Centrão descarta tese bolsonarista de adiar eleição e Faria se arrepende da estratégia das rádios


Ministro das Comunicações afirma que parou de tratar de denúncia que apresentou há três dias, após suposta irregularidade, rejeitada pela Justiça Eleitoral, dar vazão à defesa de proposta para postegar o 2º turno

Por Felipe Frazão e Lauriberto Pompeu
Atualização:

BRASÍLIA – Após a proposta de adiar o segundo turno das eleições ganhar a adesão da família do presidente Jair Bolsonaro (PL), o ministro das Comunicações, Fábio Faria, abandonou a estratégia de questionar a veiculação de propaganda eleitoral nas rádios. O deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do presidente, sugeriu que, para haver reparação ao pai, as eleições teriam de ser postergadas. A ideia conta, porém, com forte oposição do Centrão, que teme ser associado à defesa de um golpe e do incentivo a uma tática para ganhar no “tapetão”. Fábio Faria disse ao Estadão que se arrependeu de ter divulgado o caso das rádios quando o tema passou a ser usado para suspender a votação no próximo domingo.

“Tentei mediar um acordo para recebermos inserções e não foi possível. Aí saí do tema”, disse Faria ao Estadão. “Tentei o que pedia a peça (dos advogados) para recuperar algumas inserções nessas rádios. Depois que escalou, eu saí e isso eu me arrependo. Esse assunto prejudica o presidente”, completou o ministro, que é filiado ao PP, partido do Centrão. O bloco dá sustentação a Bolsonaro no Congresso.

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O ministro das Comunicações, Fabio Faria, e Fabio Wajngarten (à esquerda), um dos coordenadores da campanha, apresentaram relatório alegando fraude na veiculaçao de propaganda de Jair Bolsonaro em rádios Foto: Evaristo Sa/AFP

Faria foi um dos emissários do Palácio do Planalto que consultaram interlocutores da cúpula do Judiciário para que a campanha fosse atendida em relação às reclamações sobre a propaganda nas rádios. O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, considerou a denúncia “inepta” e determinou que fosse arquivada. Moraes também pediu investigação para averiguar possível “cometimento de crime eleitoral com a finalidade de tumultuar o segundo turno do pleito em sua última semana”. Esse recado claro, na decisão de Moraes, foi crucial para a mudança de postura de Faria e de integrantes do governo, que se viram em posição de risco.

O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, também não é favorável ao adiamento das eleições, segundo apurou o Estadão. A tese vem sendo classificada como “loucura” e “sandice” por alguns dos mais importantes conselheiros do presidente. Um ministro ouvido sob reserva disse que essa proposta “só atrapalha o presidente”, além de passar a imagem de que ele “já está derrotado” e deseja o “terceiro turno”.

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O ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, um dos coordenadores da campanha de Bolsonaro e líder do PP, também se colocou contra. Ele afirmou que não vê razões para adiar o segundo turno. “Adiamento das eleições não existe. O que existe são eleições, porque a democracia é um valor que não pertence a ninguém. Pertence a todos”, disse.

Derrotado no TSE naquele mesmo dia, Bolsonaro avisou que recorreria ao Supremo Tribunal Federal (STF) e iria “às últimas consequências”, em pronunciamento sem a presença da maioria de seus ministros e dos comandantes das Forças Armadas. Somente os ministros Anderson Torres (Justiça) e Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) acompanharam a declaração, no Palácio da Alvorada.

Desde então, Bolsonaro tem reclamado de “enorme desequilíbrio” na disputa com Luiz Inácio Lula da Silva (PT), sob o argumento de que uma suposta supressão de inserções comerciais de sua campanha em várias emissoras de rádio beneficiaram o adversário e podem interferir no resultado das eleições.

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‘Fato grave’

Há três dias, o ministro das Comunicações convocou a imprensa ao Palácio da Alvorada para denunciar um “fato grave”. Na ocasião, ele e o coordenador de comunicação da campanha, Fabio Wajngarten, afirmaram que 154 mil propagandas de Bolsonaro haviam deixado de ser veiculadas por rádios de todo o País.

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Ao analisar a denúncia formalizada por advogados de Bolsonaro, Faria disse que sempre deixou claro, desde o início, que só aderiu ao questionamento para pedir que a campanha fosse recompensada. A estratégia de apresentar a denúncia, de acordo com ele, foi definida quando o comitê de reeleição decidiu contratar uma empresa para investigar a suposta fraude. “O partido é que vai cuidar (do assunto)”, disse Faria.

Além de tentar recuperar inserções de propaganda para o presidente, a operação do comitê tinha outro objetivo político: atingir a imagem do TSE, visto como trincheira de oposição ao governo. Com o relatório apontando suposto desequilíbrio na veiculação de propaganda, bolsonaristas pretendiam expor a Corte a uma situação de fragilidade na fiscalização - ato, que, em verdade, cabe às coligações e candidatos, não ao tribunal.

A campanha gastou cerca de R$ 1,5 milhão com empresas especializadas em auditoria de mídia, segundo apurou o Estadão. Nos bastidores do comitê a ideia de fazer uma auditoria foi atribuída a Wajngarten, com quem Faria já teve desentendimentos no passado. Segundo outros auxiliares da campanha, somente a ala mais ligada a Wajngarten, que tem experiência pregressa com controle de mídia, insiste na tese de fraude, que deu vazão a especulações sobre o adiamento das eleições.

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Na quarta-feira, 26, Eduardo Bolsonaro já pregava isso, alegando necessidade de reposição do tempo de propaganda nas rádios. Um dia depois, na quinta, Eduardo defendeu a ideia em entrevista. O deputado sugeriu que postergar a data da votação permitiria ao pai uma “reparação”, por causa das supostas irregularidades na veiculação de propaganda em rádios.

