Interpretação crítica e científica das instituições e do comportamento político

Opinião|O voto do pobre na direita não é fruto de alienação


O eleitorado pobre mudou e a esquerda não viu. Enquanto a esquerda demoniza empreendedores, a direita chama o eleitor pobre para se tornar um deles

Por Carlos Pereira

Tem sido propagada uma interpretação de que o voto de eleitores pobres em candidatos e partidos de direita seria decorrência de um problema informacional. O sociólogo Jessé Souza, por exemplo, argumenta que a esquerda perdeu as eleições municipais porque o eleitor “pobre e branco do Sul e do Sudeste do Brasil” e o “negro evangélico” são desinformados e alienados.

Para Jessé, esses eleitores não saberiam os “reais motivos” de sua pobreza. Ninguém jamais teria explicado para eles por que se tornaram pobres e por que eles teriam menos oportunidades. A pobreza e as injustiças sociais adviriam, para essa interpretação, de problemas estruturais... de um longo processo de exploração e de dominação de uma elite econômica e política, egoísta e predatória, e que agora estaria querendo manipulá-los.

Movimentação em seção eleitoral na Rocinha, na zona oeste do Rio de Janeiro Foto: Pedro Kirilos/Estadão
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A conclusão que se tira dessa linha de argumentação é que, uma vez informados dos seus “reais inimigos” e dos “verdadeiros motivos” que os teriam levado à pobreza e mantido nessa situação, esses eleitores necessariamente votariam em candidatos de esquerda.

Essa abordagem é muito parecida com a linha argumentativa daqueles que acreditavam que eleitores votam em políticos corruptos porque não sabem diferenciá-los dos não corruptos (Ferraz e Finan 2008). Acreditava-se que, uma vez informados, eleitores sempre prefeririam votar em políticos não corruptos. Sabe-se hoje que o problema não é apenas informacional. Mesmo eleitores informados votam em políticos corruptos, seja por ganhos privados (Manzetti e Wilson 2007), seja pelo provimento de políticas públicas (Pereira, Melo e Figueiredo 2009), seja por alinhamento político e ideológico ou mesmo por relativizações cognitivas (Barros, Goldszmidt e Pereira 2020).

Eleições municipais não são garantia nem bons preditores do que vai ocorrer nas eleições gerais subsequentes. Portanto, partidos que tiveram um desempenho ruim/bom nas eleições municipais de 2024 não necessariamente irão reproduzir a mesma atuação em 2026, e vice-versa.

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Mas, a partir da fraca performance dos partidos e candidatos de esquerda nestas eleições municipais, é possível inferir que a esquerda parece ter perdido a capacidade de falar para o eleitorado de baixa renda que costumava votar no PT no passado recente.

O eleitor pobre não deve ser entendido de maneira unidimensional, como um miserável faminto que apenas se contenta com políticas de transferência de renda. Ele é complexo. Tende a ser um frequentador de uma igreja, talvez evangélica, que lhe expõe a perspectiva e o sonho de melhoria de vida via trabalho, esforço, mérito e aperfeiçoamento individual.

A esses eleitores pobres, a esquerda tem ofertado um projeto de inclusão via combinação de emprego CLT e de programas de proteção social e de transferência de renda. Há uma espécie de esgotamento da saída social-democrata oferecida pela esquerda, que é ancorada em aumento do gasto público em um contexto de restrição fiscal e de intolerância à elevação da carga tributária. Os eleitores pobres, de certa forma, perceberam que mais carga tributária não trará um futuro melhor para eles nem para seus filhos.

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Essa agenda, portanto, não mais satisfaz o eleitorado pobre, que mudou e a esquerda não viu. Enquanto a esquerda demoniza empreendedores, a direita chama o eleitor pobre para se tornar um deles. Enquanto a esquerda oferece políticas públicas inclusivas, mas de qualidade duvidosa, a direita oferta o sonho de melhora das condições de vida por meio de esforço e iniciativas individuais. Enquanto a esquerda promete proteção e segurança, a direita oferta o prêmio do risco, o direito de querer mais, de melhorar e de mudar seu status social e financeiro.

