Centrão loteia Funasa com parente, coach motivacional e especialista em cachaça


Indicados do bloco informam em seus currículos experiência em áreas sem relação com a atividade da fundação

Por Julia Affonso e Vinícius Valfré

O presidente Jair Bolsonaro (PL) entregou mais da metade das superintendências da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) para o controle do Centrão. Com um orçamento de R$ 2,9 bilhões, o órgão vinculado ao Ministério da Saúde foi loteado em 17 Estados e em Brasília. Familiar de político, coach, especialista em “análise sensorial de cachaça” e dono de restaurante self-service assumiram cargos de comando por indicação de aliados de Bolsonaro no Congresso.

A missão da Funasa é levar saneamento básico e água de qualidade aos brasileiros. Nas mãos do Centrão, o órgão se tornou um duto de escoamento do dinheiro do orçamento secreto. Deputados enviaram mais de R$ 635 milhões para a fundação desde 2020 e indicaram como os recursos públicos deveriam ser usados sem transparência ou critério técnico, em um movimento sem precedentes. Como revelou o Estadão, poços de água no Nordeste foram construídos sem bombas para saída de água.

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Nas mãos do Centrão, o órgão se tornou um duto de escoamento do dinheiro do orçamento secreto. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

O núcleo duro do Centrão é formado por PL, Progressistas e Republicanos. O grupo tem ainda a companhia do PSD que, em troca de cargos, vota a favor das pautas de Bolsonaro no Congresso. Em 2021, o partido de Gilberto Kassab ajudou o governo em 86% das votações. A sigla fez as principais indicações na Funasa.

O deputado Diego Andrade (PSD-MG) indicou seu concunhado, o advogado Miguel Marques, para comandar a fundação. Nas redes sociais, eles exibem uma relação de proximidade. Em dezembro passado, Marques publicou uma foto ao lado do deputado e das mulheres de ambos, que são irmãs, com a legenda: “vale night com meus parceiros”. No currículo, o chefe da Funasa informa como experiência “confecção de projetos de lei através de prestação de serviços” para o congressista.

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Desde 2020, o deputado indica o presidente da Funasa. Antes do concunhado ele emplacou na vaga o coronel da Polícia Militar Giovanne Gomes da Silva. Quando deixou a fundação, o oficial da PM mineira enviou e-mail de despedida com agradecimento expresso ao parlamentar. “Registro ainda um agradecimento especial ao presidente da República Jair Bolsonaro e à bancada do PSD, na pessoa do deputado federal Diego Andrade, a oportunidade e confiança a mim depositada”, escreveu.

A influência do deputado é tanta que ele também indicou o chefe de gabinete do presidente da Funasa e fez dele o substituto do executivo durante as férias do titular. Antes de assumir a vaga no órgão, Paulo Roberto Martinho de Souza foi assessor do parlamentar na Câmara. Procurado, Andrade não ligou de volta para a reportagem.

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Uma das diretorias mais importantes da Funasa foi entregue ao PL – sigla pela qual Bolsonaro tenta se reeleger. O Departamento de Saúde Ambiental (Desam) é chefiado pela advogada Deborah Silva Figueiredo Roberto, mulher do deputado Wellington Roberto (PL-PB). No currículo ela informa ser coach em excelência motivacional e analista comportamental, além de um MBA em Relações Humanas e Psicologia Positiva.

As áreas não têm nenhuma relação com seu departamento, responsável por tratar de programas voltados ao controle de qualidade da água, ações de educação e proteção para a saúde ambiental e desenvolvimento do saneamento.

Outro setor importante na Funasa que está loteado pelo Centrão é o Departamento de Engenharia de Saúde Pública (Densp), responsável por licitações milionárias. Comandado pelo PSD desde maio de 2021, o Densp é chefiado por Marlos Costa, apadrinhado pelo deputado Domingos Neto (PSD-CE). O diretor foi assessor do pai do parlamentar durante mandato na Assembleia Legislativa do Ceará.

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Como mostrou o Estadão, o departamento chefiado por Costa fez uma licitação com indícios de sobrepreço de R$ 131 milhões para poços de água no Nordeste. Segundo a Controladoria-Geral da União (GCU), a Funasa teria colocado estimativas muito acima do preço do mercado para equipamentos como tubos e bombas. A empresa que arrematou a maior parte dos serviços licitados tem como sócio o presidente do PSD em Quixeramobim (CE) e prefeito em exercício da cidade, Edmilson Júnior.

No Espírito Santo, o deputado Neucimar Fraga (Progressistas-ES) indicou para comandar a superintendência da Funasa o dono de um restaurante self-service. Em seu currículo no site da Funasa, Ayrton Silveira diz ser “especializado em análise sensorial de cachaça e boas práticas na fabricação da bebida”.

Como mostrou o Estadão, o departamento chefiado por Costa fez uma licitação com indícios de sobrepreço de R$ 131 milhões para poços de água no Nordeste. Foto: Wilton Júnior/Estadão
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Ao Estadão, o parlamentar exaltou a formação do seu apadrinhado em Administração de Empresas. “A Funasa, o grande problema dela aqui era gestão. Ele tem feito um bom trabalho, tem organizado a Funasa aqui, tem destravado alguns projetos que estavam parados há muitos anos no Estado do Espírito Santo, obras paradas”, defendeu.

