Claudio Lottenberg: ‘Tem de diferenciar relação com comunidade judaica e evangélica’


Para presidente da Conib, discurso de ódio na política surgiu com movimentos nacionalistas, sejam eles de direita radical ou de esquerda

Por Pedro Venceslau

Principal referência da comunidade judaica no Brasil, o médico oftalmologista Claudio Lottenberg, de 62 anos, presidente do Conselho Deliberativo da Sociedade Beneficente Albert Einstein e presidente da Confederação Israelita do Brasil (Conib), acredita que os gestos do presidente Jair Bolsonaro (PL) ao Estado de Israel são uma tentativa de aproximação com a comunidade evangélica.

Cauteloso ao falar de eleições, Lottenberg, que não declara seu voto, avaliou esse nesta entrevista ao Estadão que o discurso de ódio na política surgiu com movimentos nacionalistas, sejam eles de direita radical ou de esquerda.

continua após a publicidade

No começo do mandato, Jair Bolsonaro deu um tratamento especial à comunidade judaica e prometeu até levar a Embaixada do Brasil (em Tel-Aviv) para Jerusalém. Ele conseguiu estabelecer uma relação?

No início do mandato, o presidente Bolsonaro teve uma posição muito positiva com o Estado de Israel. Isso não significa somente a comunidade judaica, mas principalmente a comunidade evangélica. É importante destacar que a identidade do estado judeu não é importante somente na lógica dos judeus. Hoje, o papel dos evangélicos é muito importante. Ele teve uma aproximação com o Estado de Israel. A gente tem de diferenciar o que significa a relação com a comunidade judaica, com o Estado de Israel e com a comunidade evangélica.

Como deve ser feita essa diferenciação?

continua após a publicidade

Ele, de fato, teve um papel de aproximação com o Estado de Israel. Desde o primeiro momento, a gente percebeu isso com a vinda do então primeiro-ministro, Binyamin Netanyahu, para a posse do presidente Bolsonaro. Em um segundo momento, o próprio presidente fez a primeira viagem internacional para Israel. Isso criou uma empatia com os simpatizantes do Estado de Israel, que é a comunidade judaica e a evangélica e outras pessoas que enxergam como um patrimônio do estado democrático do Oriente Médio. Isso deve ser registrado positivamente.

O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, e o então premiê de Israel, Binyamin Netanyahu, durante evento em 2019 Foto: Abir Sultan/EFE

Até que ponto essa aproximação do presidente com o Estado de Israel foi uma tentativa de buscar apoio no eleitorado evangélico?

continua após a publicidade

Isso está presente no movimento de reeleição do presidente. Ele tem um apoio muito forte do segmento evangélico. O presidente tinha a visão da importância do que significaria para ele em termos de bônus político.

Hoje, a comunidade judaica no Brasil apoia majoritariamente o presidente da República na campanha?

A comunidade judaica é plural, é um recorte da sociedade brasileira. Temos judeus de direita e de esquerda, liberais e mais conservadores. A presença do voto judaico se manifesta entre todos os candidatos. Impossível fazer qualquer avaliação sobre quem tem maioria, Lula ou Bolsonaro.

continua após a publicidade

Qual foi a repercussão na comunidade judaica da visita ao Bolsonaro da deputada alemã Beatrix von Storch, neta de um ministro de Hitler?

Naquele momento, a comunidade judaica se manifestou de maneira formal. Ninguém enxergou isso de forma positiva. Todos aqueles que enxergam as atrocidades do regime nazista viram com preocupação essa atitude do presidente. Criou-se uma imagem negativa a todos aqueles que defendem um Brasil democrático. A visita causou um impacto negativo.

Quem o sr. apoia no 1° turno e como avalia o favoritismo de Lula?

continua após a publicidade

Eu apoio o vencedor. Apoio quem for eleito. Se Lula for eleito terá meu apoio e dos demais brasileiros. Espero que se encerre essa polarização no momento que for eleito o presidente da República.

Como o sr. enxerga esse movimento pelo voto útil contra o Bolsonaro?