Está claro, portanto, que as soluções ofertadas pela esquerda têm sido insuficientes para esses eleitores pobres, que parecem estar cansados e descrentes das políticas e experiências dos governos de esquerda. Se quiser se mostrar competitiva em 2026, a esquerda terá que se renovar e incorporar as demandas, os sonhos e os desafios dessa parte da população que, ao invés de alienada ou desinformada, é ambiciosa e quer mais aqui e agora.

Tem sido propagada uma interpretação de que o voto de eleitores pobres em candidatos e partidos de direita seria decorrência de um problema informacional. O sociólogo Jessé Souza, por exemplo, argumenta que a esquerda perdeu as eleições municipais porque o eleitor “pobre e branco do Sul e do Sudeste do Brasil” e o “negro evangélico” são desinformados e alienados.

Para Jessé, esses eleitores não saberiam os “reais motivos” de sua pobreza. Ninguém jamais teria explicado para eles por que se tornaram pobres e por que eles teriam menos oportunidades. A pobreza e as injustiças sociais adviriam, para essa interpretação, de problemas estruturais... de um longo processo de exploração e de dominação de uma elite econômica e política, egoísta e predatória, e que agora estaria querendo manipulá-los.

Movimentação em seção eleitoral na Rocinha, na zona oeste do Rio de Janeiro Foto: Pedro Kirilos/Estadão

A conclusão que se tira dessa linha de argumentação é que, uma vez informados dos seus “reais inimigos” e dos “verdadeiros motivos” que os teriam levado à pobreza e mantido nessa situação, esses eleitores necessariamente votariam em candidatos de esquerda.

Essa abordagem é muito parecida com a linha argumentativa daqueles que acreditavam que eleitores votam em políticos corruptos porque não sabem diferenciá-los dos não corruptos (Ferraz e Finan 2008). Acreditava-se que, uma vez informados, eleitores sempre prefeririam votar em políticos não corruptos. Sabe-se hoje que o problema não é apenas informacional. Mesmo eleitores informados votam em políticos corruptos, seja por ganhos privados (Manzetti e Wilson 2007), seja pelo provimento de políticas públicas (Pereira, Melo e Figueiredo 2009), seja por alinhamento político e ideológico ou mesmo por relativizações cognitivas (Barros, Goldszmidt e Pereira 2020).

Eleições municipais não são garantia nem bons preditores do que vai ocorrer nas eleições gerais subsequentes. Portanto, partidos que tiveram um desempenho ruim/bom nas eleições municipais de 2024 não necessariamente irão reproduzir a mesma atuação em 2026, e vice-versa.

Mas, a partir da fraca performance dos partidos e candidatos de esquerda nestas eleições municipais, é possível inferir que a esquerda parece ter perdido a capacidade de falar para o eleitorado de baixa renda que costumava votar no PT no passado recente.

O eleitor pobre não deve ser entendido de maneira unidimensional, como um miserável faminto que apenas se contenta com políticas de transferência de renda. Ele é complexo. Tende a ser um frequentador de uma igreja, talvez evangélica, que lhe expõe a perspectiva e o sonho de melhoria de vida via trabalho, esforço, mérito e aperfeiçoamento individual.

A esses eleitores pobres, a esquerda tem ofertado um projeto de inclusão via combinação de emprego CLT e de programas de proteção social e de transferência de renda. Há uma espécie de esgotamento da saída social-democrata oferecida pela esquerda, que é ancorada em aumento do gasto público em um contexto de restrição fiscal e de intolerância à elevação da carga tributária. Os eleitores pobres, de certa forma, perceberam que mais carga tributária não trará um futuro melhor para eles nem para seus filhos.

Essa agenda, portanto, não mais satisfaz o eleitorado pobre, que mudou e a esquerda não viu. Enquanto a esquerda demoniza empreendedores, a direita chama o eleitor pobre para se tornar um deles. Enquanto a esquerda oferece políticas públicas inclusivas, mas de qualidade duvidosa, a direita oferta o sonho de melhora das condições de vida por meio de esforço e iniciativas individuais. Enquanto a esquerda promete proteção e segurança, a direita oferta o prêmio do risco, o direito de querer mais, de melhorar e de mudar seu status social e financeiro.

Está claro, portanto, que as soluções ofertadas pela esquerda têm sido insuficientes para esses eleitores pobres, que parecem estar cansados e descrentes das políticas e experiências dos governos de esquerda. Se quiser se mostrar competitiva em 2026, a esquerda terá que se renovar e incorporar as demandas, os sonhos e os desafios dessa parte da população que, ao invés de alienada ou desinformada, é ambiciosa e quer mais aqui e agora.

