Candidatos usam só 6% do tempo do debate para propor projetos e ideias de País


Trocas de acusações, críticas à ausência de Lula e dobradinhas entre concorrentes alinhados tomam lugar de propostas

Por Adriana Ferraz e Natália Santos
Atualização:

A candidata Soraya Thronicke (União Brasil) até tentou mostrar que um debate entre candidatos à Presidência deve servir como uma entrevista de emprego, onde cada concorrente precisa apresentar seus atributos e propostas para conseguir a vaga. Mas no encontro promovido anteontem pelo Estadão, Rádio Eldorado e outros veículos de imprensa, só 6% do tempo foi dedicado a conseguir o voto do eleitor por meio de projetos para o País.

Durante os quatro blocos do debate realizados nos estúdios do SBT, em Osasco, o que se viu foram trocas de acusações sobre prática de corrupção, críticas à ausência do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), dobradinhas entre candidatos alinhados e pedidos de resposta – foram 10.

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Os candidatos à Presidência Felipe d'Avila, Soraya Thronicke, Simone Tebet, Jair Bolsonaro, Ciro Gomes e Padre Kelmon participaram do debate promovido pelo Estadão e parceiros neste sábado, 24. Foto: Alex Silva/Estadão e Sebastião Moreira

Em 1 hora e 47 minutos, Jair Bolsonaro (PL), Ciro Gomes (PDT), Simone Tebet (MDB), Luiz Felipe d’Avila (Novo) e Padre Kelmon (PTB), além de Soraya, usaram só seis minutos para expor parte de seus planos de governo. Ciro chegou a fazer um apelo para que seus adversários relatassem como pretendem acabar com a fome, que atinge 33 milhões de brasileiros, ou reduzir o desemprego e a informalidade, que dificultam a aposentadoria de trabalhadores no País, mas sem sucesso.

No início, o candidato do PDT e Simone Tebet dedicaram algum tempo para propor soluções em diferentes áreas, mas usaram, juntos, apenas 25 segundos para isso. Ciro chegou a desconversar inicialmente da pergunta feita por Kelmon sobre aborto para dizer que tem trabalhado em seu programa de renda mínima e no desenvolvimento de soluções para reduzir o endividamento das famílias.

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Já Simone usou um questionamento de d’Avila sobre o aumento previsto para os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) para dizer que, se eleita, um dos primeiros atos de sua gestão será, por meio de um ato normativo, exigir que todos os ministros deem transparência absoluta à utilização de recursos públicos, em referência ao orçamento secreto, revelado pelo Estadão.

No segundo bloco, Soraya dedicou 41 segundos a explicar sua proposta de imposto único, depois de ser questionada por um jornalista. “O imposto único federal vai substituir 11 tributos federais por um imposto só, uma alíquota de 1,26%, e tirar o peso da tributação de cima do consumo e colocar na movimentação financeira. Quem movimenta mais dinheiro, paga mais”, disse, deixando eleitores ainda repletos de dúvidas sobre o tema, bastante complexo.

Na mesma etapa do debate, d’Avila apresentou sua proposta para manter a possibilidade do porte e posse de armas. De acordo com o candidato, é preciso respeitar o direito do cidadão, mas unificar os cadastros nacionais, como o Sistema Nacional de Armas (Sinarm), pouco conhecido da população.

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Para o pesquisador Wilson José Oliveira, da Universidade Federal do Paraná, quanto mais genérico o discurso de um político for, melhor. Isso porque se o candidato entrar em detalhes sobre a proposta que gostaria de implementar após eleito, pode virar alvo.

“Os políticos são espertos nesse sentido. Eles não vão detalhar propostas porque abre espaço para uma série de críticas. Eles querem passar credibilidade, confiança, carisma. Dizer: ‘confie em mim que vou trazer o Brasil de volta, não importa o que vou fazer’”, disse.

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Foi o que fez, por exemplo, Simone Tebet no quarto bloco. “Nós vamos pagar R$ 5 mil para o jovem do Ensino Médio se formar. Já fizemos a conta. É algo em torno de R$ 7 bilhões. Isso não é nada! É uma gota no oceano dentro do tamanho do orçamento brasileiro”, afirmou a senadora usando como base a formação de 1,5 milhão de jovens por ano.

