SALVADOR – Os candidatos ao governo da Bahia aproveitaram o retorno dos festejos juninos, suspensos por dois anos em decorrência da pandemia, para tocar a pré-campanha em busca de votos pelo interior do Estado. Na disputa entre os dois principais candidatos, ACM Neto (União Brasil) e Jerônimo Rodrigues (PT), vale tudo: arrastar o pé no ‘arraiá’, tocar um instrumento, fazer as vezes de vaqueiro ou receber um “tamo junto” de artista famoso.
As festas juninas, ou o São João, como é chamado no Nordeste, acontecem na maioria nos 417 municípios baianos e devem movimentar cerca de R$ 550 milhões, estima a Secretaria de Turismo. Os festejos reúnem milhares de pessoas nos municípios do interior, momento propício para os candidatos testar sua popularidade.
Em uma de suas redes sociais, ACM Neto diz estar “no modo São João ativado”, desde o dia 1º de junho. Em um vídeo, dança forró com uma senhora do povo. A escolha dos municípios onde participarão do arrasta pé também representa articulação com prefeito e prestígio para o gestor municipal. Ambos os candidatos escolheram municípios nos quais a festa atrai muita gente e é embalada por artistas famosos.
“Depois de 2 anos sem São João, a gente retoma essa grande festa, festa da Bahia, festa do Nordeste, festa do interior. Eu não podia estar começando esse São João de melhor forma do que aqui em Itaberaba. Vocês podem ver já uma multidão reunida em praça pública para prestigiar a grande festa realizada pela Prefeitura, e a gente aqui prestigiando as pessoas, conversando com todo mundo”, diz ACM Neto em outro vídeo.
Por sua vez, o candidato do PT, Jerônimo Rodrigues, além da dança, também explora o fato de ter nascido no interior do Estado para demonstrar proximidade com os ritos juninos. Em uma rede social, iniciou o mês mostrando proximidade com o ritmo nordestino associando seu nome ao de Lula: “Jerônimo, Lula tá com ele, o povo tá, eu também tô”, entoa um sanfoneiro. Durante seis dias, o candidato cumpre um périplo em pelo menos nove municípios.
O planejamento da campanha petista é o de que o candidato durma no interior no período de 22 a 27 para que possa dialogar com prefeitos e lideranças políticas locais e aproveitar a festa no melhor estilo. “Especialmente em um ano eleitoral, a festa também é uma oportunidade para nos apresentar e conversar com as pessoas, mas o que ela tem de mais especial é a energia do nosso povo, o forró e as comidas típicas”, diz o candidato. Ele aparece dançando forró com a esposa, Tatiana, e também com populares.
Jerônimo não contará com a presença de seu principal padrinho eleitoral, o candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) durante a farra junina. O ex-presidente preferiu participar do cortejo ao 2 de Julho, em Salvador, poucos dias depois – data de forte simbolismo no Estado e que, tradicionalmente, serve de palanque político em ano eleitoral.
No ritmo
Candidato que não arrisca a tocar ao lado de forrozeiros, ainda que descompassado, pode perder popularidade na disputa junina. Jerônimo vai de triângulo e zabumba. Já ACM Neto, com chapéu de sertanejo, arrisca-se no pandeiro ao lado de um sanfoneiro. Em outro momento, canta o clássico jingle de seu avô, ACM, adaptado e embalado por sanfona: “A – ACM, meu amor. Quem gosta da Bahia quer, A-ACM Neto”.
Na sequência do embate junino, ACM Neto já conquistou um “tamo junto” do cantor Xand Avião, ex-vocalista da banda Aviões do Forró, que se apresentou na abertura dos festejos juninos do município de Itaberaba e aparece a seu lado em vídeo: “Meu amigo das antigas”, diz o cantor de forró eletrônico, referindo-se ao candidato. Resta saber quem vai falar do lado de lá. E nesse ritmo, o repente entre os candidatos na Bahia deve ir até 2 de outubro.
O candidato João Roma (PL), que tem o apoio do presidente Jair Bolsonaro, e até agora não decolou nas pesquisas, ainda não entrou de vez no clima junino em sua rede social e aparece de forma mais comedida em uma única postagem com 10 imagens do festejo junino no município de Muritiba. Já Kleber Rosa (PSOL) também fez uma única aparição explorando o tema, em Salvador, no forró da APLB-Sindicato, que reúne os professores da rede pública escolar.
São João e Política
O professor de Geografia Cultural da Universidade do Estado da Bahia e pesquisador de festas populares Jânio Roque Castro afirma as festas juninas na região Nordeste servem de palco para promoção de políticos desde o tempo dos chamados “coronéis”, no início do século XX.
O regabofe junino acontecia nas fazendas, com convidados do povo, a fim de criar boa imagem e ganhar apoio. Já na dimensão popular, sobretudo nas festas religiosas, que têm o lado santo e profano, como dia de Sano Antônio, São João, São Pedro, muitos desses líderes políticos apareciam como patrocinadores. E, por isso, subiam no coreto para “dar uma palavrinha”. “Com o tempo, claro que isso foi mudando, mas o objetivo da grande popularização e visibilidade é o mesmo. Na festa espetacularizada, ganha uma outra dimensão”, diz o professor.