Filiado ao PSD do Maranhão e membro de um conhecido clã político, Augusto Ferreira é superintendente da fundação no Estado desde maio de 2021. Diferentemente de outros chefes regionais da Funasa, o currículo de Ferreira não está disponível na página oficial do órgão. Advogado, tem empresas no ramo agropecuário.

Procurada, a Funasa informou que “as nomeações que realiza estão em conformidade com decretos e legislações que disciplinam o tema”.

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Bolsonaro foi eleito em 2018 com a promessa de não lotear cargos públicos com o Centrão. Naquele ano, durante convenção do PSL – então partido do presidente –, o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, chegou a comparar os políticos do grupo com ladrões. “Se gritar pega Centrão, não fica um meu irmão”, cantou o general, parafraseando uma música de Bezerra de Silva.

A promessa do presidente foi descumprida já no segundo ano do seu mandato. Atualmente, o Centrão controla um orçamento de R$ 54,5 bilhões de quatro órgãos estatais. O grupo apadrinhou cargos na Funasa, no Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), no Departamento Nacional de Obras contra a Seca (Dnocs) e na Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf).

No mês passado, o presidente se irritou e partiu para cima de um homem que o chamou de “tchutchuca do Centrão”. Seu principal opositor na campanha presidencial, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), também tem explorado a contradição e disse que Bolsonaro virou um “bobo da corte” ao criar o orçamento secreto, mecanismo revelado pelo Estadão que entregou ao bloco o controle do dinheiro público. Bolsonaro responde que sempre foi do Centrão e precisou do grupo para governar.

Para entender: Nomes indicados para cargos na fundação

Apadrinhados

Com um orçamento de R$ 2,9 bilhões, a Fundação Nacional da Saúde (Funasa) é comandada por indicados de representantes do Centrão.

Diretorias

O Departamento de Saúde Ambiental (Desam) e o Departamento de Engenharia de Saúde Pública (Densp) são as duas principais diretorias da Funasa. Ambas são controladas por apadrinhados de nomes do bloco Centrão.

Miguel Marques

Presidente da Funasa, foi indicado pelo concunhado Diego Andrade (PSD-MG). Antes do cargo, escrevia projetos de lei para o deputado.

Paulo Roberto Martinho de Souza

Chefe de gabinete e presidente substituto da Funasa. Antes, foi secretário parlamentar do deputado Diego Andrade

Deborah Silva Figueiredo Roberto

Diretora do Departamento de Saúde Ambiental (Desam) é mulher do deputado Wellington Roberto (PL-PB). É coach em excelência motivacional e analista comportamental. Tem MBA em Relações Humanas e Psicologia Positiva.

Marlos Costa

Diretor do Departamento de Engenharia de Saúde Pública (Densp), foi assessor do pai do deputado Domingos Neto (PSD-CE).

Ayrton Silveira Junior

Superintendente da Funasa no Espírito Santo, foi indicado pelo deputado Neucimar Fraga (PP-ES). Administrador de empresas, destacou em seu currículo ser especializado em análise sensorial de cachaça e boas práticas na fabricação da bebida.

Alberto Bacelar de França Ferreira

Superintendente da Funasa no Maranhão. O pai dele, Albérico Filho (MDB), é primo do ex-presidente José Sarney (MDB-AP). Advogado, tem empresas no ramo agropecuário.

O presidente Jair Bolsonaro (PL) entregou mais da metade das superintendências da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) para o controle do Centrão. Com um orçamento de R$ 2,9 bilhões, o órgão vinculado ao Ministério da Saúde foi loteado em 17 Estados e em Brasília. Familiar de político, coach, especialista em “análise sensorial de cachaça” e dono de restaurante self-service assumiram cargos de comando por indicação de aliados de Bolsonaro no Congresso.

A missão da Funasa é levar saneamento básico e água de qualidade aos brasileiros. Nas mãos do Centrão, o órgão se tornou um duto de escoamento do dinheiro do orçamento secreto. Deputados enviaram mais de R$ 635 milhões para a fundação desde 2020 e indicaram como os recursos públicos deveriam ser usados sem transparência ou critério técnico, em um movimento sem precedentes. Como revelou o Estadão, poços de água no Nordeste foram construídos sem bombas para saída de água.

Nas mãos do Centrão, o órgão se tornou um duto de escoamento do dinheiro do orçamento secreto. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

O núcleo duro do Centrão é formado por PL, Progressistas e Republicanos. O grupo tem ainda a companhia do PSD que, em troca de cargos, vota a favor das pautas de Bolsonaro no Congresso. Em 2021, o partido de Gilberto Kassab ajudou o governo em 86% das votações. A sigla fez as principais indicações na Funasa.

O deputado Diego Andrade (PSD-MG) indicou seu concunhado, o advogado Miguel Marques, para comandar a fundação. Nas redes sociais, eles exibem uma relação de proximidade. Em dezembro passado, Marques publicou uma foto ao lado do deputado e das mulheres de ambos, que são irmãs, com a legenda: “vale night com meus parceiros”. No currículo, o chefe da Funasa informa como experiência “confecção de projetos de lei através de prestação de serviços” para o congressista.

