Com a demissão de Marcelo Álvaro Antônio do Ministério do Turismo, subiu para 12 o número de ministros que deixaram o governo de Jair Bolsonaro. O presidente da Embratur, Gilson Machado, assumirá o cargo de forma temporária. Esta é a 15ª troca de ministros feita pelo Presidente desde o início do mandato.
Segundo o Estadão apurou com integrantes do Palácio do Planalto, a queda de Álvaro Antônio foi atribuída ao ministro-chefe da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos. Os dois vinham divergindo internamente porque o ministério passou a ser citado como moeda de troca por apoio no Congresso. O Palácio do Planalto tenta eleger o deputado Arthur Lira (Progressistas-AL), um dos principais líderes do Centrão, na presidência da Câmara.
Com a demissão, Álvaro Antônio deve reassumir seu mandato de deputado federal por Minas Gerais. Ele é filiado ao PSL e é investigado pelo Ministério Público sob suspeita de desviar recursos de campanha por meio de candidaturas de mulheres nas eleições de 2018. O caso, porém, não tem qualquer relação com a demissão.
Antes de Marcelo Álvaro Antônio, a baixa mais recente havia sido de Carlos Alberto Decotelli, que ficou apenas cinco dias à frente do Ministério da Educação, entre 25 e 30 de junho. Em pouco mais de um ano e meio de mandato, o economista foi o terceiro a comandar a pasta e o que menos tempo permaneceu durante no governo. Ele foi exonerado após seu currículo ter sido questionado por universidades estrangeiras e pela Fundação Getulio Vargas (FGV). O pastor Milton Ribeiro assumiu a pasta pouco tempo depois.
Em junho, Abraham Weintraub foi demitido do Ministério da Educação após atritos com o Supremo Tribunal Federal (STF). O presidente Jair Bolsonaro foi pressionado pela demissão do ex-ministro após a divulgação do vídeo da reunião ministerial de 22 de abril, quando o economista chamou os magistrados da Corte de "vagabundos". A saída foi anunciada em um vídeo publicado em rede social em que os dois aparecem lado a lado e comunicam a exoneração.
Durante os 14 meses em que comandou a pasta, Weintraub ficou marcado pelas desavenças com reitores, estudantes, parlamentares, chineses e judeus. Rotulado como um "gerador de crises desnecessárias". Sua saída aconteceu como forma de diminuir a tensão na praça dos Três Poderes, uma vez que Bolsonaro se via pressionado por pedidos de impeachment, inquérito e ações que podem levar à cassação do mandato.
Outro ex-ministro do governo Bolsonaro foi Nelson Teich, que pediu demissão do Ministério da Saúde no dia 15 de maio. Entre os demitidos, o médico oncologista foi o que menos tempo permaneceu no governo, tendo ficado apenas 28 dias à frente da pasta. O ex-ministro assumiu o cargo em meio à pandemia da covid-19, substituindo Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS), em uma troca polêmica pelo cenário em que ocorreu. Agora, o general Eduardo Pazuello é quem assume o cargo interinamente, tornando-se o terceiro ministro da Saúde a tentar controlar a pandemia no país.
O médico alegou questões técnicas para deixar o cargo. Ele vem travando uma queda de braço com Bolsonaro sobre a recomendação do uso de cloroquina em pacientes de covid-19. Desde que assumiu o cargo, Teich não conseguiu montar sua própria equipe e vinha sendo tutelado pela ala militar do governo, como revelou o Estadão.
Antes de Teich, o último a se demitir havia sido o ex-juiz Sérgio Moro, que ocupava a pasta da Justiça e Segurança Pública. Moro deixou o governo fazendo graves denúncias ao presidente, a quem acusou de tentar interferir na direção-geral da Polícia Federal com a intenção de ter acessos a investigações em curso. Atualmente, Moro é parte em um inquérito que investiga as acusações contra Bolsonaro.
Outro demitido durante a pandemia foi Luiz Henrique Mandetta, que antecedeu Teich na Saúde. Mandetta chegou a participar da cerimônia de posse do sucessor, despediu-se do cargo e chegou a cumprimentar o presidente ao deixar o governo. No entanto, a saída do médico ortopedista do governo ocorreu após uma série de desentendimentos com Bolsonaro sobre a condução da crise causada pelo novo coronavírus.
Gustavo Canuto, ex- ministro do Desenvolvimento Regional, foi demitido "de surpresa" pelo presidente no dia 6 de fevereiro, antes do início da crise na Saúde. Antes da exoneração de Canuto, Bolsonaro vinha se queixando da falta de entregas no ministério. A pasta foi entregue a Rogério Marinho (DEM-RN), então secretário Especial da Previdência e Trabalho. Após a demissão, o presidente ofereceu um cargo de consolação a Canuto, a presidência da DataPrev (Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência).
Ainda simpático ao presidente e atualmente cotado para substituir Teich na Saúde, Osmar Terra (MDB-RS) foi demitido do Ministério da Cidadania no dia 13 de fevereiro, após uma polêmica envolvendo a contratação de uma empresa de tecnologia suspeita de ser usada como laranja para desviar dinheiro dos cofres públicos. À época, Terra afirmou ter demitido todos os envolvidos na contratação suspeita, porém uma reportagem do Estadão mostrou que aliados do emedebista foram mantidos no cargo. O ex-ministro acabou saindo, mas manteve relações com o presidente.
Outro que saiu deixou o cargo, mas não o governo, foi o ex-ministro da Secretaria-Geral, o general Floriano Peixoto. Substituído por Jorge Oliveira, Peixoto foi remanejado para o comando dos Correios. Em entrevista ao Estado, o general chegou a afirmar que não via a saída do ministério negativamente. "Não vejo essa questão de rebaixamento e isso não passa pela cabeça de ninguém, nem na minha, nem do presidente. Zero preocupação com isso", disse.
O general Carlos Alberto Santos Cruz foi o primeiro ministro militar a ser demitido do governo Bolsonaro. Santos Cruz foi demitido da Secretaria de Governo após uma polêmica envolvendo mensagens de WhatsApp em que teria criticado os filhos do presidente. Meses depois da demissão, a Polícia Federal concluiu que as mensagens eram falsas. Antes do embróglio envolvendo os áudios, o general já vinha sendo alvo de críticas de Olavo de Carvalho e Carlos Bolsonaro.
A demissão de Ricardo Velez do Ministério da Educação aconteceu logo no começo do govenro, no dia 8 de abril. Alvo de críticas dentro e fora do governo, o ministro enfrentava uma crise desde sua posse, com disputa interna entre grupos adversários, medidas contestadas, recuos e quase 20 exonerações no ministério. Ele foi substituído por Abraham Weitraub.
Primeiro a ser demitido do governo, o ex-ministro da Secretaria-Geral Gustavo Bebianno era, até a demissão de Teich, o que menos tempo havia passado ocupando o cargo. Bebianno, um dos principais aliados de Bolsonaro durante o período eleitoral, foi demitido após 48 dias de governo, em 18 de fevereiro. O ministro é outro que deixou o cargo após se desentender com Carlos Bolsonaro e ter seu nome associado à denúncia de candidaturas de laranjas do PSL durante as eleições 2018.
Bebianno morreu no dia 14 de março, de um infarto agudo do miocárdio. Em uma carta revelada ao Estadão antes de morrer, o ex-aliado acusou o presidente de cultivar "teorias da conspitação e ódio".