No 1° turno, a gente deve expressar as nossas vontades, independente do candidato ter mais ou menos chance. O 2° turno, tem uma característica mais plebiscitária. Sem o voto útil, podemos avaliar o candidato com o peso que ele realmente tem.

continua após a publicidade

Em 2018, a classe médica apoiou em grande parte o Bolsonaro, muito em função da rejeição ao programa Mais Médicos, que trazia médicos cubanos para o Brasil. Como está o cenário entre os médicos agora?

Como médico e uma pessoa ativa na saúde, não me recordo que a comunidade médica tenha sentado e discutido quem apoiar. Algumas lideranças médicas se tornaram mais presentes e expuseram sua preferência pelo candidato Jair Bolsonaro. É bom lembrar que, com o episódio da facada, o assunto saúde acabou ganhando mais visibilidade.

O sr. defende a inclusão da cannabis medicinal no SUS?

Os benefícios são muitos claros. Em epilepsia refratária aos tratamentos, que são milhões de pessoas, isso está comprovado. A utilização para tratamento paliativo e dor crônica também. E casos de depressão e ansiedade. Por que não criar condições de acesso para quem não tem condições financeiras?

A ascensão da direita radical e o discurso de ódio preocupam o sr?

O discurso de ódio me preocupa sempre em relação a todas as minorias. Para mim, ele é fruto de um movimento nacionalista que é uma resposta à globalização. A globalização não reduziu as desigualdades, mas surgiu como uma tentativa de melhorar o acesso a bens, insumos e serviços. Determinados países adotaram o tom nacionalista na defesa de interesses próprios. Não é incomum que esses nacionalistas, ao falar na sua defesa, façam um discurso de ódio.

Os sr. identifica traços deste discurso nacionalista no Bolsonaro?

Todo extremismo é ruim. A cultura nacionalista está na direita radical e na esquerda radical. Essa divisão de esquerda e direita devia ser uma pedra sepultada com o Muro de Berlim. Existem coisas boas dos dois lados.

Como recebeu o manifesto dos judeus pela democracia que defendeu voto no ex-presidente Lula?

A comunidade judaica é plural. Temos entre 120 ou 130 mil judeus. Essas pessoas não falam em nome da comunidade, mas eu os respeito.

Houve uso político da bandeira de Israel para atrair o voto evangélico?

Nós somos brasileiros. Por que usar a bandeira de um país? Não vejo necessidade disso. Não sei se foi algo premeditado, mas não faz sentido. Talvez tenha um dedo da comunidade evangélica. É bom lembrar que, ao contrário da comunidade judaica, a evangélica tem algumas dezenas de milhões de pessoa.

Principal referência da comunidade judaica no Brasil, o médico oftalmologista Claudio Lottenberg, de 62 anos, presidente do Conselho Deliberativo da Sociedade Beneficente Albert Einstein e presidente da Confederação Israelita do Brasil (Conib), acredita que os gestos do presidente Jair Bolsonaro (PL) ao Estado de Israel são uma tentativa de aproximação com a comunidade evangélica.

Cauteloso ao falar de eleições, Lottenberg, que não declara seu voto, avaliou esse nesta entrevista ao Estadão que o discurso de ódio na política surgiu com movimentos nacionalistas, sejam eles de direita radical ou de esquerda.

No começo do mandato, Jair Bolsonaro deu um tratamento especial à comunidade judaica e prometeu até levar a Embaixada do Brasil (em Tel-Aviv) para Jerusalém. Ele conseguiu estabelecer uma relação?

No início do mandato, o presidente Bolsonaro teve uma posição muito positiva com o Estado de Israel. Isso não significa somente a comunidade judaica, mas principalmente a comunidade evangélica. É importante destacar que a identidade do estado judeu não é importante somente na lógica dos judeus. Hoje, o papel dos evangélicos é muito importante. Ele teve uma aproximação com o Estado de Israel. A gente tem de diferenciar o que significa a relação com a comunidade judaica, com o Estado de Israel e com a comunidade evangélica.

Como deve ser feita essa diferenciação?

Ele, de fato, teve um papel de aproximação com o Estado de Israel. Desde o primeiro momento, a gente percebeu isso com a vinda do então primeiro-ministro, Binyamin Netanyahu, para a posse do presidente Bolsonaro. Em um segundo momento, o próprio presidente fez a primeira viagem internacional para Israel. Isso criou uma empatia com os simpatizantes do Estado de Israel, que é a comunidade judaica e a evangélica e outras pessoas que enxergam como um patrimônio do estado democrático do Oriente Médio. Isso deve ser registrado positivamente.

