Roseann Kennedy traz os bastidores da política e da economia, com Eduardo Gayer e Augusto Tenório

Lupi: Não vejo possibilidade de Lula desvincular reajuste do INSS do salário mínimo


Em entrevista à Coluna/Broadcast, ministro da Previdência também criticou a proposta sobre desoneração da folha dos municípios

Por Roseann Kennedy e Giordanna Neves

O ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, disse que não enxerga possibilidade de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva acatar a proposta de desvincular alguns benefícios previdenciários da política de reajuste do salário mínimo. A ideia foi levantada pela ministra do Planejamento, Simone Tebet, como parte da agenda de redução de despesas da União. Em entrevista à Coluna do Estadão/Broadcast, Lupi reforçou ser “radicalmente contra” essa medida.

“Eu acho que isso não passa sem me ouvir. Eu sou ainda ministro da Previdência. E não vejo possibilidade nenhuma de o presidente Lula, que eu conheço há 40 anos, fazer isso. Você acha que há possibilidade de um homem com a história e origem que Lula tem dizer ao trabalhador (isso)?”, afirmou o ministro.

Lupi avaliou que a alteração na correção dos benefícios afetaria, principalmente, a população mais frágil da sociedade e cobrou que a revisão de gastos recaia sobre outros grupos, como empresas, militares e Poder Judiciário.

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Em relação à agenda de revisão de gastos do INSS, o ministro explicou que a redução da fila de pedidos de benefícios vai gerar um aumento de despesas até setembro, já que novos beneficiários ingressarão no sistema. Segundo ele, a estimativa é de que a partir deste período a fila se estabilize e essa elevação de gastos deixe de crescer de forma vertiginosa, já que será eliminado o dispêndio da União com o atraso nos pagamentos.

Carlos Lupi também criticou a proposta sobre desoneração da folha dos municípios, que vem sendo negociada entre Congresso, prefeitos e Ministério da Fazenda. Ele considera que a aprovação da medida servirá de incentivo para prefeituras que estão hoje no regime próprio migrarem para o INSS, o que trará impactos às contas da Previdência.

Ministro da Previdência Social, Carlos Lupi (PDT)  Foto: WILTON JUNIOR/ESTADÃO
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Veja abaixo os principais trechos da entrevista:

A ministra Simone Tebet disse em entrevista ao Broadcast que planeja entregar ao governo até o fim de 2025 o plano de desvincular alguns benefícios do salário mínimo, como seguro-desemprego, BPC, abono salarial? O que o senhor acha dessa proposta?

Eu sou radicalmente contra isso. Primeiro porque é lei, segundo porque é compromisso de campanha do presidente Lula. Terceiro, é a parte mais vulnerável da sociedade. Ela (Tebet) me disse que não falou especificamente de retirar nada, apenas disse que uma das coisas que agrava a situação da Previdência é o aumento real do salário mínimo.

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Mas ela disse que não estaria nos planos alterar essa regra?

Nem tem como. Hoje, segundo o IBGE, 83,4% dessa população com mais de 60 anos recebem algum benefício previdenciário, sendo que 64% recebem valor igual ao salário mínimo. Ou seja, isso vai mexer com a parte mais vulnerável, mais frágil da sociedade no seu pior momento. Nem todo mundo tem filho que garanta a sua sobrevivência.

Sem chances de isso avançar então?

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Eu acho que isso não passa sem me ouvir. Eu sou ainda ministro da Previdência. Não vejo possibilidade nenhuma de o presidente Lula, que eu conheço há 40 anos, fazer isso. Você acha que há possibilidade de um homem com a história e origem que Lula tem dizer ao trabalhador (isso)? Nem me preocupo com isso, apenas afirmo o princípio que acredito.

Mas a tendência apontada por técnicos é de que os gastos com Previdência vão acabar comprimindo as despesas discricionárias. Isso não vai deixar o governo sem nenhuma margem para fazer política pública?

