O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, começou a semana na condição de demissionário, mas chega a esta sexta-feira, 12, com a garantia de manutenção no cargo. Pelo menos por ora. Dois fatores pesaram para essa mudança no cenário: um econômico e outro político, envolvendo a atuação direta do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
Interlocutores alertam, contudo, que o cenário pode mudar diante do vácuo no Conselho de Administração da Petrobras. O presidente do colegiado, Pietro Mendes, foi afastado pela Justiça. Como revelou a Coluna do Estadão, o advogado Francisco Petros, representante dos acionistas minoritários no Conselho, articula a eleição de um presidente interino do colegiado. Se a estratégia der certo e um acionista privado assumir interinamente, o pêndulo pode voltar a pesar contra Prates. Ele não tem a confiança da ala política do governo para se manter na empresa com o Planalto sem o controle do Conselho.
Nesta semana, a atuação de Haddad foi fundamental para a sobrevida de Prates. O ministro ressaltou ao presidente Lula que a distribuição dos dividendos extraordinários da Petrobras não impactaria na capacidade da estatal de financiar seu plano de investimentos. Além disso, como o governo é acionista majoritário, a maior parte do recurso distribuído vai para o próprio cofre da União, ajudando para o cumprimento das metas de superávit.
O ministro da Fazenda também recebeu alertas de agentes econômicos, na última semana, sobre os riscos de a Petrobras perder mais valor de mercado se houvesse uma mudança no comando da estatal, da forma como vinha sendo desenhada.
O imbróglio sobre a presidência da Petrobras envolve uma disputa entre Prates e o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, em relação aos rumos da companhia, divisão de dividendos e desentendimentos sobre o projeto Combustível do Futuro, como revelado.
Silveira tem trânsito direto com Lula, enquanto Prates nem sequer conseguiu conversar com o presidente, tampouco tem previsão de agenda no Planalto. No entanto, o ministro também terminou perdendo força nos últimos dias por “esticar demais a corda”.
A leitura no ambiente político, entre seus aliados, foi de que, ao dobrar a aposta no confronto com Prates numa entrevista à Folha de S. Paulo e gerar desgastes consecutivos no mercado, Silveira começou a chamar para si um processo de fritura.
Foi então que entrou em cena o outro personagem: o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), aliado direto de Silveira. Pacheco foi procurado por líderes governistas do PT, PSD, PSB, MDB e União Brasil com o pedido para que intercedesse para frear a briga entre Silveira e Prates. Eles lembraram que Prates também foi senador, e seria vítima de disputas existentes dentro do governo que não dizem respeito à Petrobras. O presidente do Senado pediu para o ministro baixar a bola e dar tempo ao tempo.
Nesse interim, Lula e Silveira também conversaram. O ministro sugeriu a Lula “quatro mudanças de comportamento” para o dirigente da estatal se comprometer caso ganhe uma sobrevida do presidente.
Os quatro pontos sugeridos por Silveira a Lula foram os seguintes:
- Prates ser “menos subserviente ao mercado financeiro”;
- Prates defender as pautas de interesse do governo Lula no Conselho de Administração da Petrobras (o que, na visão do ministro de Minas e Energia, não acontece);
- Prates cumprir o plano de investimentos da Petrobras aprovado pelo presidente (para Silveira, a Petrobras “segura” avanços no refino e na oferta de gás e fertilizantes);
- Prates “deixar de sabotar” a pauta do biocombustível no Congresso (Prates é publicamente contrário ao texto em discussão).
A crise na Petrobras escalou na semana passada. Segundo auxiliares de Lula, ele considera substituir Jean Paul Prates na presidência da estatal e nomear, em seu lugar, o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante. Nesse desenho, o diretor de Planejamento do BNDES, o ex-ministro da Fazenda Nelson Barbosa, assumiria o banco de fomento, como antecipou a Coluna do Estadão.