Líderes da Câmara que se reuniram com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para tratar do corte de gastos descrevem como “natalino” o clima do encontro nesta quarta-feira, 27. Apesar de o tema ser áspero, houve espaço até mesmo para piadas. Segundo participantes da reunião ouvidos pela Coluna do Estadão, o petista brincou que o pacote anunciado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, fará com que os parlamentares trabalhem até o Natal para votar as medidas. Todos riram.
Por trás do clima de descontração no Palácio do Planalto, contudo, deputados veem uma “troca de presentes”. A avaliação é que o governo conseguiu pavimentar o caminho para aprovar o pacote quando o PT decidiu de forma antecipada apoiar para a presidência da Câmara o candidato Hugo Motta (Republicanos-PB), lançado pelo atual presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), e consenso entre os líderes. Os deputados, agora, terão de retribuir com votos no plenário.
Como o governo não colocou nenhum empecilho para que Lira controlasse seu processo de sucessão, ele não tem do que reclamar, na interpretação de aliados. Isso facilita a aprovação do plano de Haddad. Um líder da Câmara afirma que todos estão “felizes”, o que gera até mesmo estranhamento, já que nos últimos dois anos a Casa esteve na maioria das vezes em pé de guerra com o Planalto.
Na reunião com Lira e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que ocorreu antes do encontro com os líderes, Lula frisou que não estava ferindo direitos com o pacote, mas tomando as medidas necessárias. Ele pediu ajuda para aprovar as propostas.
Como mostrou a Coluna do Estadão, apesar da boa recepção do pacote no Congresso, causou incômodo no Centrão nesta terça-feira, 27, a antecipação do anúncio do aumento da faixa de isenção do Imposto de Renda. Com a notícia positiva do ponto de vista político, o governo quis aplicar uma espécie de “vacina” contra eventual desgaste dos cortes junto à população. No fim das contas, contudo, a votação da medida no Congresso será apenas no ano que vem.
O pacote de corte de gastos também ficou menos “rígido” do que previam lideranças do Centrão. Mas essa constatação não foi tratada de forma negativa. Pelo contrário. O grupo que dá as cartas no Legislativo considera que um ajuste fiscal “aquém” do esperado é mais fácil de aprovar. São os deputados e senadores que colocarão suas digitais nas votações, e esses parlamentares sempre temem apoiar medidas muito impopulares.