E não é uma política amparar sua população? Você tem hoje quase 40 milhões de beneficiários da Previdência. Não é política pública proteger 40 milhões de cidadãos? Eu estou falando de 20% da população. É mais importante botar o poste de luz ou botar comida? Botar o asfalto ou botar comida? Se quer discutir malversação do dinheiro, vamos discutir as obras paradas. Vamos discutir as isenções fiscais. É justo se dar isenção para grandes grupos econômicos da contribuição previdenciária e depois cobrar que a Previdência não tem recurso? Qual é o déficit do setor militar? Vamos discutir o Poder Judiciário? Por que é só o INSS?

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Como está a agenda de revisão de despesas do INSS?

Ou você acaba com a fila (de pedidos de benefícios), e para acabar com a fila tem que aumentar despesa, você tem que pagar mais gente. Se eu tinha uma fila e estou atendendo quem está nessa fila, se estou pagando (mais)? Minha estimativa é que chegue em setembro e a fila esgote, aí vou entrar no (pagamento do) dia a dia. Esse crescimento por causa dos atrasados vai acabar.

Então vai ter um aumento de despesas com INSS até setembro?

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Até setembro vai aumentar (a despesa) e depois vou só manter o crescimento vegetativo da folha, de quem está entrando todo mês. Nós, resolvendo a fila, aumentamos o número de pessoas atendidas e aumentamos a despesa. Só que o aumento dessa despesa foi menor, porque fiz em tempo hábil, mais curto e pago em menos tempo (o que reduz o valor da correção em pagamentos retroativos).


O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou que deve haver algum acordo com as prefeituras envolvendo a proposta de desoneração da folha de salários. O senhor tem participado desse diálogo? O que o senhor defende?

A queixa que se tem é que a Previdência é deficitária. Como eu equilibro as contas dando sempre algum tipo de isenção ou diminuição do imposto? Sabe o que vai acontecer com essa proposta? Vão acabar com os fundos de previdência próprios e vão passar para o celetista (INSS). A tendência é que 70% desses municípios vão transferir todos (do regime próprio) para serem celetistas. Se vou pagar menos, para que vou ter fundo próprio? Isso significa um prejuízo muito grande para a Previdência. Acho muito mais salutar o refinanciamento da dívida do que a isenção.

O ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, disse que não enxerga possibilidade de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva acatar a proposta de desvincular alguns benefícios previdenciários da política de reajuste do salário mínimo. A ideia foi levantada pela ministra do Planejamento, Simone Tebet, como parte da agenda de redução de despesas da União. Em entrevista à Coluna do Estadão/Broadcast, Lupi reforçou ser “radicalmente contra” essa medida.

“Eu acho que isso não passa sem me ouvir. Eu sou ainda ministro da Previdência. E não vejo possibilidade nenhuma de o presidente Lula, que eu conheço há 40 anos, fazer isso. Você acha que há possibilidade de um homem com a história e origem que Lula tem dizer ao trabalhador (isso)?”, afirmou o ministro.

Lupi avaliou que a alteração na correção dos benefícios afetaria, principalmente, a população mais frágil da sociedade e cobrou que a revisão de gastos recaia sobre outros grupos, como empresas, militares e Poder Judiciário.

Em relação à agenda de revisão de gastos do INSS, o ministro explicou que a redução da fila de pedidos de benefícios vai gerar um aumento de despesas até setembro, já que novos beneficiários ingressarão no sistema. Segundo ele, a estimativa é de que a partir deste período a fila se estabilize e essa elevação de gastos deixe de crescer de forma vertiginosa, já que será eliminado o dispêndio da União com o atraso nos pagamentos.

Carlos Lupi também criticou a proposta sobre desoneração da folha dos municípios, que vem sendo negociada entre Congresso, prefeitos e Ministério da Fazenda. Ele considera que a aprovação da medida servirá de incentivo para prefeituras que estão hoje no regime próprio migrarem para o INSS, o que trará impactos às contas da Previdência.

Ministro da Previdência Social, Carlos Lupi (PDT)  Foto: WILTON JUNIOR/ESTADÃO

Veja abaixo os principais trechos da entrevista:

A ministra Simone Tebet disse em entrevista ao Broadcast que planeja entregar ao governo até o fim de 2025 o plano de desvincular alguns benefícios do salário mínimo, como seguro-desemprego, BPC, abono salarial? O que o senhor acha dessa proposta?

