Interpretação crítica e científica das instituições e do comportamento político

Opinião|Maus perdedores não reconhecem derrotas eleitorais em ambientes polarizados


Comportamento descortês pode até esgarçar as relações políticas, mas não abala os alicerces de uma democracia

Por Carlos Pereira

Bolsonaro não conseguiu dar um golpe enquanto é presidente. As preocupações agora se voltam sobre se ele seria capaz de fazê-lo quando deixar a presidência.

Acredita-se que um dos pilares centrais da democracia é o reconhecimento da derrota pelo perdedor. Ou seja, sua submissão ao resultado do jogo, preferencialmente por meio do tradicional telefonema ao vencedor congratulando-o pela vitória. Essa liturgia não seria apenas uma demonstração de civilidade, mas de reconhecimento da legitimidade do processo eleitoral e uma garantia de que não haveria “virada de mesa”.

Mas será que a recusa do perdedor em reconhecer a sua derrota seria um sinal de sofrimento da democracia?

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Donald Trump, ex-presidente dos EUA, se negou a reconhecer sua derrota sob a alegação de fraude. A despeito dessa grave agressão, a democracia americana não quebrou. Quem está governando do Salão Oval da Casa Branca, reconhecido pela maioria dos eleitores e instituições americanas e pela comunidade internacional como legítimo presidente, é Joe Biden. Trump esperneou, protestou e até mesmo estimulou a invasão do Capitólio, mas, no fim das contas, foi ele quem deixou de ser o presidente.

De forma similar, a ex-presidente Dilma não reconheceu a legitimidade de seu impeachment, classificando-o de “golpe”. Independentemente desta crença ter sido compartilhada pelos seus parcos fiéis seguidores, a maioria da sociedade, suas instituições e a comunidade internacional reconheceram que o processo de impeachment foi legítimo e que Michel Temer seria o novo presidente.

O ex-presidente dos EUA Donald Trump se negou a reconhecer sua derrota sob a alegação de fraude Foto: Maddie McGarvey/The New York Times
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Esses são os fatos que vão ficar para a história, tanto nos EUA como no Brasil.

O que gera legitimidade em democracias é o reconhecimento pelas instituições e pela maioria da sociedade de que os procedimentos previamente acordados foram rigorosamente seguidos, e não a desejada civilidade dos gestos de seus atores políticos. O comportamento descortês do perdedor em não cumprimentar o vencedor ou em não reconhecer a derrota pode até esgarçar as relações políticas e aumentar a polarização, mas não necessariamente abala os alicerces de uma democracia em equilíbrio.

Os sinais concretos de sofrimento de uma democracia devem ser observados a partir de retrocessos institucionais. Ou seja, quando as organizações de controle apresentam fragilidades para reagir e para exercer seu papel de constranger e de impor limites e derrotas consistentes a presidentes que desviam e que desrespeitam as regras do jogo democrático. Até o momento, não há sinais de tais retrocessos.

Bolsonaro não conseguiu dar um golpe enquanto é presidente. As preocupações agora se voltam sobre se ele seria capaz de fazê-lo quando deixar a presidência.

Acredita-se que um dos pilares centrais da democracia é o reconhecimento da derrota pelo perdedor. Ou seja, sua submissão ao resultado do jogo, preferencialmente por meio do tradicional telefonema ao vencedor congratulando-o pela vitória. Essa liturgia não seria apenas uma demonstração de civilidade, mas de reconhecimento da legitimidade do processo eleitoral e uma garantia de que não haveria “virada de mesa”.

Mas será que a recusa do perdedor em reconhecer a sua derrota seria um sinal de sofrimento da democracia?

Donald Trump, ex-presidente dos EUA, se negou a reconhecer sua derrota sob a alegação de fraude. A despeito dessa grave agressão, a democracia americana não quebrou. Quem está governando do Salão Oval da Casa Branca, reconhecido pela maioria dos eleitores e instituições americanas e pela comunidade internacional como legítimo presidente, é Joe Biden. Trump esperneou, protestou e até mesmo estimulou a invasão do Capitólio, mas, no fim das contas, foi ele quem deixou de ser o presidente.