O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, e o então premiê de Israel, Binyamin Netanyahu, durante evento em 2019 Foto: Abir Sultan/EFE

Até que ponto essa aproximação do presidente com o Estado de Israel foi uma tentativa de buscar apoio no eleitorado evangélico?

Isso está presente no movimento de reeleição do presidente. Ele tem um apoio muito forte do segmento evangélico. O presidente tinha a visão da importância do que significaria para ele em termos de bônus político.

Hoje, a comunidade judaica no Brasil apoia majoritariamente o presidente da República na campanha?

A comunidade judaica é plural, é um recorte da sociedade brasileira. Temos judeus de direita e de esquerda, liberais e mais conservadores. A presença do voto judaico se manifesta entre todos os candidatos. Impossível fazer qualquer avaliação sobre quem tem maioria, Lula ou Bolsonaro.

Qual foi a repercussão na comunidade judaica da visita ao Bolsonaro da deputada alemã Beatrix von Storch, neta de um ministro de Hitler?

Naquele momento, a comunidade judaica se manifestou de maneira formal. Ninguém enxergou isso de forma positiva. Todos aqueles que enxergam as atrocidades do regime nazista viram com preocupação essa atitude do presidente. Criou-se uma imagem negativa a todos aqueles que defendem um Brasil democrático. A visita causou um impacto negativo.

Quem o sr. apoia no 1° turno e como avalia o favoritismo de Lula?

Eu apoio o vencedor. Apoio quem for eleito. Se Lula for eleito terá meu apoio e dos demais brasileiros. Espero que se encerre essa polarização no momento que for eleito o presidente da República.

Como o sr. enxerga esse movimento pelo voto útil contra o Bolsonaro?

No 1° turno, a gente deve expressar as nossas vontades, independente do candidato ter mais ou menos chance. O 2° turno, tem uma característica mais plebiscitária. Sem o voto útil, podemos avaliar o candidato com o peso que ele realmente tem.

Em 2018, a classe médica apoiou em grande parte o Bolsonaro, muito em função da rejeição ao programa Mais Médicos, que trazia médicos cubanos para o Brasil. Como está o cenário entre os médicos agora?

Como médico e uma pessoa ativa na saúde, não me recordo que a comunidade médica tenha sentado e discutido quem apoiar. Algumas lideranças médicas se tornaram mais presentes e expuseram sua preferência pelo candidato Jair Bolsonaro. É bom lembrar que, com o episódio da facada, o assunto saúde acabou ganhando mais visibilidade.

O sr. defende a inclusão da cannabis medicinal no SUS?

Os benefícios são muitos claros. Em epilepsia refratária aos tratamentos, que são milhões de pessoas, isso está comprovado. A utilização para tratamento paliativo e dor crônica também. E casos de depressão e ansiedade. Por que não criar condições de acesso para quem não tem condições financeiras?

A ascensão da direita radical e o discurso de ódio preocupam o sr?

O discurso de ódio me preocupa sempre em relação a todas as minorias. Para mim, ele é fruto de um movimento nacionalista que é uma resposta à globalização. A globalização não reduziu as desigualdades, mas surgiu como uma tentativa de melhorar o acesso a bens, insumos e serviços. Determinados países adotaram o tom nacionalista na defesa de interesses próprios. Não é incomum que esses nacionalistas, ao falar na sua defesa, façam um discurso de ódio.

Os sr. identifica traços deste discurso nacionalista no Bolsonaro?

Todo extremismo é ruim. A cultura nacionalista está na direita radical e na esquerda radical. Essa divisão de esquerda e direita devia ser uma pedra sepultada com o Muro de Berlim. Existem coisas boas dos dois lados.

Como recebeu o manifesto dos judeus pela democracia que defendeu voto no ex-presidente Lula?

A comunidade judaica é plural. Temos entre 120 ou 130 mil judeus. Essas pessoas não falam em nome da comunidade, mas eu os respeito.

Houve uso político da bandeira de Israel para atrair o voto evangélico?

