Considerado um dos pais do Bolsa Família, o economista Ricardo Paes de Barros entende que o programa, na configuração atual, deixa a desejar no quesito renda e oportunidade para quem mais precisa. “Não temos hoje o melhor desenho do Bolsa Família”, avaliou ele, em entrevista à Coluna.
Paes de Barros disse, porém, que o governo Lula acerta ao ampliar o orçamento de política social e tentar melhorar o cadastro único. Para o professor do Insper, a falta de uma “modulação” no pagamento do benefício, de acordo com a renda das famílias, ainda atrapalha a iniciativa, que foi lançada em 2003, na primeira gestão de Luiz Inácio Lula da Silva.
”O CadÚnico piorou na gestão anterior e está desatualizado. É um grave problema porque isso é fundamental para dar o benefício a quem realmente precisa”, argumentou Paes de Barros. “O ministro atual (Wellington Dias, do Desenvolvimento Social) tem feito um esforço enorme para melhorar a qualidade do cadastro, o que é bem-vindo.”
Na avaliação do economista, o pagamento de R$ 600 pela regra atual, que contempla somente famílias com renda per capita de até R$ 218 mensais, não é o melhor modelo a ser seguido. Paes de Barros sugere que o valor do benefício seja aumentado ou reduzido conforme a renda individual de cada família.
“A focalização deveria funcionar da mesma maneira que os impostos. Precisa ser gradual. Evita-se quinas, as mudanças ficam suaves. Seria estabelecer uma rampa: ao invés de uma linha de corte para a família parar de receber, essa família, à medida que fica menos pobre, passa a receber menos. Mas não é deixar de receber, (assim) do nada”, afirmou o professor.
Recentemente, o deputado estadual Eduardo Suplicy (PT-SP) apresentou ao governo Lula uma proposta para discutir a transição do Bolsa Família para a Renda Básica de Cidadania.
A ideia foi rechaçada por Paes de Barros. “Por que transferir renda para quem não é pobre? Não tem como fazer um programa de cesta básica para quem não precisa de alimento”, criticou. “Para quê renda básica para quem já tem muito dinheiro? A justificativa para se fazer universal seria se não soubéssemos quem são os pobres. Só se dá remédio para quem tem doença.”