Interpretação crítica e científica das instituições e do comportamento político

Opinião|Derrocada do PSDB mostra que ser ‘responsável’ não gera retornos eleitorais para a oposição


Resultados colhidos por um partido oposicionista que decide apoiar seletivamente algumas políticas propostas pelo governo de plantão tendem a ser negativos

Por Carlos Pereira

O que pode explicar um substancial encolhimento da representação política do PSDB nos últimos anos?

O PSDB até bem pouco tempo ocupava posições de proeminência no Executivo e Legislativo federal, governava vários Estados e municípios importantes e com uma representação destacada nos Legislativos subnacionais.

No seu auge, em 1998, o PSDB ocupou 99 cadeiras na Câmara dos Deputados, 16 no Senado e governou 8 Estados em 2010. Atualmente, o partido possui apenas um senador, 12 deputados federais e governa apenas 3 Estados (RS, PE e MS). Apesar de ter eleito 531 prefeitos nas eleições de 2020, apenas 345 continuam filiados ao partido.

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Os tucanos Marco Vinholi, Eduardo Cury, Duarte Nogueira, Paulo Serra, Carlos Balotta, José Aníbal e Ricardo Tripoli em uma das reuniões para discutir a situação do PSDB em SP Foto: PSDB/Ascom

Para se ter uma ideia mais precisa dessa desidratação eleitoral, o PSDB ficou sem representantes nas Câmaras de Vereadores de seis capitais. A situação mais dramática foi em São Paulo, capital do Estado em que o partido governou por 27 anos consecutivos, onde o PSDB acaba de perder todos os seus oito vereadores na última janela para troca partidária antes das eleições municipais de 2024.

Em 2020, o PSDB elegeu 179 prefeitos em São Paulo. Esse número chegou a 250 prefeituras no início de 2022, embalado pelo fato de o partido ter um governador que seria candidato à Presidência da República. Mas, depois de o ex-governador João Dória ter desistido da corrida presidencial e o partido não ter oferecido outro candidato a presidente, cerca de 60 prefeitos deixaram a legenda desde o começo do ano.

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Partidos protagonistas que têm tradição de seguir uma trajetória majoritária, como o PSDB, que lançou candidatos à presidência de forma consistente desde de as eleições de 1989, correm sérios riscos de fragilização eleitoral quando decidem ser coadjuvantes, ao não lançar um candidato à presidência e passar a seguir uma nova trajetória eminentemente legislativa.

Entretanto, a perda de vigor eleitoral do PSDB precede as eleições de 2022, quando o partido não lançou candidato ao Planalto. O partido já vinha apresentando movimento declinante para o Legislativo desde as eleições de 2014 e, especialmente nas de 2018, quando seu candidato à presidência, Geraldo Alckmin, teve um desempenho eleitoral pífio, ficando abaixo de 5% dos votos, e perdeu o governo de São Paulo.

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Alguns têm argumentado que a derrocada do PSDB se deveu ao envolvimento de algumas de suas lideranças em escândalos de corrupção revelados pela Operação Lava Jato. Outros argumentam que o PSDB perdeu espaço para a direita, sendo praticamente esmagado pelo bolsonarismo em 2018. A partir daí, o PSDB não mais soube se posicionar como uma alternativa competitiva à polarização entre Lula e Bolsonaro.

Embora esses aspectos possam ter contribuído para a fragilização eleitoral do PSDB, suas raízes estão relacionadas à incompreensão dos membros do próprio partido de como exercer o papel de oposição. Ao invés de fazer uma oposição consistente e sistemática, o PSDB sempre assumiu uma posição híbrida ou hesitante, denominada por seus membros de “responsável”.

Os ex-presidentes do PSDB, José Aníbal e Eduardo Leite, cumprimentam o novo presidente da sigla, Marconi Perillo Foto: Kiko Scartezini/PSDB
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No presidencialismo, quanto mais um partido de oposição se comporta de forma ‘responsável’, se opondo ao governo de plantão em algumas políticas, mas apoiando em outras, mais tempo esse partido tenderá a amargar a condição de oposição e a se enfraquecer eleitoralmente.

