Arthur Lira tomou gosto pela aclamação. Não aprecia concorrência. Eleição franca no condomínio produz riscos. “Nunca é bom.” Ele quer dirigir, esvaziar (como fez às comissões), a própria sucessão. Construir “tranquilidade para a Câmara”. Para si.
À Coluna do Estadão, Elmar Nascimento, na dúvida sobre se poderá ser aclamado, divulgou o lema de sua candidatura: “Palavra dada é palavra cumprida”.
Sabe pelo que peleja e a quem fala. Concorre – não à sucessão de Lira – a lhe ser o sucessor. É um perfil. Vale o pacto corporativista. Ganha quem tiver mais coragem de bancar esculachos como a PEC da Anistia.
O corajoso referencial Lira, aquele em cuja gestão o orçamento secreto foi institucionalizado, deu entrevista ao Globo. Questionado sobre o autoritarismo com que opera a distribuição de emendas parlamentares, abriu o coração:
“Talvez aqui os meus amigos não gostem, mas sou muito crítico... E eu defendo as emendas. Mas eu não uso o Pix.”
Defende a forma de sua própria existência concentradora; o modelo que aperfeiçoou e com o que – bom para os amigos também – impera: a disfunção à República por meio da qual os senhores do Parlamento controlam fundos orçamentários crescentes. Donde a autonomia pervertida fundadora desse parlamentarismo sem responsabilidades.
“Mas eu não uso o Pix.”
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Diz o pai – fez para as crianças – da modalidade de emenda com a qual dinheiros públicos são disparados a municípios e Estados sem o mais mínimo vínculo a aplicação específica. A grana apadrinhada chega, rapidamente, à ponta – e lá é gasta como se quiser.
“Mas eu não uso o Pix, porque acho que o Pix vai ter que ser aprimorado agora para ter o objeto.”
Lira, cuja marca do poder é a altivez via orçamento secreto, ora militando por transparência e eficiência – para que bilhões despejados Brasil adentro sejam atrelados a uma licitação ou obra em curso. Presidente da Câmara desde 2021, o patriota propõe o aperfeiçoamento do bicho a poucos meses de passar a cadeira.
“De onde nasceu a emenda Pix? Da burocracia do governo. A turma fez uma emenda de transferência direta.”
A turma, essa indeterminação... A emenda Pix, evolução natural do orçamento secreto, admitida como nova reação aos filtros exigentes de que empenhos tenham origem e destino conhecidos.
“Podemos avançar? Podemos. Vamos fazer a emenda Pix com um objeto determinado. Então, ela vai para a construção de uma ponte, para a construção de uma escola, de um sistema de água.”
Ousado! Avançar para fazer a emenda Pix – vão-se os anéis, ficam as Codevasfs – regredir à condição já acomodada de orçamento secreto. O bagulho ficara excessivo mesmo. E o Parlamento é conservador.