Ainda nesta área, Kelmon disse que a solução é equilibrar os gastos com os diferentes níveis de educação e passar a investir mais na base. “Equilibrar aquele dinheiro que é investido na universidade, um valor muito alto, na educação de base, na criança negra, na criança branca”, declarou, sem mencionar valores ou projetos.

No mesmo sentido, o cientista político Rodrigo Gallo, professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), afirma que tanto o debate raso das propostas quanto o foco no ataque a adversários partem de uma questão estratégica.

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“Cada candidato vai ao debate sabendo os tópicos que precisam ser ditos para reforçar ideologias ou colocar adversários em saias justas. Alguns indicam ideias de governo, sem que haja um debate efetivo sobre como e por quê fazer, com qual recurso. A impressão é que os debates são um ‘pout-pourri’ de temas muitas vezes articulados de forma aleatória e apressada, o que até facilita o recorte desses trechos para uso posterior em redes sociais. Estrategicamente, para fins eleitorais, faz sentido e pode funcionar para a obtenção de votos ou para fazer com que os adversários percam votos. Mas, politicamente, para o eleitor e para o futuro do país, é empobrecedor”, disse.

Indecisos

O cientista político Marco Antônio Teixeira, da Fundação Getúlio Vargas, considera que faltam vontade e propostas concretas. “Sem o confronto de ideias, sobram agressões mútuas. A impressão (no debate de ontem) é que não se tinha muito o que debater além da ausência do principal, digamos, interessado, o ex-presidente Lula.”

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A cientista política Carolina de Paula, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, ressalta que o curto tempo oferecido para as respostas dificulta discussões mais aprofundadas. Ainda assim, eventos do tipo, segundo ela, continuam sendo importantes para alcançar eleitores indecisos.

Wilson Oliveira considera ainda que, nos debates presidenciais, a estratégia dos candidatos também está em se mostrar mais ou menos “amigo” dos adversários. COLABORARAM MARCELA VILLAR, RENATO VASCONCELOS E RUBENS ANATER

Confira a íntegra do debate:

A candidata Soraya Thronicke (União Brasil) até tentou mostrar que um debate entre candidatos à Presidência deve servir como uma entrevista de emprego, onde cada concorrente precisa apresentar seus atributos e propostas para conseguir a vaga. Mas no encontro promovido anteontem pelo Estadão, Rádio Eldorado e outros veículos de imprensa, só 6% do tempo foi dedicado a conseguir o voto do eleitor por meio de projetos para o País.

Durante os quatro blocos do debate realizados nos estúdios do SBT, em Osasco, o que se viu foram trocas de acusações sobre prática de corrupção, críticas à ausência do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), dobradinhas entre candidatos alinhados e pedidos de resposta – foram 10.

Os candidatos à Presidência Felipe d'Avila, Soraya Thronicke, Simone Tebet, Jair Bolsonaro, Ciro Gomes e Padre Kelmon participaram do debate promovido pelo Estadão e parceiros neste sábado, 24. Foto: Alex Silva/Estadão e Sebastião Moreira

Em 1 hora e 47 minutos, Jair Bolsonaro (PL), Ciro Gomes (PDT), Simone Tebet (MDB), Luiz Felipe d’Avila (Novo) e Padre Kelmon (PTB), além de Soraya, usaram só seis minutos para expor parte de seus planos de governo. Ciro chegou a fazer um apelo para que seus adversários relatassem como pretendem acabar com a fome, que atinge 33 milhões de brasileiros, ou reduzir o desemprego e a informalidade, que dificultam a aposentadoria de trabalhadores no País, mas sem sucesso.

No início, o candidato do PDT e Simone Tebet dedicaram algum tempo para propor soluções em diferentes áreas, mas usaram, juntos, apenas 25 segundos para isso. Ciro chegou a desconversar inicialmente da pergunta feita por Kelmon sobre aborto para dizer que tem trabalhado em seu programa de renda mínima e no desenvolvimento de soluções para reduzir o endividamento das famílias.

Já Simone usou um questionamento de d’Avila sobre o aumento previsto para os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) para dizer que, se eleita, um dos primeiros atos de sua gestão será, por meio de um ato normativo, exigir que todos os ministros deem transparência absoluta à utilização de recursos públicos, em referência ao orçamento secreto, revelado pelo Estadão.

