O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, está determinado a aprovar a PEC de autonomia financeira da autarquia antes que seu “café esfrie” - isto é, antes de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva indicar o próximo dirigente, que tomará posse em 2025. Nessa corrida contra o tempo, não há dia livre: no último domingo, 31, o presidente do BC foi a um jantar com o senador Irajá (PSD-TO) em Miami, Estados Unidos, onde passava o feriadão de Páscoa. No cardápio, a PEC de autonomia do BC.
Irajá é do PSD, partido que tem a maior bancada do Senado, e correligionário do senador Vanderlan Cardoso (GO), autor da PEC e aliado de Campos Neto no Congresso. Procurados, Irajá e Campos Neto não comentaram.
Como revelou a Coluna do Estadão em janeiro, o presidente do Banco Central passou a negociar a autonomia financeira da entidade à revelia do governo federal, e contratou uma nova crise com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Aliados de Campos Neto no Congresso afirmam que o ideal seria a PEC de autonomia financeira do Banco Central ser aprovada ainda neste semestre. Existe uma preocupação com o calendário eleitoral, que deve dificultar o andamento das pautas em Brasília a partir de agosto. Além disso, o temor é que Campos Neto fique menos influente nas negociações quando Lula indicar o próximo presidente da autoridade monetária.
O favorito para o posto, neste momento, é o diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo. Ex-secretário executivo de Haddad na Fazenda, o economista tem acesso direto a Lula e circula com facilidade em redutos petistas. Ele esteve, por exemplo, no aniversário do ex-presidente do PT José Dirceu.
A autonomia do BC em três dimensões — operacional, administrativa e financeira — era uma bandeira de Roberto Campos. Seu neto, o atual presidente da autarquia, não quer deixar o cargo em dezembro sem transformar ver o sonho do avô se concretizar.