Nós somos brasileiros. Por que usar a bandeira de um país? Não vejo necessidade disso. Não sei se foi algo premeditado, mas não faz sentido. Talvez tenha um dedo da comunidade evangélica. É bom lembrar que, ao contrário da comunidade judaica, a evangélica tem algumas dezenas de milhões de pessoa.

Principal referência da comunidade judaica no Brasil, o médico oftalmologista Claudio Lottenberg, de 62 anos, presidente do Conselho Deliberativo da Sociedade Beneficente Albert Einstein e presidente da Confederação Israelita do Brasil (Conib), acredita que os gestos do presidente Jair Bolsonaro (PL) ao Estado de Israel são uma tentativa de aproximação com a comunidade evangélica.

Cauteloso ao falar de eleições, Lottenberg, que não declara seu voto, avaliou esse nesta entrevista ao Estadão que o discurso de ódio na política surgiu com movimentos nacionalistas, sejam eles de direita radical ou de esquerda.

No começo do mandato, Jair Bolsonaro deu um tratamento especial à comunidade judaica e prometeu até levar a Embaixada do Brasil (em Tel-Aviv) para Jerusalém. Ele conseguiu estabelecer uma relação?

No início do mandato, o presidente Bolsonaro teve uma posição muito positiva com o Estado de Israel. Isso não significa somente a comunidade judaica, mas principalmente a comunidade evangélica. É importante destacar que a identidade do estado judeu não é importante somente na lógica dos judeus. Hoje, o papel dos evangélicos é muito importante. Ele teve uma aproximação com o Estado de Israel. A gente tem de diferenciar o que significa a relação com a comunidade judaica, com o Estado de Israel e com a comunidade evangélica.

Como deve ser feita essa diferenciação?

Ele, de fato, teve um papel de aproximação com o Estado de Israel. Desde o primeiro momento, a gente percebeu isso com a vinda do então primeiro-ministro, Binyamin Netanyahu, para a posse do presidente Bolsonaro. Em um segundo momento, o próprio presidente fez a primeira viagem internacional para Israel. Isso criou uma empatia com os simpatizantes do Estado de Israel, que é a comunidade judaica e a evangélica e outras pessoas que enxergam como um patrimônio do estado democrático do Oriente Médio. Isso deve ser registrado positivamente.

O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, e o então premiê de Israel, Binyamin Netanyahu, durante evento em 2019 Foto: Abir Sultan/EFE

Até que ponto essa aproximação do presidente com o Estado de Israel foi uma tentativa de buscar apoio no eleitorado evangélico?

Isso está presente no movimento de reeleição do presidente. Ele tem um apoio muito forte do segmento evangélico. O presidente tinha a visão da importância do que significaria para ele em termos de bônus político.

Hoje, a comunidade judaica no Brasil apoia majoritariamente o presidente da República na campanha?

A comunidade judaica é plural, é um recorte da sociedade brasileira. Temos judeus de direita e de esquerda, liberais e mais conservadores. A presença do voto judaico se manifesta entre todos os candidatos. Impossível fazer qualquer avaliação sobre quem tem maioria, Lula ou Bolsonaro.

Qual foi a repercussão na comunidade judaica da visita ao Bolsonaro da deputada alemã Beatrix von Storch, neta de um ministro de Hitler?

Naquele momento, a comunidade judaica se manifestou de maneira formal. Ninguém enxergou isso de forma positiva. Todos aqueles que enxergam as atrocidades do regime nazista viram com preocupação essa atitude do presidente. Criou-se uma imagem negativa a todos aqueles que defendem um Brasil democrático. A visita causou um impacto negativo.

Quem o sr. apoia no 1° turno e como avalia o favoritismo de Lula?

Eu apoio o vencedor. Apoio quem for eleito. Se Lula for eleito terá meu apoio e dos demais brasileiros. Espero que se encerre essa polarização no momento que for eleito o presidente da República.

Como o sr. enxerga esse movimento pelo voto útil contra o Bolsonaro?

No 1° turno, a gente deve expressar as nossas vontades, independente do candidato ter mais ou menos chance. O 2° turno, tem uma característica mais plebiscitária. Sem o voto útil, podemos avaliar o candidato com o peso que ele realmente tem.

Em 2018, a classe médica apoiou em grande parte o Bolsonaro, muito em função da rejeição ao programa Mais Médicos, que trazia médicos cubanos para o Brasil. Como está o cenário entre os médicos agora?

