Com R$ 30 bilhões em caixa, Ricardo Nunes adota ‘parlamentarismo branco’ em São Paulo


Após um ano de gestão, prefeito contabiliza mais verbas disponíveis, mas também consolida forte dependência do Legislativo municipal

Por Adriana Ferraz
Atualização:

Um ano após assumir o comando da maior cidade do País, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) ainda segue na busca de uma marca de gestão, mas agora com o caixa cheio. A poupança obrigatória feita em função da queda de gastos com custeio e obras ao longo da pandemia, aliada à rápida recuperação da economia paulistana, pode fazer deste governo o mais “rico” dos últimos dez anos. São R$ 30 bilhões na conta da Prefeitura, sendo R$ 18,9 bilhões considerados livres.

O prefeito Ricardo Nunes também se vê com forte dependência política do Legislativo municipal. Foto: Leon Rodrigues/Prefeitura de SP

Se contabiliza mais dinheiro, Nunes também se viu, nestes 12 meses, sob forte dependência política do Legislativo municipal. Na linha adotada pelo então presidente Michel Temer, o prefeito estabeleceu em São Paulo uma espécie de “parlamentarismo branco” para governar. Ex-vereador, ele se aproxima cada vez mais do presidente da Câmara Municipal, Milton Leite (União Brasil), que avaliza projetos enviados à Casa e frequentemente participa de agendas do Executivo num papel que muitos classificam como de “primeiro-ministro”.

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Sobre a divisão de poderes com Leite, o prefeito afirmou que o presidente da Câmara é de sua base aliada, mas que é ele quem, pessoalmente, mantém o diálogo necessário com os vereadores para obter as aprovações.

O resultado é significativo: Nunes aprovou todos os principais projetos que propôs aos vereadores ao longo dos últimos 12 meses, incluindo uma complexa reforma previdenciária e o aumento de salário para indicados políticos. Parte deles, inclusive, está ao seu lado na cúpula da administração - herança de Bruno Covas, os tucanos ainda dispõem de parcela significativa de poder dentro e fora das secretarias.

Durante o último ano, Nunes substituiu parte do secretariado numa tentativa de formar uma equipe mais alinhada. Sem nunca ter ocupado uma função do Executivo antes, o prefeito não tinha - e ainda não tem - quadros tidos como leais para sustentá-lo no dia a dia do governo.

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O secretário municipal da Fazenda, Guilherme Bueno de Camargo, disse que os investimentos foram prejudicados em 2020 e em 2021 em função da pandemia. É isso que explica, segundo ele, o volume de verba no caixa, não uma intenção em retê-lo. “Há de se destacar que R$ 20,2 bilhões, dos R$ 30 bilhões do caixa, já estão comprometidos com empenhos relativos a despesas até 31 de dezembro.”

De acordo com Camargo, a covid-19 provocou um impacto negativo nas finanças municipais no primeiro trimestre de 2020. “Depois, a cidade se mostrou muito resiliente e chegou a bater recorde de arrecadação com ISS (Imposto Sobre Serviços) em janeiro de 2021″, disse. “E arrecadou quase R$ 3 bilhões com o lançamento de um programa de parcelamento de dívidas.”

Nesses dois anos, a Prefeitura aplicou R$ 7,6 bilhões em melhorias na cidade. Agora, até dezembro, promete chegar a R$ 7,2 bilhões e, em 2023, alcançar R$ 10 bilhões. Nos últimos dez anos, foi a gestão de Gilberto Kassab (PSD), encerrada em 2012, a que mais investiu proporcionalmente em obras na cidade.

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Ainda com pouca expressão popular e baixa aprovação - pesquisa Datafolha de abril mostrou que 12% da população considera sua gestão ótima ou boa e 30%, ruim ou péssima -, Nunes foge de polêmicas enquanto tenta atrair novos aliados, já projetando uma candidatura à reeleição. Na janela partidária fechada no mês passado, agiu para ampliar a bancada do MDB na Câmara, conseguindo mais dois parlamentares para o bloco, hoje o quinto maior da Casa.

Do ponto de vista político, o prefeito segue a cartilha. Defende publicamente o nome da senadora Simone Tebet (MDB) para liderar a chamada terceira via como alternativa à polarização entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o atual, Jair Bolsonaro (PL) -, de quem é mais próximo. Foi por uma decisão de Bolsonaro que Nunes obteve até aqui sua principal vitória: a quitação da dívida de São Paulo com a União, avaliada em R$ 24 bilhões, em troca da cessão de quase toda a área do Campo de Marte.

