Clóvis Rossi, golpes militares e guerrilhas


‘Sempre em jornais concorrentes, sempre me tratou como companheiro e amigo’, escreve José Maria Mayrink, repórter do ‘Estado’

Por José Maria Mayrink

Quando a ditadura de Pinochet fechou as fronteiras do Chile, em 11 de setembro de 1973, só conseguimos desembarcar em Santiago dez dias depois do golpe. Clóvis Rossi pelo Estado, Carlos Brickmann e eu pelo Jornal da Tarde. Jornalista já experiente, ele foi pedir ajuda na cobertura, dizendo que era sua primeira viagem internacional. Achei que estivesse brincando, mas falava sério.

Ocupado com uma entrevista na área econômica, Rossi me pediu para mandar cópia de minha matéria para o Estado sobre a morte do poeta Pablo Neruda. Nas manifestações no velório e no cemitério ouviram-se os primeiros protestos contra a ditadura. Rossi sentiu não estar lá. “Se eu pudesse trocar com você, teria trocado, pode crer”, disse, dirigindo-se a mim em entrevista feita pela internet para o site Profissão: Repórter, do jornalista Luiz Maklouf de Carvalho.

Clóvis Rossifoi editor-chefe do 'Estado' Foto: Alice Vergueiro / Abraji
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Rossi deixou o Estado em 1977. Fui reencontrá-lo várias vezes em aventuras no exterior, quase sempre para cobrir golpes militares e guerrilhas. Trabalhando em jornais concorrentes, ele me tratou sempre como companheiro e amigo, compartilhando até riscos de morte, inevitáveis em países onde a violência matava, cotidianamente, centenas de pessoas, na década de 1980.

Na Guatemala, escapamos das balas em 1982, quando os guerrilheiros estilhaçaram os vidros das janelas exatamente no ponto de onde cobríamos um tiroteio. Escapamos por segundos. Na mesma viagem, estávamos entrevistando o embaixador dos Estados Unidos, em seu gabinete, e levamos um susto. Um fuzileiro-naval da Segurança arrombou a porta com os pés e gritou: “Bomba, atentado, todos para o chão”. Obedecemos, Clóvis e eu, e ali permanecemos uns 30 minutos equilibrando-nos como era possível, até a Segurança avisar que era alarme falso.

Na Nicarágua, de onde deveríamos seguir para El Salvador, para cobrir as eleições presidenciais em 1982, fomos informados que quatro jornalistas holandeses haviam morrido num atentado perto de San Salvador, a capital. Um comunicado anônimo, provavelmente de paramilitares de direita, divulgava uma lista de jornalistas estrangeiros marcados para morrer. Entre eles, Eric Nepomuceno, então correspondente de Veja no México, e Alan Ridding, de The New York Times, nossos companheiros no hotel. 

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Fomos em frente. El Salvador enfrentava uma das fases mais violentas da guerra de guerrilhas. Helicópteros bombardeavam os bairros de periferia dia e noite. Para chegar mais perto de seus alvos, só saíamos do hotel em táxis brancos com uma plaqueta com a identificação Prensa no para-brisa e uma bandeira branca na janela direita. Exigência da guerrilha. 

Numa pauta em Usulután, a 110 Km da capital, ocupada pela Força Armada e cercada por guerrilheiros, a cidade estava sob intenso tiroteio quando nós chegamos à praça principal. Sem proteção nenhuma, nos refugiávamos atrás das colunas da entrada de um hotel e só nos deslocávamos nos intervalos dos disparos. O risco maior, no entanto, não estava ali, mas na viagem de volta.

Sentinelas invisíveis que vigiavam a estrada – em vários pontos interrompida por troncos de árvores e postes na pista – metralharam o carro de Rossi de nossa intrépida caravana. Com quase 2 metros de altura, ele conseguiu se encolher entre o banco da frente e o painel do Peugeot. No mesmo dia, foi alvejado um carro verde de jornalistas franceses que rodavam sem a bandeira branca, como exigiam os rebeldes.

Quando a ditadura de Pinochet fechou as fronteiras do Chile, em 11 de setembro de 1973, só conseguimos desembarcar em Santiago dez dias depois do golpe. Clóvis Rossi pelo Estado, Carlos Brickmann e eu pelo Jornal da Tarde. Jornalista já experiente, ele foi pedir ajuda na cobertura, dizendo que era sua primeira viagem internacional. Achei que estivesse brincando, mas falava sério.

Ocupado com uma entrevista na área econômica, Rossi me pediu para mandar cópia de minha matéria para o Estado sobre a morte do poeta Pablo Neruda. Nas manifestações no velório e no cemitério ouviram-se os primeiros protestos contra a ditadura. Rossi sentiu não estar lá. “Se eu pudesse trocar com você, teria trocado, pode crer”, disse, dirigindo-se a mim em entrevista feita pela internet para o site Profissão: Repórter, do jornalista Luiz Maklouf de Carvalho.

