Interpretação crítica e científica das instituições e do comportamento político

Opinião|Destino da democracia depende de sociedades vibrantes, interdependentes e interligadas


Estudos buscam explicar por que democracias têm sido tão resilientes, mesmo diante de iniciativas iliberais de populistas de extrema-esquerda ou de extrema-direita que querem enfraquecê-las.

Por Carlos Pereira

Diante do fracasso das interpretações catastrofistas de que as democracias, inclusive no Brasil, corriam riscos de quebra ou mesmo de erosão com a eleição de líderes populistas de extrema-esquerda ou de extrema-direita, os estudos agora têm se voltado para explicar o seu oposto; ou seja, por que democracias têm sido tão resilientes, mesmo diante de iniciativas iliberais de populistas de enfraquecê-las.

Por que a maioria dos líderes populistas eleitos não têm conseguido asfixiar a democracia? Quais condições políticas, institucionais e sociais neutralizariam ações iliberais de populistas?

Criação do 'Consórcio de veículos de imprensa' quando o governo Bolsonaro restringiu acesso aos dados sobre a pandemia; carta em defesa do Estado Democrático de Direito após reunião de Bolsonaro com embaixadores; e 'Manifesto em apoio à democracia' após o 8 de Janeiro são exemplos de que nossa sociedade é interligada, vigilante e resiliente Foto: Adriano Machado/Reuters
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Já existe vasto conhecimento que enfatiza o papel desempenhado pelas instituições políticas no processo de resiliência democrática, tais como alternância de poder, legados democrático, separação de poderes, independência do judiciário, multipartidarismo, desenvolvimento econômico etc.

Margaret Levi e Zachary Ugolnik, professores da universidade de Stanford, lideram uma nova área de pesquisa, chamada de “new moral political economy”, na qual tem enfatizado o papel desempenhado por sociedades vibrantes e interligadas no aumento da resiliência democrática contra ameaças iliberais.

Os autores partem do pressuposto de que o ser humano, embora racional e individualizado, é um animal social que se beneficia da reciprocidade e da cooperação. Faz parte do que denominam “community of fate”, o que o torna interdependente de uma ampla gama de outras pessoas muito além da família, amigos e vizinhos, cujo destinos estão entrelaçados.

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Algumas sociedades possuem crenças e arranjos de governança que facilitam ou mesmo geram comportamentos pró-sociais cooperativos, levando em consideração os interesses coletivos. Não se trata de uma visão idealista, mas de situações-limite, de ameaças concretas, que ativariam o sentimento de comunidade em torno da defesa de um futuro comum compartilhado.

No Brasil, a criação do “Consórcio de veículos de imprensa”, formado em junho de 2020 pelos competidores Estadão, Globo, Folha, UOL, G1 e Extra, quando o governo Bolsonaro restringiu acesso aos dados sobre a pandemia; a “Carta às brasileiras e brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito”, liderada pela Faculdade de Direito da USP, que recebeu mais de 1 milhão de assinaturas, após a fatídica reunião de Bolsonaro com os embaixadores; e o “Manifesto em apoio à democracia” liderado pela OAB e que recebeu o suporte de mais de 300 entidades após os atos golpistas de 8 de Janeiro, são exemplos concretos do quanto a nossa sociedade é interligada, vigilante e resiliente.

Diante do fracasso das interpretações catastrofistas de que as democracias, inclusive no Brasil, corriam riscos de quebra ou mesmo de erosão com a eleição de líderes populistas de extrema-esquerda ou de extrema-direita, os estudos agora têm se voltado para explicar o seu oposto; ou seja, por que democracias têm sido tão resilientes, mesmo diante de iniciativas iliberais de populistas de enfraquecê-las.

Por que a maioria dos líderes populistas eleitos não têm conseguido asfixiar a democracia? Quais condições políticas, institucionais e sociais neutralizariam ações iliberais de populistas?

Criação do 'Consórcio de veículos de imprensa' quando o governo Bolsonaro restringiu acesso aos dados sobre a pandemia; carta em defesa do Estado Democrático de Direito após reunião de Bolsonaro com embaixadores; e 'Manifesto em apoio à democracia' após o 8 de Janeiro são exemplos de que nossa sociedade é interligada, vigilante e resiliente Foto: Adriano Machado/Reuters

Já existe vasto conhecimento que enfatiza o papel desempenhado pelas instituições políticas no processo de resiliência democrática, tais como alternância de poder, legados democrático, separação de poderes, independência do judiciário, multipartidarismo, desenvolvimento econômico etc.

