Auxiliares palacianos manifestaram ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva uma profunda irritação com o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, após a opositora Corina Yoris não conseguir registrar sua candidatura nas eleições locais. A avaliação no governo é que o líder venezuelano quebrou o acordo com o Brasil de que promoveria uma disputa eleitoral limpa.
Um interlocutor de Lula lembrou à Coluna do Estadão que a defesa da ditadura venezuelana teve peso na perda de popularidade do presidente, indicada em ao menos três pesquisas. Para essa fonte, não há mais espaço nem político nem diplomático para relativizar os “abusos” de Maduro.
Como mostrou a Coluna do Estadão, Lula discutiu ainda ontem como fazer uma crítica pública a Maduro durante uma reunião com seu assessor para Assuntos Internacionais, Celso Amorim, e o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira. Horas após a publicação da reportagem, o Itamaraty emitiu um comunicado oficial dizendo que o impedimento de Corina “não é compatível com os acordos de Barbados”.
Na madrugada, a principal coligação de oposição do país vizinho informou que as autoridades eleitorais não permitiram o registro da candidatura de Corina Yoris, negando-lhe acesso ao sistema de inscrição. O prazo para fazê-lo acabou às 23h59 de segunda-feira, 25.
Corina Yoris foi escolhida como representante da oposição a Maduro após a Justiça venezuelana, controlada pelo chavismo, vetar a participação na disputa de María Corina, maior líder anti-bolivariana do País.
Lula tem um histórico de relativizações acerca da ditadura venezuelana. No início de março, questionado sobre o veto à participação de María Corina na disputa eleitoral, o presidente comparou o episódio à proibição imposta a ele de ser candidato à Presidência em 2018. “Eu fui impedido de concorrer às eleições de 2018. Ao invés de ficar chorando, eu indiquei um outro candidato e disputou as eleições”, afirmou à época.
Em 2018, Lula estava preso em Curitiba e impedido de concorrer pela Lei da Ficha Limpa. Sem autorização para disputar, indicou como seu representante nas urnas o hoje ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Em 2021, as condenações do presidente foram anuladas pelo Supremo Tribunal Federal (STF).