Clóvis Rossifoi editor-chefe do 'Estado' Foto: Alice Vergueiro / Abraji

Rossi deixou o Estado em 1977. Fui reencontrá-lo várias vezes em aventuras no exterior, quase sempre para cobrir golpes militares e guerrilhas. Trabalhando em jornais concorrentes, ele me tratou sempre como companheiro e amigo, compartilhando até riscos de morte, inevitáveis em países onde a violência matava, cotidianamente, centenas de pessoas, na década de 1980.

Na Guatemala, escapamos das balas em 1982, quando os guerrilheiros estilhaçaram os vidros das janelas exatamente no ponto de onde cobríamos um tiroteio. Escapamos por segundos. Na mesma viagem, estávamos entrevistando o embaixador dos Estados Unidos, em seu gabinete, e levamos um susto. Um fuzileiro-naval da Segurança arrombou a porta com os pés e gritou: “Bomba, atentado, todos para o chão”. Obedecemos, Clóvis e eu, e ali permanecemos uns 30 minutos equilibrando-nos como era possível, até a Segurança avisar que era alarme falso.

Na Nicarágua, de onde deveríamos seguir para El Salvador, para cobrir as eleições presidenciais em 1982, fomos informados que quatro jornalistas holandeses haviam morrido num atentado perto de San Salvador, a capital. Um comunicado anônimo, provavelmente de paramilitares de direita, divulgava uma lista de jornalistas estrangeiros marcados para morrer. Entre eles, Eric Nepomuceno, então correspondente de Veja no México, e Alan Ridding, de The New York Times, nossos companheiros no hotel. 

Fomos em frente. El Salvador enfrentava uma das fases mais violentas da guerra de guerrilhas. Helicópteros bombardeavam os bairros de periferia dia e noite. Para chegar mais perto de seus alvos, só saíamos do hotel em táxis brancos com uma plaqueta com a identificação Prensa no para-brisa e uma bandeira branca na janela direita. Exigência da guerrilha. 

Numa pauta em Usulután, a 110 Km da capital, ocupada pela Força Armada e cercada por guerrilheiros, a cidade estava sob intenso tiroteio quando nós chegamos à praça principal. Sem proteção nenhuma, nos refugiávamos atrás das colunas da entrada de um hotel e só nos deslocávamos nos intervalos dos disparos. O risco maior, no entanto, não estava ali, mas na viagem de volta.

Sentinelas invisíveis que vigiavam a estrada – em vários pontos interrompida por troncos de árvores e postes na pista – metralharam o carro de Rossi de nossa intrépida caravana. Com quase 2 metros de altura, ele conseguiu se encolher entre o banco da frente e o painel do Peugeot. No mesmo dia, foi alvejado um carro verde de jornalistas franceses que rodavam sem a bandeira branca, como exigiam os rebeldes.

Quando a ditadura de Pinochet fechou as fronteiras do Chile, em 11 de setembro de 1973, só conseguimos desembarcar em Santiago dez dias depois do golpe. Clóvis Rossi pelo Estado, Carlos Brickmann e eu pelo Jornal da Tarde. Jornalista já experiente, ele foi pedir ajuda na cobertura, dizendo que era sua primeira viagem internacional. Achei que estivesse brincando, mas falava sério.

Ocupado com uma entrevista na área econômica, Rossi me pediu para mandar cópia de minha matéria para o Estado sobre a morte do poeta Pablo Neruda. Nas manifestações no velório e no cemitério ouviram-se os primeiros protestos contra a ditadura. Rossi sentiu não estar lá. “Se eu pudesse trocar com você, teria trocado, pode crer”, disse, dirigindo-se a mim em entrevista feita pela internet para o site Profissão: Repórter, do jornalista Luiz Maklouf de Carvalho.

Clóvis Rossifoi editor-chefe do 'Estado' Foto: Alice Vergueiro / Abraji

Rossi deixou o Estado em 1977. Fui reencontrá-lo várias vezes em aventuras no exterior, quase sempre para cobrir golpes militares e guerrilhas. Trabalhando em jornais concorrentes, ele me tratou sempre como companheiro e amigo, compartilhando até riscos de morte, inevitáveis em países onde a violência matava, cotidianamente, centenas de pessoas, na década de 1980.

Na Guatemala, escapamos das balas em 1982, quando os guerrilheiros estilhaçaram os vidros das janelas exatamente no ponto de onde cobríamos um tiroteio. Escapamos por segundos. Na mesma viagem, estávamos entrevistando o embaixador dos Estados Unidos, em seu gabinete, e levamos um susto. Um fuzileiro-naval da Segurança arrombou a porta com os pés e gritou: “Bomba, atentado, todos para o chão”. Obedecemos, Clóvis e eu, e ali permanecemos uns 30 minutos equilibrando-nos como era possível, até a Segurança avisar que era alarme falso.

Na Nicarágua, de onde deveríamos seguir para El Salvador, para cobrir as eleições presidenciais em 1982, fomos informados que quatro jornalistas holandeses haviam morrido num atentado perto de San Salvador, a capital. Um comunicado anônimo, provavelmente de paramilitares de direita, divulgava uma lista de jornalistas estrangeiros marcados para morrer. Entre eles, Eric Nepomuceno, então correspondente de Veja no México, e Alan Ridding, de The New York Times, nossos companheiros no hotel. 