Como médico e uma pessoa ativa na saúde, não me recordo que a comunidade médica tenha sentado e discutido quem apoiar. Algumas lideranças médicas se tornaram mais presentes e expuseram sua preferência pelo candidato Jair Bolsonaro. É bom lembrar que, com o episódio da facada, o assunto saúde acabou ganhando mais visibilidade.

O sr. defende a inclusão da cannabis medicinal no SUS?

Os benefícios são muitos claros. Em epilepsia refratária aos tratamentos, que são milhões de pessoas, isso está comprovado. A utilização para tratamento paliativo e dor crônica também. E casos de depressão e ansiedade. Por que não criar condições de acesso para quem não tem condições financeiras?

A ascensão da direita radical e o discurso de ódio preocupam o sr?

O discurso de ódio me preocupa sempre em relação a todas as minorias. Para mim, ele é fruto de um movimento nacionalista que é uma resposta à globalização. A globalização não reduziu as desigualdades, mas surgiu como uma tentativa de melhorar o acesso a bens, insumos e serviços. Determinados países adotaram o tom nacionalista na defesa de interesses próprios. Não é incomum que esses nacionalistas, ao falar na sua defesa, façam um discurso de ódio.

Os sr. identifica traços deste discurso nacionalista no Bolsonaro?

Todo extremismo é ruim. A cultura nacionalista está na direita radical e na esquerda radical. Essa divisão de esquerda e direita devia ser uma pedra sepultada com o Muro de Berlim. Existem coisas boas dos dois lados.

Como recebeu o manifesto dos judeus pela democracia que defendeu voto no ex-presidente Lula?

A comunidade judaica é plural. Temos entre 120 ou 130 mil judeus. Essas pessoas não falam em nome da comunidade, mas eu os respeito.

Houve uso político da bandeira de Israel para atrair o voto evangélico?

Nós somos brasileiros. Por que usar a bandeira de um país? Não vejo necessidade disso. Não sei se foi algo premeditado, mas não faz sentido. Talvez tenha um dedo da comunidade evangélica. É bom lembrar que, ao contrário da comunidade judaica, a evangélica tem algumas dezenas de milhões de pessoa.

Principal referência da comunidade judaica no Brasil, o médico oftalmologista Claudio Lottenberg, de 62 anos, presidente do Conselho Deliberativo da Sociedade Beneficente Albert Einstein e presidente da Confederação Israelita do Brasil (Conib), acredita que os gestos do presidente Jair Bolsonaro (PL) ao Estado de Israel são uma tentativa de aproximação com a comunidade evangélica.

Cauteloso ao falar de eleições, Lottenberg, que não declara seu voto, avaliou esse nesta entrevista ao Estadão que o discurso de ódio na política surgiu com movimentos nacionalistas, sejam eles de direita radical ou de esquerda.

No começo do mandato, Jair Bolsonaro deu um tratamento especial à comunidade judaica e prometeu até levar a Embaixada do Brasil (em Tel-Aviv) para Jerusalém. Ele conseguiu estabelecer uma relação?

No início do mandato, o presidente Bolsonaro teve uma posição muito positiva com o Estado de Israel. Isso não significa somente a comunidade judaica, mas principalmente a comunidade evangélica. É importante destacar que a identidade do estado judeu não é importante somente na lógica dos judeus. Hoje, o papel dos evangélicos é muito importante. Ele teve uma aproximação com o Estado de Israel. A gente tem de diferenciar o que significa a relação com a comunidade judaica, com o Estado de Israel e com a comunidade evangélica.

Como deve ser feita essa diferenciação?

Ele, de fato, teve um papel de aproximação com o Estado de Israel. Desde o primeiro momento, a gente percebeu isso com a vinda do então primeiro-ministro, Binyamin Netanyahu, para a posse do presidente Bolsonaro. Em um segundo momento, o próprio presidente fez a primeira viagem internacional para Israel. Isso criou uma empatia com os simpatizantes do Estado de Israel, que é a comunidade judaica e a evangélica e outras pessoas que enxergam como um patrimônio do estado democrático do Oriente Médio. Isso deve ser registrado positivamente.

