BRASÍLIA - O youtuber Wilker Leão, que abordou o presidente Jair Bolsonaro na porta do Palácio da Alvorada e cobrou explicações sobre sua aliança com partidos do Centrão, tem 26 anos e uma ideia fixa. Acredita que Bolsonaro representa uma direta que não faz o que promete.
Ex-cabo do Exército, ele disse ao Estadão que chamou o presidente de “tchutchuca do Centrão” na manhã desta quinta-feira, 18, porque o chefe do Executivo “só sabe conversar assim” e essa foi a única forma de debater as contradições do governo federal.
No episódio, em frente ao Palácio da Alvorada, o youtuber chamou Bolsonaro de “vagabundo”, “covarde”, “canalha” e “tchutchuca do Centrão”. Imagens gravadas no local mostram o presidente partindo para cima de Wilker, que cobrava “coragem” para explicar por que o governante se aliou aos partidos que já estiveram junto com o PT e que foram condenados por corrupção.
“O que o pessoal pode ver ali é um recorte de eu chamando o Bolsonaro de tchutchuca do Centrão porque, no final das contas, ele é mesmo. Mas tudo se iniciou com eu tentando debater com ele política”, disse Wilker Leão ao Estadão. “Ele não quer debater, ele foge, aí você precisa se utilizar dos artifícios que ele utiliza. Ele não gosta de falar ‘gripezinha’, não é ‘coveiro’, não sei o que? Então meio que foi nesse jogo de chamar a atenção de um cara que só saber conversar assim. Mas, no final das contas, eu tento debater política.”
Leão se filiou ao União Brasil em abril deste ano para concorrer a um vaga de deputado distrital em Brasília, mas desistiu da disputa por não concordar com a postura do partido. Ele se declara “antibolsonaro” e apoiador do ex-ministro Sérgio Moro. O youtuber foi cabo do Exército e diz que votará nulo na eleição presidencial deste ano por não ter um candidato que represente a chamada “terceira via”.
Em abril, o youtuber começou a ir diariamente ao “cercadinho” do Palácio da Alvorada para questionar os apoiadores do presidente. Em uma ocasião, naquele mês, ele interagiu diretamente com Bolsonaro e perguntou por que a condição de cabos e soldados militares não havia melhorado no atual governo. “Falei o que eu queria falar para ele. Estava entalado na garganta”, afirmou Leão.
Wilker Leão é advogado, militar da reserva do Exército e tem um canal no YouTube com 21,5 mil inscritos. Ele pretende entrar na política no futuro, se identifica como um eleitor de direita e acredita que Bolsonaro rompeu com as propostas que o levaram à Presidência. “Hoje ele está claramente com o Centrão. É um absurdo o pessoal apoiá-lo achando que ele vai combater corrupção sendo que a postura é essa.”
O youtuber Wilker Leão tem o costume de publicar vídeos nas redes sociais com provocações a bolsonaristas. Embora também grave vídeos contra simpatizantes do PT, os de teor crítico a Bolsonaro predominam. São mais de 50 vídeos em seu canal no Youtube com o título “questionando bolsonaristas”, as quais ele também chama de “gado”.
Nos vídeos, Wilker pergunta aos apoiadores do presidente sobre temas como a aliança com partidos do Centrão, a economia e combate à corrupção. Ele também tem diversos vídeos sobre assuntos militares. Seu canal no TikTok tem 127,8 mil seguidores e o Instagram tem 25,6 mil.
Por falar das Forças Armadas nas redes sociais, ele chegou a ficar detido por três dias. Wilker tem um blog chamado de “milico jurídico”. De acordo com postagem feita em dezembro de 2021 na página, a sua detenção aconteceu por “propagar conhecimento na internet acerca de algumas questões polêmicas no âmbito do Exército Brasileiro”.
“Pouco mais de cinco meses após o início de tudo e apenas alguns poucos artigos jurídicos e vídeos produzidos, falando sobre militarismo, o alto escalão do Exército tomou conhecimento do que eu vinha fazendo e me puniu por isso”, escreveu.
Quando abordou simpatizantes do PT, Wilker falou sobre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) durante a parada LGBT em Brasília, em julho deste ano. “Vocês acham que ele (Lula) representa bem os princípios da comunidade LGBT? Ele já falou por exemplo que Pelotas é polo exportador de viado”, afirmou em referência a uma fala feita pelo petista em 2000.
Durante o evento, o militar da reserva também prega um nome alternativo ao ex e ao atual presidente, mas não cita quem apoia. “Nem Lula, nem Bolsonaro. A gente podia tentar um novo nome já que os dois lados serve”. Em outro vídeo, ele também questionou sobre o fato do ex-tucano Geraldo Alckmin, rival histórico dos petistas, ser candidato a vice de Lula.