A campanha de Bolsonaro sustenta que emissoras do Norte, do Nordeste e de Minas Gerais teriam divulgado mais peças de publicidade de Lula do que do presidente.

“Tem um candidato que está sendo depreciado e um que está sendo favorecido. Isso está ferindo a democracia. Se fosse dado todo o direito de resposta a Jair Bolsonaro, é tanto tempo que seria necessário adiar essa eleição. Se a eleição for no domingo já temos uma certeza: Jair Bolsonaro foi prejudicado e não teve direito a reparação”, afirmou Eduardo, em entrevista ao site baiano BNews.

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Congresso

A intenção de forçar um adiamento da eleição não encontra eco na cúpula do Congresso, onde uma iniciativa nesse sentido precisaria ser analisada por meio de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC). As datas do primeiro e do segundo turno das eleições estão previstas no artigo 77 da Carta.

Aliado de Bolsonaro, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), negou que o assunto esteja sendo discutido. Ao Estadão, Lira se limitou a classificar a ideia como “fake”.

Na prática, a tese só tem aval da família de Bolsonaro e de seus apoiadores mais radicais, que desejam um “terceiro turno antes do segundo”, nas palavras de um integrante do Centrão.

O presidente interino do PP, deputado Claudio Cajado (BA), e a vice-governadora eleita do Distrito Federal, Celina Leão (PP), também disseram que a ideia não é viável. Cajado afirmou que não tomou conhecimento da declaração de Eduardo Bolsonaro sobre o adiamento das eleições, mas reforçou não haver como uma proposta assim ser aprovada.

“Não soube (da entrevista de Eduardo), mas, para adiar, tem de ter PEC”, destacou o deputado. Para que mudanças na Constituição sejam aprovadas é necessário o apoio de três quintos da Câmara e do Senado, algo impossível de ser feito sem acordo político prévio e às vésperas das eleições.

Apesar de discordar da sugestão de Eduardo Bolsonaro, Celina Leão endossou parte das críticas do presidente em relação à Justiça Eleitoral. “Até para os mais neutros, os últimos acontecimentos são graves. Deveria no mínimo se abrir investigação, mas não tivemos nem isso”, disse a vice-governadora eleita do Distrito Federal.

A responsabilidade de fiscalizar a veiculação da propaganda eleitoral cabe aos partidos. “Como todos sabemos, não é, nunca foi e continuará não sendo responsabilidade do Tribunal Superior Eleitoral distribuir mídias de televisão e rádio e fiscalizar rádio por rádio no País todo, (para verificar) se elas estão transmitindo as inserções dos candidatos. Isso todos os partidos e candidatos de boa-fé sabem”, afirmou o ministro Alexandre de Moraes.

O relatório apresentado pela campanha de Bolsonaro ao TSE tem várias fragilidades. O próprio ministro das Comunicações havia anunciado que teriam sido veiculadas 154 mil inserções a mais de Lula durante o segundo turno. Ao TSE, porém, a campanha só detalhou informações sobre 730 peças em oito rádios. Seis delas negaram ser responsáveis por falhas e contestaram as informações do comitê de Bolsonaro. Algumas rádios alegaram que a prória campanha do presidente deixou de enviar comerciais.

Nesta quinta-feira, 27, em novo relatório – desta vez sobre emissoras de Minas –, advogados de Bolsonaro sustentaram que foram divulgadas 15,1 mil inserções a mais de Lula em 601 emissoras mineiras. Coordenadores da campanha, porém, encaminharam informações sobre apenas quatro rádios, que também rebateram os dados apresentados.

Acompanhe ao vivo a reta final do segundo turno das Eleições 2022 para presidente e governador

BRASÍLIA – Após a proposta de adiar o segundo turno das eleições ganhar a adesão da família do presidente Jair Bolsonaro (PL), o ministro das Comunicações, Fábio Faria, abandonou a estratégia de questionar a veiculação de propaganda eleitoral nas rádios. O deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do presidente, sugeriu que, para haver reparação ao pai, as eleições teriam de ser postergadas. A ideia conta, porém, com forte oposição do Centrão, que teme ser associado à defesa de um golpe e do incentivo a uma tática para ganhar no “tapetão”. Fábio Faria disse ao Estadão que se arrependeu de ter divulgado o caso das rádios quando o tema passou a ser usado para suspender a votação no próximo domingo.

“Tentei mediar um acordo para recebermos inserções e não foi possível. Aí saí do tema”, disse Faria ao Estadão. “Tentei o que pedia a peça (dos advogados) para recuperar algumas inserções nessas rádios. Depois que escalou, eu saí e isso eu me arrependo. Esse assunto prejudica o presidente”, completou o ministro, que é filiado ao PP, partido do Centrão. O bloco dá sustentação a Bolsonaro no Congresso.

O ministro das Comunicações, Fabio Faria, e Fabio Wajngarten (à esquerda), um dos coordenadores da campanha, apresentaram relatório alegando fraude na veiculaçao de propaganda de Jair Bolsonaro em rádios Foto: Evaristo Sa/AFP

Faria foi um dos emissários do Palácio do Planalto que consultaram interlocutores da cúpula do Judiciário para que a campanha fosse atendida em relação às reclamações sobre a propaganda nas rádios. O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, considerou a denúncia “inepta” e determinou que fosse arquivada. Moraes também pediu investigação para averiguar possível “cometimento de crime eleitoral com a finalidade de tumultuar o segundo turno do pleito em sua última semana”. Esse recado claro, na decisão de Moraes, foi crucial para a mudança de postura de Faria e de integrantes do governo, que se viram em posição de risco.