O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, e o então premiê de Israel, Binyamin Netanyahu, durante evento em 2019 Foto: Abir Sultan/EFE

Até que ponto essa aproximação do presidente com o Estado de Israel foi uma tentativa de buscar apoio no eleitorado evangélico?

Isso está presente no movimento de reeleição do presidente. Ele tem um apoio muito forte do segmento evangélico. O presidente tinha a visão da importância do que significaria para ele em termos de bônus político.

Hoje, a comunidade judaica no Brasil apoia majoritariamente o presidente da República na campanha?

A comunidade judaica é plural, é um recorte da sociedade brasileira. Temos judeus de direita e de esquerda, liberais e mais conservadores. A presença do voto judaico se manifesta entre todos os candidatos. Impossível fazer qualquer avaliação sobre quem tem maioria, Lula ou Bolsonaro.

Qual foi a repercussão na comunidade judaica da visita ao Bolsonaro da deputada alemã Beatrix von Storch, neta de um ministro de Hitler?

Naquele momento, a comunidade judaica se manifestou de maneira formal. Ninguém enxergou isso de forma positiva. Todos aqueles que enxergam as atrocidades do regime nazista viram com preocupação essa atitude do presidente. Criou-se uma imagem negativa a todos aqueles que defendem um Brasil democrático. A visita causou um impacto negativo.

Quem o sr. apoia no 1° turno e como avalia o favoritismo de Lula?

Eu apoio o vencedor. Apoio quem for eleito. Se Lula for eleito terá meu apoio e dos demais brasileiros. Espero que se encerre essa polarização no momento que for eleito o presidente da República.

Como o sr. enxerga esse movimento pelo voto útil contra o Bolsonaro?

No 1° turno, a gente deve expressar as nossas vontades, independente do candidato ter mais ou menos chance. O 2° turno, tem uma característica mais plebiscitária. Sem o voto útil, podemos avaliar o candidato com o peso que ele realmente tem.

Em 2018, a classe médica apoiou em grande parte o Bolsonaro, muito em função da rejeição ao programa Mais Médicos, que trazia médicos cubanos para o Brasil. Como está o cenário entre os médicos agora?

Como médico e uma pessoa ativa na saúde, não me recordo que a comunidade médica tenha sentado e discutido quem apoiar. Algumas lideranças médicas se tornaram mais presentes e expuseram sua preferência pelo candidato Jair Bolsonaro. É bom lembrar que, com o episódio da facada, o assunto saúde acabou ganhando mais visibilidade.

O sr. defende a inclusão da cannabis medicinal no SUS?

Os benefícios são muitos claros. Em epilepsia refratária aos tratamentos, que são milhões de pessoas, isso está comprovado. A utilização para tratamento paliativo e dor crônica também. E casos de depressão e ansiedade. Por que não criar condições de acesso para quem não tem condições financeiras?

A ascensão da direita radical e o discurso de ódio preocupam o sr?

O discurso de ódio me preocupa sempre em relação a todas as minorias. Para mim, ele é fruto de um movimento nacionalista que é uma resposta à globalização. A globalização não reduziu as desigualdades, mas surgiu como uma tentativa de melhorar o acesso a bens, insumos e serviços. Determinados países adotaram o tom nacionalista na defesa de interesses próprios. Não é incomum que esses nacionalistas, ao falar na sua defesa, façam um discurso de ódio.

Os sr. identifica traços deste discurso nacionalista no Bolsonaro?

Todo extremismo é ruim. A cultura nacionalista está na direita radical e na esquerda radical. Essa divisão de esquerda e direita devia ser uma pedra sepultada com o Muro de Berlim. Existem coisas boas dos dois lados.

Como recebeu o manifesto dos judeus pela democracia que defendeu voto no ex-presidente Lula?

A comunidade judaica é plural. Temos entre 120 ou 130 mil judeus. Essas pessoas não falam em nome da comunidade, mas eu os respeito.

Houve uso político da bandeira de Israel para atrair o voto evangélico?

Nós somos brasileiros. Por que usar a bandeira de um país? Não vejo necessidade disso. Não sei se foi algo premeditado, mas não faz sentido. Talvez tenha um dedo da comunidade evangélica. É bom lembrar que, ao contrário da comunidade judaica, a evangélica tem algumas dezenas de milhões de pessoa.

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.