A acirrada disputa política em Alagoas foi o que motivou o senador Rodrigo Cunha (Podemos-AL) a fazer um movimento arriscado: quebrar um acordo firmado entre Câmara e Palácio do Planalto, e retirar do projeto de lei do Mover, um programa voltado à indústria automotiva, a “taxação das blusinhas”. A decisão do relator surpreendeu o mundo político e subiu a temperatura das negociações em Brasília e até no Vaticano, onde está o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Na semana passada, a Câmara aprovou o Mover com a inclusão do trecho que cria uma taxa de 20% sobre compras internacionais até US$ 50. Pelo acordo, o Senado iria carimbar o texto, que tem apoio do empresariado brasileiro, e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não vetaria esse dispositivo, apesar de reconhecer o impacto negativo sobre a sua popularidade.
A Coluna do Estadão apurou que os ventos passaram a mudar na noite desta segunda-feira, 3. O prefeito de Maceió, João Henrique Caldas (PL), telefonou para o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e avisou que havia escolhido Rodrigo Cunha para vice nessas eleições municipais. Lira gostaria de indicar um aliado para a vaga, de olho na provável renúncia de JHC em 2026.
De quebra, o prefeito de Maceió afirmou a aliados, nas últimas horas, que pode disputar o Senado em 2026 — justamente a vaga pretendida por Lira. O rompimento foi inevitável. De um lado, ficou o presidente da Câmara, e com a pecha de apoiador da criação de um novo imposto. De outro, JHC e Cunha, que vai usar a imagem de “defensor das blusinhas” no processo eleitoral. Até então, os três estavam alinhados para rivalizar com o clã Calheiros em Alagoas.
Com a costura política, Cunha deve renunciar seu mandato ao Senado e deixar a vaga para sua suplente, Eudócia Caldas, mãe de JHC. Ou seja, o prefeito ganha uma cadeira familiar no Senado, tira o relator do Mover de uma possível candidatura à reeleição, e ainda deixa no colo de Lira (seu possível rival em 2026) o ônus da taxação, uma pauta impopular.
O líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), tentou convencer Rodrigo Cunha a recuar e manter a taxação das blusinhas no seu parecer. Mas nada feito: o texto vai à votação nesta quarta-feira, sem acordo.