Fomos em frente. El Salvador enfrentava uma das fases mais violentas da guerra de guerrilhas. Helicópteros bombardeavam os bairros de periferia dia e noite. Para chegar mais perto de seus alvos, só saíamos do hotel em táxis brancos com uma plaqueta com a identificação Prensa no para-brisa e uma bandeira branca na janela direita. Exigência da guerrilha. 

Numa pauta em Usulután, a 110 Km da capital, ocupada pela Força Armada e cercada por guerrilheiros, a cidade estava sob intenso tiroteio quando nós chegamos à praça principal. Sem proteção nenhuma, nos refugiávamos atrás das colunas da entrada de um hotel e só nos deslocávamos nos intervalos dos disparos. O risco maior, no entanto, não estava ali, mas na viagem de volta.

Sentinelas invisíveis que vigiavam a estrada – em vários pontos interrompida por troncos de árvores e postes na pista – metralharam o carro de Rossi de nossa intrépida caravana. Com quase 2 metros de altura, ele conseguiu se encolher entre o banco da frente e o painel do Peugeot. No mesmo dia, foi alvejado um carro verde de jornalistas franceses que rodavam sem a bandeira branca, como exigiam os rebeldes.

Quando a ditadura de Pinochet fechou as fronteiras do Chile, em 11 de setembro de 1973, só conseguimos desembarcar em Santiago dez dias depois do golpe. Clóvis Rossi pelo Estado, Carlos Brickmann e eu pelo Jornal da Tarde. Jornalista já experiente, ele foi pedir ajuda na cobertura, dizendo que era sua primeira viagem internacional. Achei que estivesse brincando, mas falava sério.

Ocupado com uma entrevista na área econômica, Rossi me pediu para mandar cópia de minha matéria para o Estado sobre a morte do poeta Pablo Neruda. Nas manifestações no velório e no cemitério ouviram-se os primeiros protestos contra a ditadura. Rossi sentiu não estar lá. “Se eu pudesse trocar com você, teria trocado, pode crer”, disse, dirigindo-se a mim em entrevista feita pela internet para o site Profissão: Repórter, do jornalista Luiz Maklouf de Carvalho.

Clóvis Rossifoi editor-chefe do 'Estado' Foto: Alice Vergueiro / Abraji

Rossi deixou o Estado em 1977. Fui reencontrá-lo várias vezes em aventuras no exterior, quase sempre para cobrir golpes militares e guerrilhas. Trabalhando em jornais concorrentes, ele me tratou sempre como companheiro e amigo, compartilhando até riscos de morte, inevitáveis em países onde a violência matava, cotidianamente, centenas de pessoas, na década de 1980.

Na Guatemala, escapamos das balas em 1982, quando os guerrilheiros estilhaçaram os vidros das janelas exatamente no ponto de onde cobríamos um tiroteio. Escapamos por segundos. Na mesma viagem, estávamos entrevistando o embaixador dos Estados Unidos, em seu gabinete, e levamos um susto. Um fuzileiro-naval da Segurança arrombou a porta com os pés e gritou: “Bomba, atentado, todos para o chão”. Obedecemos, Clóvis e eu, e ali permanecemos uns 30 minutos equilibrando-nos como era possível, até a Segurança avisar que era alarme falso.

Na Nicarágua, de onde deveríamos seguir para El Salvador, para cobrir as eleições presidenciais em 1982, fomos informados que quatro jornalistas holandeses haviam morrido num atentado perto de San Salvador, a capital. Um comunicado anônimo, provavelmente de paramilitares de direita, divulgava uma lista de jornalistas estrangeiros marcados para morrer. Entre eles, Eric Nepomuceno, então correspondente de Veja no México, e Alan Ridding, de The New York Times, nossos companheiros no hotel. 

Fomos em frente. El Salvador enfrentava uma das fases mais violentas da guerra de guerrilhas. Helicópteros bombardeavam os bairros de periferia dia e noite. Para chegar mais perto de seus alvos, só saíamos do hotel em táxis brancos com uma plaqueta com a identificação Prensa no para-brisa e uma bandeira branca na janela direita. Exigência da guerrilha. 

Numa pauta em Usulután, a 110 Km da capital, ocupada pela Força Armada e cercada por guerrilheiros, a cidade estava sob intenso tiroteio quando nós chegamos à praça principal. Sem proteção nenhuma, nos refugiávamos atrás das colunas da entrada de um hotel e só nos deslocávamos nos intervalos dos disparos. O risco maior, no entanto, não estava ali, mas na viagem de volta.

Sentinelas invisíveis que vigiavam a estrada – em vários pontos interrompida por troncos de árvores e postes na pista – metralharam o carro de Rossi de nossa intrépida caravana. Com quase 2 metros de altura, ele conseguiu se encolher entre o banco da frente e o painel do Peugeot. No mesmo dia, foi alvejado um carro verde de jornalistas franceses que rodavam sem a bandeira branca, como exigiam os rebeldes.

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