Os retornos eleitorais de um partido de oposição que decide apoiar seletivamente algumas políticas propostas pelo governo de plantão tendem a ser negativos. O eleitor raramente atribuirá créditos à oposição por ter apoiado iniciativas assertivas do governo de plantão. Todo crédito será atribuído ao governo.

O PT parece ter aprendido essa lição há muito tempo. Nunca hesitou em fazer oposição sistemática ou mesmo irresponsável aos governos Sarney, Collor, Itamar, FHC e Bolsonaro. Por exemplo, não apoiou a chapa Tancredo/Sarney no Colégio Eleitoral, recusou participar da coalizão de salvação nacional do governo Itamar, votou contra o Plano Real, a Lei de Responsabilidade Fiscal, o Teto de Gastos, a reforma da previdência etc.

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A “oposição pela oposição” pode até prejudicar o País, mas, paradoxalmente, gera uma identidade consistente do partido com seu eleitorado e, consequentemente, maiores retornos eleitorais.

O que pode explicar um substancial encolhimento da representação política do PSDB nos últimos anos?

O PSDB até bem pouco tempo ocupava posições de proeminência no Executivo e Legislativo federal, governava vários Estados e municípios importantes e com uma representação destacada nos Legislativos subnacionais.

No seu auge, em 1998, o PSDB ocupou 99 cadeiras na Câmara dos Deputados, 16 no Senado e governou 8 Estados em 2010. Atualmente, o partido possui apenas um senador, 12 deputados federais e governa apenas 3 Estados (RS, PE e MS). Apesar de ter eleito 531 prefeitos nas eleições de 2020, apenas 345 continuam filiados ao partido.

Os tucanos Marco Vinholi, Eduardo Cury, Duarte Nogueira, Paulo Serra, Carlos Balotta, José Aníbal e Ricardo Tripoli em uma das reuniões para discutir a situação do PSDB em SP Foto: PSDB/Ascom

Para se ter uma ideia mais precisa dessa desidratação eleitoral, o PSDB ficou sem representantes nas Câmaras de Vereadores de seis capitais. A situação mais dramática foi em São Paulo, capital do Estado em que o partido governou por 27 anos consecutivos, onde o PSDB acaba de perder todos os seus oito vereadores na última janela para troca partidária antes das eleições municipais de 2024.

Em 2020, o PSDB elegeu 179 prefeitos em São Paulo. Esse número chegou a 250 prefeituras no início de 2022, embalado pelo fato de o partido ter um governador que seria candidato à Presidência da República. Mas, depois de o ex-governador João Dória ter desistido da corrida presidencial e o partido não ter oferecido outro candidato a presidente, cerca de 60 prefeitos deixaram a legenda desde o começo do ano.

Partidos protagonistas que têm tradição de seguir uma trajetória majoritária, como o PSDB, que lançou candidatos à presidência de forma consistente desde de as eleições de 1989, correm sérios riscos de fragilização eleitoral quando decidem ser coadjuvantes, ao não lançar um candidato à presidência e passar a seguir uma nova trajetória eminentemente legislativa.

Entretanto, a perda de vigor eleitoral do PSDB precede as eleições de 2022, quando o partido não lançou candidato ao Planalto. O partido já vinha apresentando movimento declinante para o Legislativo desde as eleições de 2014 e, especialmente nas de 2018, quando seu candidato à presidência, Geraldo Alckmin, teve um desempenho eleitoral pífio, ficando abaixo de 5% dos votos, e perdeu o governo de São Paulo.

Alguns têm argumentado que a derrocada do PSDB se deveu ao envolvimento de algumas de suas lideranças em escândalos de corrupção revelados pela Operação Lava Jato. Outros argumentam que o PSDB perdeu espaço para a direita, sendo praticamente esmagado pelo bolsonarismo em 2018. A partir daí, o PSDB não mais soube se posicionar como uma alternativa competitiva à polarização entre Lula e Bolsonaro.