Desde 2020, o deputado indica o presidente da Funasa. Antes do concunhado ele emplacou na vaga o coronel da Polícia Militar Giovanne Gomes da Silva. Quando deixou a fundação, o oficial da PM mineira enviou e-mail de despedida com agradecimento expresso ao parlamentar. “Registro ainda um agradecimento especial ao presidente da República Jair Bolsonaro e à bancada do PSD, na pessoa do deputado federal Diego Andrade, a oportunidade e confiança a mim depositada”, escreveu.

A influência do deputado é tanta que ele também indicou o chefe de gabinete do presidente da Funasa e fez dele o substituto do executivo durante as férias do titular. Antes de assumir a vaga no órgão, Paulo Roberto Martinho de Souza foi assessor do parlamentar na Câmara. Procurado, Andrade não ligou de volta para a reportagem.

Uma das diretorias mais importantes da Funasa foi entregue ao PL – sigla pela qual Bolsonaro tenta se reeleger. O Departamento de Saúde Ambiental (Desam) é chefiado pela advogada Deborah Silva Figueiredo Roberto, mulher do deputado Wellington Roberto (PL-PB). No currículo ela informa ser coach em excelência motivacional e analista comportamental, além de um MBA em Relações Humanas e Psicologia Positiva.

As áreas não têm nenhuma relação com seu departamento, responsável por tratar de programas voltados ao controle de qualidade da água, ações de educação e proteção para a saúde ambiental e desenvolvimento do saneamento.

Outro setor importante na Funasa que está loteado pelo Centrão é o Departamento de Engenharia de Saúde Pública (Densp), responsável por licitações milionárias. Comandado pelo PSD desde maio de 2021, o Densp é chefiado por Marlos Costa, apadrinhado pelo deputado Domingos Neto (PSD-CE). O diretor foi assessor do pai do parlamentar durante mandato na Assembleia Legislativa do Ceará.

Como mostrou o Estadão, o departamento chefiado por Costa fez uma licitação com indícios de sobrepreço de R$ 131 milhões para poços de água no Nordeste. Segundo a Controladoria-Geral da União (GCU), a Funasa teria colocado estimativas muito acima do preço do mercado para equipamentos como tubos e bombas. A empresa que arrematou a maior parte dos serviços licitados tem como sócio o presidente do PSD em Quixeramobim (CE) e prefeito em exercício da cidade, Edmilson Júnior.

No Espírito Santo, o deputado Neucimar Fraga (Progressistas-ES) indicou para comandar a superintendência da Funasa o dono de um restaurante self-service. Em seu currículo no site da Funasa, Ayrton Silveira diz ser “especializado em análise sensorial de cachaça e boas práticas na fabricação da bebida”.

Como mostrou o Estadão, o departamento chefiado por Costa fez uma licitação com indícios de sobrepreço de R$ 131 milhões para poços de água no Nordeste. Foto: Wilton Júnior/Estadão

Ao Estadão, o parlamentar exaltou a formação do seu apadrinhado em Administração de Empresas. “A Funasa, o grande problema dela aqui era gestão. Ele tem feito um bom trabalho, tem organizado a Funasa aqui, tem destravado alguns projetos que estavam parados há muitos anos no Estado do Espírito Santo, obras paradas”, defendeu.

Filiado ao PSD do Maranhão e membro de um conhecido clã político, Augusto Ferreira é superintendente da fundação no Estado desde maio de 2021. Diferentemente de outros chefes regionais da Funasa, o currículo de Ferreira não está disponível na página oficial do órgão. Advogado, tem empresas no ramo agropecuário.

Procurada, a Funasa informou que “as nomeações que realiza estão em conformidade com decretos e legislações que disciplinam o tema”.

Bolsonaro foi eleito em 2018 com a promessa de não lotear cargos públicos com o Centrão. Naquele ano, durante convenção do PSL – então partido do presidente –, o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, chegou a comparar os políticos do grupo com ladrões. “Se gritar pega Centrão, não fica um meu irmão”, cantou o general, parafraseando uma música de Bezerra de Silva.

A promessa do presidente foi descumprida já no segundo ano do seu mandato. Atualmente, o Centrão controla um orçamento de R$ 54,5 bilhões de quatro órgãos estatais. O grupo apadrinhou cargos na Funasa, no Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), no Departamento Nacional de Obras contra a Seca (Dnocs) e na Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf).

No mês passado, o presidente se irritou e partiu para cima de um homem que o chamou de “tchutchuca do Centrão”. Seu principal opositor na campanha presidencial, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), também tem explorado a contradição e disse que Bolsonaro virou um “bobo da corte” ao criar o orçamento secreto, mecanismo revelado pelo Estadão que entregou ao bloco o controle do dinheiro público. Bolsonaro responde que sempre foi do Centrão e precisou do grupo para governar.

Para entender: Nomes indicados para cargos na fundação

Apadrinhados

Com um orçamento de R$ 2,9 bilhões, a Fundação Nacional da Saúde (Funasa) é comandada por indicados de representantes do Centrão.

Diretorias

O Departamento de Saúde Ambiental (Desam) e o Departamento de Engenharia de Saúde Pública (Densp) são as duas principais diretorias da Funasa. Ambas são controladas por apadrinhados de nomes do bloco Centrão.

Miguel Marques

Presidente da Funasa, foi indicado pelo concunhado Diego Andrade (PSD-MG). Antes do cargo, escrevia projetos de lei para o deputado.

