Interpretação crítica e científica das instituições e do comportamento político

Opinião|Irracionalidade populista?


Mesmo sem chances de sucesso, populistas precisam confrontar as instituições democráticas

Por Carlos Pereira

Populistas só deveriam atentar contra as instituições democráticas de um determinado país se elas fossem frágeis e não tivessem condições de conter suas ações potencialmente iliberais.

Por outro lado, se as instituições democráticas forem robustas, se a sociedade for ativa e a mídia, vigilante, deve-se esperar que populistas tenham muito mais parcimônia na sua estratégia de confronto iliberal com as instituições.

Isso porque ações iliberais não são destituídas de custos políticos nem judiciais. Em outras palavras, se o populista é racional, só vai tentar fragilizar as instituições se a probabilidade de as enfraquecer for positiva.

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Se as instituições democráticas forem robustas, se a sociedade for ativa e a mídia, vigilante, deve-se esperar que populistas tenham muito mais parcimônia na sua estratégia de confronto iliberal com as instituições. Foto: Dida Sampaio/Estadão

Mas não é isso que tem sido observado em várias democracias ao redor do mundo. Populistas, uma vez democraticamente eleitos e no exercício do poder, tentam quase que invariavelmente concentrar ainda mais poder e enfraquecer as instituições de controle, mesmo diante de riscos de que tais iniciativas iliberais não sejam bem-sucedidas. Ou seja, mesmo quando os custos políticos são muito altos e os resultados, bastante incertos, populistas não abrem mão de uma estratégia confrontacional com as instituições democráticas.

O que pode explicar esse comportamento aparentemente irracional?

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Uma explicação possível seria que populistas são míopes e/ou incompetentes e, portanto, teriam dificuldades de enxergar os custos das restrições do ambiente institucional em que estão inseridos. Embora essa seja uma explicação tentadora, ouso oferecer uma interpretação alternativa.

Todo populista faz das ameaças às instituições seu modus operandi, independentemente das condições institucionais e dos contextos políticos. Isso porque, por sobrevivência, precisam sempre andar no “fio da navalha”.

Por um lado, não conseguem prescindir de uma narrativa belicosa e adversarial com as outras instituições. Dariam a entender, especialmente para o núcleo duro de seus eleitores, que se renderam totalmente às regras do jogo da política tradicional.

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Por outro lado, não podem “cruzar o sinal” dos limites institucionais sob risco de perder viabilidade eleitoral, colocar em ameaça a continuidade de seu mandato, ou mesmo enfrentar penalidades judiciais.

Jogar o jogo puramente democrático, cedo ou tarde, tira a competitividade política e eleitoral de populistas. Para continuar sobrevivendo politicamente, necessitam ir até bem próximo do limite institucional para que tenham condições de construir, pelo menos, uma “alternativa de saída” que os mantenha minimamente competitivos para os novos episódios eleitorais no futuro próximo.

Populistas só deveriam atentar contra as instituições democráticas de um determinado país se elas fossem frágeis e não tivessem condições de conter suas ações potencialmente iliberais.

Por outro lado, se as instituições democráticas forem robustas, se a sociedade for ativa e a mídia, vigilante, deve-se esperar que populistas tenham muito mais parcimônia na sua estratégia de confronto iliberal com as instituições.

Isso porque ações iliberais não são destituídas de custos políticos nem judiciais. Em outras palavras, se o populista é racional, só vai tentar fragilizar as instituições se a probabilidade de as enfraquecer for positiva.

Se as instituições democráticas forem robustas, se a sociedade for ativa e a mídia, vigilante, deve-se esperar que populistas tenham muito mais parcimônia na sua estratégia de confronto iliberal com as instituições. Foto: Dida Sampaio/Estadão

Mas não é isso que tem sido observado em várias democracias ao redor do mundo. Populistas, uma vez democraticamente eleitos e no exercício do poder, tentam quase que invariavelmente concentrar ainda mais poder e enfraquecer as instituições de controle, mesmo diante de riscos de que tais iniciativas iliberais não sejam bem-sucedidas. Ou seja, mesmo quando os custos políticos são muito altos e os resultados, bastante incertos, populistas não abrem mão de uma estratégia confrontacional com as instituições democráticas.