No segundo bloco, Soraya dedicou 41 segundos a explicar sua proposta de imposto único, depois de ser questionada por um jornalista. “O imposto único federal vai substituir 11 tributos federais por um imposto só, uma alíquota de 1,26%, e tirar o peso da tributação de cima do consumo e colocar na movimentação financeira. Quem movimenta mais dinheiro, paga mais”, disse, deixando eleitores ainda repletos de dúvidas sobre o tema, bastante complexo.

Na mesma etapa do debate, d’Avila apresentou sua proposta para manter a possibilidade do porte e posse de armas. De acordo com o candidato, é preciso respeitar o direito do cidadão, mas unificar os cadastros nacionais, como o Sistema Nacional de Armas (Sinarm), pouco conhecido da população.

Para o pesquisador Wilson José Oliveira, da Universidade Federal do Paraná, quanto mais genérico o discurso de um político for, melhor. Isso porque se o candidato entrar em detalhes sobre a proposta que gostaria de implementar após eleito, pode virar alvo.

“Os políticos são espertos nesse sentido. Eles não vão detalhar propostas porque abre espaço para uma série de críticas. Eles querem passar credibilidade, confiança, carisma. Dizer: ‘confie em mim que vou trazer o Brasil de volta, não importa o que vou fazer’”, disse.

Foi o que fez, por exemplo, Simone Tebet no quarto bloco. “Nós vamos pagar R$ 5 mil para o jovem do Ensino Médio se formar. Já fizemos a conta. É algo em torno de R$ 7 bilhões. Isso não é nada! É uma gota no oceano dentro do tamanho do orçamento brasileiro”, afirmou a senadora usando como base a formação de 1,5 milhão de jovens por ano.

Ainda nesta área, Kelmon disse que a solução é equilibrar os gastos com os diferentes níveis de educação e passar a investir mais na base. “Equilibrar aquele dinheiro que é investido na universidade, um valor muito alto, na educação de base, na criança negra, na criança branca”, declarou, sem mencionar valores ou projetos.

No mesmo sentido, o cientista político Rodrigo Gallo, professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), afirma que tanto o debate raso das propostas quanto o foco no ataque a adversários partem de uma questão estratégica.

“Cada candidato vai ao debate sabendo os tópicos que precisam ser ditos para reforçar ideologias ou colocar adversários em saias justas. Alguns indicam ideias de governo, sem que haja um debate efetivo sobre como e por quê fazer, com qual recurso. A impressão é que os debates são um ‘pout-pourri’ de temas muitas vezes articulados de forma aleatória e apressada, o que até facilita o recorte desses trechos para uso posterior em redes sociais. Estrategicamente, para fins eleitorais, faz sentido e pode funcionar para a obtenção de votos ou para fazer com que os adversários percam votos. Mas, politicamente, para o eleitor e para o futuro do país, é empobrecedor”, disse.

Indecisos

O cientista político Marco Antônio Teixeira, da Fundação Getúlio Vargas, considera que faltam vontade e propostas concretas. “Sem o confronto de ideias, sobram agressões mútuas. A impressão (no debate de ontem) é que não se tinha muito o que debater além da ausência do principal, digamos, interessado, o ex-presidente Lula.”

A cientista política Carolina de Paula, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, ressalta que o curto tempo oferecido para as respostas dificulta discussões mais aprofundadas. Ainda assim, eventos do tipo, segundo ela, continuam sendo importantes para alcançar eleitores indecisos.

Wilson Oliveira considera ainda que, nos debates presidenciais, a estratégia dos candidatos também está em se mostrar mais ou menos “amigo” dos adversários. COLABORARAM MARCELA VILLAR, RENATO VASCONCELOS E RUBENS ANATER

Confira a íntegra do debate:

A candidata Soraya Thronicke (União Brasil) até tentou mostrar que um debate entre candidatos à Presidência deve servir como uma entrevista de emprego, onde cada concorrente precisa apresentar seus atributos e propostas para conseguir a vaga. Mas no encontro promovido anteontem pelo Estadão, Rádio Eldorado e outros veículos de imprensa, só 6% do tempo foi dedicado a conseguir o voto do eleitor por meio de projetos para o País.

Durante os quatro blocos do debate realizados nos estúdios do SBT, em Osasco, o que se viu foram trocas de acusações sobre prática de corrupção, críticas à ausência do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), dobradinhas entre candidatos alinhados e pedidos de resposta – foram 10.