Paulo Roberto Martinho de Souza

Chefe de gabinete e presidente substituto da Funasa. Antes, foi secretário parlamentar do deputado Diego Andrade

Deborah Silva Figueiredo Roberto

Diretora do Departamento de Saúde Ambiental (Desam) é mulher do deputado Wellington Roberto (PL-PB). É coach em excelência motivacional e analista comportamental. Tem MBA em Relações Humanas e Psicologia Positiva.

Marlos Costa

Diretor do Departamento de Engenharia de Saúde Pública (Densp), foi assessor do pai do deputado Domingos Neto (PSD-CE).

Ayrton Silveira Junior

Superintendente da Funasa no Espírito Santo, foi indicado pelo deputado Neucimar Fraga (PP-ES). Administrador de empresas, destacou em seu currículo ser especializado em análise sensorial de cachaça e boas práticas na fabricação da bebida.

Alberto Bacelar de França Ferreira

Superintendente da Funasa no Maranhão. O pai dele, Albérico Filho (MDB), é primo do ex-presidente José Sarney (MDB-AP). Advogado, tem empresas no ramo agropecuário.

O presidente Jair Bolsonaro (PL) entregou mais da metade das superintendências da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) para o controle do Centrão. Com um orçamento de R$ 2,9 bilhões, o órgão vinculado ao Ministério da Saúde foi loteado em 17 Estados e em Brasília. Familiar de político, coach, especialista em “análise sensorial de cachaça” e dono de restaurante self-service assumiram cargos de comando por indicação de aliados de Bolsonaro no Congresso.

A missão da Funasa é levar saneamento básico e água de qualidade aos brasileiros. Nas mãos do Centrão, o órgão se tornou um duto de escoamento do dinheiro do orçamento secreto. Deputados enviaram mais de R$ 635 milhões para a fundação desde 2020 e indicaram como os recursos públicos deveriam ser usados sem transparência ou critério técnico, em um movimento sem precedentes. Como revelou o Estadão, poços de água no Nordeste foram construídos sem bombas para saída de água.

Nas mãos do Centrão, o órgão se tornou um duto de escoamento do dinheiro do orçamento secreto. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

O núcleo duro do Centrão é formado por PL, Progressistas e Republicanos. O grupo tem ainda a companhia do PSD que, em troca de cargos, vota a favor das pautas de Bolsonaro no Congresso. Em 2021, o partido de Gilberto Kassab ajudou o governo em 86% das votações. A sigla fez as principais indicações na Funasa.

O deputado Diego Andrade (PSD-MG) indicou seu concunhado, o advogado Miguel Marques, para comandar a fundação. Nas redes sociais, eles exibem uma relação de proximidade. Em dezembro passado, Marques publicou uma foto ao lado do deputado e das mulheres de ambos, que são irmãs, com a legenda: “vale night com meus parceiros”. No currículo, o chefe da Funasa informa como experiência “confecção de projetos de lei através de prestação de serviços” para o congressista.

Desde 2020, o deputado indica o presidente da Funasa. Antes do concunhado ele emplacou na vaga o coronel da Polícia Militar Giovanne Gomes da Silva. Quando deixou a fundação, o oficial da PM mineira enviou e-mail de despedida com agradecimento expresso ao parlamentar. “Registro ainda um agradecimento especial ao presidente da República Jair Bolsonaro e à bancada do PSD, na pessoa do deputado federal Diego Andrade, a oportunidade e confiança a mim depositada”, escreveu.

A influência do deputado é tanta que ele também indicou o chefe de gabinete do presidente da Funasa e fez dele o substituto do executivo durante as férias do titular. Antes de assumir a vaga no órgão, Paulo Roberto Martinho de Souza foi assessor do parlamentar na Câmara. Procurado, Andrade não ligou de volta para a reportagem.

Uma das diretorias mais importantes da Funasa foi entregue ao PL – sigla pela qual Bolsonaro tenta se reeleger. O Departamento de Saúde Ambiental (Desam) é chefiado pela advogada Deborah Silva Figueiredo Roberto, mulher do deputado Wellington Roberto (PL-PB). No currículo ela informa ser coach em excelência motivacional e analista comportamental, além de um MBA em Relações Humanas e Psicologia Positiva.

As áreas não têm nenhuma relação com seu departamento, responsável por tratar de programas voltados ao controle de qualidade da água, ações de educação e proteção para a saúde ambiental e desenvolvimento do saneamento.

Outro setor importante na Funasa que está loteado pelo Centrão é o Departamento de Engenharia de Saúde Pública (Densp), responsável por licitações milionárias. Comandado pelo PSD desde maio de 2021, o Densp é chefiado por Marlos Costa, apadrinhado pelo deputado Domingos Neto (PSD-CE). O diretor foi assessor do pai do parlamentar durante mandato na Assembleia Legislativa do Ceará.

Como mostrou o Estadão, o departamento chefiado por Costa fez uma licitação com indícios de sobrepreço de R$ 131 milhões para poços de água no Nordeste. Segundo a Controladoria-Geral da União (GCU), a Funasa teria colocado estimativas muito acima do preço do mercado para equipamentos como tubos e bombas. A empresa que arrematou a maior parte dos serviços licitados tem como sócio o presidente do PSD em Quixeramobim (CE) e prefeito em exercício da cidade, Edmilson Júnior.