O que pode explicar esse comportamento aparentemente irracional?

Uma explicação possível seria que populistas são míopes e/ou incompetentes e, portanto, teriam dificuldades de enxergar os custos das restrições do ambiente institucional em que estão inseridos. Embora essa seja uma explicação tentadora, ouso oferecer uma interpretação alternativa.

Todo populista faz das ameaças às instituições seu modus operandi, independentemente das condições institucionais e dos contextos políticos. Isso porque, por sobrevivência, precisam sempre andar no “fio da navalha”.

Por um lado, não conseguem prescindir de uma narrativa belicosa e adversarial com as outras instituições. Dariam a entender, especialmente para o núcleo duro de seus eleitores, que se renderam totalmente às regras do jogo da política tradicional.

Por outro lado, não podem “cruzar o sinal” dos limites institucionais sob risco de perder viabilidade eleitoral, colocar em ameaça a continuidade de seu mandato, ou mesmo enfrentar penalidades judiciais.

Jogar o jogo puramente democrático, cedo ou tarde, tira a competitividade política e eleitoral de populistas. Para continuar sobrevivendo politicamente, necessitam ir até bem próximo do limite institucional para que tenham condições de construir, pelo menos, uma “alternativa de saída” que os mantenha minimamente competitivos para os novos episódios eleitorais no futuro próximo.

Populistas só deveriam atentar contra as instituições democráticas de um determinado país se elas fossem frágeis e não tivessem condições de conter suas ações potencialmente iliberais.

Por outro lado, se as instituições democráticas forem robustas, se a sociedade for ativa e a mídia, vigilante, deve-se esperar que populistas tenham muito mais parcimônia na sua estratégia de confronto iliberal com as instituições.

Isso porque ações iliberais não são destituídas de custos políticos nem judiciais. Em outras palavras, se o populista é racional, só vai tentar fragilizar as instituições se a probabilidade de as enfraquecer for positiva.

Se as instituições democráticas forem robustas, se a sociedade for ativa e a mídia, vigilante, deve-se esperar que populistas tenham muito mais parcimônia na sua estratégia de confronto iliberal com as instituições. Foto: Dida Sampaio/Estadão

Mas não é isso que tem sido observado em várias democracias ao redor do mundo. Populistas, uma vez democraticamente eleitos e no exercício do poder, tentam quase que invariavelmente concentrar ainda mais poder e enfraquecer as instituições de controle, mesmo diante de riscos de que tais iniciativas iliberais não sejam bem-sucedidas. Ou seja, mesmo quando os custos políticos são muito altos e os resultados, bastante incertos, populistas não abrem mão de uma estratégia confrontacional com as instituições democráticas.

O que pode explicar esse comportamento aparentemente irracional?

Uma explicação possível seria que populistas são míopes e/ou incompetentes e, portanto, teriam dificuldades de enxergar os custos das restrições do ambiente institucional em que estão inseridos. Embora essa seja uma explicação tentadora, ouso oferecer uma interpretação alternativa.

Todo populista faz das ameaças às instituições seu modus operandi, independentemente das condições institucionais e dos contextos políticos. Isso porque, por sobrevivência, precisam sempre andar no “fio da navalha”.

Por um lado, não conseguem prescindir de uma narrativa belicosa e adversarial com as outras instituições. Dariam a entender, especialmente para o núcleo duro de seus eleitores, que se renderam totalmente às regras do jogo da política tradicional.

Por outro lado, não podem “cruzar o sinal” dos limites institucionais sob risco de perder viabilidade eleitoral, colocar em ameaça a continuidade de seu mandato, ou mesmo enfrentar penalidades judiciais.

Jogar o jogo puramente democrático, cedo ou tarde, tira a competitividade política e eleitoral de populistas. Para continuar sobrevivendo politicamente, necessitam ir até bem próximo do limite institucional para que tenham condições de construir, pelo menos, uma “alternativa de saída” que os mantenha minimamente competitivos para os novos episódios eleitorais no futuro próximo.

Opinião por Carlos Pereira

Cientista político e professor titular da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas (FGV EBAPE) e sênior fellow do CEBRI.

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