Os candidatos à Presidência Felipe d'Avila, Soraya Thronicke, Simone Tebet, Jair Bolsonaro, Ciro Gomes e Padre Kelmon participaram do debate promovido pelo Estadão e parceiros neste sábado, 24. Foto: Alex Silva/Estadão e Sebastião Moreira

Em 1 hora e 47 minutos, Jair Bolsonaro (PL), Ciro Gomes (PDT), Simone Tebet (MDB), Luiz Felipe d’Avila (Novo) e Padre Kelmon (PTB), além de Soraya, usaram só seis minutos para expor parte de seus planos de governo. Ciro chegou a fazer um apelo para que seus adversários relatassem como pretendem acabar com a fome, que atinge 33 milhões de brasileiros, ou reduzir o desemprego e a informalidade, que dificultam a aposentadoria de trabalhadores no País, mas sem sucesso.

No início, o candidato do PDT e Simone Tebet dedicaram algum tempo para propor soluções em diferentes áreas, mas usaram, juntos, apenas 25 segundos para isso. Ciro chegou a desconversar inicialmente da pergunta feita por Kelmon sobre aborto para dizer que tem trabalhado em seu programa de renda mínima e no desenvolvimento de soluções para reduzir o endividamento das famílias.

Já Simone usou um questionamento de d’Avila sobre o aumento previsto para os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) para dizer que, se eleita, um dos primeiros atos de sua gestão será, por meio de um ato normativo, exigir que todos os ministros deem transparência absoluta à utilização de recursos públicos, em referência ao orçamento secreto, revelado pelo Estadão.

No segundo bloco, Soraya dedicou 41 segundos a explicar sua proposta de imposto único, depois de ser questionada por um jornalista. “O imposto único federal vai substituir 11 tributos federais por um imposto só, uma alíquota de 1,26%, e tirar o peso da tributação de cima do consumo e colocar na movimentação financeira. Quem movimenta mais dinheiro, paga mais”, disse, deixando eleitores ainda repletos de dúvidas sobre o tema, bastante complexo.

Na mesma etapa do debate, d’Avila apresentou sua proposta para manter a possibilidade do porte e posse de armas. De acordo com o candidato, é preciso respeitar o direito do cidadão, mas unificar os cadastros nacionais, como o Sistema Nacional de Armas (Sinarm), pouco conhecido da população.

Para o pesquisador Wilson José Oliveira, da Universidade Federal do Paraná, quanto mais genérico o discurso de um político for, melhor. Isso porque se o candidato entrar em detalhes sobre a proposta que gostaria de implementar após eleito, pode virar alvo.

“Os políticos são espertos nesse sentido. Eles não vão detalhar propostas porque abre espaço para uma série de críticas. Eles querem passar credibilidade, confiança, carisma. Dizer: ‘confie em mim que vou trazer o Brasil de volta, não importa o que vou fazer’”, disse.

Foi o que fez, por exemplo, Simone Tebet no quarto bloco. “Nós vamos pagar R$ 5 mil para o jovem do Ensino Médio se formar. Já fizemos a conta. É algo em torno de R$ 7 bilhões. Isso não é nada! É uma gota no oceano dentro do tamanho do orçamento brasileiro”, afirmou a senadora usando como base a formação de 1,5 milhão de jovens por ano.

Ainda nesta área, Kelmon disse que a solução é equilibrar os gastos com os diferentes níveis de educação e passar a investir mais na base. “Equilibrar aquele dinheiro que é investido na universidade, um valor muito alto, na educação de base, na criança negra, na criança branca”, declarou, sem mencionar valores ou projetos.

No mesmo sentido, o cientista político Rodrigo Gallo, professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), afirma que tanto o debate raso das propostas quanto o foco no ataque a adversários partem de uma questão estratégica.

“Cada candidato vai ao debate sabendo os tópicos que precisam ser ditos para reforçar ideologias ou colocar adversários em saias justas. Alguns indicam ideias de governo, sem que haja um debate efetivo sobre como e por quê fazer, com qual recurso. A impressão é que os debates são um ‘pout-pourri’ de temas muitas vezes articulados de forma aleatória e apressada, o que até facilita o recorte desses trechos para uso posterior em redes sociais. Estrategicamente, para fins eleitorais, faz sentido e pode funcionar para a obtenção de votos ou para fazer com que os adversários percam votos. Mas, politicamente, para o eleitor e para o futuro do país, é empobrecedor”, disse.