No Espírito Santo, o deputado Neucimar Fraga (Progressistas-ES) indicou para comandar a superintendência da Funasa o dono de um restaurante self-service. Em seu currículo no site da Funasa, Ayrton Silveira diz ser “especializado em análise sensorial de cachaça e boas práticas na fabricação da bebida”.

Como mostrou o Estadão, o departamento chefiado por Costa fez uma licitação com indícios de sobrepreço de R$ 131 milhões para poços de água no Nordeste. Foto: Wilton Júnior/Estadão

Ao Estadão, o parlamentar exaltou a formação do seu apadrinhado em Administração de Empresas. “A Funasa, o grande problema dela aqui era gestão. Ele tem feito um bom trabalho, tem organizado a Funasa aqui, tem destravado alguns projetos que estavam parados há muitos anos no Estado do Espírito Santo, obras paradas”, defendeu.

Filiado ao PSD do Maranhão e membro de um conhecido clã político, Augusto Ferreira é superintendente da fundação no Estado desde maio de 2021. Diferentemente de outros chefes regionais da Funasa, o currículo de Ferreira não está disponível na página oficial do órgão. Advogado, tem empresas no ramo agropecuário.

Procurada, a Funasa informou que “as nomeações que realiza estão em conformidade com decretos e legislações que disciplinam o tema”.

Bolsonaro foi eleito em 2018 com a promessa de não lotear cargos públicos com o Centrão. Naquele ano, durante convenção do PSL – então partido do presidente –, o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, chegou a comparar os políticos do grupo com ladrões. “Se gritar pega Centrão, não fica um meu irmão”, cantou o general, parafraseando uma música de Bezerra de Silva.

A promessa do presidente foi descumprida já no segundo ano do seu mandato. Atualmente, o Centrão controla um orçamento de R$ 54,5 bilhões de quatro órgãos estatais. O grupo apadrinhou cargos na Funasa, no Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), no Departamento Nacional de Obras contra a Seca (Dnocs) e na Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf).

No mês passado, o presidente se irritou e partiu para cima de um homem que o chamou de “tchutchuca do Centrão”. Seu principal opositor na campanha presidencial, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), também tem explorado a contradição e disse que Bolsonaro virou um “bobo da corte” ao criar o orçamento secreto, mecanismo revelado pelo Estadão que entregou ao bloco o controle do dinheiro público. Bolsonaro responde que sempre foi do Centrão e precisou do grupo para governar.

Para entender: Nomes indicados para cargos na fundação

Apadrinhados

Com um orçamento de R$ 2,9 bilhões, a Fundação Nacional da Saúde (Funasa) é comandada por indicados de representantes do Centrão.

Diretorias

O Departamento de Saúde Ambiental (Desam) e o Departamento de Engenharia de Saúde Pública (Densp) são as duas principais diretorias da Funasa. Ambas são controladas por apadrinhados de nomes do bloco Centrão.

Miguel Marques

Presidente da Funasa, foi indicado pelo concunhado Diego Andrade (PSD-MG). Antes do cargo, escrevia projetos de lei para o deputado.

Paulo Roberto Martinho de Souza

Chefe de gabinete e presidente substituto da Funasa. Antes, foi secretário parlamentar do deputado Diego Andrade

Deborah Silva Figueiredo Roberto

Diretora do Departamento de Saúde Ambiental (Desam) é mulher do deputado Wellington Roberto (PL-PB). É coach em excelência motivacional e analista comportamental. Tem MBA em Relações Humanas e Psicologia Positiva.

Marlos Costa

Diretor do Departamento de Engenharia de Saúde Pública (Densp), foi assessor do pai do deputado Domingos Neto (PSD-CE).

Ayrton Silveira Junior

Superintendente da Funasa no Espírito Santo, foi indicado pelo deputado Neucimar Fraga (PP-ES). Administrador de empresas, destacou em seu currículo ser especializado em análise sensorial de cachaça e boas práticas na fabricação da bebida.

Alberto Bacelar de França Ferreira

Superintendente da Funasa no Maranhão. O pai dele, Albérico Filho (MDB), é primo do ex-presidente José Sarney (MDB-AP). Advogado, tem empresas no ramo agropecuário.

O presidente Jair Bolsonaro (PL) entregou mais da metade das superintendências da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) para o controle do Centrão. Com um orçamento de R$ 2,9 bilhões, o órgão vinculado ao Ministério da Saúde foi loteado em 17 Estados e em Brasília. Familiar de político, coach, especialista em “análise sensorial de cachaça” e dono de restaurante self-service assumiram cargos de comando por indicação de aliados de Bolsonaro no Congresso.

A missão da Funasa é levar saneamento básico e água de qualidade aos brasileiros. Nas mãos do Centrão, o órgão se tornou um duto de escoamento do dinheiro do orçamento secreto. Deputados enviaram mais de R$ 635 milhões para a fundação desde 2020 e indicaram como os recursos públicos deveriam ser usados sem transparência ou critério técnico, em um movimento sem precedentes. Como revelou o Estadão, poços de água no Nordeste foram construídos sem bombas para saída de água.

