Deputados das bancadas BBB (Boi, Bala e Bíblia) têm reclamado da falta de espaço em comissões e relatorias de projetos. Queixam-se, ainda, de que o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), não ouve o chamado baixo clero para tomar decisões, consultando apenas uma “confraria” de líderes.
A insatisfação tem aparecido em votações no plenário. No último dia 19, por exemplo, a aprovação de um destaque apresentado pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) ao projeto da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) causou surpresa.
Apesar dos protestos do Centrão e de líderes do governo, o texto que recebeu sinal verde do Congresso impede o Executivo de usar recursos públicos para financiar políticas interpretadas como sendo de incentivo ao aborto, invasão de propriedade e mudança de sexo em menores.
Lira nega que dê tratamento diferenciado aos pares. “Todas as decisões desta Casa são tomadas em conjunto com o colégio de líderes”, afirmou o presidente da Câmara.
A “rebelião” do baixo clero, porém, não passa despercebida num ano em que os pré-candidatos à sucessão de Lira já começam a preparar suas campanhas. A eleição que escolherá os novos presidentes da Câmara e do Senado ocorrerá somente em fevereiro de 2025, mas a disputa já está a todo vapor.
Até agora, os pré-candidatos conhecidos para ocupar a cadeira de Lira são Elmar Nascimento (União Brasil-BA), Marcos Pereira (Republicanos-SP) e Antonio Brito (PSD-BA). Nas fileiras do MDB, o nome citado é o de Isnaldo Bulhões (AL), mas o partido ainda não definiu se terá concorrente nessa corrida.
O deputado Eunício Oliveira (MDB-CE), ex-presidente do Senado, pode entrar no jogo. “Se o Isnaldo for candidato, eu o apoio. Mas, se não for, vamos observar o cenário”, disse Eunício, enigmático.
Diante da revolta dos deputados que contam com menos holofotes também pode surgir um Severino Cavalcanti. Conhecido como “rei do baixo clero”, Severino impôs a maior derrota política ao governo Lula, em 2005, quando venceu Luiz Eduardo Greenhalgh (PT), aproveitando-se de um racha na aliança petista. “Fiquei com gosto de cabo de guarda chuva na boca”, afirmou Greenhalgh, à época.
Severino, porém, ficou apenas sete meses no comando da Câmara. Acusado de receber um “mensalinho” de R$ 10 mil por mês para que o restaurante da Casa funcionasse, ele renunciou ao mandato de deputado e deixou a presidência.