Tem sido propagada uma interpretação de que o voto de eleitores pobres em candidatos e partidos de direita seria decorrência de um problema informacional. O sociólogo Jessé Souza, por exemplo, argumenta que a esquerda perdeu as eleições municipais porque o eleitor “pobre e branco do Sul e do Sudeste do Brasil” e o “negro evangélico” são desinformados e alienados.

Para Jessé, esses eleitores não saberiam os “reais motivos” de sua pobreza. Ninguém jamais teria explicado para eles por que se tornaram pobres e por que eles teriam menos oportunidades. A pobreza e as injustiças sociais adviriam, para essa interpretação, de problemas estruturais... de um longo processo de exploração e de dominação de uma elite econômica e política, egoísta e predatória, e que agora estaria querendo manipulá-los.

Movimentação em seção eleitoral na Rocinha, na zona oeste do Rio de Janeiro Foto: Pedro Kirilos/Estadão

A conclusão que se tira dessa linha de argumentação é que, uma vez informados dos seus “reais inimigos” e dos “verdadeiros motivos” que os teriam levado à pobreza e mantido nessa situação, esses eleitores necessariamente votariam em candidatos de esquerda.

Essa abordagem é muito parecida com a linha argumentativa daqueles que acreditavam que eleitores votam em políticos corruptos porque não sabem diferenciá-los dos não corruptos (Ferraz e Finan 2008). Acreditava-se que, uma vez informados, eleitores sempre prefeririam votar em políticos não corruptos. Sabe-se hoje que o problema não é apenas informacional. Mesmo eleitores informados votam em políticos corruptos, seja por ganhos privados (Manzetti e Wilson 2007), seja pelo provimento de políticas públicas (Pereira, Melo e Figueiredo 2009), seja por alinhamento político e ideológico ou mesmo por relativizações cognitivas (Barros, Goldszmidt e Pereira 2020).

Eleições municipais não são garantia nem bons preditores do que vai ocorrer nas eleições gerais subsequentes. Portanto, partidos que tiveram um desempenho ruim/bom nas eleições municipais de 2024 não necessariamente irão reproduzir a mesma atuação em 2026, e vice-versa.

Mas, a partir da fraca performance dos partidos e candidatos de esquerda nestas eleições municipais, é possível inferir que a esquerda parece ter perdido a capacidade de falar para o eleitorado de baixa renda que costumava votar no PT no passado recente.

O eleitor pobre não deve ser entendido de maneira unidimensional, como um miserável faminto que apenas se contenta com políticas de transferência de renda. Ele é complexo. Tende a ser um frequentador de uma igreja, talvez evangélica, que lhe expõe a perspectiva e o sonho de melhoria de vida via trabalho, esforço, mérito e aperfeiçoamento individual.

A esses eleitores pobres, a esquerda tem ofertado um projeto de inclusão via combinação de emprego CLT e de programas de proteção social e de transferência de renda. Há uma espécie de esgotamento da saída social-democrata oferecida pela esquerda, que é ancorada em aumento do gasto público em um contexto de restrição fiscal e de intolerância à elevação da carga tributária. Os eleitores pobres, de certa forma, perceberam que mais carga tributária não trará um futuro melhor para eles nem para seus filhos.

Essa agenda, portanto, não mais satisfaz o eleitorado pobre, que mudou e a esquerda não viu. Enquanto a esquerda demoniza empreendedores, a direita chama o eleitor pobre para se tornar um deles. Enquanto a esquerda oferece políticas públicas inclusivas, mas de qualidade duvidosa, a direita oferta o sonho de melhora das condições de vida por meio de esforço e iniciativas individuais. Enquanto a esquerda promete proteção e segurança, a direita oferta o prêmio do risco, o direito de querer mais, de melhorar e de mudar seu status social e financeiro.

Está claro, portanto, que as soluções ofertadas pela esquerda têm sido insuficientes para esses eleitores pobres, que parecem estar cansados e descrentes das políticas e experiências dos governos de esquerda. Se quiser se mostrar competitiva em 2026, a esquerda terá que se renovar e incorporar as demandas, os sonhos e os desafios dessa parte da população que, ao invés de alienada ou desinformada, é ambiciosa e quer mais aqui e agora.