O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, também não é favorável ao adiamento das eleições, segundo apurou o Estadão. A tese vem sendo classificada como “loucura” e “sandice” por alguns dos mais importantes conselheiros do presidente. Um ministro ouvido sob reserva disse que essa proposta “só atrapalha o presidente”, além de passar a imagem de que ele “já está derrotado” e deseja o “terceiro turno”.

O ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, um dos coordenadores da campanha de Bolsonaro e líder do PP, também se colocou contra. Ele afirmou que não vê razões para adiar o segundo turno. “Adiamento das eleições não existe. O que existe são eleições, porque a democracia é um valor que não pertence a ninguém. Pertence a todos”, disse.

Derrotado no TSE naquele mesmo dia, Bolsonaro avisou que recorreria ao Supremo Tribunal Federal (STF) e iria “às últimas consequências”, em pronunciamento sem a presença da maioria de seus ministros e dos comandantes das Forças Armadas. Somente os ministros Anderson Torres (Justiça) e Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) acompanharam a declaração, no Palácio da Alvorada.

Desde então, Bolsonaro tem reclamado de “enorme desequilíbrio” na disputa com Luiz Inácio Lula da Silva (PT), sob o argumento de que uma suposta supressão de inserções comerciais de sua campanha em várias emissoras de rádio beneficiaram o adversário e podem interferir no resultado das eleições.

‘Fato grave’

Há três dias, o ministro das Comunicações convocou a imprensa ao Palácio da Alvorada para denunciar um “fato grave”. Na ocasião, ele e o coordenador de comunicação da campanha, Fabio Wajngarten, afirmaram que 154 mil propagandas de Bolsonaro haviam deixado de ser veiculadas por rádios de todo o País.

Ao analisar a denúncia formalizada por advogados de Bolsonaro, Faria disse que sempre deixou claro, desde o início, que só aderiu ao questionamento para pedir que a campanha fosse recompensada. A estratégia de apresentar a denúncia, de acordo com ele, foi definida quando o comitê de reeleição decidiu contratar uma empresa para investigar a suposta fraude. “O partido é que vai cuidar (do assunto)”, disse Faria.

Além de tentar recuperar inserções de propaganda para o presidente, a operação do comitê tinha outro objetivo político: atingir a imagem do TSE, visto como trincheira de oposição ao governo. Com o relatório apontando suposto desequilíbrio na veiculação de propaganda, bolsonaristas pretendiam expor a Corte a uma situação de fragilidade na fiscalização - ato, que, em verdade, cabe às coligações e candidatos, não ao tribunal.

A campanha gastou cerca de R$ 1,5 milhão com empresas especializadas em auditoria de mídia, segundo apurou o Estadão. Nos bastidores do comitê a ideia de fazer uma auditoria foi atribuída a Wajngarten, com quem Faria já teve desentendimentos no passado. Segundo outros auxiliares da campanha, somente a ala mais ligada a Wajngarten, que tem experiência pregressa com controle de mídia, insiste na tese de fraude, que deu vazão a especulações sobre o adiamento das eleições.

Na quarta-feira, 26, Eduardo Bolsonaro já pregava isso, alegando necessidade de reposição do tempo de propaganda nas rádios. Um dia depois, na quinta, Eduardo defendeu a ideia em entrevista. O deputado sugeriu que postergar a data da votação permitiria ao pai uma “reparação”, por causa das supostas irregularidades na veiculação de propaganda em rádios.

A campanha de Bolsonaro sustenta que emissoras do Norte, do Nordeste e de Minas Gerais teriam divulgado mais peças de publicidade de Lula do que do presidente.

“Tem um candidato que está sendo depreciado e um que está sendo favorecido. Isso está ferindo a democracia. Se fosse dado todo o direito de resposta a Jair Bolsonaro, é tanto tempo que seria necessário adiar essa eleição. Se a eleição for no domingo já temos uma certeza: Jair Bolsonaro foi prejudicado e não teve direito a reparação”, afirmou Eduardo, em entrevista ao site baiano BNews.

Congresso

A intenção de forçar um adiamento da eleição não encontra eco na cúpula do Congresso, onde uma iniciativa nesse sentido precisaria ser analisada por meio de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC). As datas do primeiro e do segundo turno das eleições estão previstas no artigo 77 da Carta.

Aliado de Bolsonaro, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), negou que o assunto esteja sendo discutido. Ao Estadão, Lira se limitou a classificar a ideia como “fake”.

Na prática, a tese só tem aval da família de Bolsonaro e de seus apoiadores mais radicais, que desejam um “terceiro turno antes do segundo”, nas palavras de um integrante do Centrão.

O presidente interino do PP, deputado Claudio Cajado (BA), e a vice-governadora eleita do Distrito Federal, Celina Leão (PP), também disseram que a ideia não é viável. Cajado afirmou que não tomou conhecimento da declaração de Eduardo Bolsonaro sobre o adiamento das eleições, mas reforçou não haver como uma proposta assim ser aprovada.

“Não soube (da entrevista de Eduardo), mas, para adiar, tem de ter PEC”, destacou o deputado. Para que mudanças na Constituição sejam aprovadas é necessário o apoio de três quintos da Câmara e do Senado, algo impossível de ser feito sem acordo político prévio e às vésperas das eleições.

Apesar de discordar da sugestão de Eduardo Bolsonaro, Celina Leão endossou parte das críticas do presidente em relação à Justiça Eleitoral. “Até para os mais neutros, os últimos acontecimentos são graves. Deveria no mínimo se abrir investigação, mas não tivemos nem isso”, disse a vice-governadora eleita do Distrito Federal.

