Interpretação crítica e científica das instituições e do comportamento político

Opinião|O enfarte das alternativas à polarização


Risco de eleger uma bancada menor de deputados reduz incentivos de lançar candidato a presidente

Por Carlos Pereira
Atualização:

O fundo eleitoral restringiu o apetite dos partidos para lançar candidatos à Presidência. A despeito dos valores vultosos (R$ 4,9 bilhões) reservados aos partidos, os recursos de campanha para presidente, paradoxalmente, ficaram escassos. 

O fundão tornou a campanha presidencial ainda mais cara. Antes, o partido que tinha um candidato à Presidência podia captar recursos de empresas. Agora não mais. Os partidos têm que disputar recursos com as outras candidaturas, inflacionando o jogo. Quem não tem candidato à Presidência tem uma clara vantagem.

O plenário da Câmara: não interessa à maioria dos partidos arriscar eleger uma bancada menor de deputados que possa comprometer a sua competitividade futura Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil
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Quanto mais recursos forem alocados para candidatos à Presidência, menos estarão disponíveis para outros cargos eletivos, especialmente para o Legislativo federal que, em última instância, é o que vai definir o quinhão de recursos a que cada partido terá direito no próximo ciclo. Esse talvez tenha sido o efeito perverso não antecipado do fundo público de campanha. 

É como se as artérias partidárias estivessem prestes a enfartar. Nessa situação, o corpo desenvolve circulação colateral, especialmente quando o miocárdio sofre uma redução paulatina do aporte sanguíneo, sinalizando que as artérias coronárias estão em vias de entupir. Mas quando o processo de entupimento é rápido, não oferecendo tempo hábil para o desenvolvimento de circulação colateral, o miocárdio enfarta.

As coronárias do sistema político já dão sinais de obstrução com Lula e Bolsonaro, que se nutrem da polarização que, perversamente, cria barreiras ao surgimento de alternativas. O risco é de que o fundão obstrua as coronárias do sistema partidário antes de os partidos gerarem candidaturas colaterais competitivas.

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Não interessa à maioria dos partidos arriscar eleger uma bancada menor de deputados que possa comprometer a sua competitividade futura, entrando em uma disputa presidencial já altamente polarizada.

A terceira via só teria condições de ser uma alternativa real de irrigação colateral na disputa presidencial por meio de um processo vigoroso de concertação, o que exigiria grande capacidade de coordenação dos mais variados partidos. Teria que haver garantias de que tais partidos, se vitoriosos, alcançariam maiores retornos com a Presidência. Mas o caminho é tão incerto que desestimula tal coordenação. 

Em vez de proporcionar um equilíbrio agregador, com vários partidos oferecendo candidato, independentemente das suas chances de sucesso, o fundão gerou um equilíbrio separador, com presidenciáveis sendo oferecidos por poucos partidos, somente por aqueles com maiores probabilidades de vitória.

O fundo eleitoral restringiu o apetite dos partidos para lançar candidatos à Presidência. A despeito dos valores vultosos (R$ 4,9 bilhões) reservados aos partidos, os recursos de campanha para presidente, paradoxalmente, ficaram escassos. 

O fundão tornou a campanha presidencial ainda mais cara. Antes, o partido que tinha um candidato à Presidência podia captar recursos de empresas. Agora não mais. Os partidos têm que disputar recursos com as outras candidaturas, inflacionando o jogo. Quem não tem candidato à Presidência tem uma clara vantagem.

O plenário da Câmara: não interessa à maioria dos partidos arriscar eleger uma bancada menor de deputados que possa comprometer a sua competitividade futura Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil

Quanto mais recursos forem alocados para candidatos à Presidência, menos estarão disponíveis para outros cargos eletivos, especialmente para o Legislativo federal que, em última instância, é o que vai definir o quinhão de recursos a que cada partido terá direito no próximo ciclo. Esse talvez tenha sido o efeito perverso não antecipado do fundo público de campanha. 

