A visita do presidente da Argentina, Javier Milei, ao Brasil é observada com serenidade no Itamaraty. A diplomacia brasileira avalia dois cenários em relação aos discursos. Se o argentino seguir o modo adotado na viagem que fez aos Estados Unidos, com tom elevado contra a esquerda — “nada fora de sua curva”, observam internamente — não há risco de mal-estar diplomático. Outra possibilidade é ele partir para ataques pessoais, como fez na visita à Espanha, gerando uma crise entre os dois países após ignorar o premiê socialista Pedro Sánchez e acusar a primeira-dama de corrupção. “Não se vai à casa de alguém para xingar o dono. Isso é grave”, compara um diplomata ouvido pela Coluna do Estadão.
Seja qual for o viés adotado, a orientação é não deixar o governo Luiz Inácio Lula da Silva ser pautado pelo presidente argentino. Prevalece no Itamaraty o entendimento de que, se for necessário responder Milei, serão avaliados o tempo e o tom adequados, para não “entrar na pilha”, tampouco “errar na mão”. Então seria manifestação única e firme.
A vinda de Milei ao Brasil sem qualquer referência ao presidente Lula já foi interpretada como provocação. O chefe de Estado de um país pisar em solo estrangeiro e ignorar o governante no poder costuma ser visto no mínimo como descortesia.
O clima fica ainda mais desconfortável porque ocorre na esteira de mais um embate entre os presidentes argentino e brasileiro, e porque a viagem de Milei a Santa Catarina para participar do CPAC (Conservative Political Action Conference), uma cúpula de políticos de direita, inclui encontro com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL-RJ). A organização do evento é do Instituto Conservador Liberal, presidido no Brasil pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP).
A Embaixada da Argentina só comunicou a viagem formalmente ao Itamaraty no início da tarde da quinta-feira, 04.