Tem sido propagada uma interpretação de que o voto de eleitores pobres em candidatos e partidos de direita seria decorrência de um problema informacional. O sociólogo Jessé Souza, por exemplo, argumenta que a esquerda perdeu as eleições municipais porque o eleitor “pobre e branco do Sul e do Sudeste do Brasil” e o “negro evangélico” são desinformados e alienados.

Para Jessé, esses eleitores não saberiam os “reais motivos” de sua pobreza. Ninguém jamais teria explicado para eles por que se tornaram pobres e por que eles teriam menos oportunidades. A pobreza e as injustiças sociais adviriam, para essa interpretação, de problemas estruturais... de um longo processo de exploração e de dominação de uma elite econômica e política, egoísta e predatória, e que agora estaria querendo manipulá-los.

Movimentação em seção eleitoral na Rocinha, na zona oeste do Rio de Janeiro Foto: Pedro Kirilos/Estadão

A conclusão que se tira dessa linha de argumentação é que, uma vez informados dos seus “reais inimigos” e dos “verdadeiros motivos” que os teriam levado à pobreza e mantido nessa situação, esses eleitores necessariamente votariam em candidatos de esquerda.

Essa abordagem é muito parecida com a linha argumentativa daqueles que acreditavam que eleitores votam em políticos corruptos porque não sabem diferenciá-los dos não corruptos (Ferraz e Finan 2008). Acreditava-se que, uma vez informados, eleitores sempre prefeririam votar em políticos não corruptos. Sabe-se hoje que o problema não é apenas informacional. Mesmo eleitores informados votam em políticos corruptos, seja por ganhos privados (Manzetti e Wilson 2007), seja pelo provimento de políticas públicas (Pereira, Melo e Figueiredo 2009), seja por alinhamento político e ideológico ou mesmo por relativizações cognitivas (Barros, Goldszmidt e Pereira 2020).

Eleições municipais não são garantia nem bons preditores do que vai ocorrer nas eleições gerais subsequentes. Portanto, partidos que tiveram um desempenho ruim/bom nas eleições municipais de 2024 não necessariamente irão reproduzir a mesma atuação em 2026, e vice-versa.

Mas, a partir da fraca performance dos partidos e candidatos de esquerda nestas eleições municipais, é possível inferir que a esquerda parece ter perdido a capacidade de falar para o eleitorado de baixa renda que costumava votar no PT no passado recente.

O eleitor pobre não deve ser entendido de maneira unidimensional, como um miserável faminto que apenas se contenta com políticas de transferência de renda. Ele é complexo. Tende a ser um frequentador de uma igreja, talvez evangélica, que lhe expõe a perspectiva e o sonho de melhoria de vida via trabalho, esforço, mérito e aperfeiçoamento individual.

A esses eleitores pobres, a esquerda tem ofertado um projeto de inclusão via combinação de emprego CLT e de programas de proteção social e de transferência de renda. Há uma espécie de esgotamento da saída social-democrata oferecida pela esquerda, que é ancorada em aumento do gasto público em um contexto de restrição fiscal e de intolerância à elevação da carga tributária. Os eleitores pobres, de certa forma, perceberam que mais carga tributária não trará um futuro melhor para eles nem para seus filhos.

Essa agenda, portanto, não mais satisfaz o eleitorado pobre, que mudou e a esquerda não viu. Enquanto a esquerda demoniza empreendedores, a direita chama o eleitor pobre para se tornar um deles. Enquanto a esquerda oferece políticas públicas inclusivas, mas de qualidade duvidosa, a direita oferta o sonho de melhora das condições de vida por meio de esforço e iniciativas individuais. Enquanto a esquerda promete proteção e segurança, a direita oferta o prêmio do risco, o direito de querer mais, de melhorar e de mudar seu status social e financeiro.

Está claro, portanto, que as soluções ofertadas pela esquerda têm sido insuficientes para esses eleitores pobres, que parecem estar cansados e descrentes das políticas e experiências dos governos de esquerda. Se quiser se mostrar competitiva em 2026, a esquerda terá que se renovar e incorporar as demandas, os sonhos e os desafios dessa parte da população que, ao invés de alienada ou desinformada, é ambiciosa e quer mais aqui e agora.

