem um equilíbrio entre as classes mais ricas e a mais pobre. Com 74%, ou seja, ¾ do eleitorado B2 e C, São Paulo pode ser considerada uma cidade de classe média, o que a difere em absoluto da maioria das capitais brasileiras, que concentram níveis muito mais altos de pobreza.

Ao se analisar os mapas de votação dos pleitos anteriores é interessante perceber um certo padrão que eleição a eleição se repete. Nas franjas da cidade, onde se encontra a maioria da classe D, os candidatos mais identificados com o lulismo acabam sendo majoritários. No centro expandido, onde se concentram as classes A e B1, os candidatos anti-Lula normalmente são a escolha do eleitor. No zonal Indianópolis, região rica da cidade, Bruno Covas fez 75,87% dos votos em 2020. Já em Cidade Tiradentes, no extremo da Zona Leste, região de classe C2/D, Guilherme Boulos, seu adversário, fez 56,42%. Todos os 8 zonais que deram vitória ao candidato do PSOL são de regiões periféricas, onde os índices de pobreza são mais agudos.

Pré-candidato à Prefeitura, Guilherme Boulos chegou ao segundo da disputa em 2020 Foto: Felipe Rau/Estadão

Partindo dessa premissa, em que nas regiões mais ricas os candidatos anti-Lula saem vitoriosos e nas mais pobres os lulistas vencem, o principal desafio de quem quer ser prefeito da capital é conseguir vencer nessa zona intermediária, que circunda o centro, mas ainda não está nas franjas da cidade. Bairros como Santana, Tatuapé, Vila Prudente, Carrão, Casa Verde e Cursino são os que concentram o maior índice de classe B2 e C da cidade.

É interessante, no entanto, perceber um fenômeno que ocorreu na última eleição presidencial. Lula voltou a vencer na capital, algo que não ocorria desde 2002, quando foi eleito pela primeira vez. Além do voto massificado no subúrbio, Lula conseguiu equilibrar o jogo no centro expandido, muito em função do aumento significativo da rejeição a Bolsonaro nas classes mais altas paulistanas. Bolsonaro venceu na zona intermediária, mas perdeu de lavada nas franjas e em boa parte do centro expandido.

Esse dado pode ser preocupante para quem tentar se escorar em Bolsonaro no próximo pleito. O prefeito Ricardo Nunes tem vencido a cada dia um certo desconhecimento. Eleito como vice-prefeito de Bruno Covas, Nunes assumiu a gestão praticamente de forma integral, já que Covas veio a falecer bem no início mandato. O atual prefeito tem conseguido, por meio da articulação política, retirar do jogo candidatos mais identificados com o bolsonarismo, deixando essa raia anti-Lula ou de direita aberta para suas pretensões de reeleição.

Jair Bolsonaro e Ricardo Nunes; prefeito de São Paulo tem vencido a cada dia um certo desconhecimento Foto: REPRODUÇÃO/PL

Conseguir esse feito é fundamental para seu projeto, já que uma candidatura bolsonarista praticamente o encurralaria em um centro, que tem dificuldades de sair vitorioso, visto o ocorrido com ex-governador Rodrigo Garcia, que ficou sem posição na sua reeleição ao assumir a campanha, “nem esquerda, nem direita” que culminou na sua nem ida para o segundo turno. Todavia, não basta apenas ser o “bolsonarista” da eleição, já que para ser eleito prefeito, o candidato precisa ser majoritário, ou seja, ter 50% mais um dos votos.

Com uma gestão totalmente regular para 49% dos entrevistados pelo Datafolha, em pesquisa divulgada nesta sexta-feira, 1º de setembro, Nunes precisará melhorar seus índices de aprovação para conseguir a reeleição. O desejo de mudança no rumo da atual administração atinge incríveis 79%. Quando somados as intenções de votos entre candidatos mais identificados com cada espectro, Nunes, Kim Kataguiri e Vinicius Poit somam 34%, sendo os candidatos à direita, e Boulos e Tábata Amaral somam 43%, sendo candidatos mais à esquerda. Uma diferença de 11 pontos percentuais, tendo ainda 23% do eleitorado que diz votar nulo, branco ou que ainda não sabe escolher.