De forma similar, a ex-presidente Dilma não reconheceu a legitimidade de seu impeachment, classificando-o de “golpe”. Independentemente desta crença ter sido compartilhada pelos seus parcos fiéis seguidores, a maioria da sociedade, suas instituições e a comunidade internacional reconheceram que o processo de impeachment foi legítimo e que Michel Temer seria o novo presidente.

O ex-presidente dos EUA Donald Trump se negou a reconhecer sua derrota sob a alegação de fraude Foto: Maddie McGarvey/The New York Times

Esses são os fatos que vão ficar para a história, tanto nos EUA como no Brasil.

O que gera legitimidade em democracias é o reconhecimento pelas instituições e pela maioria da sociedade de que os procedimentos previamente acordados foram rigorosamente seguidos, e não a desejada civilidade dos gestos de seus atores políticos. O comportamento descortês do perdedor em não cumprimentar o vencedor ou em não reconhecer a derrota pode até esgarçar as relações políticas e aumentar a polarização, mas não necessariamente abala os alicerces de uma democracia em equilíbrio.

Os sinais concretos de sofrimento de uma democracia devem ser observados a partir de retrocessos institucionais. Ou seja, quando as organizações de controle apresentam fragilidades para reagir e para exercer seu papel de constranger e de impor limites e derrotas consistentes a presidentes que desviam e que desrespeitam as regras do jogo democrático. Até o momento, não há sinais de tais retrocessos.

Bolsonaro não conseguiu dar um golpe enquanto é presidente. As preocupações agora se voltam sobre se ele seria capaz de fazê-lo quando deixar a presidência.

Acredita-se que um dos pilares centrais da democracia é o reconhecimento da derrota pelo perdedor. Ou seja, sua submissão ao resultado do jogo, preferencialmente por meio do tradicional telefonema ao vencedor congratulando-o pela vitória. Essa liturgia não seria apenas uma demonstração de civilidade, mas de reconhecimento da legitimidade do processo eleitoral e uma garantia de que não haveria “virada de mesa”.

Mas será que a recusa do perdedor em reconhecer a sua derrota seria um sinal de sofrimento da democracia?

Donald Trump, ex-presidente dos EUA, se negou a reconhecer sua derrota sob a alegação de fraude. A despeito dessa grave agressão, a democracia americana não quebrou. Quem está governando do Salão Oval da Casa Branca, reconhecido pela maioria dos eleitores e instituições americanas e pela comunidade internacional como legítimo presidente, é Joe Biden. Trump esperneou, protestou e até mesmo estimulou a invasão do Capitólio, mas, no fim das contas, foi ele quem deixou de ser o presidente.

De forma similar, a ex-presidente Dilma não reconheceu a legitimidade de seu impeachment, classificando-o de “golpe”. Independentemente desta crença ter sido compartilhada pelos seus parcos fiéis seguidores, a maioria da sociedade, suas instituições e a comunidade internacional reconheceram que o processo de impeachment foi legítimo e que Michel Temer seria o novo presidente.

O ex-presidente dos EUA Donald Trump se negou a reconhecer sua derrota sob a alegação de fraude Foto: Maddie McGarvey/The New York Times

Esses são os fatos que vão ficar para a história, tanto nos EUA como no Brasil.

O que gera legitimidade em democracias é o reconhecimento pelas instituições e pela maioria da sociedade de que os procedimentos previamente acordados foram rigorosamente seguidos, e não a desejada civilidade dos gestos de seus atores políticos. O comportamento descortês do perdedor em não cumprimentar o vencedor ou em não reconhecer a derrota pode até esgarçar as relações políticas e aumentar a polarização, mas não necessariamente abala os alicerces de uma democracia em equilíbrio.

Os sinais concretos de sofrimento de uma democracia devem ser observados a partir de retrocessos institucionais. Ou seja, quando as organizações de controle apresentam fragilidades para reagir e para exercer seu papel de constranger e de impor limites e derrotas consistentes a presidentes que desviam e que desrespeitam as regras do jogo democrático. Até o momento, não há sinais de tais retrocessos.

Opinião por Carlos Pereira

Cientista político e professor titular da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas (FGV EBAPE) e sênior fellow do CEBRI.

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