É como se as artérias partidárias estivessem prestes a enfartar. Nessa situação, o corpo desenvolve circulação colateral, especialmente quando o miocárdio sofre uma redução paulatina do aporte sanguíneo, sinalizando que as artérias coronárias estão em vias de entupir. Mas quando o processo de entupimento é rápido, não oferecendo tempo hábil para o desenvolvimento de circulação colateral, o miocárdio enfarta.

As coronárias do sistema político já dão sinais de obstrução com Lula e Bolsonaro, que se nutrem da polarização que, perversamente, cria barreiras ao surgimento de alternativas. O risco é de que o fundão obstrua as coronárias do sistema partidário antes de os partidos gerarem candidaturas colaterais competitivas.

Não interessa à maioria dos partidos arriscar eleger uma bancada menor de deputados que possa comprometer a sua competitividade futura, entrando em uma disputa presidencial já altamente polarizada.

A terceira via só teria condições de ser uma alternativa real de irrigação colateral na disputa presidencial por meio de um processo vigoroso de concertação, o que exigiria grande capacidade de coordenação dos mais variados partidos. Teria que haver garantias de que tais partidos, se vitoriosos, alcançariam maiores retornos com a Presidência. Mas o caminho é tão incerto que desestimula tal coordenação. 

Em vez de proporcionar um equilíbrio agregador, com vários partidos oferecendo candidato, independentemente das suas chances de sucesso, o fundão gerou um equilíbrio separador, com presidenciáveis sendo oferecidos por poucos partidos, somente por aqueles com maiores probabilidades de vitória.

O fundo eleitoral restringiu o apetite dos partidos para lançar candidatos à Presidência. A despeito dos valores vultosos (R$ 4,9 bilhões) reservados aos partidos, os recursos de campanha para presidente, paradoxalmente, ficaram escassos. 

O fundão tornou a campanha presidencial ainda mais cara. Antes, o partido que tinha um candidato à Presidência podia captar recursos de empresas. Agora não mais. Os partidos têm que disputar recursos com as outras candidaturas, inflacionando o jogo. Quem não tem candidato à Presidência tem uma clara vantagem.

O plenário da Câmara: não interessa à maioria dos partidos arriscar eleger uma bancada menor de deputados que possa comprometer a sua competitividade futura Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil

Quanto mais recursos forem alocados para candidatos à Presidência, menos estarão disponíveis para outros cargos eletivos, especialmente para o Legislativo federal que, em última instância, é o que vai definir o quinhão de recursos a que cada partido terá direito no próximo ciclo. Esse talvez tenha sido o efeito perverso não antecipado do fundo público de campanha. 

É como se as artérias partidárias estivessem prestes a enfartar. Nessa situação, o corpo desenvolve circulação colateral, especialmente quando o miocárdio sofre uma redução paulatina do aporte sanguíneo, sinalizando que as artérias coronárias estão em vias de entupir. Mas quando o processo de entupimento é rápido, não oferecendo tempo hábil para o desenvolvimento de circulação colateral, o miocárdio enfarta.

As coronárias do sistema político já dão sinais de obstrução com Lula e Bolsonaro, que se nutrem da polarização que, perversamente, cria barreiras ao surgimento de alternativas. O risco é de que o fundão obstrua as coronárias do sistema partidário antes de os partidos gerarem candidaturas colaterais competitivas.

Não interessa à maioria dos partidos arriscar eleger uma bancada menor de deputados que possa comprometer a sua competitividade futura, entrando em uma disputa presidencial já altamente polarizada.

A terceira via só teria condições de ser uma alternativa real de irrigação colateral na disputa presidencial por meio de um processo vigoroso de concertação, o que exigiria grande capacidade de coordenação dos mais variados partidos. Teria que haver garantias de que tais partidos, se vitoriosos, alcançariam maiores retornos com a Presidência. Mas o caminho é tão incerto que desestimula tal coordenação. 

Em vez de proporcionar um equilíbrio agregador, com vários partidos oferecendo candidato, independentemente das suas chances de sucesso, o fundão gerou um equilíbrio separador, com presidenciáveis sendo oferecidos por poucos partidos, somente por aqueles com maiores probabilidades de vitória.

Opinião por Carlos Pereira

Cientista político e professor titular da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas (FGV EBAPE) e sênior fellow do CEBRI.

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