O entorno do presidente Luiz Inácio Lula da Silva torce o nariz para trabalhar com setores da diplomacia ligados à direita. Segundo relatos feitos à Coluna, ao menos dois embaixadores são mal vistos pelo governo e foram escanteados: Orlando Leite, da Espanha, e Frederico Arruda, do Reino Unido.
O primeiro foi indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro e o segundo, pelo ex-presidente Michel Temer, chamado de “golpista” pelo PT. A desconfiança de Lula com figuras à direita foi uma tônica no início do governo, sobretudo na formação da equipe no Brasil, e adquire dimensões internacionais.
O Palácio do Planalto chegou a boicotar a participação de Leite na reunião de Lula com o presidente espanhol, Pedro Sánchez, durante a visita da delegação brasileira à Espanha, uma praxe na diplomacia, que ocorreu em abril. Oficialmente, o discurso é que não havia espaço na reunião para ele. Nos bastidores, a ausência é atribuída ao fato de que Leite foi indicado ao cargo por Jair Bolsonaro.
O embaixador na Espanha é diplomata de carreira e assumiu o posto em abril de 2022. Logo antes disso, porém, estava lotado no governo Bolsonaro: foi secretário de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Não há, porém, qualquer sinalização de que ele poderia deixar o cargo neste momento - até para blindar o Itamaraty de acusações de “caça às bruxas”, algo indesejado pelo governo Lula.
Para além de Orlando Leite, o embaixador no Reino Unido, Frederico Arruda, é outro mal visto pela proximidade com a direita. No ano passado, Arruda gravou vídeo ao lado do pastor evangélico Silas Malafaia e afirmou que a presença do líder religioso conservador no Reino Unido, para o funeral da rainha Elizabeth II, era uma “honra”.
Apesar da desconfiança, o caso do embaixador em solo britânico preocupa menos. Isso porque ele já está de malas prontas: será transferido para a representação brasileira na Austrália, considerada de menor destaque, e dará lugar a Antonio Patriota - ex-chanceler no governo Dilma Rousseff já aprovado pelo Senado para assumir a embaixada em Londres.
Consegue fugir da desconfiança do governo o ex-chanceler de Bolsonaro Carlos França. Como mostrou a Coluna, ele avançou casas para assumir a embaixada do Brasil no Canadá após conversar com o chefe da assessoria especial da Presidência, Celso Amorim.