Embora esses aspectos possam ter contribuído para a fragilização eleitoral do PSDB, suas raízes estão relacionadas à incompreensão dos membros do próprio partido de como exercer o papel de oposição. Ao invés de fazer uma oposição consistente e sistemática, o PSDB sempre assumiu uma posição híbrida ou hesitante, denominada por seus membros de “responsável”.

Os ex-presidentes do PSDB, José Aníbal e Eduardo Leite, cumprimentam o novo presidente da sigla, Marconi Perillo Foto: Kiko Scartezini/PSDB

No presidencialismo, quanto mais um partido de oposição se comporta de forma ‘responsável’, se opondo ao governo de plantão em algumas políticas, mas apoiando em outras, mais tempo esse partido tenderá a amargar a condição de oposição e a se enfraquecer eleitoralmente.

Os retornos eleitorais de um partido de oposição que decide apoiar seletivamente algumas políticas propostas pelo governo de plantão tendem a ser negativos. O eleitor raramente atribuirá créditos à oposição por ter apoiado iniciativas assertivas do governo de plantão. Todo crédito será atribuído ao governo.

O PT parece ter aprendido essa lição há muito tempo. Nunca hesitou em fazer oposição sistemática ou mesmo irresponsável aos governos Sarney, Collor, Itamar, FHC e Bolsonaro. Por exemplo, não apoiou a chapa Tancredo/Sarney no Colégio Eleitoral, recusou participar da coalizão de salvação nacional do governo Itamar, votou contra o Plano Real, a Lei de Responsabilidade Fiscal, o Teto de Gastos, a reforma da previdência etc.

A “oposição pela oposição” pode até prejudicar o País, mas, paradoxalmente, gera uma identidade consistente do partido com seu eleitorado e, consequentemente, maiores retornos eleitorais.

O que pode explicar um substancial encolhimento da representação política do PSDB nos últimos anos?

O PSDB até bem pouco tempo ocupava posições de proeminência no Executivo e Legislativo federal, governava vários Estados e municípios importantes e com uma representação destacada nos Legislativos subnacionais.

No seu auge, em 1998, o PSDB ocupou 99 cadeiras na Câmara dos Deputados, 16 no Senado e governou 8 Estados em 2010. Atualmente, o partido possui apenas um senador, 12 deputados federais e governa apenas 3 Estados (RS, PE e MS). Apesar de ter eleito 531 prefeitos nas eleições de 2020, apenas 345 continuam filiados ao partido.

Os tucanos Marco Vinholi, Eduardo Cury, Duarte Nogueira, Paulo Serra, Carlos Balotta, José Aníbal e Ricardo Tripoli em uma das reuniões para discutir a situação do PSDB em SP Foto: PSDB/Ascom

Para se ter uma ideia mais precisa dessa desidratação eleitoral, o PSDB ficou sem representantes nas Câmaras de Vereadores de seis capitais. A situação mais dramática foi em São Paulo, capital do Estado em que o partido governou por 27 anos consecutivos, onde o PSDB acaba de perder todos os seus oito vereadores na última janela para troca partidária antes das eleições municipais de 2024.

Em 2020, o PSDB elegeu 179 prefeitos em São Paulo. Esse número chegou a 250 prefeituras no início de 2022, embalado pelo fato de o partido ter um governador que seria candidato à Presidência da República. Mas, depois de o ex-governador João Dória ter desistido da corrida presidencial e o partido não ter oferecido outro candidato a presidente, cerca de 60 prefeitos deixaram a legenda desde o começo do ano.

Partidos protagonistas que têm tradição de seguir uma trajetória majoritária, como o PSDB, que lançou candidatos à presidência de forma consistente desde de as eleições de 1989, correm sérios riscos de fragilização eleitoral quando decidem ser coadjuvantes, ao não lançar um candidato à presidência e passar a seguir uma nova trajetória eminentemente legislativa.