A responsabilidade de fiscalizar a veiculação da propaganda eleitoral cabe aos partidos. “Como todos sabemos, não é, nunca foi e continuará não sendo responsabilidade do Tribunal Superior Eleitoral distribuir mídias de televisão e rádio e fiscalizar rádio por rádio no País todo, (para verificar) se elas estão transmitindo as inserções dos candidatos. Isso todos os partidos e candidatos de boa-fé sabem”, afirmou o ministro Alexandre de Moraes.

O relatório apresentado pela campanha de Bolsonaro ao TSE tem várias fragilidades. O próprio ministro das Comunicações havia anunciado que teriam sido veiculadas 154 mil inserções a mais de Lula durante o segundo turno. Ao TSE, porém, a campanha só detalhou informações sobre 730 peças em oito rádios. Seis delas negaram ser responsáveis por falhas e contestaram as informações do comitê de Bolsonaro. Algumas rádios alegaram que a prória campanha do presidente deixou de enviar comerciais.

Nesta quinta-feira, 27, em novo relatório – desta vez sobre emissoras de Minas –, advogados de Bolsonaro sustentaram que foram divulgadas 15,1 mil inserções a mais de Lula em 601 emissoras mineiras. Coordenadores da campanha, porém, encaminharam informações sobre apenas quatro rádios, que também rebateram os dados apresentados.

Acompanhe ao vivo a reta final do segundo turno das Eleições 2022 para presidente e governador

BRASÍLIA – Após a proposta de adiar o segundo turno das eleições ganhar a adesão da família do presidente Jair Bolsonaro (PL), o ministro das Comunicações, Fábio Faria, abandonou a estratégia de questionar a veiculação de propaganda eleitoral nas rádios. O deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do presidente, sugeriu que, para haver reparação ao pai, as eleições teriam de ser postergadas. A ideia conta, porém, com forte oposição do Centrão, que teme ser associado à defesa de um golpe e do incentivo a uma tática para ganhar no “tapetão”. Fábio Faria disse ao Estadão que se arrependeu de ter divulgado o caso das rádios quando o tema passou a ser usado para suspender a votação no próximo domingo.

“Tentei mediar um acordo para recebermos inserções e não foi possível. Aí saí do tema”, disse Faria ao Estadão. “Tentei o que pedia a peça (dos advogados) para recuperar algumas inserções nessas rádios. Depois que escalou, eu saí e isso eu me arrependo. Esse assunto prejudica o presidente”, completou o ministro, que é filiado ao PP, partido do Centrão. O bloco dá sustentação a Bolsonaro no Congresso.

O ministro das Comunicações, Fabio Faria, e Fabio Wajngarten (à esquerda), um dos coordenadores da campanha, apresentaram relatório alegando fraude na veiculaçao de propaganda de Jair Bolsonaro em rádios Foto: Evaristo Sa/AFP

Faria foi um dos emissários do Palácio do Planalto que consultaram interlocutores da cúpula do Judiciário para que a campanha fosse atendida em relação às reclamações sobre a propaganda nas rádios. O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, considerou a denúncia “inepta” e determinou que fosse arquivada. Moraes também pediu investigação para averiguar possível “cometimento de crime eleitoral com a finalidade de tumultuar o segundo turno do pleito em sua última semana”. Esse recado claro, na decisão de Moraes, foi crucial para a mudança de postura de Faria e de integrantes do governo, que se viram em posição de risco.

O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, também não é favorável ao adiamento das eleições, segundo apurou o Estadão. A tese vem sendo classificada como “loucura” e “sandice” por alguns dos mais importantes conselheiros do presidente. Um ministro ouvido sob reserva disse que essa proposta “só atrapalha o presidente”, além de passar a imagem de que ele “já está derrotado” e deseja o “terceiro turno”.

O ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, um dos coordenadores da campanha de Bolsonaro e líder do PP, também se colocou contra. Ele afirmou que não vê razões para adiar o segundo turno. “Adiamento das eleições não existe. O que existe são eleições, porque a democracia é um valor que não pertence a ninguém. Pertence a todos”, disse.

Derrotado no TSE naquele mesmo dia, Bolsonaro avisou que recorreria ao Supremo Tribunal Federal (STF) e iria “às últimas consequências”, em pronunciamento sem a presença da maioria de seus ministros e dos comandantes das Forças Armadas. Somente os ministros Anderson Torres (Justiça) e Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) acompanharam a declaração, no Palácio da Alvorada.

Desde então, Bolsonaro tem reclamado de “enorme desequilíbrio” na disputa com Luiz Inácio Lula da Silva (PT), sob o argumento de que uma suposta supressão de inserções comerciais de sua campanha em várias emissoras de rádio beneficiaram o adversário e podem interferir no resultado das eleições.

‘Fato grave’

Há três dias, o ministro das Comunicações convocou a imprensa ao Palácio da Alvorada para denunciar um “fato grave”. Na ocasião, ele e o coordenador de comunicação da campanha, Fabio Wajngarten, afirmaram que 154 mil propagandas de Bolsonaro haviam deixado de ser veiculadas por rádios de todo o País.

Ao analisar a denúncia formalizada por advogados de Bolsonaro, Faria disse que sempre deixou claro, desde o início, que só aderiu ao questionamento para pedir que a campanha fosse recompensada. A estratégia de apresentar a denúncia, de acordo com ele, foi definida quando o comitê de reeleição decidiu contratar uma empresa para investigar a suposta fraude. “O partido é que vai cuidar (do assunto)”, disse Faria.