Indecisos

O cientista político Marco Antônio Teixeira, da Fundação Getúlio Vargas, considera que faltam vontade e propostas concretas. “Sem o confronto de ideias, sobram agressões mútuas. A impressão (no debate de ontem) é que não se tinha muito o que debater além da ausência do principal, digamos, interessado, o ex-presidente Lula.”

A cientista política Carolina de Paula, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, ressalta que o curto tempo oferecido para as respostas dificulta discussões mais aprofundadas. Ainda assim, eventos do tipo, segundo ela, continuam sendo importantes para alcançar eleitores indecisos.

Wilson Oliveira considera ainda que, nos debates presidenciais, a estratégia dos candidatos também está em se mostrar mais ou menos “amigo” dos adversários. COLABORARAM MARCELA VILLAR, RENATO VASCONCELOS E RUBENS ANATER

Confira a íntegra do debate:

A candidata Soraya Thronicke (União Brasil) até tentou mostrar que um debate entre candidatos à Presidência deve servir como uma entrevista de emprego, onde cada concorrente precisa apresentar seus atributos e propostas para conseguir a vaga. Mas no encontro promovido anteontem pelo Estadão, Rádio Eldorado e outros veículos de imprensa, só 6% do tempo foi dedicado a conseguir o voto do eleitor por meio de projetos para o País.

Durante os quatro blocos do debate realizados nos estúdios do SBT, em Osasco, o que se viu foram trocas de acusações sobre prática de corrupção, críticas à ausência do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), dobradinhas entre candidatos alinhados e pedidos de resposta – foram 10.

Os candidatos à Presidência Felipe d'Avila, Soraya Thronicke, Simone Tebet, Jair Bolsonaro, Ciro Gomes e Padre Kelmon participaram do debate promovido pelo Estadão e parceiros neste sábado, 24. Foto: Alex Silva/Estadão e Sebastião Moreira

Em 1 hora e 47 minutos, Jair Bolsonaro (PL), Ciro Gomes (PDT), Simone Tebet (MDB), Luiz Felipe d’Avila (Novo) e Padre Kelmon (PTB), além de Soraya, usaram só seis minutos para expor parte de seus planos de governo. Ciro chegou a fazer um apelo para que seus adversários relatassem como pretendem acabar com a fome, que atinge 33 milhões de brasileiros, ou reduzir o desemprego e a informalidade, que dificultam a aposentadoria de trabalhadores no País, mas sem sucesso.

No início, o candidato do PDT e Simone Tebet dedicaram algum tempo para propor soluções em diferentes áreas, mas usaram, juntos, apenas 25 segundos para isso. Ciro chegou a desconversar inicialmente da pergunta feita por Kelmon sobre aborto para dizer que tem trabalhado em seu programa de renda mínima e no desenvolvimento de soluções para reduzir o endividamento das famílias.

Já Simone usou um questionamento de d’Avila sobre o aumento previsto para os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) para dizer que, se eleita, um dos primeiros atos de sua gestão será, por meio de um ato normativo, exigir que todos os ministros deem transparência absoluta à utilização de recursos públicos, em referência ao orçamento secreto, revelado pelo Estadão.

No segundo bloco, Soraya dedicou 41 segundos a explicar sua proposta de imposto único, depois de ser questionada por um jornalista. “O imposto único federal vai substituir 11 tributos federais por um imposto só, uma alíquota de 1,26%, e tirar o peso da tributação de cima do consumo e colocar na movimentação financeira. Quem movimenta mais dinheiro, paga mais”, disse, deixando eleitores ainda repletos de dúvidas sobre o tema, bastante complexo.

Na mesma etapa do debate, d’Avila apresentou sua proposta para manter a possibilidade do porte e posse de armas. De acordo com o candidato, é preciso respeitar o direito do cidadão, mas unificar os cadastros nacionais, como o Sistema Nacional de Armas (Sinarm), pouco conhecido da população.

Para o pesquisador Wilson José Oliveira, da Universidade Federal do Paraná, quanto mais genérico o discurso de um político for, melhor. Isso porque se o candidato entrar em detalhes sobre a proposta que gostaria de implementar após eleito, pode virar alvo.

