A agressão de José Luiz Datena a Pablo Marçal é um gancho para a discussão sobre o futuro do debate político. Vamos nos acostumando a algumas coisas com as quais não devemos nos acostumar. E, quando se chega a um evento extremo como esse, de agressão num debate, refletimos sobre o estado de coisas que nos trouxe até aqui.
Somos o tempo todo estimulados a reagir e até ter algum prazer em embates em que as pessoas trocam acusações agressivas. Há uma satisfação íntima perversa em ver aquelas pessoas se atacando verbalmente, naqueles termos. Afora o que isso diz sobre nós, acabamos esquecendo que esses candidatos disputam a Prefeitura de São Paulo. Esse debate desqualificado, vigarista, reúne candidatos à Prefeitura de São Paulo.
No debate da TV Gazeta, Datena já saíra do seu púlpito e se dirigira a Pablo Marçal como que para sair no braço. O debate político brasileiro foi deslocado para a “briga de rua”. Não faz muito, entrevistei um deputado bolsonarista. Fora do ar, falava-lhe sobre o valor de comunicar à sociedade que adversários que se enfrentam na tribuna, no teatro da política, sentam e conversam quando se apagam as luzes.
Ele argumentou que a nenhuma das partes interessaria a exposição do diálogo, que seria compreendido pelo eleitor como mostra de fraqueza, de frouxidão. Ninguém quer – pode – ser conciliador no mercado eleitoral brasileiro. Vira frouxo. Componente fundamental de nossa depressão política.
Pablo Marçal conseguiu, mais uma vez, que não se falasse sobre São Paulo – não que os outros tenham grandes coisas a dizer. Marçal não é vítima. Ele foi agredido. Tomou uma cadeirada degradante, uma vergonha, uma página horrorosa da política brasileira. Mas não é vítima. Vítima é o debate político. Vítima é a dinâmica da democracia. Marçal é agente punidor da política.
As pessoas estão delirando. “Datena me representa.” Datena agrediu o outro. É candidato a prefeito. Qual é essa representação? “Marçal é provocador, está aí para isso mesmo.” Repito: esta é uma eleição para prefeito de São Paulo, a maior cidade do Brasil, com desafios tremendos.
Circula uma montagem da candidatura de Marçal relacionando a agressão no debate aos atentados que sofreram Jair Bolsonaro e Donald Trump. Um tomou um balaço; o outro, uma facada. E há uma montagem do candidato associando a cadeirada a esses eventos?
Ter vergonha na cara deveria ser elemento exigido a quem pede voto.