Margaret Levi e Zachary Ugolnik, professores da universidade de Stanford, lideram uma nova área de pesquisa, chamada de “new moral political economy”, na qual tem enfatizado o papel desempenhado por sociedades vibrantes e interligadas no aumento da resiliência democrática contra ameaças iliberais.

Os autores partem do pressuposto de que o ser humano, embora racional e individualizado, é um animal social que se beneficia da reciprocidade e da cooperação. Faz parte do que denominam “community of fate”, o que o torna interdependente de uma ampla gama de outras pessoas muito além da família, amigos e vizinhos, cujo destinos estão entrelaçados.

Algumas sociedades possuem crenças e arranjos de governança que facilitam ou mesmo geram comportamentos pró-sociais cooperativos, levando em consideração os interesses coletivos. Não se trata de uma visão idealista, mas de situações-limite, de ameaças concretas, que ativariam o sentimento de comunidade em torno da defesa de um futuro comum compartilhado.

No Brasil, a criação do “Consórcio de veículos de imprensa”, formado em junho de 2020 pelos competidores Estadão, Globo, Folha, UOL, G1 e Extra, quando o governo Bolsonaro restringiu acesso aos dados sobre a pandemia; a “Carta às brasileiras e brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito”, liderada pela Faculdade de Direito da USP, que recebeu mais de 1 milhão de assinaturas, após a fatídica reunião de Bolsonaro com os embaixadores; e o “Manifesto em apoio à democracia” liderado pela OAB e que recebeu o suporte de mais de 300 entidades após os atos golpistas de 8 de Janeiro, são exemplos concretos do quanto a nossa sociedade é interligada, vigilante e resiliente.

Diante do fracasso das interpretações catastrofistas de que as democracias, inclusive no Brasil, corriam riscos de quebra ou mesmo de erosão com a eleição de líderes populistas de extrema-esquerda ou de extrema-direita, os estudos agora têm se voltado para explicar o seu oposto; ou seja, por que democracias têm sido tão resilientes, mesmo diante de iniciativas iliberais de populistas de enfraquecê-las.

Por que a maioria dos líderes populistas eleitos não têm conseguido asfixiar a democracia? Quais condições políticas, institucionais e sociais neutralizariam ações iliberais de populistas?

Criação do 'Consórcio de veículos de imprensa' quando o governo Bolsonaro restringiu acesso aos dados sobre a pandemia; carta em defesa do Estado Democrático de Direito após reunião de Bolsonaro com embaixadores; e 'Manifesto em apoio à democracia' após o 8 de Janeiro são exemplos de que nossa sociedade é interligada, vigilante e resiliente Foto: Adriano Machado/Reuters

Já existe vasto conhecimento que enfatiza o papel desempenhado pelas instituições políticas no processo de resiliência democrática, tais como alternância de poder, legados democrático, separação de poderes, independência do judiciário, multipartidarismo, desenvolvimento econômico etc.

Margaret Levi e Zachary Ugolnik, professores da universidade de Stanford, lideram uma nova área de pesquisa, chamada de “new moral political economy”, na qual tem enfatizado o papel desempenhado por sociedades vibrantes e interligadas no aumento da resiliência democrática contra ameaças iliberais.

Os autores partem do pressuposto de que o ser humano, embora racional e individualizado, é um animal social que se beneficia da reciprocidade e da cooperação. Faz parte do que denominam “community of fate”, o que o torna interdependente de uma ampla gama de outras pessoas muito além da família, amigos e vizinhos, cujo destinos estão entrelaçados.

Algumas sociedades possuem crenças e arranjos de governança que facilitam ou mesmo geram comportamentos pró-sociais cooperativos, levando em consideração os interesses coletivos. Não se trata de uma visão idealista, mas de situações-limite, de ameaças concretas, que ativariam o sentimento de comunidade em torno da defesa de um futuro comum compartilhado.

No Brasil, a criação do “Consórcio de veículos de imprensa”, formado em junho de 2020 pelos competidores Estadão, Globo, Folha, UOL, G1 e Extra, quando o governo Bolsonaro restringiu acesso aos dados sobre a pandemia; a “Carta às brasileiras e brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito”, liderada pela Faculdade de Direito da USP, que recebeu mais de 1 milhão de assinaturas, após a fatídica reunião de Bolsonaro com os embaixadores; e o “Manifesto em apoio à democracia” liderado pela OAB e que recebeu o suporte de mais de 300 entidades após os atos golpistas de 8 de Janeiro, são exemplos concretos do quanto a nossa sociedade é interligada, vigilante e resiliente.

Opinião por Carlos Pereira

Cientista político e professor titular da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas (FGV EBAPE) e sênior fellow do CEBRI.

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