O desafio do atual prefeito é recuperar o voto anti-lula do centro expandido e surfar no bolsonarismo das regiões intermediárias. Se serve de alento, em grupos qualitativos ainda é perceptivo que a construção de Nunes como persona política está em fase mediana, com o paulistano não possuindo grandes considerações a seu respeito. A gestão não conseguiu por ora comunicar uma entrega impactante para os munícipes, o que explica esse alto número de entrevistados que a consideram regular.

Um ano resta para que o eleitor volte às urnas e esse tempo em política é uma eternidade. Há muito o que se debater e discutir, em uma eleição que está totalmente aberta. Esperar apenas por um jogo posicional, apostando no conservadorismo do paulistano é um erro crasso. Não seria nenhuma novidade ou grande surpresa um líder dos sem-teto conquistar a prefeitura. São Paulo já dormiu com Jânio Quadros, um populista de direita na cadeira de prefeito e acordou com uma ativista social, nordestina, Luiza Erundina, lá sentada. Para se entender a complexidade dessa cidade, vale lembrar uma frase atribuída a Fernando Gabeira: “São Paulo é por onde a gente respira, apesar da poluição.”

Plural, dinâmica e cosmopolita, a cidade de São Paulo é um caldeirão de vertentes e possibilidades que concentra os mais variados pensamentos e ideologias, tendo já experimentado diversas administrações, sejam elas conservadoras, progressistas, liberais ou de viés socialista. O maior erro que se pode ter é tachar a capital paulista em um único espectro. O processo eleitoral em São Paulo é extremamente complexo, o que o torna único e absolutamente aberto.

A imagem da São Paulo trabalhadora e pujante gera automaticamente a sensação de que o eleitorado paulistano caminha para um perfil eleitoral mais conservador, mas os números provam que essa é uma inverdade que acaba por ser repetida tantas vezes, que parece real. São Paulo já elegeu uma mulher nordestina como prefeita, nos anos 80, um negro carioca, nos anos 90, uma sexóloga de esquerda, nos anos 2000, além de um professor uspiano, na segunda década do novo século.

Luiza Erundina, quando assumiu a prefeitura de São Paulo, em 1989 Foto: Estadão

Berço do sindicalismo, da parada LGBT+, da luta pela anistia, pelas Diretas Já, São Paulo, pela sua importância econômica e política, é o centro que gera tendências pelo Brasil. As diversas manifestações que ditaram rumos da política brasileira tiveram a Avenida Paulista como cartão postal. Manifestações essas, de esquerda ou de direita, se assim podemos dizer, que mostram que a ânsia por mudanças faz parte da realidade do eleitor paulistano.

Com 15,4% de população concentrada nas classes A/B1 e 11,6% nas classes D/E, segundo dados do Critério Brasil, elaborado pela ABEP, São Paulo tem um equilíbrio entre as classes mais ricas e a mais pobre. Com 74%, ou seja, ¾ do eleitorado B2 e C, São Paulo pode ser considerada uma cidade de classe média, o que a difere em absoluto da maioria das capitais brasileiras, que concentram níveis muito mais altos de pobreza.

Ao se analisar os mapas de votação dos pleitos anteriores é interessante perceber um certo padrão que eleição a eleição se repete. Nas franjas da cidade, onde se encontra a maioria da classe D, os candidatos mais identificados com o lulismo acabam sendo majoritários. No centro expandido, onde se concentram as classes A e B1, os candidatos anti-Lula normalmente são a escolha do eleitor. No zonal Indianópolis, região rica da cidade, Bruno Covas fez 75,87% dos votos em 2020. Já em Cidade Tiradentes, no extremo da Zona Leste, região de classe C2/D, Guilherme Boulos, seu adversário, fez 56,42%. Todos os 8 zonais que deram vitória ao candidato do PSOL são de regiões periféricas, onde os índices de pobreza são mais agudos.

Pré-candidato à Prefeitura, Guilherme Boulos chegou ao segundo da disputa em 2020 Foto: Felipe Rau/Estadão

Partindo dessa premissa, em que nas regiões mais ricas os candidatos anti-Lula saem vitoriosos e nas mais pobres os lulistas vencem, o principal desafio de quem quer ser prefeito da capital é conseguir vencer nessa zona intermediária, que circunda o centro, mas ainda não está nas franjas da cidade. Bairros como Santana, Tatuapé, Vila Prudente, Carrão, Casa Verde e Cursino são os que concentram o maior índice de classe B2 e C da cidade.