Eu sou radicalmente contra isso. Primeiro porque é lei, segundo porque é compromisso de campanha do presidente Lula. Terceiro, é a parte mais vulnerável da sociedade. Ela (Tebet) me disse que não falou especificamente de retirar nada, apenas disse que uma das coisas que agrava a situação da Previdência é o aumento real do salário mínimo.

Mas ela disse que não estaria nos planos alterar essa regra?

Nem tem como. Hoje, segundo o IBGE, 83,4% dessa população com mais de 60 anos recebem algum benefício previdenciário, sendo que 64% recebem valor igual ao salário mínimo. Ou seja, isso vai mexer com a parte mais vulnerável, mais frágil da sociedade no seu pior momento. Nem todo mundo tem filho que garanta a sua sobrevivência.

Sem chances de isso avançar então?

Eu acho que isso não passa sem me ouvir. Eu sou ainda ministro da Previdência. Não vejo possibilidade nenhuma de o presidente Lula, que eu conheço há 40 anos, fazer isso. Você acha que há possibilidade de um homem com a história e origem que Lula tem dizer ao trabalhador (isso)? Nem me preocupo com isso, apenas afirmo o princípio que acredito.

Mas a tendência apontada por técnicos é de que os gastos com Previdência vão acabar comprimindo as despesas discricionárias. Isso não vai deixar o governo sem nenhuma margem para fazer política pública?

E não é uma política amparar sua população? Você tem hoje quase 40 milhões de beneficiários da Previdência. Não é política pública proteger 40 milhões de cidadãos? Eu estou falando de 20% da população. É mais importante botar o poste de luz ou botar comida? Botar o asfalto ou botar comida? Se quer discutir malversação do dinheiro, vamos discutir as obras paradas. Vamos discutir as isenções fiscais. É justo se dar isenção para grandes grupos econômicos da contribuição previdenciária e depois cobrar que a Previdência não tem recurso? Qual é o déficit do setor militar? Vamos discutir o Poder Judiciário? Por que é só o INSS?

Como está a agenda de revisão de despesas do INSS?

Ou você acaba com a fila (de pedidos de benefícios), e para acabar com a fila tem que aumentar despesa, você tem que pagar mais gente. Se eu tinha uma fila e estou atendendo quem está nessa fila, se estou pagando (mais)? Minha estimativa é que chegue em setembro e a fila esgote, aí vou entrar no (pagamento do) dia a dia. Esse crescimento por causa dos atrasados vai acabar.

Então vai ter um aumento de despesas com INSS até setembro?

Até setembro vai aumentar (a despesa) e depois vou só manter o crescimento vegetativo da folha, de quem está entrando todo mês. Nós, resolvendo a fila, aumentamos o número de pessoas atendidas e aumentamos a despesa. Só que o aumento dessa despesa foi menor, porque fiz em tempo hábil, mais curto e pago em menos tempo (o que reduz o valor da correção em pagamentos retroativos).


O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou que deve haver algum acordo com as prefeituras envolvendo a proposta de desoneração da folha de salários. O senhor tem participado desse diálogo? O que o senhor defende?

A queixa que se tem é que a Previdência é deficitária. Como eu equilibro as contas dando sempre algum tipo de isenção ou diminuição do imposto? Sabe o que vai acontecer com essa proposta? Vão acabar com os fundos de previdência próprios e vão passar para o celetista (INSS). A tendência é que 70% desses municípios vão transferir todos (do regime próprio) para serem celetistas. Se vou pagar menos, para que vou ter fundo próprio? Isso significa um prejuízo muito grande para a Previdência. Acho muito mais salutar o refinanciamento da dívida do que a isenção.

O ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, disse que não enxerga possibilidade de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva acatar a proposta de desvincular alguns benefícios previdenciários da política de reajuste do salário mínimo. A ideia foi levantada pela ministra do Planejamento, Simone Tebet, como parte da agenda de redução de despesas da União. Em entrevista à Coluna do Estadão/Broadcast, Lupi reforçou ser “radicalmente contra” essa medida.

