A incerteza sobre o cenário econômico após o resultado das eleições de 2022 é o argumento que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) adotou para justificar a transferência de R$ 800 mil para um banco nos Estados Unidos. Segundo ele, o montante à época foi de US$ 130 mil. Para a Polícia Federal (PF), no entanto, o objetivo da transferência seria ele se manter em solo americano enquanto uma tentativa de golpe de Estado se desdobrava no Brasil e, se necessário, se instalar no exterior para se precaver de um inquérito no Brasil. Bolsonaro rebateu: “Eu mandei o dinheiro acreditando na derrocada completa da poupança no Brasil”, afirmou numa rápida conversa por telefone com a Coluna do Estadão.
O ex-presidente alegou, ainda, que “muita gente mandou dinheiro para fora após as eleições”. Dado que ele diz que foi observado até pelos funcionários com quem ele conversou no banco. “O pessoal me disse que o volume de dinheiro enviado por brasileiro após as eleições multiplicou por três”, ressaltou.
O advogado dele, Fábio Wajngarten, disse que aquele era todo o dinheiro que Bolsonaro tinha na poupança e que, após a busca e apreensão, o compliance da instituição determinou a devolução do montante ao Brasil.
Bolsonaro enviou R$ 800 mil aos EUA após ser derrotado, dias antes dos atos golpistas
O ex-presidente Jair Bolsonaro transferiu R$ 800 mil para um banco dos Estados Unidos antes de viajar ao país no final de dezembro de 2022. As informações constam em um documento da PF obtido pela Veja nessa quarta-feira, 14.
A quebra de sigilo bancário do então presidente demonstra que, prestes a encerrar o mandato, Bolsonaro fez uma operação de câmbio de R$ 800 mil em 27 de dezembro de 2022. “Evidencia-se que o então presidente Jair Bolsonaro, ao final do mandato, transferiu para os Estados Unidos todos os seus bens e recursos financeiros, ilícitos e lícitos, com a finalidade de assegurar sua permanência do exterior, possivelmente, aguardando o desfecho da tentativa de golpe de Estado que estava em andamento”, diz o documento da PF.
De acordo com a PF, Bolsonaro e os demais alvos da Operação Tempus Veritatis estavam cientes dos ilícitos cometidos e tentavam se precaver de “eventual persecução penal”. As suspeitas da PF vão ao encontro do que o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) havia constatado em um relatório de julho de 2023. Na ocasião, o órgão identificou uma transação bancária “atípica” do tenente-coronel Mauro Cesar Barbosa Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.
Em janeiro de 2023, Cid enviou mais de R$ 300 mil do Brasil para os Estados Unidos, em transferência que, segundo o Coaf, poderia indicar “tentativa de burla fiscal ou ocultação de patrimônio”. Os mandados de busca e apreensão da Tempus Veritatis são desdobramentos de delação do tenente-coronel à Polícia Federal.