Tem sido propagada uma interpretação de que o voto de eleitores pobres em candidatos e partidos de direita seria decorrência de um problema informacional. O sociólogo Jessé Souza, por exemplo, argumenta que a esquerda perdeu as eleições municipais porque o eleitor “pobre e branco do Sul e do Sudeste do Brasil” e o “negro evangélico” são desinformados e alienados.

Para Jessé, esses eleitores não saberiam os “reais motivos” de sua pobreza. Ninguém jamais teria explicado para eles por que se tornaram pobres e por que eles teriam menos oportunidades. A pobreza e as injustiças sociais adviriam, para essa interpretação, de problemas estruturais... de um longo processo de exploração e de dominação de uma elite econômica e política, egoísta e predatória, e que agora estaria querendo manipulá-los.

Movimentação em seção eleitoral na Rocinha, na zona oeste do Rio de Janeiro Foto: Pedro Kirilos/Estadão

A conclusão que se tira dessa linha de argumentação é que, uma vez informados dos seus “reais inimigos” e dos “verdadeiros motivos” que os teriam levado à pobreza e mantido nessa situação, esses eleitores necessariamente votariam em candidatos de esquerda.

Essa abordagem é muito parecida com a linha argumentativa daqueles que acreditavam que eleitores votam em políticos corruptos porque não sabem diferenciá-los dos não corruptos (Ferraz e Finan 2008). Acreditava-se que, uma vez informados, eleitores sempre prefeririam votar em políticos não corruptos. Sabe-se hoje que o problema não é apenas informacional. Mesmo eleitores informados votam em políticos corruptos, seja por ganhos privados (Manzetti e Wilson 2007), seja pelo provimento de políticas públicas (Pereira, Melo e Figueiredo 2009), seja por alinhamento político e ideológico ou mesmo por relativizações cognitivas (Barros, Goldszmidt e Pereira 2020).

Eleições municipais não são garantia nem bons preditores do que vai ocorrer nas eleições gerais subsequentes. Portanto, partidos que tiveram um desempenho ruim/bom nas eleições municipais de 2024 não necessariamente irão reproduzir a mesma atuação em 2026, e vice-versa.

Mas, a partir da fraca performance dos partidos e candidatos de esquerda nestas eleições municipais, é possível inferir que a esquerda parece ter perdido a capacidade de falar para o eleitorado de baixa renda que costumava votar no PT no passado recente.

O eleitor pobre não deve ser entendido de maneira unidimensional, como um miserável faminto que apenas se contenta com políticas de transferência de renda. Ele é complexo. Tende a ser um frequentador de uma igreja, talvez evangélica, que lhe expõe a perspectiva e o sonho de melhoria de vida via trabalho, esforço, mérito e aperfeiçoamento individual.

A esses eleitores pobres, a esquerda tem ofertado um projeto de inclusão via combinação de emprego CLT e de programas de proteção social e de transferência de renda. Há uma espécie de esgotamento da saída social-democrata oferecida pela esquerda, que é ancorada em aumento do gasto público em um contexto de restrição fiscal e de intolerância à elevação da carga tributária. Os eleitores pobres, de certa forma, perceberam que mais carga tributária não trará um futuro melhor para eles nem para seus filhos.

Essa agenda, portanto, não mais satisfaz o eleitorado pobre, que mudou e a esquerda não viu. Enquanto a esquerda demoniza empreendedores, a direita chama o eleitor pobre para se tornar um deles. Enquanto a esquerda oferece políticas públicas inclusivas, mas de qualidade duvidosa, a direita oferta o sonho de melhora das condições de vida por meio de esforço e iniciativas individuais. Enquanto a esquerda promete proteção e segurança, a direita oferta o prêmio do risco, o direito de querer mais, de melhorar e de mudar seu status social e financeiro.

Está claro, portanto, que as soluções ofertadas pela esquerda têm sido insuficientes para esses eleitores pobres, que parecem estar cansados e descrentes das políticas e experiências dos governos de esquerda. Se quiser se mostrar competitiva em 2026, a esquerda terá que se renovar e incorporar as demandas, os sonhos e os desafios dessa parte da população que, ao invés de alienada ou desinformada, é ambiciosa e quer mais aqui e agora.

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Opinião por Carlos Pereira

Cientista político e professor titular da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas (FGV EBAPE) e sênior fellow do CEBRI.

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