No comando de apenas uma cidade paulista com mais de 200 mil eleitores – Suzano, na Grande São Paulo –, o PL planeja concentrar esforços e recursos financeiros para, nas eleições de 2024, formar uma espécie de corredor de direita no Estado a partir dos municípios mais populosos. O partido do ex-presidente Jair Bolsonaro deve priorizar as cidades dentro desse grupo que têm horário político próprio e que, no ano passado, já demonstraram ser antipetistas nas urnas. É o caso, por exemplo, de Ribeirão Preto, Sorocaba e Franca, todas no interior.
A estratégia passa pelo lançamento de nomes alinhados a um discurso mais conservador, como o da deputada federal Rosana Valle, atual presidente do PL Mulher em São Paulo e cotada a concorrer à prefeitura de Santos. Com poucas exceções, esse conjunto de municípios já tem o histórico de escolher prefeitos com perfil de centro-direita, mesmo que não filiados à legenda do ex-presidente.
Prefeita de Bauru, Suéllen Rosim (PSD), por exemplo, segue à risca a defesa de temas caros aos evangélicos, como o veto ao aborto e à linguagem neutra nas escolas. Cantora gospel e aliada de Bolsonaro, ela representa o público-alvo do PL, mas se filiou ao PSD após convite do presidente nacional da sigla, Gilberto Kassab. PL e PSD, aliás, apesar de fazerem base ao governador Tarcísio de Freitas, têm disputado as negociações com prefeitos paulistas que podem se reeleger no ano que vem ou mesmo indicar sucessores do mesmo grupo político.
Luiz Fernando Machado (PSDB), prefeito de Jundiaí, é um dos que podem migrar para o PL. Eleito pela primeira vez na onda antipetista de 2016, e com o apoio do MBL – grupo de políticos e influenciadores de direita –, o tucano terá influência direta na escolha do candidato governista de 2024. Com 331 mil eleitores, a cidade deu 64% dos votos para Bolsonaro no segundo turno da eleição presidencial do ano passado.
“O eleitor do interior de São Paulo é tradicionalmente mais conservador. Os partidos que representarem melhor a centro-direita vão ter sucesso na busca por prefeitos. Quem vai à reeleição vai querer estar nesse campo azul; quem não disputar terá o mesmo desejo, para eleger seu sucessor”, afirma Machado, que admite manter conversas com o PL.
Das 29 cidades com mais de 200 mil eleitores em São Paulo, 21 deram a vitória para Bolsonaro e, em algumas delas, a diferença foi significativa. É o caso de Limeira, onde 73% dos votos foram para reeleger o então presidente.
O mapa dos votos recebidos dos paulistas ajudará ainda na busca por candidatas mulheres. Ao lado de Michelle Bolsonaro, a deputada Rosana Valle diz focar em lideranças femininas pautadas por matérias da direita. “Pode esperar lideranças femininas, mulheres empreendedoras, com pautas mais da direita, mas moderadas. São mulheres que já estão na luta no dia a dia e querem a transformação da sociedade”, afirmou a parlamentar, que recebeu a missão de encontrar nomes não apenas para disputar prefeituras, mas também cargos de vereadora.
A busca por “lideranças moderadas” também é o foco do Republicanos, que, apesar de alinhado ao bolsonarismo, é tratado como um partido distante do extremismo e do radicalismo praticados pelo ex-presidente. O governo Tarcísio, neste sentido, será usado como modelo para atrair novos quadros e novos eleitores pelo interior do Estado. Em 2020, a legenda só fez 21 prefeituras em São Paulo.
Com a mesma estratégia, o Novo estuda lançar candidaturas em ao menos 150 das 645 cidades do Estado. De acordo com o ex-deputado Vinícius Poit, municípios do ABC, como Santo André, São Bernardo do Campo e São Caetano do Sul, assim como do litoral, serão priorizados nas negociações. Poit avalia entrar na corrida pelo comando da capital paulista.
PL x PT
“Eu tenho para mim que a próxima eleição municipal repetirá a polarização PL versus PT. Há municípios no interior do Estado nos quais Bolsonaro fez 70% dos votos e o PL é uma força hoje, com o maior tempo de televisão e recurso partidário. E ainda é o partido do Bolsonaro, que tem uma força significativa”, afirma o deputado estadual Carlos Cezar (PL), sobre os confrontos de 2024.