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A negociação, iniciada por Covas, teve a mão de Milton Leite, que acompanhou o prefeito nas viagens feitas a Brasília como uma espécie de “fiador” do negócio e aprovou sem qualquer dificuldade a lei da qual dependia o acordo. “Na Câmara, o prefeito sabe que, se o projeto for importante para São Paulo, não faltará base ou maioria, isso eu garanto”, afirmou Leite ao Estadão.

Sem a obrigatoriedade de pagar R$ 285 milhões por mês ao governo federal, a Prefeitura deve engordar ainda mais o caixa até 2024, quando Nunes será colocado à prova pelo eleitor em temas que não dependem necessariamente de recursos, mas de políticas públicas. É o caso, por exemplo, das causas e efeitos da Cracolândia, dor de cabeça garantida para qualquer prefeito da capital.

Mas não é só. Como prevê o próprio plano de metas da atual gestão, a capital precisa de mais corredores de ônibus, escolas de qualidade, unidades habitacionais para a população mais carente, aumento do porcentual de lixo reciclado e projetos urbanísticos que melhorem a qualidade de vida de quem mora em São Paulo. Uma receita conhecida, mas dificilmente cumprida.

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Entre os opositores do prefeito, as críticas se concentram na descentralização administrativa e no que consideram como retenção de caixa durante a crise social da pandemia. “É um governo sem autoridade central. As secretarias parecem mais uma federação, cada uma faz o que quer. O resultado é que não vemos um projeto para a cidade”, afirmou o vereador Antonio Donato (PT).

A vereadora Luana Alves (PSOL) citou o aumento de 31% no número de moradores de rua na cidade. “Tentamos negociar a prorrogação do auxílio financeiro, por exemplo, sem sucesso”, disse ela, em relação às seis parcelas de R$ 100 pagas a cerca de 1,3 milhão de pessoas.

‘O grande desafio é reduzir a desigualdade’, diz prefeito

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Em entrevista ao Estadão, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) relatou dificuldades no início do mandato em função da perda do “amigo e líder Bruno Covas”, mas afirmou que, aos poucos, se adaptou ao cargo e às necessidades de São Paulo. Um ano depois de assumir formalmente o posto, Nunes disse que vai iniciar uma série de obras na cidade, conforme estabelecido no plano de metas. E acrescentou que sua prioridade é a melhoria de vida dos mais pobres.

“Temos duas cidades em uma só: a muito rica e a muito pobre. São 1,4 milhão de pessoas na pobreza e extrema pobreza. Metade dos alunos da rede municipal nessa mesma situação, e ainda alta no número de moradores de rua. O grande desafio, certamente, é reduzir a desigualdade social, é cuidar dos mais pobres”, afirmou.

Conforme Nunes, a Prefeitura definiu, pela primeira vez no plano plurianual de São Paulo, uma divisão de investimentos segundo as áreas mais vulneráveis.

Após um ano, ele listou realizações, como a entrega de nove unidades de pronto atendimento (UPAs) e 14 centros de atenção psicossocial (Caps), além do apoio da Câmara Municipal e o equilíbrio das contas.

Um ano após assumir o comando da maior cidade do País, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) ainda segue na busca de uma marca de gestão, mas agora com o caixa cheio. A poupança obrigatória feita em função da queda de gastos com custeio e obras ao longo da pandemia, aliada à rápida recuperação da economia paulistana, pode fazer deste governo o mais “rico” dos últimos dez anos. São R$ 30 bilhões na conta da Prefeitura, sendo R$ 18,9 bilhões considerados livres.

O prefeito Ricardo Nunes também se vê com forte dependência política do Legislativo municipal. Foto: Leon Rodrigues/Prefeitura de SP

Se contabiliza mais dinheiro, Nunes também se viu, nestes 12 meses, sob forte dependência política do Legislativo municipal. Na linha adotada pelo então presidente Michel Temer, o prefeito estabeleceu em São Paulo uma espécie de “parlamentarismo branco” para governar. Ex-vereador, ele se aproxima cada vez mais do presidente da Câmara Municipal, Milton Leite (União Brasil), que avaliza projetos enviados à Casa e frequentemente participa de agendas do Executivo num papel que muitos classificam como de “primeiro-ministro”.

Sobre a divisão de poderes com Leite, o prefeito afirmou que o presidente da Câmara é de sua base aliada, mas que é ele quem, pessoalmente, mantém o diálogo necessário com os vereadores para obter as aprovações.

