Interpretação crítica e científica das instituições e do comportamento político

Opinião|Com ato na Paulista, Bolsonaro tenta lembrar a seus aliados que brasa longe do fogo vira carvão


Manifestação é estratégia do ex-presidente de sinalizar para seus correligionários que talvez ainda não tenha chegado a hora de abandoná-lo

Por Carlos Pereira

Muitos dos aliados de Bolsonaro vivem um dilema difícil. Abandonar o ex-presidente para evitar desgastes políticos extras diante da exposição cada vez mais frequente de evidências robustas do seu envolvimento direto nas tentativas iliberais de fragilização frustrada da democracia brasileira? Ou, assumir os custos políticos de manter a fidelização à Bolsonaro na expectativa de auferir retornos eleitorais por ser solidário ao ex-presidente subindo em seu palanque em momento de vulnerabilidade?

Quando se está vulnerável, especialmente diante de desvios que possam vir a acarretar punições judiciais, procura-se arregimentar suporte público não apenas para diminuir a fragilidade pessoal junto ao sistema de justiça, mas também para romper o isolamento e reaquecer o apoio político perdido.

Bolsonaro quer usar ato na Paulista pra mostrar que ainda tem força política e que é melhor para aliados ficarem ao seu lado Foto: Daniel Teixeira/Estadão
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O ato público convocado por Bolsonaro neste domingo na avenida Paulista é uma estratégia clara do ex-presidente de sinalizar para seus aliados de que talvez ainda não tenha chegado a hora de abandoná-lo. De que, apesar de tudo, ainda valeria a pena arcar com os custos da proximidade com o ex-presidente, especialmente em ano eleitoral em que muitos deles são candidatos à prefeito cujo desempenho possa impactar nas suas ambições eleitorais futuras.

Bolsonaro aposta na expectativa de que aliados, especialmente aqueles que foram eleitos como consequência direta da influência de sua calda longa (caottail effect), tanto para o Legislativo como para postos no Executivo subnacional, agora retribuam “pagando a conta” em um momento de grande dificuldade do ex-presidente.

Essa é o cálculo que que está sendo feito pelos aliados de Bolsonaro.

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Por um lado, quanto mais próximo estiverem de Bolsonaro, mais susceptível que sejam observados de perto pela Polícia Federal e pela Justiça como cúmplices em um suposto projeto golpista do ex-presidente, o que poderá trazer consequências negativas não apenas eleitorais, mas especialmente junto à Justiça.

Por outro lado, se o aliado não mostrar solidariedade explícita ao ex-presidente em um contexto tão delicado, poderá ser percebido, especialmente pelos eleitores que nutrem uma conexão identitária com Bolsonaro, como traidor e sofrer sequelas devastadoras para a sua carreira política junto a esse eleitorado.

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Neste domingo, Bolsonaro pretende reaquecer a sua influência política e mostrar que as labaredas de sua fogueira ainda produzem brasas fumegantes e que aqueles que o abandonarem correm risco de virar carvão. Mas se não for correspondido, o próprio Bolsonaro é que corre riscos de ser percebido como fumaça.

Muitos dos aliados de Bolsonaro vivem um dilema difícil. Abandonar o ex-presidente para evitar desgastes políticos extras diante da exposição cada vez mais frequente de evidências robustas do seu envolvimento direto nas tentativas iliberais de fragilização frustrada da democracia brasileira? Ou, assumir os custos políticos de manter a fidelização à Bolsonaro na expectativa de auferir retornos eleitorais por ser solidário ao ex-presidente subindo em seu palanque em momento de vulnerabilidade?

Quando se está vulnerável, especialmente diante de desvios que possam vir a acarretar punições judiciais, procura-se arregimentar suporte público não apenas para diminuir a fragilidade pessoal junto ao sistema de justiça, mas também para romper o isolamento e reaquecer o apoio político perdido.

Bolsonaro quer usar ato na Paulista pra mostrar que ainda tem força política e que é melhor para aliados ficarem ao seu lado Foto: Daniel Teixeira/Estadão

O ato público convocado por Bolsonaro neste domingo na avenida Paulista é uma estratégia clara do ex-presidente de sinalizar para seus aliados de que talvez ainda não tenha chegado a hora de abandoná-lo. De que, apesar de tudo, ainda valeria a pena arcar com os custos da proximidade com o ex-presidente, especialmente em ano eleitoral em que muitos deles são candidatos à prefeito cujo desempenho possa impactar nas suas ambições eleitorais futuras.

