O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem hábitos que cultiva desde o primeiro mandato. Embora tudo hoje em dia seja digital, Lula trabalha no modo analógico. Ministros já sabem que, para despachar com ele, precisam levar tudo impresso. Ao contrário da ex-presidente Dilma Rousseff, que acompanhava tudo pelo computador, Lula gosta mesmo é da papelada.
Tanto é assim que ele embarcou para a viagem de fim de ano à Restinga da Marambaia, no Rio, com relatórios das ações dos 38 ministérios em 2023. Prometeu ler tudo durante o recesso.
Embora Lula prefira o papel, seus auxiliares têm toda a memória do governo no computador. Comandada pela arquiteta e ex-deputada Clara Ant, a Assessoria Especial de Apoio ao Processo Decisório do gabinete presidencial acompanha todos as reuniões e ordens do mandatário.
Autora do livro Quatro Décadas com Lula, Ant já havia exercido a função nos dois primeiros mandatos do petista, de 2003 a 2010.
“É uma metodologia interessante porque, se o presidente der um comando para um ministro que não está numa reunião, por exemplo, pode ter certeza de que esse comando chegará ao destinatário. Tudo vai para um indexador”, afirmou um auxiliar de Lula, sob reserva.
Quem faz o “filtro” das ligações é o chefe de gabinete
Telefones celulares são proibidos nas reuniões com o presidente, tanto no Palácio do Planalto como no Alvorada. Se há uma coisa que irrita o chefe do Executivo é ver alguém mexendo no aparelho durante a conversa.
“Tem gente que fica refém do celular, que acha que o mundo não pode prescindir dele 30 segundos”, criticou Lula em dezembro, no último programa Conversa com o Presidente de 2023.
Como se sabe, o petista não carrega celular: quem faz o “filtro” das ligações é sempre o chefe de gabinete, Marco Aurélio Santana Ribeiro, o Marcola.
Além disso, o presidente também não toma decisões de forma rápida, haja vista a demora para nomear e demitir ministros. As indicações do titular da Justiça, Flávio Dino, para o Supremo Tribunal Federal (STF) e de Paulo Gonet para a Procuradoria-Geral da República (PGR) demoraram meses. E até hoje não está definido quem ocupará a cadeira de Dino na Justiça.
“Eu não gosto de coisa precipitada”, avisa Lula, que diz ter mania de contar até dez e tomar um copo d’água ao primeiro sinal de que vai “explodir”. Nem sempre, porém, dá certo.