BRASÍLIA - O expediente desta quarta-feira, 5, na Câmara dos Deputados foi marcado por tumultos e palavrões. No Conselho de Ética, os pré-candidatos à Prefeitura de São Paulo, o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) e o coach Pablo Marçal (PRTB), trocaram farpas. Após o término da mesma sessão, os deputados Nikolas Ferreira (PL-MG) e André Janones (Avante-MG) quase partiram para a agressão física.
No final da tarde, na Comissão de Direitos Humanos, um manifestante de esquerda foi empurrado pelo deputado Éder Mauro (PL-PA) e levou um tapa no rosto, desferido por um assessor do parlamentar. A briga começou quando o ativista, que preferiu não se identificar, gritou “Bolsonaro na Papuda”, em referência ao complexo penitenciário no Distrito Federal.
Ainda no colegiado de Direitos Humanos, a deputada Erika Hilton (PSOL-SP) discutiu com uma mulher não identificada após a deputada Luiza Erundina (PSOL-SP) passar mal em plena sessão. Segundo Hilton, a visitante estaria filmando Erundina sendo levada de cadeiras de rodas. Ela nega.
Boulos e Marçal se alfinetam durante sessão do Conselho de Ética
A sessão do Conselho de Ética julgou a possibilidade de cassação do deputado federal André Janones. Ele foi acusado pela prática de “rachadinha” quando partes dos salários de funcionários do gabinete são repassadas ao parlamentar.
Durante a votação do processo contra Janones, houve um embate entre Boulos, que foi o relator do caso, e o coach Pablo Marçal. Os dois trocaram insultos durante a sessão e citaram a disputa pela Prefeitura de São Paulo.
“Trouxeram até coach picareta para vir tentar tumultuar essa sessão. Espero muito que não venda sua candidatura para o prefeito Ricardo Nunes. Vá até o fim, que eu quero te enfrentar nos debates”, disse Boulos. “Tá com medo”, gritou Marçal rindo e com o celular em mãos, enquanto fazia uma transmissão ao vivo.
O pré-candidato do PRTB chegou cedo ao Conselho de Ética e sentou-se nas cadeiras reservadas para deputados federais e assessores parlamentares, mesmo não sendo nenhum dos dois. Como mostrou o Estadão, Marçal esteve na Câmara nesta terça-feira, 4, usando o broche exclusivo aos parlamentares mesmo sem ter mandato.
Nas redes sociais, Marçal fez uma transmissão ao vivo para atacar Boulos. “Estou dentro do Conselho de Ética. Boulos está falando agora. Ele está institucionalizando a ‘rachadinha’”, disse Marçal em live publicada no seu Instagram. “Ele quer, com fábula, livrar Janones”, completou.
Nikolas e Janones quase partem para a agressão física e trocam palavrões
Janones foi absolvido pela acusação de rachadinha por 12 votos a cinco. Após o anúncio do resultado, deputados aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e da base do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) começaram a trocar insultos e provocações.
O deputado do Avante chamou os bolsonaristas de “boiolas” e convocou Nikolas “para conversar lá fora”. A situação escalou e a Polícia Legislativa Federal foi obrigada a separar os congressistas. Janones foi retirado da sala, mas o parlamentar do PL o seguiu pelos corredores da Câmara.
“Você é um frouxo, você é um mentiroso. Seu m****. Vamos lá fora então, quero ver”, afirmou Nikolas. “Vamos só nós dois. Tira a gangue, tira a gangue, tira a gangue. Vagabundo, boiola, tomar no seu c*, Bandido. É só nós dois. Vem cá”, respondeu Janones.
A deputada federal Jack Rocha (PT-ES) foi uma das deputadas que tentaram apartar os dois. “Pode vir, bate, bate, ‘rachadinha’”, continuou Nikolas. “Moleque golpista. P** no seu c*, seu moleque. Dou na sua cara com um soco, seu otário”, ameaçou Janones.
“É muito fácil. Está correndo. Vem cá, seu f****”, prosseguiu Janones. “Você é um frouxo mentiroso. É isso o que você é. Seu lixo”, rebateu Nikolas. O deputado do Avante ainda teve confronto com outro deputado bolsonarista na saída do Conselho de Ética. Zé Trovão (PL-SC) quis partir para cima do político mineiro, mas foi contido por deputados, assessores e populares.
Deputado do PL empurra militante de esquerda que o chamou de ‘canalha’
Poucas horas após o embate entre Nikolas e Janones, a Polícia Legislativa teve que entrar em cena mais uma vez nos corredores da Câmara. O deputado Éder Mauro e um assessor dele empurraram um militante de esquerda que provocou o ex-presidente Jair Bolsonaro e seus apoiadores.
Já fora da sala do colegiado, Éder Mauro começou a questionar o militante enquanto o empurrava com o peito. “Quem é o canalha? Quem é o canalha, hein?”, perguntou. Um homem identificado como assessor de Éder Mauro ainda tentou desferir um tapa no esquerdista. “Respeita o cara, rapaz. Respeita o cara”, disse.
Éder Mauro prosseguiu com a discussão, enquanto agentes da Polícia Legislativa tentavam isolar o manifestante. “Quem é o canalha, p****? Quem é o canalha?”, perguntou. O deputado então fez um brusco movimento com o braço direito em direção ao militante.
Em seguida, o assessor do deputado do PL desferiu um tapa no rosto do ativista, que respondeu. “Bate de novo, seu pilantra. Vagabundo, criminoso, mentiroso. Você me deu três porradas, irmão. Eu não dei nenhuma. Você fica esperto”, disse o militante.
Somente a partir daí a Polícia Legislativa conseguiu separar o ativista do deputado e o assessor dele. Com a Bíblia Sagrada na mão, o deputado Pastor Sargento Isidório (Avante-BA) fez um apelo para que a briga terminasse. “Paz aí, gente. Paz, calma. Calma. Paz a vocês todos, paz”, afirmou.
O PSOL disse ao Estadão que entrará com representação no Conselho de Ética contra Éder Mauro.
Erika Hilton discute com mulher após hospitalização de Luiza Erundina
Também na Comissão de Direitos Humanos, a deputada federal Erika Hilton discutiu com uma mulher, não identificada, após a deputada Luiza Erundina passar mal, em plena sessão, e ser internada. A parlamentar está na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Sírio-Libanês, em Brasília, e o estado dela, segundo a assessoria da parlamentar, é estável.
De acordo com Erika Hilton, a mulher estaria filmando Erundina no momento em que ela estava, em meio a provocações, sendo encaminhada para o hospital em uma cadeira de rodas. Hilton então pediu que ela fosse retirada da sessão: “Uma senhora de 90 anos, respeite. Respeite a deputada Erundina. Tira ela daqui”.
Em um vídeo gravado no momento da discussão, a mulher nega ter filmado Erundina.