Além de tentar recuperar inserções de propaganda para o presidente, a operação do comitê tinha outro objetivo político: atingir a imagem do TSE, visto como trincheira de oposição ao governo. Com o relatório apontando suposto desequilíbrio na veiculação de propaganda, bolsonaristas pretendiam expor a Corte a uma situação de fragilidade na fiscalização - ato, que, em verdade, cabe às coligações e candidatos, não ao tribunal.

A campanha gastou cerca de R$ 1,5 milhão com empresas especializadas em auditoria de mídia, segundo apurou o Estadão. Nos bastidores do comitê a ideia de fazer uma auditoria foi atribuída a Wajngarten, com quem Faria já teve desentendimentos no passado. Segundo outros auxiliares da campanha, somente a ala mais ligada a Wajngarten, que tem experiência pregressa com controle de mídia, insiste na tese de fraude, que deu vazão a especulações sobre o adiamento das eleições.

Na quarta-feira, 26, Eduardo Bolsonaro já pregava isso, alegando necessidade de reposição do tempo de propaganda nas rádios. Um dia depois, na quinta, Eduardo defendeu a ideia em entrevista. O deputado sugeriu que postergar a data da votação permitiria ao pai uma “reparação”, por causa das supostas irregularidades na veiculação de propaganda em rádios.

A campanha de Bolsonaro sustenta que emissoras do Norte, do Nordeste e de Minas Gerais teriam divulgado mais peças de publicidade de Lula do que do presidente.

“Tem um candidato que está sendo depreciado e um que está sendo favorecido. Isso está ferindo a democracia. Se fosse dado todo o direito de resposta a Jair Bolsonaro, é tanto tempo que seria necessário adiar essa eleição. Se a eleição for no domingo já temos uma certeza: Jair Bolsonaro foi prejudicado e não teve direito a reparação”, afirmou Eduardo, em entrevista ao site baiano BNews.

Congresso

A intenção de forçar um adiamento da eleição não encontra eco na cúpula do Congresso, onde uma iniciativa nesse sentido precisaria ser analisada por meio de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC). As datas do primeiro e do segundo turno das eleições estão previstas no artigo 77 da Carta.

Aliado de Bolsonaro, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), negou que o assunto esteja sendo discutido. Ao Estadão, Lira se limitou a classificar a ideia como “fake”.

Na prática, a tese só tem aval da família de Bolsonaro e de seus apoiadores mais radicais, que desejam um “terceiro turno antes do segundo”, nas palavras de um integrante do Centrão.

O presidente interino do PP, deputado Claudio Cajado (BA), e a vice-governadora eleita do Distrito Federal, Celina Leão (PP), também disseram que a ideia não é viável. Cajado afirmou que não tomou conhecimento da declaração de Eduardo Bolsonaro sobre o adiamento das eleições, mas reforçou não haver como uma proposta assim ser aprovada.

“Não soube (da entrevista de Eduardo), mas, para adiar, tem de ter PEC”, destacou o deputado. Para que mudanças na Constituição sejam aprovadas é necessário o apoio de três quintos da Câmara e do Senado, algo impossível de ser feito sem acordo político prévio e às vésperas das eleições.

Apesar de discordar da sugestão de Eduardo Bolsonaro, Celina Leão endossou parte das críticas do presidente em relação à Justiça Eleitoral. “Até para os mais neutros, os últimos acontecimentos são graves. Deveria no mínimo se abrir investigação, mas não tivemos nem isso”, disse a vice-governadora eleita do Distrito Federal.

A responsabilidade de fiscalizar a veiculação da propaganda eleitoral cabe aos partidos. “Como todos sabemos, não é, nunca foi e continuará não sendo responsabilidade do Tribunal Superior Eleitoral distribuir mídias de televisão e rádio e fiscalizar rádio por rádio no País todo, (para verificar) se elas estão transmitindo as inserções dos candidatos. Isso todos os partidos e candidatos de boa-fé sabem”, afirmou o ministro Alexandre de Moraes.

O relatório apresentado pela campanha de Bolsonaro ao TSE tem várias fragilidades. O próprio ministro das Comunicações havia anunciado que teriam sido veiculadas 154 mil inserções a mais de Lula durante o segundo turno. Ao TSE, porém, a campanha só detalhou informações sobre 730 peças em oito rádios. Seis delas negaram ser responsáveis por falhas e contestaram as informações do comitê de Bolsonaro. Algumas rádios alegaram que a prória campanha do presidente deixou de enviar comerciais.

Nesta quinta-feira, 27, em novo relatório – desta vez sobre emissoras de Minas –, advogados de Bolsonaro sustentaram que foram divulgadas 15,1 mil inserções a mais de Lula em 601 emissoras mineiras. Coordenadores da campanha, porém, encaminharam informações sobre apenas quatro rádios, que também rebateram os dados apresentados.

Acompanhe ao vivo a reta final do segundo turno das Eleições 2022 para presidente e governador

BRASÍLIA – Após a proposta de adiar o segundo turno das eleições ganhar a adesão da família do presidente Jair Bolsonaro (PL), o ministro das Comunicações, Fábio Faria, abandonou a estratégia de questionar a veiculação de propaganda eleitoral nas rádios. O deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do presidente, sugeriu que, para haver reparação ao pai, as eleições teriam de ser postergadas. A ideia conta, porém, com forte oposição do Centrão, que teme ser associado à defesa de um golpe e do incentivo a uma tática para ganhar no “tapetão”. Fábio Faria disse ao Estadão que se arrependeu de ter divulgado o caso das rádios quando o tema passou a ser usado para suspender a votação no próximo domingo.

