Brasília - Em delação premiada, o ex-diretor da Petrobrás Nestor Cerveró relatou que o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva sugeriu em 2010 uma reunião entre a cúpula da BR Distribuidora e o senador Fernando Collor (PTB-AL) no qual o parlamentar tentou fechar uma negociação com a estatal em benefício do usineiro alagoano João Lyra. Diante da negativa da BR em fazer uma compra antecipada de álcool, segundo o delator, o empresário teria obtido uma linha de crédito no Banco do Brasil durante a gestão de Aldemir Bendine, hoje presidente da Petrobrás. O banco nega ter feito o empréstimo à usina de Lyra.
Segundo o relato de Cerveró, que na época fazia parte da direção da BR Distribuidora, em meados de 2010 Collor teria inicialmente levado Lyra a uma reunião com a cúpula da subsidiária da Petrobrás para pedir a compra de R$ 1 bilhão em álcool das usinas de Alagoas. O ex-diretor disse aos investigadores da Operação Lava Jato que esse encontro teria ocorrido por sugestão de Lula.
Para convencer a diretoria da BR a fazer a "compra de safra antecipada", Collor afirmou que Alagoas havia sofrido com uma "grande enchente" que havia causado muitos danos ao Estado naquele ano. O senador disse ter levado Lula para "ver pessoalmente o Estado de Alagoas, tendo Lula ficado chocado", segundo Cerveró. Ainda segundo o delator, Collor afirmou que Lyra cedeu imóveis para reconstruir as cidades e apresentou o empresário como um "usineiro altruísta".
Cerveró afirma na delação que existia uma norma na BR Distribuidora que proibia a compra de safra antecipada. Além disso, "não havia disponibilidade financeira" para o negócio.
No depoimento, Cerveró também diz à Lava Jato "que o financiamento de usinas de álcool é o pior crédito, que as usinas de álcool estavam praticamente todas em situação de falência". Mesmo assim, segundo ele, "o Banco do Brasil, presidido por Aldemir Bendine", teria concedido crédito de R$ 50 milhões à usina de Lyra. De acordo com a assessoria do Banco do Brasil, o pedido de crédito existiu, mas a operação não foi aprovada.
Campanha. Segundo Cerveró, o suposto crédito concedido pelo Banco do Brasil teria chegado aos ouvidos de outro político alagoano, o atual presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). O delator disse ter sido chamado pelo peemedebista para que explicasse a liberação de dinheiro a Lyra. Essa reunião teria ocorrido no gabinete do senador, e Renan teria se mostrado "chateado", nas palavras de Cerveró.
O ex-diretor explicou ao senador que o dinheiro não fora liberado pela BR Distribuidora, mas sim pelo Banco do Brasil. "Que Renan Calheiros afirmou: 'Ah, agora eu entendi, então é por isso que a campanha do Collor está deslanchando'; Que entendeu com isso que o dinheiro do financiamento havia sido usado na campanha de Fernando Collor em Alagoas", consta do depoimento de Cerveró.
Em nota, o Banco do Brasil afirmou que não aprovou qualquer operação de crédito para a usina citada em 2010 ou nos anos seguintes. O banco ressaltou que "analisa todas as operações de crédito de acordo com critérios técnicos. A aprovação cabe sempre a instâncias colegiadas, que consideram as características das operações e os riscos de cada cliente e de seus acionistas".
O Instituto Lula informou que não comenta "vazamentos ilegais, seletivos e parciais de supostas alegações que alimentam um mercado de delações sem provas em troca de benefícios penais".
Por meio de sua assessoria de imprensa, Renan "nega as imputações e esclarece que já prestou as informações requeridas". O presidente do Senado nega ter participado das reuniões citadas por Cerveró.
A defesa de Fernando Collor não foi localizada.