Entretanto, a perda de vigor eleitoral do PSDB precede as eleições de 2022, quando o partido não lançou candidato ao Planalto. O partido já vinha apresentando movimento declinante para o Legislativo desde as eleições de 2014 e, especialmente nas de 2018, quando seu candidato à presidência, Geraldo Alckmin, teve um desempenho eleitoral pífio, ficando abaixo de 5% dos votos, e perdeu o governo de São Paulo.

Alguns têm argumentado que a derrocada do PSDB se deveu ao envolvimento de algumas de suas lideranças em escândalos de corrupção revelados pela Operação Lava Jato. Outros argumentam que o PSDB perdeu espaço para a direita, sendo praticamente esmagado pelo bolsonarismo em 2018. A partir daí, o PSDB não mais soube se posicionar como uma alternativa competitiva à polarização entre Lula e Bolsonaro.

Embora esses aspectos possam ter contribuído para a fragilização eleitoral do PSDB, suas raízes estão relacionadas à incompreensão dos membros do próprio partido de como exercer o papel de oposição. Ao invés de fazer uma oposição consistente e sistemática, o PSDB sempre assumiu uma posição híbrida ou hesitante, denominada por seus membros de “responsável”.

Os ex-presidentes do PSDB, José Aníbal e Eduardo Leite, cumprimentam o novo presidente da sigla, Marconi Perillo Foto: Kiko Scartezini/PSDB

No presidencialismo, quanto mais um partido de oposição se comporta de forma ‘responsável’, se opondo ao governo de plantão em algumas políticas, mas apoiando em outras, mais tempo esse partido tenderá a amargar a condição de oposição e a se enfraquecer eleitoralmente.

Os retornos eleitorais de um partido de oposição que decide apoiar seletivamente algumas políticas propostas pelo governo de plantão tendem a ser negativos. O eleitor raramente atribuirá créditos à oposição por ter apoiado iniciativas assertivas do governo de plantão. Todo crédito será atribuído ao governo.

O PT parece ter aprendido essa lição há muito tempo. Nunca hesitou em fazer oposição sistemática ou mesmo irresponsável aos governos Sarney, Collor, Itamar, FHC e Bolsonaro. Por exemplo, não apoiou a chapa Tancredo/Sarney no Colégio Eleitoral, recusou participar da coalizão de salvação nacional do governo Itamar, votou contra o Plano Real, a Lei de Responsabilidade Fiscal, o Teto de Gastos, a reforma da previdência etc.

A “oposição pela oposição” pode até prejudicar o País, mas, paradoxalmente, gera uma identidade consistente do partido com seu eleitorado e, consequentemente, maiores retornos eleitorais.

O que pode explicar um substancial encolhimento da representação política do PSDB nos últimos anos?

O PSDB até bem pouco tempo ocupava posições de proeminência no Executivo e Legislativo federal, governava vários Estados e municípios importantes e com uma representação destacada nos Legislativos subnacionais.

No seu auge, em 1998, o PSDB ocupou 99 cadeiras na Câmara dos Deputados, 16 no Senado e governou 8 Estados em 2010. Atualmente, o partido possui apenas um senador, 12 deputados federais e governa apenas 3 Estados (RS, PE e MS). Apesar de ter eleito 531 prefeitos nas eleições de 2020, apenas 345 continuam filiados ao partido.

Os tucanos Marco Vinholi, Eduardo Cury, Duarte Nogueira, Paulo Serra, Carlos Balotta, José Aníbal e Ricardo Tripoli em uma das reuniões para discutir a situação do PSDB em SP Foto: PSDB/Ascom

Para se ter uma ideia mais precisa dessa desidratação eleitoral, o PSDB ficou sem representantes nas Câmaras de Vereadores de seis capitais. A situação mais dramática foi em São Paulo, capital do Estado em que o partido governou por 27 anos consecutivos, onde o PSDB acaba de perder todos os seus oito vereadores na última janela para troca partidária antes das eleições municipais de 2024.

Em 2020, o PSDB elegeu 179 prefeitos em São Paulo. Esse número chegou a 250 prefeituras no início de 2022, embalado pelo fato de o partido ter um governador que seria candidato à Presidência da República. Mas, depois de o ex-governador João Dória ter desistido da corrida presidencial e o partido não ter oferecido outro candidato a presidente, cerca de 60 prefeitos deixaram a legenda desde o começo do ano.