“Os políticos são espertos nesse sentido. Eles não vão detalhar propostas porque abre espaço para uma série de críticas. Eles querem passar credibilidade, confiança, carisma. Dizer: ‘confie em mim que vou trazer o Brasil de volta, não importa o que vou fazer’”, disse.

Foi o que fez, por exemplo, Simone Tebet no quarto bloco. “Nós vamos pagar R$ 5 mil para o jovem do Ensino Médio se formar. Já fizemos a conta. É algo em torno de R$ 7 bilhões. Isso não é nada! É uma gota no oceano dentro do tamanho do orçamento brasileiro”, afirmou a senadora usando como base a formação de 1,5 milhão de jovens por ano.

Ainda nesta área, Kelmon disse que a solução é equilibrar os gastos com os diferentes níveis de educação e passar a investir mais na base. “Equilibrar aquele dinheiro que é investido na universidade, um valor muito alto, na educação de base, na criança negra, na criança branca”, declarou, sem mencionar valores ou projetos.

No mesmo sentido, o cientista político Rodrigo Gallo, professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), afirma que tanto o debate raso das propostas quanto o foco no ataque a adversários partem de uma questão estratégica.

“Cada candidato vai ao debate sabendo os tópicos que precisam ser ditos para reforçar ideologias ou colocar adversários em saias justas. Alguns indicam ideias de governo, sem que haja um debate efetivo sobre como e por quê fazer, com qual recurso. A impressão é que os debates são um ‘pout-pourri’ de temas muitas vezes articulados de forma aleatória e apressada, o que até facilita o recorte desses trechos para uso posterior em redes sociais. Estrategicamente, para fins eleitorais, faz sentido e pode funcionar para a obtenção de votos ou para fazer com que os adversários percam votos. Mas, politicamente, para o eleitor e para o futuro do país, é empobrecedor”, disse.

Indecisos

O cientista político Marco Antônio Teixeira, da Fundação Getúlio Vargas, considera que faltam vontade e propostas concretas. “Sem o confronto de ideias, sobram agressões mútuas. A impressão (no debate de ontem) é que não se tinha muito o que debater além da ausência do principal, digamos, interessado, o ex-presidente Lula.”

A cientista política Carolina de Paula, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, ressalta que o curto tempo oferecido para as respostas dificulta discussões mais aprofundadas. Ainda assim, eventos do tipo, segundo ela, continuam sendo importantes para alcançar eleitores indecisos.

Wilson Oliveira considera ainda que, nos debates presidenciais, a estratégia dos candidatos também está em se mostrar mais ou menos “amigo” dos adversários. COLABORARAM MARCELA VILLAR, RENATO VASCONCELOS E RUBENS ANATER

Confira a íntegra do debate:

A candidata Soraya Thronicke (União Brasil) até tentou mostrar que um debate entre candidatos à Presidência deve servir como uma entrevista de emprego, onde cada concorrente precisa apresentar seus atributos e propostas para conseguir a vaga. Mas no encontro promovido anteontem pelo Estadão, Rádio Eldorado e outros veículos de imprensa, só 6% do tempo foi dedicado a conseguir o voto do eleitor por meio de projetos para o País.

Durante os quatro blocos do debate realizados nos estúdios do SBT, em Osasco, o que se viu foram trocas de acusações sobre prática de corrupção, críticas à ausência do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), dobradinhas entre candidatos alinhados e pedidos de resposta – foram 10.

Os candidatos à Presidência Felipe d'Avila, Soraya Thronicke, Simone Tebet, Jair Bolsonaro, Ciro Gomes e Padre Kelmon participaram do debate promovido pelo Estadão e parceiros neste sábado, 24. Foto: Alex Silva/Estadão e Sebastião Moreira

Em 1 hora e 47 minutos, Jair Bolsonaro (PL), Ciro Gomes (PDT), Simone Tebet (MDB), Luiz Felipe d’Avila (Novo) e Padre Kelmon (PTB), além de Soraya, usaram só seis minutos para expor parte de seus planos de governo. Ciro chegou a fazer um apelo para que seus adversários relatassem como pretendem acabar com a fome, que atinge 33 milhões de brasileiros, ou reduzir o desemprego e a informalidade, que dificultam a aposentadoria de trabalhadores no País, mas sem sucesso.