Bolsonaro aposta na expectativa de que aliados, especialmente aqueles que foram eleitos como consequência direta da influência de sua calda longa (caottail effect), tanto para o Legislativo como para postos no Executivo subnacional, agora retribuam “pagando a conta” em um momento de grande dificuldade do ex-presidente.

Essa é o cálculo que que está sendo feito pelos aliados de Bolsonaro.

Por um lado, quanto mais próximo estiverem de Bolsonaro, mais susceptível que sejam observados de perto pela Polícia Federal e pela Justiça como cúmplices em um suposto projeto golpista do ex-presidente, o que poderá trazer consequências negativas não apenas eleitorais, mas especialmente junto à Justiça.

Por outro lado, se o aliado não mostrar solidariedade explícita ao ex-presidente em um contexto tão delicado, poderá ser percebido, especialmente pelos eleitores que nutrem uma conexão identitária com Bolsonaro, como traidor e sofrer sequelas devastadoras para a sua carreira política junto a esse eleitorado.

Neste domingo, Bolsonaro pretende reaquecer a sua influência política e mostrar que as labaredas de sua fogueira ainda produzem brasas fumegantes e que aqueles que o abandonarem correm risco de virar carvão. Mas se não for correspondido, o próprio Bolsonaro é que corre riscos de ser percebido como fumaça.

Muitos dos aliados de Bolsonaro vivem um dilema difícil. Abandonar o ex-presidente para evitar desgastes políticos extras diante da exposição cada vez mais frequente de evidências robustas do seu envolvimento direto nas tentativas iliberais de fragilização frustrada da democracia brasileira? Ou, assumir os custos políticos de manter a fidelização à Bolsonaro na expectativa de auferir retornos eleitorais por ser solidário ao ex-presidente subindo em seu palanque em momento de vulnerabilidade?

Quando se está vulnerável, especialmente diante de desvios que possam vir a acarretar punições judiciais, procura-se arregimentar suporte público não apenas para diminuir a fragilidade pessoal junto ao sistema de justiça, mas também para romper o isolamento e reaquecer o apoio político perdido.

Bolsonaro quer usar ato na Paulista pra mostrar que ainda tem força política e que é melhor para aliados ficarem ao seu lado Foto: Daniel Teixeira/Estadão

O ato público convocado por Bolsonaro neste domingo na avenida Paulista é uma estratégia clara do ex-presidente de sinalizar para seus aliados de que talvez ainda não tenha chegado a hora de abandoná-lo. De que, apesar de tudo, ainda valeria a pena arcar com os custos da proximidade com o ex-presidente, especialmente em ano eleitoral em que muitos deles são candidatos à prefeito cujo desempenho possa impactar nas suas ambições eleitorais futuras.

Bolsonaro aposta na expectativa de que aliados, especialmente aqueles que foram eleitos como consequência direta da influência de sua calda longa (caottail effect), tanto para o Legislativo como para postos no Executivo subnacional, agora retribuam “pagando a conta” em um momento de grande dificuldade do ex-presidente.

Essa é o cálculo que que está sendo feito pelos aliados de Bolsonaro.

Por um lado, quanto mais próximo estiverem de Bolsonaro, mais susceptível que sejam observados de perto pela Polícia Federal e pela Justiça como cúmplices em um suposto projeto golpista do ex-presidente, o que poderá trazer consequências negativas não apenas eleitorais, mas especialmente junto à Justiça.

Por outro lado, se o aliado não mostrar solidariedade explícita ao ex-presidente em um contexto tão delicado, poderá ser percebido, especialmente pelos eleitores que nutrem uma conexão identitária com Bolsonaro, como traidor e sofrer sequelas devastadoras para a sua carreira política junto a esse eleitorado.

Neste domingo, Bolsonaro pretende reaquecer a sua influência política e mostrar que as labaredas de sua fogueira ainda produzem brasas fumegantes e que aqueles que o abandonarem correm risco de virar carvão. Mas se não for correspondido, o próprio Bolsonaro é que corre riscos de ser percebido como fumaça.

Opinião por Carlos Pereira

Cientista político e professor titular da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas (FGV EBAPE) e sênior fellow do CEBRI.

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