Ainda sem todas as peças encaixadas, a pré-campanha para a Prefeitura de São Paulo se divide em um cenário de “silêncio estratégico” e em “banho-maria” diante das indefinições dos pré-candidatos a vice-prefeito nas chapas de ao menos dois dos concorrentes mais competitivos nesta pré-campanha: o prefeito Ricardo Nunes (MDB) e a deputada Tabata Amaral (PSB). Com o início oficial da disputa em agosto, os pré-candidatos ensaiam críticas, recorrendo inclusive à Justiça, mas ainda sem o fervor que traz a campanha eleitoral nas ruas.
A expectativa é que a polarização que se viu na eleição presidencial de 2022 entre os candidatos Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) se espelhe no pleito municipal de 2024 em São Paulo, sobretudo entre o deputado Guilherme Boulos (PSOL), apoiado pelo petista, e Nunes, que deve se unir ao bolsonarismo. Para especialista ouvido pelo Broadcast Político, no entanto, a campanha ainda está “fria”.
Até agora, dos principais nomes, apenas Boulos definiu sua chapa. Articulada por Lula, a ex-prefeita Marta Suplicy (PT) foi designada para ser vice de Boulos. No entanto, Marta entra na campanha como um “calcanhar de Aquiles”, já que até o início deste ano ela atuava como secretária de Relações Internacionais do prefeito Ricardo Nunes. Apesar da presença nos eventos de pré-campanha de Boulos, Marta tem optado pelo silêncio, sem conceder entrevistas e sem participar de coletivas.
Como afirmou o deputado Rui Falcão (PT-SP) ao Estadão/Broadcast, no momento a ideia é que Marta atue de forma complementar com Boulos. “Até para não ter essa questão de ela ser muito grande”, disse. De acordo com o articulador, a ideia é que Marta “cumpra o papel de vice mesmo”.
Já o atual prefeito da cidade, que custou a conseguir tirar do papel uma aliança com Bolsonaro - que preferia o deputado Ricardo Salles (PL) como seu representante -, ainda tem a vaga para vice pendente. O que tem sido dito é que a indicação de Bolsonaro terá peso na definição, mas, se fosse o caso, o coronel Ricardo Mello Araújo já estaria confirmado na chapa. O martelo deve ser batido agora no mês de junho. Sobre o tema, novamente, a ideia do partido é que o silêncio seja mantido até que as articulações sejam concluídas. A entrada na disputa do empresário e coach Pablo Marçal (PRTB) pressiona Nunes para uma aproximação ainda maior com o bolsonarismo.
O presidente do Diretório Municipal da legenda em São Paulo, Enrico Misasi, afirmou à reportagem que o partido não apresenta objeções ao nome do coronel, reiterando a autonomia do ex-presidente nas decisões: “Bolsonaro não é tutelado por ninguém e não tem colocado a ‘faca na garganta’ por nada”, destacou.
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Tabata Amaral também tem enfrentado problemas para definir seu vice. Desde o início de sua pré-candidatura, ela fez questão de citar o apresentador José Luiz Datena (que somente neste ano esteve em dois partidos, o PSB e, agora, o PSDB, sua 11ª legenda), com seu indicado a vice. Acontece que agora o apresentador pode virar um adversário, já que o PSDB quer lançar sua pré-candidatura para prefeito, uma estratégia tucana de se manter relevante no Estado que comandou durante 28 anos.
O cientista político da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Marco Antonio Carvalho Teixeira cita que as campanhas dos três principais candidatos ainda estão frias: “Tomou conta da agenda a questão do Rio Grande do Sul, então o ponto da cidade de São Paulo ainda não está tão evidente do aspecto da temperatura eleitoral”.
Para ele, a polarização que a campanha de Boulos tem instigado ainda está “arrefecida” e “ainda não tomou o voo que imaginávamos”. Além disso, a possibilidade do lançamento de uma candidatura própria pelo PSDB pode dar outro “fôlego” à corrida municipal deste ano.
Carvalho pondera que Tabata, que tenta chegar na disputa como uma “terceira via”, pode ser beneficiada com Datena fora de sua chapa. “Se o Datena sair candidato, pode até ajudá-la porque o perfil do Datena é de alguém que pode avançar sobre o eleitorado, inclusive do Ricardo Nunes e também um pouco sobre o eleitorado do Boulos.”
Judicialização dá o tom nos embates iniciais
Como mostrou o Estadão, as pré-campanhas têm se concentrado no âmbito jurídico. Até agora, são 20 representações por suposta divulgação de pesquisa fraudulenta ou campanha antecipada, segundo levantamento feito na última semana. As ações tramitam nas 1ª e 2ª Varas Eleitorais. Até o momento, são quatro processos por fraude em pesquisa eleitoral e 16 por campanha antecipada.
O principal alvo das ações até o momento é Guilherme Boulos. Ele aparece em cinco processos movidos pelo MDB. Na sequência, o Novo, que tem como pré-candidata Marina Helena, entrou com quatro ações contra o psolista. Já o PSB, da deputada federal Tabata Amaral, foi responsável por dois processos contra Boulos. O PSDB também apresentou uma ação contra o deputado federal.