“Eu acho que isso não passa sem me ouvir. Eu sou ainda ministro da Previdência. E não vejo possibilidade nenhuma de o presidente Lula, que eu conheço há 40 anos, fazer isso. Você acha que há possibilidade de um homem com a história e origem que Lula tem dizer ao trabalhador (isso)?”, afirmou o ministro.

Lupi avaliou que a alteração na correção dos benefícios afetaria, principalmente, a população mais frágil da sociedade e cobrou que a revisão de gastos recaia sobre outros grupos, como empresas, militares e Poder Judiciário.

Em relação à agenda de revisão de gastos do INSS, o ministro explicou que a redução da fila de pedidos de benefícios vai gerar um aumento de despesas até setembro, já que novos beneficiários ingressarão no sistema. Segundo ele, a estimativa é de que a partir deste período a fila se estabilize e essa elevação de gastos deixe de crescer de forma vertiginosa, já que será eliminado o dispêndio da União com o atraso nos pagamentos.

Carlos Lupi também criticou a proposta sobre desoneração da folha dos municípios, que vem sendo negociada entre Congresso, prefeitos e Ministério da Fazenda. Ele considera que a aprovação da medida servirá de incentivo para prefeituras que estão hoje no regime próprio migrarem para o INSS, o que trará impactos às contas da Previdência.

Ministro da Previdência Social, Carlos Lupi (PDT)  Foto: WILTON JUNIOR/ESTADÃO

Veja abaixo os principais trechos da entrevista:

A ministra Simone Tebet disse em entrevista ao Broadcast que planeja entregar ao governo até o fim de 2025 o plano de desvincular alguns benefícios do salário mínimo, como seguro-desemprego, BPC, abono salarial? O que o senhor acha dessa proposta?

Eu sou radicalmente contra isso. Primeiro porque é lei, segundo porque é compromisso de campanha do presidente Lula. Terceiro, é a parte mais vulnerável da sociedade. Ela (Tebet) me disse que não falou especificamente de retirar nada, apenas disse que uma das coisas que agrava a situação da Previdência é o aumento real do salário mínimo.

Mas ela disse que não estaria nos planos alterar essa regra?

Nem tem como. Hoje, segundo o IBGE, 83,4% dessa população com mais de 60 anos recebem algum benefício previdenciário, sendo que 64% recebem valor igual ao salário mínimo. Ou seja, isso vai mexer com a parte mais vulnerável, mais frágil da sociedade no seu pior momento. Nem todo mundo tem filho que garanta a sua sobrevivência.

Sem chances de isso avançar então?

Eu acho que isso não passa sem me ouvir. Eu sou ainda ministro da Previdência. Não vejo possibilidade nenhuma de o presidente Lula, que eu conheço há 40 anos, fazer isso. Você acha que há possibilidade de um homem com a história e origem que Lula tem dizer ao trabalhador (isso)? Nem me preocupo com isso, apenas afirmo o princípio que acredito.

Mas a tendência apontada por técnicos é de que os gastos com Previdência vão acabar comprimindo as despesas discricionárias. Isso não vai deixar o governo sem nenhuma margem para fazer política pública?

E não é uma política amparar sua população? Você tem hoje quase 40 milhões de beneficiários da Previdência. Não é política pública proteger 40 milhões de cidadãos? Eu estou falando de 20% da população. É mais importante botar o poste de luz ou botar comida? Botar o asfalto ou botar comida? Se quer discutir malversação do dinheiro, vamos discutir as obras paradas. Vamos discutir as isenções fiscais. É justo se dar isenção para grandes grupos econômicos da contribuição previdenciária e depois cobrar que a Previdência não tem recurso? Qual é o déficit do setor militar? Vamos discutir o Poder Judiciário? Por que é só o INSS?

Como está a agenda de revisão de despesas do INSS?