Nas mãos do Centrão, o órgão se tornou um duto de escoamento do dinheiro do orçamento secreto. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

O núcleo duro do Centrão é formado por PL, Progressistas e Republicanos. O grupo tem ainda a companhia do PSD que, em troca de cargos, vota a favor das pautas de Bolsonaro no Congresso. Em 2021, o partido de Gilberto Kassab ajudou o governo em 86% das votações. A sigla fez as principais indicações na Funasa.

O deputado Diego Andrade (PSD-MG) indicou seu concunhado, o advogado Miguel Marques, para comandar a fundação. Nas redes sociais, eles exibem uma relação de proximidade. Em dezembro passado, Marques publicou uma foto ao lado do deputado e das mulheres de ambos, que são irmãs, com a legenda: “vale night com meus parceiros”. No currículo, o chefe da Funasa informa como experiência “confecção de projetos de lei através de prestação de serviços” para o congressista.

Desde 2020, o deputado indica o presidente da Funasa. Antes do concunhado ele emplacou na vaga o coronel da Polícia Militar Giovanne Gomes da Silva. Quando deixou a fundação, o oficial da PM mineira enviou e-mail de despedida com agradecimento expresso ao parlamentar. “Registro ainda um agradecimento especial ao presidente da República Jair Bolsonaro e à bancada do PSD, na pessoa do deputado federal Diego Andrade, a oportunidade e confiança a mim depositada”, escreveu.

A influência do deputado é tanta que ele também indicou o chefe de gabinete do presidente da Funasa e fez dele o substituto do executivo durante as férias do titular. Antes de assumir a vaga no órgão, Paulo Roberto Martinho de Souza foi assessor do parlamentar na Câmara. Procurado, Andrade não ligou de volta para a reportagem.

Uma das diretorias mais importantes da Funasa foi entregue ao PL – sigla pela qual Bolsonaro tenta se reeleger. O Departamento de Saúde Ambiental (Desam) é chefiado pela advogada Deborah Silva Figueiredo Roberto, mulher do deputado Wellington Roberto (PL-PB). No currículo ela informa ser coach em excelência motivacional e analista comportamental, além de um MBA em Relações Humanas e Psicologia Positiva.

As áreas não têm nenhuma relação com seu departamento, responsável por tratar de programas voltados ao controle de qualidade da água, ações de educação e proteção para a saúde ambiental e desenvolvimento do saneamento.

Outro setor importante na Funasa que está loteado pelo Centrão é o Departamento de Engenharia de Saúde Pública (Densp), responsável por licitações milionárias. Comandado pelo PSD desde maio de 2021, o Densp é chefiado por Marlos Costa, apadrinhado pelo deputado Domingos Neto (PSD-CE). O diretor foi assessor do pai do parlamentar durante mandato na Assembleia Legislativa do Ceará.

Como mostrou o Estadão, o departamento chefiado por Costa fez uma licitação com indícios de sobrepreço de R$ 131 milhões para poços de água no Nordeste. Segundo a Controladoria-Geral da União (GCU), a Funasa teria colocado estimativas muito acima do preço do mercado para equipamentos como tubos e bombas. A empresa que arrematou a maior parte dos serviços licitados tem como sócio o presidente do PSD em Quixeramobim (CE) e prefeito em exercício da cidade, Edmilson Júnior.

No Espírito Santo, o deputado Neucimar Fraga (Progressistas-ES) indicou para comandar a superintendência da Funasa o dono de um restaurante self-service. Em seu currículo no site da Funasa, Ayrton Silveira diz ser “especializado em análise sensorial de cachaça e boas práticas na fabricação da bebida”.

Como mostrou o Estadão, o departamento chefiado por Costa fez uma licitação com indícios de sobrepreço de R$ 131 milhões para poços de água no Nordeste. Foto: Wilton Júnior/Estadão

Ao Estadão, o parlamentar exaltou a formação do seu apadrinhado em Administração de Empresas. “A Funasa, o grande problema dela aqui era gestão. Ele tem feito um bom trabalho, tem organizado a Funasa aqui, tem destravado alguns projetos que estavam parados há muitos anos no Estado do Espírito Santo, obras paradas”, defendeu.

Filiado ao PSD do Maranhão e membro de um conhecido clã político, Augusto Ferreira é superintendente da fundação no Estado desde maio de 2021. Diferentemente de outros chefes regionais da Funasa, o currículo de Ferreira não está disponível na página oficial do órgão. Advogado, tem empresas no ramo agropecuário.

Procurada, a Funasa informou que “as nomeações que realiza estão em conformidade com decretos e legislações que disciplinam o tema”.

Bolsonaro foi eleito em 2018 com a promessa de não lotear cargos públicos com o Centrão. Naquele ano, durante convenção do PSL – então partido do presidente –, o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, chegou a comparar os políticos do grupo com ladrões. “Se gritar pega Centrão, não fica um meu irmão”, cantou o general, parafraseando uma música de Bezerra de Silva.

A promessa do presidente foi descumprida já no segundo ano do seu mandato. Atualmente, o Centrão controla um orçamento de R$ 54,5 bilhões de quatro órgãos estatais. O grupo apadrinhou cargos na Funasa, no Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), no Departamento Nacional de Obras contra a Seca (Dnocs) e na Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf).