O resultado é significativo: Nunes aprovou todos os principais projetos que propôs aos vereadores ao longo dos últimos 12 meses, incluindo uma complexa reforma previdenciária e o aumento de salário para indicados políticos. Parte deles, inclusive, está ao seu lado na cúpula da administração - herança de Bruno Covas, os tucanos ainda dispõem de parcela significativa de poder dentro e fora das secretarias.

Durante o último ano, Nunes substituiu parte do secretariado numa tentativa de formar uma equipe mais alinhada. Sem nunca ter ocupado uma função do Executivo antes, o prefeito não tinha - e ainda não tem - quadros tidos como leais para sustentá-lo no dia a dia do governo.

O secretário municipal da Fazenda, Guilherme Bueno de Camargo, disse que os investimentos foram prejudicados em 2020 e em 2021 em função da pandemia. É isso que explica, segundo ele, o volume de verba no caixa, não uma intenção em retê-lo. “Há de se destacar que R$ 20,2 bilhões, dos R$ 30 bilhões do caixa, já estão comprometidos com empenhos relativos a despesas até 31 de dezembro.”

De acordo com Camargo, a covid-19 provocou um impacto negativo nas finanças municipais no primeiro trimestre de 2020. “Depois, a cidade se mostrou muito resiliente e chegou a bater recorde de arrecadação com ISS (Imposto Sobre Serviços) em janeiro de 2021″, disse. “E arrecadou quase R$ 3 bilhões com o lançamento de um programa de parcelamento de dívidas.”

Nesses dois anos, a Prefeitura aplicou R$ 7,6 bilhões em melhorias na cidade. Agora, até dezembro, promete chegar a R$ 7,2 bilhões e, em 2023, alcançar R$ 10 bilhões. Nos últimos dez anos, foi a gestão de Gilberto Kassab (PSD), encerrada em 2012, a que mais investiu proporcionalmente em obras na cidade.

Ainda com pouca expressão popular e baixa aprovação - pesquisa Datafolha de abril mostrou que 12% da população considera sua gestão ótima ou boa e 30%, ruim ou péssima -, Nunes foge de polêmicas enquanto tenta atrair novos aliados, já projetando uma candidatura à reeleição. Na janela partidária fechada no mês passado, agiu para ampliar a bancada do MDB na Câmara, conseguindo mais dois parlamentares para o bloco, hoje o quinto maior da Casa.

Do ponto de vista político, o prefeito segue a cartilha. Defende publicamente o nome da senadora Simone Tebet (MDB) para liderar a chamada terceira via como alternativa à polarização entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o atual, Jair Bolsonaro (PL) -, de quem é mais próximo. Foi por uma decisão de Bolsonaro que Nunes obteve até aqui sua principal vitória: a quitação da dívida de São Paulo com a União, avaliada em R$ 24 bilhões, em troca da cessão de quase toda a área do Campo de Marte.

A negociação, iniciada por Covas, teve a mão de Milton Leite, que acompanhou o prefeito nas viagens feitas a Brasília como uma espécie de “fiador” do negócio e aprovou sem qualquer dificuldade a lei da qual dependia o acordo. “Na Câmara, o prefeito sabe que, se o projeto for importante para São Paulo, não faltará base ou maioria, isso eu garanto”, afirmou Leite ao Estadão.

Sem a obrigatoriedade de pagar R$ 285 milhões por mês ao governo federal, a Prefeitura deve engordar ainda mais o caixa até 2024, quando Nunes será colocado à prova pelo eleitor em temas que não dependem necessariamente de recursos, mas de políticas públicas. É o caso, por exemplo, das causas e efeitos da Cracolândia, dor de cabeça garantida para qualquer prefeito da capital.

Mas não é só. Como prevê o próprio plano de metas da atual gestão, a capital precisa de mais corredores de ônibus, escolas de qualidade, unidades habitacionais para a população mais carente, aumento do porcentual de lixo reciclado e projetos urbanísticos que melhorem a qualidade de vida de quem mora em São Paulo. Uma receita conhecida, mas dificilmente cumprida.

Entre os opositores do prefeito, as críticas se concentram na descentralização administrativa e no que consideram como retenção de caixa durante a crise social da pandemia. “É um governo sem autoridade central. As secretarias parecem mais uma federação, cada uma faz o que quer. O resultado é que não vemos um projeto para a cidade”, afirmou o vereador Antonio Donato (PT).

