O presidente do Instituto Locomotiva e fundador do Data Favela, Renato Meirelles, reagiu à declaração do ex-coach Pablo Marçal (PRTB), que chamou as favelas de campos de concentração. Para Meirelles, o preconceito e o desconhecimento embutidos na afirmação reforçam a violência contra os moradores dessas comunidades.
“Falas como essas, além de mostrar um enorme desconhecimento da realidade da periferia, aumentam o estigma sobre os moradores de favela, tratando-os como problema. São falas que, por exemplo, encorajam a polícia a tratar os moradores como cidadãos de segunda classe”, disse à Coluna do Estadão.
Durante o primeiro debate dos candidatos à Prefeitura de São Paulo neste ano, o postulante do PRTB, fez vários ataques aos adversários. E num dos momentos terminou ofendendo, também, os moradores de favela. “Vamos mudar esta cidade. Vamos parar de desviar dinheiro público. Vamos atender as pessoas como elas merecem. Vamos tirar vocês desses campos de concentração que muitos romantizam como favela”, afirmou Marçal.
O Instituto Locomotiva tem diversos projetos e estudos sobre essas comunidades. Uma das pesquisas do Data Favela aponta que 63% dos moradores de favelas já sofreram ou conhecem alguém que sofreu preconceito pelo local onde moram.
Meirelles destaca que as fake news corroboram com esse cenário, pois desinformam e reforçam preconceitos. Para 86% dos moradores das periferias, a disseminação desses conteúdos é um problema muito grave. Entre os principais riscos percebidos pelas populações da periferia estão: Eleger maus políticos por conta de notícias falsas (25%), ferir a reputação de alguém por conta de notícias falsas (23%) e causar medo na população sobre sua segurança (15%).
”Sabemos o quanto as favelas são frequentemente associadas à violência, à pobreza, ao tráfico. A maioria dos moradores de favelas vivenciam cotidianamente situações de preconceito e discriminação decorrentes desses olhares estereotipados sobre o território. Reforçando a percepção de carência e, consequentemente, apagando as potências que a favela tem. Vive-se uma epidemia de desinformação que aumenta o estigma e atrasa o desenvolvimento econômico de periferias e favelas brasileiras”, concluiu.