Carlos Cezar (PL), deputado estadual, sobre os confrontos de 2024
O lançamento das candidaturas, no entanto, deverá ser precedido de autorização prévia da Executiva Nacional, liderada pelo presidente Valdemar Costa Neto. Nos municípios com mais de 200 mil eleitores e naqueles contemplados com a propaganda eleitoral gratuita de televisão, a legenda diz que diretórios locais terão gestão compartilhada com as direções estadual e nacional para decidir sobre nomes e chapas. A intenção é “garantir a difusão das doutrinas, princípios e como resguardar seus objetivos estratégicos eleitorais”.
Na busca por alianças, o PL tem um trunfo milionário a apresentar: o partido terá neste ano, pela primeira vez, a maior fatia do Fundo Partidário. Ao eleger no ano passado 99 deputados, a maior bancada da Câmara, a legenda terá direito a R$ 205,8 milhões para custear despesas de rotina, como salários de funcionários, contas de água e luz, passagens aéreas, aluguéis. É desse valor que sairá também o salário de R$ 39 mil pago a Bolsonaro, atual presidente de honra da sigla.
Em 2024, o valor será acrescido de outra verba, a do fundo eleitoral, ainda maior. No ano passado, foram quase R$ 5 bilhões destinados ao custeio de campanhas em todo o Brasil. Mais uma vez, o PL terá direito ao bolo mais gordo, o que atrairá não apenas candidaturas próprias, mas incentivará apoio a aliados do mesmo campo ideológico. Nesta semana, Valdemar recebeu, por exemplo, o prefeito de São Bernardo do Campo, Orlando Morando (PSDB), para uma “conversa sobre temas nacionais e do Estado”.
Influenciar a eleição na cidade que é berço do PT – o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi líder sindical na região e morou lá até o ano passado –, faz parte das estratégias do PL, que avança especialmente sobre os políticos do PSDB. Os tucanos admitem o assédio e reconhecem que a tendência é não alcançar o mesmo número de prefeitos eleitos em 2020: foram 179. São Paulo tem 645 municípios.
São Paulo
Com mais de 9 milhões de eleitores, a maior cidade do País ainda divide o PL. Enquanto uma parte dos filiados, incluindo o presidente Valdemar, tende a apoiar a reeleição do atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB), a ala mais bolsonarista defende o nome do deputado federal Ricardo Salles (PL). O parlamentar já trabalha em uma espécie de pré-campanha extraoficial, mesmo sem a garantia de que terá legenda para entrar de fato na disputa.
Entre os entusiastas de Salles estão aliados próximos de Bolsonaro e até ele próprio. No mesmo dia em que retornou ao Brasil, em 30 de março, após passar três meses nos Estados Unidos, o ex-presidente classificou o parlamentar como um nome “experiente” e “vivido” para disputar a eleição na capital.
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Em entrevista ao Estadão/Broadcast no dia 12, ele afirmou ter o aval do ex-presidente para concorrer em São Paulo. “O presidente Bolsonaro apoia o meu nome, não o de Nunes. Tenho absoluta convicção (do apoio do ex-presidente). Tive anteontem com o presidente Bolsonaro, e ele reiterou o apoio ao meu nome”, afirmou Salles.
Já Nunes segue em busca da manutenção do PL em sua aliança. No sábado, 6, o prefeito participou de evento do partido na capital ao lado de Bolsonaro e de sua mulher, Michelle Bolsonaro. Apesar de não sair de lá com uma declaração oficial do ex-presidente, o prefeito comemorou o fato de ter sido convidado e chamado ao palco, antes mesmo de Salles.
Michelle, presidente do PL Mulher Nacional, dividiu o palco com o prefeito, o chamou para citar nomes de bairros de caravanas presentes e depois convidou ele e sua mulher, Regina Carnovale Nunes, para foto. O prefeito disse a Bolsonaro que muitas obras na cidade são devido a acordos feitos no governo dele. E considerou que o encontro era uma demonstração da sua boa relação com o PL. O presidente assentiu.