A vereadora Luana Alves (PSOL) citou o aumento de 31% no número de moradores de rua na cidade. “Tentamos negociar a prorrogação do auxílio financeiro, por exemplo, sem sucesso”, disse ela, em relação às seis parcelas de R$ 100 pagas a cerca de 1,3 milhão de pessoas.

‘O grande desafio é reduzir a desigualdade’, diz prefeito

Em entrevista ao Estadão, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) relatou dificuldades no início do mandato em função da perda do “amigo e líder Bruno Covas”, mas afirmou que, aos poucos, se adaptou ao cargo e às necessidades de São Paulo. Um ano depois de assumir formalmente o posto, Nunes disse que vai iniciar uma série de obras na cidade, conforme estabelecido no plano de metas. E acrescentou que sua prioridade é a melhoria de vida dos mais pobres.

“Temos duas cidades em uma só: a muito rica e a muito pobre. São 1,4 milhão de pessoas na pobreza e extrema pobreza. Metade dos alunos da rede municipal nessa mesma situação, e ainda alta no número de moradores de rua. O grande desafio, certamente, é reduzir a desigualdade social, é cuidar dos mais pobres”, afirmou.

Conforme Nunes, a Prefeitura definiu, pela primeira vez no plano plurianual de São Paulo, uma divisão de investimentos segundo as áreas mais vulneráveis.

Após um ano, ele listou realizações, como a entrega de nove unidades de pronto atendimento (UPAs) e 14 centros de atenção psicossocial (Caps), além do apoio da Câmara Municipal e o equilíbrio das contas.

Um ano após assumir o comando da maior cidade do País, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) ainda segue na busca de uma marca de gestão, mas agora com o caixa cheio. A poupança obrigatória feita em função da queda de gastos com custeio e obras ao longo da pandemia, aliada à rápida recuperação da economia paulistana, pode fazer deste governo o mais “rico” dos últimos dez anos. São R$ 30 bilhões na conta da Prefeitura, sendo R$ 18,9 bilhões considerados livres.

O prefeito Ricardo Nunes também se vê com forte dependência política do Legislativo municipal. Foto: Leon Rodrigues/Prefeitura de SP

Se contabiliza mais dinheiro, Nunes também se viu, nestes 12 meses, sob forte dependência política do Legislativo municipal. Na linha adotada pelo então presidente Michel Temer, o prefeito estabeleceu em São Paulo uma espécie de “parlamentarismo branco” para governar. Ex-vereador, ele se aproxima cada vez mais do presidente da Câmara Municipal, Milton Leite (União Brasil), que avaliza projetos enviados à Casa e frequentemente participa de agendas do Executivo num papel que muitos classificam como de “primeiro-ministro”.

Sobre a divisão de poderes com Leite, o prefeito afirmou que o presidente da Câmara é de sua base aliada, mas que é ele quem, pessoalmente, mantém o diálogo necessário com os vereadores para obter as aprovações.

O resultado é significativo: Nunes aprovou todos os principais projetos que propôs aos vereadores ao longo dos últimos 12 meses, incluindo uma complexa reforma previdenciária e o aumento de salário para indicados políticos. Parte deles, inclusive, está ao seu lado na cúpula da administração - herança de Bruno Covas, os tucanos ainda dispõem de parcela significativa de poder dentro e fora das secretarias.

Durante o último ano, Nunes substituiu parte do secretariado numa tentativa de formar uma equipe mais alinhada. Sem nunca ter ocupado uma função do Executivo antes, o prefeito não tinha - e ainda não tem - quadros tidos como leais para sustentá-lo no dia a dia do governo.

O secretário municipal da Fazenda, Guilherme Bueno de Camargo, disse que os investimentos foram prejudicados em 2020 e em 2021 em função da pandemia. É isso que explica, segundo ele, o volume de verba no caixa, não uma intenção em retê-lo. “Há de se destacar que R$ 20,2 bilhões, dos R$ 30 bilhões do caixa, já estão comprometidos com empenhos relativos a despesas até 31 de dezembro.”

De acordo com Camargo, a covid-19 provocou um impacto negativo nas finanças municipais no primeiro trimestre de 2020. “Depois, a cidade se mostrou muito resiliente e chegou a bater recorde de arrecadação com ISS (Imposto Sobre Serviços) em janeiro de 2021″, disse. “E arrecadou quase R$ 3 bilhões com o lançamento de um programa de parcelamento de dívidas.”