Partidos protagonistas que têm tradição de seguir uma trajetória majoritária, como o PSDB, que lançou candidatos à presidência de forma consistente desde de as eleições de 1989, correm sérios riscos de fragilização eleitoral quando decidem ser coadjuvantes, ao não lançar um candidato à presidência e passar a seguir uma nova trajetória eminentemente legislativa.

Entretanto, a perda de vigor eleitoral do PSDB precede as eleições de 2022, quando o partido não lançou candidato ao Planalto. O partido já vinha apresentando movimento declinante para o Legislativo desde as eleições de 2014 e, especialmente nas de 2018, quando seu candidato à presidência, Geraldo Alckmin, teve um desempenho eleitoral pífio, ficando abaixo de 5% dos votos, e perdeu o governo de São Paulo.

Alguns têm argumentado que a derrocada do PSDB se deveu ao envolvimento de algumas de suas lideranças em escândalos de corrupção revelados pela Operação Lava Jato. Outros argumentam que o PSDB perdeu espaço para a direita, sendo praticamente esmagado pelo bolsonarismo em 2018. A partir daí, o PSDB não mais soube se posicionar como uma alternativa competitiva à polarização entre Lula e Bolsonaro.

Embora esses aspectos possam ter contribuído para a fragilização eleitoral do PSDB, suas raízes estão relacionadas à incompreensão dos membros do próprio partido de como exercer o papel de oposição. Ao invés de fazer uma oposição consistente e sistemática, o PSDB sempre assumiu uma posição híbrida ou hesitante, denominada por seus membros de “responsável”.

Os ex-presidentes do PSDB, José Aníbal e Eduardo Leite, cumprimentam o novo presidente da sigla, Marconi Perillo Foto: Kiko Scartezini/PSDB

No presidencialismo, quanto mais um partido de oposição se comporta de forma ‘responsável’, se opondo ao governo de plantão em algumas políticas, mas apoiando em outras, mais tempo esse partido tenderá a amargar a condição de oposição e a se enfraquecer eleitoralmente.

Os retornos eleitorais de um partido de oposição que decide apoiar seletivamente algumas políticas propostas pelo governo de plantão tendem a ser negativos. O eleitor raramente atribuirá créditos à oposição por ter apoiado iniciativas assertivas do governo de plantão. Todo crédito será atribuído ao governo.

O PT parece ter aprendido essa lição há muito tempo. Nunca hesitou em fazer oposição sistemática ou mesmo irresponsável aos governos Sarney, Collor, Itamar, FHC e Bolsonaro. Por exemplo, não apoiou a chapa Tancredo/Sarney no Colégio Eleitoral, recusou participar da coalizão de salvação nacional do governo Itamar, votou contra o Plano Real, a Lei de Responsabilidade Fiscal, o Teto de Gastos, a reforma da previdência etc.

A “oposição pela oposição” pode até prejudicar o País, mas, paradoxalmente, gera uma identidade consistente do partido com seu eleitorado e, consequentemente, maiores retornos eleitorais.

O que pode explicar um substancial encolhimento da representação política do PSDB nos últimos anos?

O PSDB até bem pouco tempo ocupava posições de proeminência no Executivo e Legislativo federal, governava vários Estados e municípios importantes e com uma representação destacada nos Legislativos subnacionais.

No seu auge, em 1998, o PSDB ocupou 99 cadeiras na Câmara dos Deputados, 16 no Senado e governou 8 Estados em 2010. Atualmente, o partido possui apenas um senador, 12 deputados federais e governa apenas 3 Estados (RS, PE e MS). Apesar de ter eleito 531 prefeitos nas eleições de 2020, apenas 345 continuam filiados ao partido.

