O governo Lula elevou o tom contra as ações de Nicolás Maduro, após a ordem de prisão de Edmundo González, mas é o próprio ditador da Venezuela que guiará os próximos passos brasileiros. Interlocutores do Itamaraty ressaltaram, à Coluna do Estadão, que a manutenção das relações com o país vizinho não depende só da decisão brasileira. Maduro não tem reagido bem às críticas, tendendo a promover rupturas.
Fato é que o governo Lula amarrou as próprias mãos, na avaliação de especialistas. “A eleição na Venezuela foi uma farsa e o Brasil passou da condição de fiador de um acordo (de Barbados) para a de responsável. É difícil retroceder. Lula e Celso Amorim (assessor especial da Presidência) pensavam ter controle da situação. Os fatos provam que não tinham”, diz Leonardo Trevisan, professor de Relações Internacionais da ESPM.
Além da participação direta no Acordo de Barbados, Trevisan considera que o governo Lula “avançou todos os limites” ao enviar Amorim para acompanhar presencialmente o pleito, num momento tenso em que representantes de outros países não puderam entrar.
Para Rubens Barbosa, presidente do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Irice) e ex-embaixador do Brasil em Washington e em Londres, o governo Lula também erra na nota divulgada juntamente com a Colômbia, nesta terça-feira, 3. “Lula não deveria fazer qualquer comentário sobre a ordem de prisão do González. Apenas manifestar preocupação com a deterioração da democracia e dos direitos humanos na Venezuela”, afirmou à Coluna.
Na nota conjunta, os governos do Brasil e da Colômbia expressaram “profunda preocupação” com a ordem de prisão emitida pela Justiça venezuelana, alinhada ao chavismo, contra o candidato opositor Edmundo González. O texto diz que a medida judicial “afeta gravemente os compromissos assumidos pelo governo venezuelano no âmbito dos Acordos de Barbados” e que “dificulta, ademais, a busca por solução pacífica, com base no diálogo entre as principais forças políticas venezuelanas”.