Ou você acaba com a fila (de pedidos de benefícios), e para acabar com a fila tem que aumentar despesa, você tem que pagar mais gente. Se eu tinha uma fila e estou atendendo quem está nessa fila, se estou pagando (mais)? Minha estimativa é que chegue em setembro e a fila esgote, aí vou entrar no (pagamento do) dia a dia. Esse crescimento por causa dos atrasados vai acabar.

Então vai ter um aumento de despesas com INSS até setembro?

Até setembro vai aumentar (a despesa) e depois vou só manter o crescimento vegetativo da folha, de quem está entrando todo mês. Nós, resolvendo a fila, aumentamos o número de pessoas atendidas e aumentamos a despesa. Só que o aumento dessa despesa foi menor, porque fiz em tempo hábil, mais curto e pago em menos tempo (o que reduz o valor da correção em pagamentos retroativos).


O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou que deve haver algum acordo com as prefeituras envolvendo a proposta de desoneração da folha de salários. O senhor tem participado desse diálogo? O que o senhor defende?

A queixa que se tem é que a Previdência é deficitária. Como eu equilibro as contas dando sempre algum tipo de isenção ou diminuição do imposto? Sabe o que vai acontecer com essa proposta? Vão acabar com os fundos de previdência próprios e vão passar para o celetista (INSS). A tendência é que 70% desses municípios vão transferir todos (do regime próprio) para serem celetistas. Se vou pagar menos, para que vou ter fundo próprio? Isso significa um prejuízo muito grande para a Previdência. Acho muito mais salutar o refinanciamento da dívida do que a isenção.

O ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, disse que não enxerga possibilidade de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva acatar a proposta de desvincular alguns benefícios previdenciários da política de reajuste do salário mínimo. A ideia foi levantada pela ministra do Planejamento, Simone Tebet, como parte da agenda de redução de despesas da União. Em entrevista à Coluna do Estadão/Broadcast, Lupi reforçou ser “radicalmente contra” essa medida.

“Eu acho que isso não passa sem me ouvir. Eu sou ainda ministro da Previdência. E não vejo possibilidade nenhuma de o presidente Lula, que eu conheço há 40 anos, fazer isso. Você acha que há possibilidade de um homem com a história e origem que Lula tem dizer ao trabalhador (isso)?”, afirmou o ministro.

Lupi avaliou que a alteração na correção dos benefícios afetaria, principalmente, a população mais frágil da sociedade e cobrou que a revisão de gastos recaia sobre outros grupos, como empresas, militares e Poder Judiciário.

Em relação à agenda de revisão de gastos do INSS, o ministro explicou que a redução da fila de pedidos de benefícios vai gerar um aumento de despesas até setembro, já que novos beneficiários ingressarão no sistema. Segundo ele, a estimativa é de que a partir deste período a fila se estabilize e essa elevação de gastos deixe de crescer de forma vertiginosa, já que será eliminado o dispêndio da União com o atraso nos pagamentos.

Carlos Lupi também criticou a proposta sobre desoneração da folha dos municípios, que vem sendo negociada entre Congresso, prefeitos e Ministério da Fazenda. Ele considera que a aprovação da medida servirá de incentivo para prefeituras que estão hoje no regime próprio migrarem para o INSS, o que trará impactos às contas da Previdência.

Ministro da Previdência Social, Carlos Lupi (PDT)  Foto: WILTON JUNIOR/ESTADÃO

Veja abaixo os principais trechos da entrevista:

A ministra Simone Tebet disse em entrevista ao Broadcast que planeja entregar ao governo até o fim de 2025 o plano de desvincular alguns benefícios do salário mínimo, como seguro-desemprego, BPC, abono salarial? O que o senhor acha dessa proposta?

Eu sou radicalmente contra isso. Primeiro porque é lei, segundo porque é compromisso de campanha do presidente Lula. Terceiro, é a parte mais vulnerável da sociedade. Ela (Tebet) me disse que não falou especificamente de retirar nada, apenas disse que uma das coisas que agrava a situação da Previdência é o aumento real do salário mínimo.

Mas ela disse que não estaria nos planos alterar essa regra?