“Tentei mediar um acordo para recebermos inserções e não foi possível. Aí saí do tema”, disse Faria ao Estadão. “Tentei o que pedia a peça (dos advogados) para recuperar algumas inserções nessas rádios. Depois que escalou, eu saí e isso eu me arrependo. Esse assunto prejudica o presidente”, completou o ministro, que é filiado ao PP, partido do Centrão. O bloco dá sustentação a Bolsonaro no Congresso.

O ministro das Comunicações, Fabio Faria, e Fabio Wajngarten (à esquerda), um dos coordenadores da campanha, apresentaram relatório alegando fraude na veiculaçao de propaganda de Jair Bolsonaro em rádios Foto: Evaristo Sa/AFP

Faria foi um dos emissários do Palácio do Planalto que consultaram interlocutores da cúpula do Judiciário para que a campanha fosse atendida em relação às reclamações sobre a propaganda nas rádios. O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, considerou a denúncia “inepta” e determinou que fosse arquivada. Moraes também pediu investigação para averiguar possível “cometimento de crime eleitoral com a finalidade de tumultuar o segundo turno do pleito em sua última semana”. Esse recado claro, na decisão de Moraes, foi crucial para a mudança de postura de Faria e de integrantes do governo, que se viram em posição de risco.

O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, também não é favorável ao adiamento das eleições, segundo apurou o Estadão. A tese vem sendo classificada como “loucura” e “sandice” por alguns dos mais importantes conselheiros do presidente. Um ministro ouvido sob reserva disse que essa proposta “só atrapalha o presidente”, além de passar a imagem de que ele “já está derrotado” e deseja o “terceiro turno”.

O ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, um dos coordenadores da campanha de Bolsonaro e líder do PP, também se colocou contra. Ele afirmou que não vê razões para adiar o segundo turno. “Adiamento das eleições não existe. O que existe são eleições, porque a democracia é um valor que não pertence a ninguém. Pertence a todos”, disse.

Derrotado no TSE naquele mesmo dia, Bolsonaro avisou que recorreria ao Supremo Tribunal Federal (STF) e iria “às últimas consequências”, em pronunciamento sem a presença da maioria de seus ministros e dos comandantes das Forças Armadas. Somente os ministros Anderson Torres (Justiça) e Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) acompanharam a declaração, no Palácio da Alvorada.

Desde então, Bolsonaro tem reclamado de “enorme desequilíbrio” na disputa com Luiz Inácio Lula da Silva (PT), sob o argumento de que uma suposta supressão de inserções comerciais de sua campanha em várias emissoras de rádio beneficiaram o adversário e podem interferir no resultado das eleições.

‘Fato grave’

Há três dias, o ministro das Comunicações convocou a imprensa ao Palácio da Alvorada para denunciar um “fato grave”. Na ocasião, ele e o coordenador de comunicação da campanha, Fabio Wajngarten, afirmaram que 154 mil propagandas de Bolsonaro haviam deixado de ser veiculadas por rádios de todo o País.

Ao analisar a denúncia formalizada por advogados de Bolsonaro, Faria disse que sempre deixou claro, desde o início, que só aderiu ao questionamento para pedir que a campanha fosse recompensada. A estratégia de apresentar a denúncia, de acordo com ele, foi definida quando o comitê de reeleição decidiu contratar uma empresa para investigar a suposta fraude. “O partido é que vai cuidar (do assunto)”, disse Faria.

Além de tentar recuperar inserções de propaganda para o presidente, a operação do comitê tinha outro objetivo político: atingir a imagem do TSE, visto como trincheira de oposição ao governo. Com o relatório apontando suposto desequilíbrio na veiculação de propaganda, bolsonaristas pretendiam expor a Corte a uma situação de fragilidade na fiscalização - ato, que, em verdade, cabe às coligações e candidatos, não ao tribunal.

A campanha gastou cerca de R$ 1,5 milhão com empresas especializadas em auditoria de mídia, segundo apurou o Estadão. Nos bastidores do comitê a ideia de fazer uma auditoria foi atribuída a Wajngarten, com quem Faria já teve desentendimentos no passado. Segundo outros auxiliares da campanha, somente a ala mais ligada a Wajngarten, que tem experiência pregressa com controle de mídia, insiste na tese de fraude, que deu vazão a especulações sobre o adiamento das eleições.

Na quarta-feira, 26, Eduardo Bolsonaro já pregava isso, alegando necessidade de reposição do tempo de propaganda nas rádios. Um dia depois, na quinta, Eduardo defendeu a ideia em entrevista. O deputado sugeriu que postergar a data da votação permitiria ao pai uma “reparação”, por causa das supostas irregularidades na veiculação de propaganda em rádios.

A campanha de Bolsonaro sustenta que emissoras do Norte, do Nordeste e de Minas Gerais teriam divulgado mais peças de publicidade de Lula do que do presidente.

“Tem um candidato que está sendo depreciado e um que está sendo favorecido. Isso está ferindo a democracia. Se fosse dado todo o direito de resposta a Jair Bolsonaro, é tanto tempo que seria necessário adiar essa eleição. Se a eleição for no domingo já temos uma certeza: Jair Bolsonaro foi prejudicado e não teve direito a reparação”, afirmou Eduardo, em entrevista ao site baiano BNews.

Congresso

A intenção de forçar um adiamento da eleição não encontra eco na cúpula do Congresso, onde uma iniciativa nesse sentido precisaria ser analisada por meio de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC). As datas do primeiro e do segundo turno das eleições estão previstas no artigo 77 da Carta.

Aliado de Bolsonaro, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), negou que o assunto esteja sendo discutido. Ao Estadão, Lira se limitou a classificar a ideia como “fake”.

Na prática, a tese só tem aval da família de Bolsonaro e de seus apoiadores mais radicais, que desejam um “terceiro turno antes do segundo”, nas palavras de um integrante do Centrão.