Os tucanos Marco Vinholi, Eduardo Cury, Duarte Nogueira, Paulo Serra, Carlos Balotta, José Aníbal e Ricardo Tripoli em uma das reuniões para discutir a situação do PSDB em SP Foto: PSDB/Ascom

Para se ter uma ideia mais precisa dessa desidratação eleitoral, o PSDB ficou sem representantes nas Câmaras de Vereadores de seis capitais. A situação mais dramática foi em São Paulo, capital do Estado em que o partido governou por 27 anos consecutivos, onde o PSDB acaba de perder todos os seus oito vereadores na última janela para troca partidária antes das eleições municipais de 2024.

Em 2020, o PSDB elegeu 179 prefeitos em São Paulo. Esse número chegou a 250 prefeituras no início de 2022, embalado pelo fato de o partido ter um governador que seria candidato à Presidência da República. Mas, depois de o ex-governador João Dória ter desistido da corrida presidencial e o partido não ter oferecido outro candidato a presidente, cerca de 60 prefeitos deixaram a legenda desde o começo do ano.

Partidos protagonistas que têm tradição de seguir uma trajetória majoritária, como o PSDB, que lançou candidatos à presidência de forma consistente desde de as eleições de 1989, correm sérios riscos de fragilização eleitoral quando decidem ser coadjuvantes, ao não lançar um candidato à presidência e passar a seguir uma nova trajetória eminentemente legislativa.

Entretanto, a perda de vigor eleitoral do PSDB precede as eleições de 2022, quando o partido não lançou candidato ao Planalto. O partido já vinha apresentando movimento declinante para o Legislativo desde as eleições de 2014 e, especialmente nas de 2018, quando seu candidato à presidência, Geraldo Alckmin, teve um desempenho eleitoral pífio, ficando abaixo de 5% dos votos, e perdeu o governo de São Paulo.

Alguns têm argumentado que a derrocada do PSDB se deveu ao envolvimento de algumas de suas lideranças em escândalos de corrupção revelados pela Operação Lava Jato. Outros argumentam que o PSDB perdeu espaço para a direita, sendo praticamente esmagado pelo bolsonarismo em 2018. A partir daí, o PSDB não mais soube se posicionar como uma alternativa competitiva à polarização entre Lula e Bolsonaro.

Embora esses aspectos possam ter contribuído para a fragilização eleitoral do PSDB, suas raízes estão relacionadas à incompreensão dos membros do próprio partido de como exercer o papel de oposição. Ao invés de fazer uma oposição consistente e sistemática, o PSDB sempre assumiu uma posição híbrida ou hesitante, denominada por seus membros de “responsável”.

Os ex-presidentes do PSDB, José Aníbal e Eduardo Leite, cumprimentam o novo presidente da sigla, Marconi Perillo Foto: Kiko Scartezini/PSDB

No presidencialismo, quanto mais um partido de oposição se comporta de forma ‘responsável’, se opondo ao governo de plantão em algumas políticas, mas apoiando em outras, mais tempo esse partido tenderá a amargar a condição de oposição e a se enfraquecer eleitoralmente.

Os retornos eleitorais de um partido de oposição que decide apoiar seletivamente algumas políticas propostas pelo governo de plantão tendem a ser negativos. O eleitor raramente atribuirá créditos à oposição por ter apoiado iniciativas assertivas do governo de plantão. Todo crédito será atribuído ao governo.

O PT parece ter aprendido essa lição há muito tempo. Nunca hesitou em fazer oposição sistemática ou mesmo irresponsável aos governos Sarney, Collor, Itamar, FHC e Bolsonaro. Por exemplo, não apoiou a chapa Tancredo/Sarney no Colégio Eleitoral, recusou participar da coalizão de salvação nacional do governo Itamar, votou contra o Plano Real, a Lei de Responsabilidade Fiscal, o Teto de Gastos, a reforma da previdência etc.

A “oposição pela oposição” pode até prejudicar o País, mas, paradoxalmente, gera uma identidade consistente do partido com seu eleitorado e, consequentemente, maiores retornos eleitorais.

Opinião por Carlos Pereira

Cientista político e professor titular da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas (FGV EBAPE) e sênior fellow do CEBRI.

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