No mês passado, o presidente se irritou e partiu para cima de um homem que o chamou de “tchutchuca do Centrão”. Seu principal opositor na campanha presidencial, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), também tem explorado a contradição e disse que Bolsonaro virou um “bobo da corte” ao criar o orçamento secreto, mecanismo revelado pelo Estadão que entregou ao bloco o controle do dinheiro público. Bolsonaro responde que sempre foi do Centrão e precisou do grupo para governar.

Para entender: Nomes indicados para cargos na fundação

Apadrinhados

Com um orçamento de R$ 2,9 bilhões, a Fundação Nacional da Saúde (Funasa) é comandada por indicados de representantes do Centrão.

Diretorias

O Departamento de Saúde Ambiental (Desam) e o Departamento de Engenharia de Saúde Pública (Densp) são as duas principais diretorias da Funasa. Ambas são controladas por apadrinhados de nomes do bloco Centrão.

Miguel Marques

Presidente da Funasa, foi indicado pelo concunhado Diego Andrade (PSD-MG). Antes do cargo, escrevia projetos de lei para o deputado.

Paulo Roberto Martinho de Souza

Chefe de gabinete e presidente substituto da Funasa. Antes, foi secretário parlamentar do deputado Diego Andrade

Deborah Silva Figueiredo Roberto

Diretora do Departamento de Saúde Ambiental (Desam) é mulher do deputado Wellington Roberto (PL-PB). É coach em excelência motivacional e analista comportamental. Tem MBA em Relações Humanas e Psicologia Positiva.

Marlos Costa

Diretor do Departamento de Engenharia de Saúde Pública (Densp), foi assessor do pai do deputado Domingos Neto (PSD-CE).

Ayrton Silveira Junior

Superintendente da Funasa no Espírito Santo, foi indicado pelo deputado Neucimar Fraga (PP-ES). Administrador de empresas, destacou em seu currículo ser especializado em análise sensorial de cachaça e boas práticas na fabricação da bebida.

Alberto Bacelar de França Ferreira

Superintendente da Funasa no Maranhão. O pai dele, Albérico Filho (MDB), é primo do ex-presidente José Sarney (MDB-AP). Advogado, tem empresas no ramo agropecuário.

O presidente Jair Bolsonaro (PL) entregou mais da metade das superintendências da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) para o controle do Centrão. Com um orçamento de R$ 2,9 bilhões, o órgão vinculado ao Ministério da Saúde foi loteado em 17 Estados e em Brasília. Familiar de político, coach, especialista em “análise sensorial de cachaça” e dono de restaurante self-service assumiram cargos de comando por indicação de aliados de Bolsonaro no Congresso.

A missão da Funasa é levar saneamento básico e água de qualidade aos brasileiros. Nas mãos do Centrão, o órgão se tornou um duto de escoamento do dinheiro do orçamento secreto. Deputados enviaram mais de R$ 635 milhões para a fundação desde 2020 e indicaram como os recursos públicos deveriam ser usados sem transparência ou critério técnico, em um movimento sem precedentes. Como revelou o Estadão, poços de água no Nordeste foram construídos sem bombas para saída de água.

Nas mãos do Centrão, o órgão se tornou um duto de escoamento do dinheiro do orçamento secreto. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

O núcleo duro do Centrão é formado por PL, Progressistas e Republicanos. O grupo tem ainda a companhia do PSD que, em troca de cargos, vota a favor das pautas de Bolsonaro no Congresso. Em 2021, o partido de Gilberto Kassab ajudou o governo em 86% das votações. A sigla fez as principais indicações na Funasa.

O deputado Diego Andrade (PSD-MG) indicou seu concunhado, o advogado Miguel Marques, para comandar a fundação. Nas redes sociais, eles exibem uma relação de proximidade. Em dezembro passado, Marques publicou uma foto ao lado do deputado e das mulheres de ambos, que são irmãs, com a legenda: “vale night com meus parceiros”. No currículo, o chefe da Funasa informa como experiência “confecção de projetos de lei através de prestação de serviços” para o congressista.

Desde 2020, o deputado indica o presidente da Funasa. Antes do concunhado ele emplacou na vaga o coronel da Polícia Militar Giovanne Gomes da Silva. Quando deixou a fundação, o oficial da PM mineira enviou e-mail de despedida com agradecimento expresso ao parlamentar. “Registro ainda um agradecimento especial ao presidente da República Jair Bolsonaro e à bancada do PSD, na pessoa do deputado federal Diego Andrade, a oportunidade e confiança a mim depositada”, escreveu.

A influência do deputado é tanta que ele também indicou o chefe de gabinete do presidente da Funasa e fez dele o substituto do executivo durante as férias do titular. Antes de assumir a vaga no órgão, Paulo Roberto Martinho de Souza foi assessor do parlamentar na Câmara. Procurado, Andrade não ligou de volta para a reportagem.

Uma das diretorias mais importantes da Funasa foi entregue ao PL – sigla pela qual Bolsonaro tenta se reeleger. O Departamento de Saúde Ambiental (Desam) é chefiado pela advogada Deborah Silva Figueiredo Roberto, mulher do deputado Wellington Roberto (PL-PB). No currículo ela informa ser coach em excelência motivacional e analista comportamental, além de um MBA em Relações Humanas e Psicologia Positiva.