No início, o candidato do PDT e Simone Tebet dedicaram algum tempo para propor soluções em diferentes áreas, mas usaram, juntos, apenas 25 segundos para isso. Ciro chegou a desconversar inicialmente da pergunta feita por Kelmon sobre aborto para dizer que tem trabalhado em seu programa de renda mínima e no desenvolvimento de soluções para reduzir o endividamento das famílias.

Já Simone usou um questionamento de d’Avila sobre o aumento previsto para os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) para dizer que, se eleita, um dos primeiros atos de sua gestão será, por meio de um ato normativo, exigir que todos os ministros deem transparência absoluta à utilização de recursos públicos, em referência ao orçamento secreto, revelado pelo Estadão.

No segundo bloco, Soraya dedicou 41 segundos a explicar sua proposta de imposto único, depois de ser questionada por um jornalista. “O imposto único federal vai substituir 11 tributos federais por um imposto só, uma alíquota de 1,26%, e tirar o peso da tributação de cima do consumo e colocar na movimentação financeira. Quem movimenta mais dinheiro, paga mais”, disse, deixando eleitores ainda repletos de dúvidas sobre o tema, bastante complexo.

Na mesma etapa do debate, d’Avila apresentou sua proposta para manter a possibilidade do porte e posse de armas. De acordo com o candidato, é preciso respeitar o direito do cidadão, mas unificar os cadastros nacionais, como o Sistema Nacional de Armas (Sinarm), pouco conhecido da população.

Para o pesquisador Wilson José Oliveira, da Universidade Federal do Paraná, quanto mais genérico o discurso de um político for, melhor. Isso porque se o candidato entrar em detalhes sobre a proposta que gostaria de implementar após eleito, pode virar alvo.

“Os políticos são espertos nesse sentido. Eles não vão detalhar propostas porque abre espaço para uma série de críticas. Eles querem passar credibilidade, confiança, carisma. Dizer: ‘confie em mim que vou trazer o Brasil de volta, não importa o que vou fazer’”, disse.

Foi o que fez, por exemplo, Simone Tebet no quarto bloco. “Nós vamos pagar R$ 5 mil para o jovem do Ensino Médio se formar. Já fizemos a conta. É algo em torno de R$ 7 bilhões. Isso não é nada! É uma gota no oceano dentro do tamanho do orçamento brasileiro”, afirmou a senadora usando como base a formação de 1,5 milhão de jovens por ano.

Ainda nesta área, Kelmon disse que a solução é equilibrar os gastos com os diferentes níveis de educação e passar a investir mais na base. “Equilibrar aquele dinheiro que é investido na universidade, um valor muito alto, na educação de base, na criança negra, na criança branca”, declarou, sem mencionar valores ou projetos.

No mesmo sentido, o cientista político Rodrigo Gallo, professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), afirma que tanto o debate raso das propostas quanto o foco no ataque a adversários partem de uma questão estratégica.

“Cada candidato vai ao debate sabendo os tópicos que precisam ser ditos para reforçar ideologias ou colocar adversários em saias justas. Alguns indicam ideias de governo, sem que haja um debate efetivo sobre como e por quê fazer, com qual recurso. A impressão é que os debates são um ‘pout-pourri’ de temas muitas vezes articulados de forma aleatória e apressada, o que até facilita o recorte desses trechos para uso posterior em redes sociais. Estrategicamente, para fins eleitorais, faz sentido e pode funcionar para a obtenção de votos ou para fazer com que os adversários percam votos. Mas, politicamente, para o eleitor e para o futuro do país, é empobrecedor”, disse.

Indecisos

O cientista político Marco Antônio Teixeira, da Fundação Getúlio Vargas, considera que faltam vontade e propostas concretas. “Sem o confronto de ideias, sobram agressões mútuas. A impressão (no debate de ontem) é que não se tinha muito o que debater além da ausência do principal, digamos, interessado, o ex-presidente Lula.”

A cientista política Carolina de Paula, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, ressalta que o curto tempo oferecido para as respostas dificulta discussões mais aprofundadas. Ainda assim, eventos do tipo, segundo ela, continuam sendo importantes para alcançar eleitores indecisos.

Wilson Oliveira considera ainda que, nos debates presidenciais, a estratégia dos candidatos também está em se mostrar mais ou menos “amigo” dos adversários. COLABORARAM MARCELA VILLAR, RENATO VASCONCELOS E RUBENS ANATER

Confira a íntegra do debate:

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