É interessante, no entanto, perceber um fenômeno que ocorreu na última eleição presidencial. Lula voltou a vencer na capital, algo que não ocorria desde 2002, quando foi eleito pela primeira vez. Além do voto massificado no subúrbio, Lula conseguiu equilibrar o jogo no centro expandido, muito em função do aumento significativo da rejeição a Bolsonaro nas classes mais altas paulistanas. Bolsonaro venceu na zona intermediária, mas perdeu de lavada nas franjas e em boa parte do centro expandido.

Esse dado pode ser preocupante para quem tentar se escorar em Bolsonaro no próximo pleito. O prefeito Ricardo Nunes tem vencido a cada dia um certo desconhecimento. Eleito como vice-prefeito de Bruno Covas, Nunes assumiu a gestão praticamente de forma integral, já que Covas veio a falecer bem no início mandato. O atual prefeito tem conseguido, por meio da articulação política, retirar do jogo candidatos mais identificados com o bolsonarismo, deixando essa raia anti-Lula ou de direita aberta para suas pretensões de reeleição.

Jair Bolsonaro e Ricardo Nunes; prefeito de São Paulo tem vencido a cada dia um certo desconhecimento Foto: REPRODUÇÃO/PL

Conseguir esse feito é fundamental para seu projeto, já que uma candidatura bolsonarista praticamente o encurralaria em um centro, que tem dificuldades de sair vitorioso, visto o ocorrido com ex-governador Rodrigo Garcia, que ficou sem posição na sua reeleição ao assumir a campanha, “nem esquerda, nem direita” que culminou na sua nem ida para o segundo turno. Todavia, não basta apenas ser o “bolsonarista” da eleição, já que para ser eleito prefeito, o candidato precisa ser majoritário, ou seja, ter 50% mais um dos votos.

Com uma gestão totalmente regular para 49% dos entrevistados pelo Datafolha, em pesquisa divulgada nesta sexta-feira, 1º de setembro, Nunes precisará melhorar seus índices de aprovação para conseguir a reeleição. O desejo de mudança no rumo da atual administração atinge incríveis 79%. Quando somados as intenções de votos entre candidatos mais identificados com cada espectro, Nunes, Kim Kataguiri e Vinicius Poit somam 34%, sendo os candidatos à direita, e Boulos e Tábata Amaral somam 43%, sendo candidatos mais à esquerda. Uma diferença de 11 pontos percentuais, tendo ainda 23% do eleitorado que diz votar nulo, branco ou que ainda não sabe escolher.

O desafio do atual prefeito é recuperar o voto anti-lula do centro expandido e surfar no bolsonarismo das regiões intermediárias. Se serve de alento, em grupos qualitativos ainda é perceptivo que a construção de Nunes como persona política está em fase mediana, com o paulistano não possuindo grandes considerações a seu respeito. A gestão não conseguiu por ora comunicar uma entrega impactante para os munícipes, o que explica esse alto número de entrevistados que a consideram regular.

Um ano resta para que o eleitor volte às urnas e esse tempo em política é uma eternidade. Há muito o que se debater e discutir, em uma eleição que está totalmente aberta. Esperar apenas por um jogo posicional, apostando no conservadorismo do paulistano é um erro crasso. Não seria nenhuma novidade ou grande surpresa um líder dos sem-teto conquistar a prefeitura. São Paulo já dormiu com Jânio Quadros, um populista de direita na cadeira de prefeito e acordou com uma ativista social, nordestina, Luiza Erundina, lá sentada. Para se entender a complexidade dessa cidade, vale lembrar uma frase atribuída a Fernando Gabeira: “São Paulo é por onde a gente respira, apesar da poluição.”

Opinião por Bruno Soller

Bruno Soller é estrategista eleitoral. Especializado em pesquisas de opinião pública, é graduado em Relações Internacionais pela PUC-SP, com especialização em Comunicação Política pela George Washington University. Trabalhou no governo federal, Câmara dos Deputados e Comissão Europeia.

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