O presidente interino do PP, deputado Claudio Cajado (BA), e a vice-governadora eleita do Distrito Federal, Celina Leão (PP), também disseram que a ideia não é viável. Cajado afirmou que não tomou conhecimento da declaração de Eduardo Bolsonaro sobre o adiamento das eleições, mas reforçou não haver como uma proposta assim ser aprovada.

“Não soube (da entrevista de Eduardo), mas, para adiar, tem de ter PEC”, destacou o deputado. Para que mudanças na Constituição sejam aprovadas é necessário o apoio de três quintos da Câmara e do Senado, algo impossível de ser feito sem acordo político prévio e às vésperas das eleições.

Apesar de discordar da sugestão de Eduardo Bolsonaro, Celina Leão endossou parte das críticas do presidente em relação à Justiça Eleitoral. “Até para os mais neutros, os últimos acontecimentos são graves. Deveria no mínimo se abrir investigação, mas não tivemos nem isso”, disse a vice-governadora eleita do Distrito Federal.

A responsabilidade de fiscalizar a veiculação da propaganda eleitoral cabe aos partidos. “Como todos sabemos, não é, nunca foi e continuará não sendo responsabilidade do Tribunal Superior Eleitoral distribuir mídias de televisão e rádio e fiscalizar rádio por rádio no País todo, (para verificar) se elas estão transmitindo as inserções dos candidatos. Isso todos os partidos e candidatos de boa-fé sabem”, afirmou o ministro Alexandre de Moraes.

O relatório apresentado pela campanha de Bolsonaro ao TSE tem várias fragilidades. O próprio ministro das Comunicações havia anunciado que teriam sido veiculadas 154 mil inserções a mais de Lula durante o segundo turno. Ao TSE, porém, a campanha só detalhou informações sobre 730 peças em oito rádios. Seis delas negaram ser responsáveis por falhas e contestaram as informações do comitê de Bolsonaro. Algumas rádios alegaram que a prória campanha do presidente deixou de enviar comerciais.

Nesta quinta-feira, 27, em novo relatório – desta vez sobre emissoras de Minas –, advogados de Bolsonaro sustentaram que foram divulgadas 15,1 mil inserções a mais de Lula em 601 emissoras mineiras. Coordenadores da campanha, porém, encaminharam informações sobre apenas quatro rádios, que também rebateram os dados apresentados.

Acompanhe ao vivo a reta final do segundo turno das Eleições 2022 para presidente e governador

BRASÍLIA – Após a proposta de adiar o segundo turno das eleições ganhar a adesão da família do presidente Jair Bolsonaro (PL), o ministro das Comunicações, Fábio Faria, abandonou a estratégia de questionar a veiculação de propaganda eleitoral nas rádios. O deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do presidente, sugeriu que, para haver reparação ao pai, as eleições teriam de ser postergadas. A ideia conta, porém, com forte oposição do Centrão, que teme ser associado à defesa de um golpe e do incentivo a uma tática para ganhar no “tapetão”. Fábio Faria disse ao Estadão que se arrependeu de ter divulgado o caso das rádios quando o tema passou a ser usado para suspender a votação no próximo domingo.

“Tentei mediar um acordo para recebermos inserções e não foi possível. Aí saí do tema”, disse Faria ao Estadão. “Tentei o que pedia a peça (dos advogados) para recuperar algumas inserções nessas rádios. Depois que escalou, eu saí e isso eu me arrependo. Esse assunto prejudica o presidente”, completou o ministro, que é filiado ao PP, partido do Centrão. O bloco dá sustentação a Bolsonaro no Congresso.

O ministro das Comunicações, Fabio Faria, e Fabio Wajngarten (à esquerda), um dos coordenadores da campanha, apresentaram relatório alegando fraude na veiculaçao de propaganda de Jair Bolsonaro em rádios Foto: Evaristo Sa/AFP

Faria foi um dos emissários do Palácio do Planalto que consultaram interlocutores da cúpula do Judiciário para que a campanha fosse atendida em relação às reclamações sobre a propaganda nas rádios. O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, considerou a denúncia “inepta” e determinou que fosse arquivada. Moraes também pediu investigação para averiguar possível “cometimento de crime eleitoral com a finalidade de tumultuar o segundo turno do pleito em sua última semana”. Esse recado claro, na decisão de Moraes, foi crucial para a mudança de postura de Faria e de integrantes do governo, que se viram em posição de risco.

O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, também não é favorável ao adiamento das eleições, segundo apurou o Estadão. A tese vem sendo classificada como “loucura” e “sandice” por alguns dos mais importantes conselheiros do presidente. Um ministro ouvido sob reserva disse que essa proposta “só atrapalha o presidente”, além de passar a imagem de que ele “já está derrotado” e deseja o “terceiro turno”.

O ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, um dos coordenadores da campanha de Bolsonaro e líder do PP, também se colocou contra. Ele afirmou que não vê razões para adiar o segundo turno. “Adiamento das eleições não existe. O que existe são eleições, porque a democracia é um valor que não pertence a ninguém. Pertence a todos”, disse.

Derrotado no TSE naquele mesmo dia, Bolsonaro avisou que recorreria ao Supremo Tribunal Federal (STF) e iria “às últimas consequências”, em pronunciamento sem a presença da maioria de seus ministros e dos comandantes das Forças Armadas. Somente os ministros Anderson Torres (Justiça) e Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) acompanharam a declaração, no Palácio da Alvorada.

Desde então, Bolsonaro tem reclamado de “enorme desequilíbrio” na disputa com Luiz Inácio Lula da Silva (PT), sob o argumento de que uma suposta supressão de inserções comerciais de sua campanha em várias emissoras de rádio beneficiaram o adversário e podem interferir no resultado das eleições.