Nem tem como. Hoje, segundo o IBGE, 83,4% dessa população com mais de 60 anos recebem algum benefício previdenciário, sendo que 64% recebem valor igual ao salário mínimo. Ou seja, isso vai mexer com a parte mais vulnerável, mais frágil da sociedade no seu pior momento. Nem todo mundo tem filho que garanta a sua sobrevivência.

Sem chances de isso avançar então?

Eu acho que isso não passa sem me ouvir. Eu sou ainda ministro da Previdência. Não vejo possibilidade nenhuma de o presidente Lula, que eu conheço há 40 anos, fazer isso. Você acha que há possibilidade de um homem com a história e origem que Lula tem dizer ao trabalhador (isso)? Nem me preocupo com isso, apenas afirmo o princípio que acredito.

Mas a tendência apontada por técnicos é de que os gastos com Previdência vão acabar comprimindo as despesas discricionárias. Isso não vai deixar o governo sem nenhuma margem para fazer política pública?

E não é uma política amparar sua população? Você tem hoje quase 40 milhões de beneficiários da Previdência. Não é política pública proteger 40 milhões de cidadãos? Eu estou falando de 20% da população. É mais importante botar o poste de luz ou botar comida? Botar o asfalto ou botar comida? Se quer discutir malversação do dinheiro, vamos discutir as obras paradas. Vamos discutir as isenções fiscais. É justo se dar isenção para grandes grupos econômicos da contribuição previdenciária e depois cobrar que a Previdência não tem recurso? Qual é o déficit do setor militar? Vamos discutir o Poder Judiciário? Por que é só o INSS?

Como está a agenda de revisão de despesas do INSS?

Ou você acaba com a fila (de pedidos de benefícios), e para acabar com a fila tem que aumentar despesa, você tem que pagar mais gente. Se eu tinha uma fila e estou atendendo quem está nessa fila, se estou pagando (mais)? Minha estimativa é que chegue em setembro e a fila esgote, aí vou entrar no (pagamento do) dia a dia. Esse crescimento por causa dos atrasados vai acabar.

Então vai ter um aumento de despesas com INSS até setembro?

Até setembro vai aumentar (a despesa) e depois vou só manter o crescimento vegetativo da folha, de quem está entrando todo mês. Nós, resolvendo a fila, aumentamos o número de pessoas atendidas e aumentamos a despesa. Só que o aumento dessa despesa foi menor, porque fiz em tempo hábil, mais curto e pago em menos tempo (o que reduz o valor da correção em pagamentos retroativos).


O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou que deve haver algum acordo com as prefeituras envolvendo a proposta de desoneração da folha de salários. O senhor tem participado desse diálogo? O que o senhor defende?

A queixa que se tem é que a Previdência é deficitária. Como eu equilibro as contas dando sempre algum tipo de isenção ou diminuição do imposto? Sabe o que vai acontecer com essa proposta? Vão acabar com os fundos de previdência próprios e vão passar para o celetista (INSS). A tendência é que 70% desses municípios vão transferir todos (do regime próprio) para serem celetistas. Se vou pagar menos, para que vou ter fundo próprio? Isso significa um prejuízo muito grande para a Previdência. Acho muito mais salutar o refinanciamento da dívida do que a isenção.

Entrevista por Roseann Kennedy

Roseann Kennedy é jornalista pós-graduada em Ciência Política e Economia. Há mais de 20 anos em Brasília, cobre as relações entre os poderes e os bastidores da política. Foi colunista política na CBN e Globo News, editora-chefe e âncora no SBT e SBT News. Pernambucana, torcedora do Náutico, mas também apaixonada pelo Palmeiras.

Giordanna Neves

Repórter do Broadcast, serviço de notícias em tempo real do Grupo Estado. Formada pela UFJF, com extensão em economia pela FGV. Mestranda em Economia pelo IDP. Em Brasília desde 2023, escrevi sobre Congresso Nacional. Atualmente, atuo na cobertura econômica. Em SP, cobri a campanha presidencial de Lula. Vencedora do 9º Prêmio Sebrae de Jornalismo.

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