Interpretação crítica e científica das instituições e do comportamento político

Opinião|Resistência ao golpe de Bolsonaro é consequência de restrições institucionais da democracia


A divisão das Forças Armadas não foi o único determinante para o fracasso das ações golpistas; instituições brasileira têm rotinas e procedimentos que certamente criaram fortes pontos de veto e obstáculos ao projeto golpista

Por Carlos Pereira

As últimas revelações das investigações da Polícia Federal sobre a tentativa de golpe à democracia brasileira mostraram que o comando militar do governo Bolsonaro estava dividido.

Alguns analistas, inclusive, têm argumentado que o fracasso do golpe foi consequência direta desta divisão. Mais especificamente, da resistência de alguns oficiais, como o general e ex-comandante do Exército, Marco Antônio Freire Gomes, e o tenente-brigadeiro e ex-comandante da Aeronáutica, Carlos de Almeida Baptista Júnior, que se recusaram a endossar o projeto golpista.

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Mas, o que teria acontecido se o projeto golpista tivesse sido uma unanimidade nas Forças Armadas? Será que o golpe teria ocorrido? A democracia brasileira teria sucumbido?

Como o golpe fracassou, não temos o contrafactual para responder plenamente essas perguntas. Podemos, no entanto, refletir sobre o real alcance da atuação individual de figuras chave das forças armadas que se posicionaram contra o golpe.

Os ex-comandantes das Forças Armadas Almir Garnier Santos (Marinha), Marco Antônio Freire Gomes (Exército) e Carlos de Almeida Baptista Junior (Aeronáutica); Garnier foi o único dos três entre os alvos da Operação Tempus Veritatis Foto: MD, Marcos Corrêa/PR e FAB
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Em agosto de 2018, poucos meses antes das eleições, ministrei uma disciplina no curso internacional para oficiais de alta patente na Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME). Na ocasião, interagi com oficiais que expressaram grande preocupação com a possível vitória do então candidato Jair Bolsonaro à Presidência. Para eles, as Forças Armadas tinham feito um grande esforço após a redemocratização para “limpar seu nome” e a se constituir como instituições de Estado. Temiam, de forma premonitória, que a vitória de Bolsonaro viesse a colocar, mais uma vez, as forças armadas na política e a serviço de um determinado governo causando novamente danos a sua imagem e reputação.

A democracia brasileira é formada por uma sociedade complexa e sofisticada que, desde a redemocratização, tem a democracia como crença dominante. Possui um conjunto multifacetado de instituições (multipartidarismo, federalismo, imprensa livre, judiciário e ministério público independentes etc.) com rotinas e procedimentos que certamente criaram fortes pontos de veto e obstáculos ao projeto golpista de Bolsonaro, para além da atuação individual de militares comprometidos com a democracia.

O simples fato de golpistas terem procurado um “amparo legal” para o golpe é sinal inequívoco de que as restrições institucionais são em, última instância, o escudo protetor do status quo democrático e determinante para a não consecução de golpes.

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A não adesão de alguns comandantes militares ao golpe é, portanto, consequência direta dessas restrições institucionais da democracia brasileira na qual eles estão inseridos.

As últimas revelações das investigações da Polícia Federal sobre a tentativa de golpe à democracia brasileira mostraram que o comando militar do governo Bolsonaro estava dividido.

Alguns analistas, inclusive, têm argumentado que o fracasso do golpe foi consequência direta desta divisão. Mais especificamente, da resistência de alguns oficiais, como o general e ex-comandante do Exército, Marco Antônio Freire Gomes, e o tenente-brigadeiro e ex-comandante da Aeronáutica, Carlos de Almeida Baptista Júnior, que se recusaram a endossar o projeto golpista.

Mas, o que teria acontecido se o projeto golpista tivesse sido uma unanimidade nas Forças Armadas? Será que o golpe teria ocorrido? A democracia brasileira teria sucumbido?

Como o golpe fracassou, não temos o contrafactual para responder plenamente essas perguntas. Podemos, no entanto, refletir sobre o real alcance da atuação individual de figuras chave das forças armadas que se posicionaram contra o golpe.

Os ex-comandantes das Forças Armadas Almir Garnier Santos (Marinha), Marco Antônio Freire Gomes (Exército) e Carlos de Almeida Baptista Junior (Aeronáutica); Garnier foi o único dos três entre os alvos da Operação Tempus Veritatis Foto: MD, Marcos Corrêa/PR e FAB

Em agosto de 2018, poucos meses antes das eleições, ministrei uma disciplina no curso internacional para oficiais de alta patente na Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME). Na ocasião, interagi com oficiais que expressaram grande preocupação com a possível vitória do então candidato Jair Bolsonaro à Presidência. Para eles, as Forças Armadas tinham feito um grande esforço após a redemocratização para “limpar seu nome” e a se constituir como instituições de Estado. Temiam, de forma premonitória, que a vitória de Bolsonaro viesse a colocar, mais uma vez, as forças armadas na política e a serviço de um determinado governo causando novamente danos a sua imagem e reputação.

A democracia brasileira é formada por uma sociedade complexa e sofisticada que, desde a redemocratização, tem a democracia como crença dominante. Possui um conjunto multifacetado de instituições (multipartidarismo, federalismo, imprensa livre, judiciário e ministério público independentes etc.) com rotinas e procedimentos que certamente criaram fortes pontos de veto e obstáculos ao projeto golpista de Bolsonaro, para além da atuação individual de militares comprometidos com a democracia.

O simples fato de golpistas terem procurado um “amparo legal” para o golpe é sinal inequívoco de que as restrições institucionais são em, última instância, o escudo protetor do status quo democrático e determinante para a não consecução de golpes.