‘Fato grave’

Há três dias, o ministro das Comunicações convocou a imprensa ao Palácio da Alvorada para denunciar um “fato grave”. Na ocasião, ele e o coordenador de comunicação da campanha, Fabio Wajngarten, afirmaram que 154 mil propagandas de Bolsonaro haviam deixado de ser veiculadas por rádios de todo o País.

Ao analisar a denúncia formalizada por advogados de Bolsonaro, Faria disse que sempre deixou claro, desde o início, que só aderiu ao questionamento para pedir que a campanha fosse recompensada. A estratégia de apresentar a denúncia, de acordo com ele, foi definida quando o comitê de reeleição decidiu contratar uma empresa para investigar a suposta fraude. “O partido é que vai cuidar (do assunto)”, disse Faria.

Além de tentar recuperar inserções de propaganda para o presidente, a operação do comitê tinha outro objetivo político: atingir a imagem do TSE, visto como trincheira de oposição ao governo. Com o relatório apontando suposto desequilíbrio na veiculação de propaganda, bolsonaristas pretendiam expor a Corte a uma situação de fragilidade na fiscalização - ato, que, em verdade, cabe às coligações e candidatos, não ao tribunal.

A campanha gastou cerca de R$ 1,5 milhão com empresas especializadas em auditoria de mídia, segundo apurou o Estadão. Nos bastidores do comitê a ideia de fazer uma auditoria foi atribuída a Wajngarten, com quem Faria já teve desentendimentos no passado. Segundo outros auxiliares da campanha, somente a ala mais ligada a Wajngarten, que tem experiência pregressa com controle de mídia, insiste na tese de fraude, que deu vazão a especulações sobre o adiamento das eleições.

Na quarta-feira, 26, Eduardo Bolsonaro já pregava isso, alegando necessidade de reposição do tempo de propaganda nas rádios. Um dia depois, na quinta, Eduardo defendeu a ideia em entrevista. O deputado sugeriu que postergar a data da votação permitiria ao pai uma “reparação”, por causa das supostas irregularidades na veiculação de propaganda em rádios.

A campanha de Bolsonaro sustenta que emissoras do Norte, do Nordeste e de Minas Gerais teriam divulgado mais peças de publicidade de Lula do que do presidente.

“Tem um candidato que está sendo depreciado e um que está sendo favorecido. Isso está ferindo a democracia. Se fosse dado todo o direito de resposta a Jair Bolsonaro, é tanto tempo que seria necessário adiar essa eleição. Se a eleição for no domingo já temos uma certeza: Jair Bolsonaro foi prejudicado e não teve direito a reparação”, afirmou Eduardo, em entrevista ao site baiano BNews.

Congresso

A intenção de forçar um adiamento da eleição não encontra eco na cúpula do Congresso, onde uma iniciativa nesse sentido precisaria ser analisada por meio de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC). As datas do primeiro e do segundo turno das eleições estão previstas no artigo 77 da Carta.

Aliado de Bolsonaro, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), negou que o assunto esteja sendo discutido. Ao Estadão, Lira se limitou a classificar a ideia como “fake”.

Na prática, a tese só tem aval da família de Bolsonaro e de seus apoiadores mais radicais, que desejam um “terceiro turno antes do segundo”, nas palavras de um integrante do Centrão.

O presidente interino do PP, deputado Claudio Cajado (BA), e a vice-governadora eleita do Distrito Federal, Celina Leão (PP), também disseram que a ideia não é viável. Cajado afirmou que não tomou conhecimento da declaração de Eduardo Bolsonaro sobre o adiamento das eleições, mas reforçou não haver como uma proposta assim ser aprovada.

“Não soube (da entrevista de Eduardo), mas, para adiar, tem de ter PEC”, destacou o deputado. Para que mudanças na Constituição sejam aprovadas é necessário o apoio de três quintos da Câmara e do Senado, algo impossível de ser feito sem acordo político prévio e às vésperas das eleições.

Apesar de discordar da sugestão de Eduardo Bolsonaro, Celina Leão endossou parte das críticas do presidente em relação à Justiça Eleitoral. “Até para os mais neutros, os últimos acontecimentos são graves. Deveria no mínimo se abrir investigação, mas não tivemos nem isso”, disse a vice-governadora eleita do Distrito Federal.

A responsabilidade de fiscalizar a veiculação da propaganda eleitoral cabe aos partidos. “Como todos sabemos, não é, nunca foi e continuará não sendo responsabilidade do Tribunal Superior Eleitoral distribuir mídias de televisão e rádio e fiscalizar rádio por rádio no País todo, (para verificar) se elas estão transmitindo as inserções dos candidatos. Isso todos os partidos e candidatos de boa-fé sabem”, afirmou o ministro Alexandre de Moraes.

O relatório apresentado pela campanha de Bolsonaro ao TSE tem várias fragilidades. O próprio ministro das Comunicações havia anunciado que teriam sido veiculadas 154 mil inserções a mais de Lula durante o segundo turno. Ao TSE, porém, a campanha só detalhou informações sobre 730 peças em oito rádios. Seis delas negaram ser responsáveis por falhas e contestaram as informações do comitê de Bolsonaro. Algumas rádios alegaram que a prória campanha do presidente deixou de enviar comerciais.

Nesta quinta-feira, 27, em novo relatório – desta vez sobre emissoras de Minas –, advogados de Bolsonaro sustentaram que foram divulgadas 15,1 mil inserções a mais de Lula em 601 emissoras mineiras. Coordenadores da campanha, porém, encaminharam informações sobre apenas quatro rádios, que também rebateram os dados apresentados.

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