As áreas não têm nenhuma relação com seu departamento, responsável por tratar de programas voltados ao controle de qualidade da água, ações de educação e proteção para a saúde ambiental e desenvolvimento do saneamento.

Outro setor importante na Funasa que está loteado pelo Centrão é o Departamento de Engenharia de Saúde Pública (Densp), responsável por licitações milionárias. Comandado pelo PSD desde maio de 2021, o Densp é chefiado por Marlos Costa, apadrinhado pelo deputado Domingos Neto (PSD-CE). O diretor foi assessor do pai do parlamentar durante mandato na Assembleia Legislativa do Ceará.

Como mostrou o Estadão, o departamento chefiado por Costa fez uma licitação com indícios de sobrepreço de R$ 131 milhões para poços de água no Nordeste. Segundo a Controladoria-Geral da União (GCU), a Funasa teria colocado estimativas muito acima do preço do mercado para equipamentos como tubos e bombas. A empresa que arrematou a maior parte dos serviços licitados tem como sócio o presidente do PSD em Quixeramobim (CE) e prefeito em exercício da cidade, Edmilson Júnior.

No Espírito Santo, o deputado Neucimar Fraga (Progressistas-ES) indicou para comandar a superintendência da Funasa o dono de um restaurante self-service. Em seu currículo no site da Funasa, Ayrton Silveira diz ser “especializado em análise sensorial de cachaça e boas práticas na fabricação da bebida”.

Como mostrou o Estadão, o departamento chefiado por Costa fez uma licitação com indícios de sobrepreço de R$ 131 milhões para poços de água no Nordeste. Foto: Wilton Júnior/Estadão

Ao Estadão, o parlamentar exaltou a formação do seu apadrinhado em Administração de Empresas. “A Funasa, o grande problema dela aqui era gestão. Ele tem feito um bom trabalho, tem organizado a Funasa aqui, tem destravado alguns projetos que estavam parados há muitos anos no Estado do Espírito Santo, obras paradas”, defendeu.

Filiado ao PSD do Maranhão e membro de um conhecido clã político, Augusto Ferreira é superintendente da fundação no Estado desde maio de 2021. Diferentemente de outros chefes regionais da Funasa, o currículo de Ferreira não está disponível na página oficial do órgão. Advogado, tem empresas no ramo agropecuário.

Procurada, a Funasa informou que “as nomeações que realiza estão em conformidade com decretos e legislações que disciplinam o tema”.

Bolsonaro foi eleito em 2018 com a promessa de não lotear cargos públicos com o Centrão. Naquele ano, durante convenção do PSL – então partido do presidente –, o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, chegou a comparar os políticos do grupo com ladrões. “Se gritar pega Centrão, não fica um meu irmão”, cantou o general, parafraseando uma música de Bezerra de Silva.

A promessa do presidente foi descumprida já no segundo ano do seu mandato. Atualmente, o Centrão controla um orçamento de R$ 54,5 bilhões de quatro órgãos estatais. O grupo apadrinhou cargos na Funasa, no Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), no Departamento Nacional de Obras contra a Seca (Dnocs) e na Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf).

No mês passado, o presidente se irritou e partiu para cima de um homem que o chamou de “tchutchuca do Centrão”. Seu principal opositor na campanha presidencial, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), também tem explorado a contradição e disse que Bolsonaro virou um “bobo da corte” ao criar o orçamento secreto, mecanismo revelado pelo Estadão que entregou ao bloco o controle do dinheiro público. Bolsonaro responde que sempre foi do Centrão e precisou do grupo para governar.

Para entender: Nomes indicados para cargos na fundação

Apadrinhados

Com um orçamento de R$ 2,9 bilhões, a Fundação Nacional da Saúde (Funasa) é comandada por indicados de representantes do Centrão.

Diretorias

O Departamento de Saúde Ambiental (Desam) e o Departamento de Engenharia de Saúde Pública (Densp) são as duas principais diretorias da Funasa. Ambas são controladas por apadrinhados de nomes do bloco Centrão.

Miguel Marques

Presidente da Funasa, foi indicado pelo concunhado Diego Andrade (PSD-MG). Antes do cargo, escrevia projetos de lei para o deputado.

Paulo Roberto Martinho de Souza

Chefe de gabinete e presidente substituto da Funasa. Antes, foi secretário parlamentar do deputado Diego Andrade

Deborah Silva Figueiredo Roberto

Diretora do Departamento de Saúde Ambiental (Desam) é mulher do deputado Wellington Roberto (PL-PB). É coach em excelência motivacional e analista comportamental. Tem MBA em Relações Humanas e Psicologia Positiva.

Marlos Costa

Diretor do Departamento de Engenharia de Saúde Pública (Densp), foi assessor do pai do deputado Domingos Neto (PSD-CE).

Ayrton Silveira Junior

Superintendente da Funasa no Espírito Santo, foi indicado pelo deputado Neucimar Fraga (PP-ES). Administrador de empresas, destacou em seu currículo ser especializado em análise sensorial de cachaça e boas práticas na fabricação da bebida.

Alberto Bacelar de França Ferreira

Superintendente da Funasa no Maranhão. O pai dele, Albérico Filho (MDB), é primo do ex-presidente José Sarney (MDB-AP). Advogado, tem empresas no ramo agropecuário.

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