A não adesão de alguns comandantes militares ao golpe é, portanto, consequência direta dessas restrições institucionais da democracia brasileira na qual eles estão inseridos.

As últimas revelações das investigações da Polícia Federal sobre a tentativa de golpe à democracia brasileira mostraram que o comando militar do governo Bolsonaro estava dividido.

Alguns analistas, inclusive, têm argumentado que o fracasso do golpe foi consequência direta desta divisão. Mais especificamente, da resistência de alguns oficiais, como o general e ex-comandante do Exército, Marco Antônio Freire Gomes, e o tenente-brigadeiro e ex-comandante da Aeronáutica, Carlos de Almeida Baptista Júnior, que se recusaram a endossar o projeto golpista.

Mas, o que teria acontecido se o projeto golpista tivesse sido uma unanimidade nas Forças Armadas? Será que o golpe teria ocorrido? A democracia brasileira teria sucumbido?

Como o golpe fracassou, não temos o contrafactual para responder plenamente essas perguntas. Podemos, no entanto, refletir sobre o real alcance da atuação individual de figuras chave das forças armadas que se posicionaram contra o golpe.

Os ex-comandantes das Forças Armadas Almir Garnier Santos (Marinha), Marco Antônio Freire Gomes (Exército) e Carlos de Almeida Baptista Junior (Aeronáutica); Garnier foi o único dos três entre os alvos da Operação Tempus Veritatis Foto: MD, Marcos Corrêa/PR e FAB

Em agosto de 2018, poucos meses antes das eleições, ministrei uma disciplina no curso internacional para oficiais de alta patente na Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME). Na ocasião, interagi com oficiais que expressaram grande preocupação com a possível vitória do então candidato Jair Bolsonaro à Presidência. Para eles, as Forças Armadas tinham feito um grande esforço após a redemocratização para “limpar seu nome” e a se constituir como instituições de Estado. Temiam, de forma premonitória, que a vitória de Bolsonaro viesse a colocar, mais uma vez, as forças armadas na política e a serviço de um determinado governo causando novamente danos a sua imagem e reputação.

A democracia brasileira é formada por uma sociedade complexa e sofisticada que, desde a redemocratização, tem a democracia como crença dominante. Possui um conjunto multifacetado de instituições (multipartidarismo, federalismo, imprensa livre, judiciário e ministério público independentes etc.) com rotinas e procedimentos que certamente criaram fortes pontos de veto e obstáculos ao projeto golpista de Bolsonaro, para além da atuação individual de militares comprometidos com a democracia.

O simples fato de golpistas terem procurado um “amparo legal” para o golpe é sinal inequívoco de que as restrições institucionais são em, última instância, o escudo protetor do status quo democrático e determinante para a não consecução de golpes.

A não adesão de alguns comandantes militares ao golpe é, portanto, consequência direta dessas restrições institucionais da democracia brasileira na qual eles estão inseridos.

As últimas revelações das investigações da Polícia Federal sobre a tentativa de golpe à democracia brasileira mostraram que o comando militar do governo Bolsonaro estava dividido.

Alguns analistas, inclusive, têm argumentado que o fracasso do golpe foi consequência direta desta divisão. Mais especificamente, da resistência de alguns oficiais, como o general e ex-comandante do Exército, Marco Antônio Freire Gomes, e o tenente-brigadeiro e ex-comandante da Aeronáutica, Carlos de Almeida Baptista Júnior, que se recusaram a endossar o projeto golpista.

Mas, o que teria acontecido se o projeto golpista tivesse sido uma unanimidade nas Forças Armadas? Será que o golpe teria ocorrido? A democracia brasileira teria sucumbido?

Como o golpe fracassou, não temos o contrafactual para responder plenamente essas perguntas. Podemos, no entanto, refletir sobre o real alcance da atuação individual de figuras chave das forças armadas que se posicionaram contra o golpe.

Os ex-comandantes das Forças Armadas Almir Garnier Santos (Marinha), Marco Antônio Freire Gomes (Exército) e Carlos de Almeida Baptista Junior (Aeronáutica); Garnier foi o único dos três entre os alvos da Operação Tempus Veritatis Foto: MD, Marcos Corrêa/PR e FAB

Em agosto de 2018, poucos meses antes das eleições, ministrei uma disciplina no curso internacional para oficiais de alta patente na Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME). Na ocasião, interagi com oficiais que expressaram grande preocupação com a possível vitória do então candidato Jair Bolsonaro à Presidência. Para eles, as Forças Armadas tinham feito um grande esforço após a redemocratização para “limpar seu nome” e a se constituir como instituições de Estado. Temiam, de forma premonitória, que a vitória de Bolsonaro viesse a colocar, mais uma vez, as forças armadas na política e a serviço de um determinado governo causando novamente danos a sua imagem e reputação.

A democracia brasileira é formada por uma sociedade complexa e sofisticada que, desde a redemocratização, tem a democracia como crença dominante. Possui um conjunto multifacetado de instituições (multipartidarismo, federalismo, imprensa livre, judiciário e ministério público independentes etc.) com rotinas e procedimentos que certamente criaram fortes pontos de veto e obstáculos ao projeto golpista de Bolsonaro, para além da atuação individual de militares comprometidos com a democracia.

O simples fato de golpistas terem procurado um “amparo legal” para o golpe é sinal inequívoco de que as restrições institucionais são em, última instância, o escudo protetor do status quo democrático e determinante para a não consecução de golpes.

A não adesão de alguns comandantes militares ao golpe é, portanto, consequência direta dessas restrições institucionais da democracia brasileira na qual eles estão inseridos.

Opinião por Carlos Pereira

Cientista político e professor titular da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas (FGV EBAPE) e sênior fellow do CEBRI.

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