Nesses dois anos, a Prefeitura aplicou R$ 7,6 bilhões em melhorias na cidade. Agora, até dezembro, promete chegar a R$ 7,2 bilhões e, em 2023, alcançar R$ 10 bilhões. Nos últimos dez anos, foi a gestão de Gilberto Kassab (PSD), encerrada em 2012, a que mais investiu proporcionalmente em obras na cidade.

Ainda com pouca expressão popular e baixa aprovação - pesquisa Datafolha de abril mostrou que 12% da população considera sua gestão ótima ou boa e 30%, ruim ou péssima -, Nunes foge de polêmicas enquanto tenta atrair novos aliados, já projetando uma candidatura à reeleição. Na janela partidária fechada no mês passado, agiu para ampliar a bancada do MDB na Câmara, conseguindo mais dois parlamentares para o bloco, hoje o quinto maior da Casa.

Do ponto de vista político, o prefeito segue a cartilha. Defende publicamente o nome da senadora Simone Tebet (MDB) para liderar a chamada terceira via como alternativa à polarização entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o atual, Jair Bolsonaro (PL) -, de quem é mais próximo. Foi por uma decisão de Bolsonaro que Nunes obteve até aqui sua principal vitória: a quitação da dívida de São Paulo com a União, avaliada em R$ 24 bilhões, em troca da cessão de quase toda a área do Campo de Marte.

A negociação, iniciada por Covas, teve a mão de Milton Leite, que acompanhou o prefeito nas viagens feitas a Brasília como uma espécie de “fiador” do negócio e aprovou sem qualquer dificuldade a lei da qual dependia o acordo. “Na Câmara, o prefeito sabe que, se o projeto for importante para São Paulo, não faltará base ou maioria, isso eu garanto”, afirmou Leite ao Estadão.

Sem a obrigatoriedade de pagar R$ 285 milhões por mês ao governo federal, a Prefeitura deve engordar ainda mais o caixa até 2024, quando Nunes será colocado à prova pelo eleitor em temas que não dependem necessariamente de recursos, mas de políticas públicas. É o caso, por exemplo, das causas e efeitos da Cracolândia, dor de cabeça garantida para qualquer prefeito da capital.

Mas não é só. Como prevê o próprio plano de metas da atual gestão, a capital precisa de mais corredores de ônibus, escolas de qualidade, unidades habitacionais para a população mais carente, aumento do porcentual de lixo reciclado e projetos urbanísticos que melhorem a qualidade de vida de quem mora em São Paulo. Uma receita conhecida, mas dificilmente cumprida.

Entre os opositores do prefeito, as críticas se concentram na descentralização administrativa e no que consideram como retenção de caixa durante a crise social da pandemia. “É um governo sem autoridade central. As secretarias parecem mais uma federação, cada uma faz o que quer. O resultado é que não vemos um projeto para a cidade”, afirmou o vereador Antonio Donato (PT).

A vereadora Luana Alves (PSOL) citou o aumento de 31% no número de moradores de rua na cidade. “Tentamos negociar a prorrogação do auxílio financeiro, por exemplo, sem sucesso”, disse ela, em relação às seis parcelas de R$ 100 pagas a cerca de 1,3 milhão de pessoas.

‘O grande desafio é reduzir a desigualdade’, diz prefeito

Em entrevista ao Estadão, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) relatou dificuldades no início do mandato em função da perda do “amigo e líder Bruno Covas”, mas afirmou que, aos poucos, se adaptou ao cargo e às necessidades de São Paulo. Um ano depois de assumir formalmente o posto, Nunes disse que vai iniciar uma série de obras na cidade, conforme estabelecido no plano de metas. E acrescentou que sua prioridade é a melhoria de vida dos mais pobres.

“Temos duas cidades em uma só: a muito rica e a muito pobre. São 1,4 milhão de pessoas na pobreza e extrema pobreza. Metade dos alunos da rede municipal nessa mesma situação, e ainda alta no número de moradores de rua. O grande desafio, certamente, é reduzir a desigualdade social, é cuidar dos mais pobres”, afirmou.

Conforme Nunes, a Prefeitura definiu, pela primeira vez no plano plurianual de São Paulo, uma divisão de investimentos segundo as áreas mais vulneráveis.

Após um ano, ele listou realizações, como a entrega de nove unidades de pronto atendimento (UPAs) e 14 centros de atenção psicossocial (Caps), além do apoio da Câmara Municipal e o equilíbrio das contas.

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