Comandante da Marinha conta por que é contra a inclusão de João Cândido entre os ‘heróis da Pátria’


Almirante Olsen divulga carta no dia em que comissão da Câmara analisa projeto que propõe incluir o nome do líder da Revolta da Chibata no livro dos heróis da Pátria

Por Marcelo Godoy

No dia em que a Comissão de Cultura da Câmara dos deputados promoveu uma audiência para discutir o projeto que discutia o projeto que inscreve o nome do marinheiro João Cândido Felisberto, o líder da Revolta da Chibata, no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria, o comandante da Marinha, almirante Marcos Olsen, enviou uma carta ao presidente do colegiado, o deputado federal Aliel Machado (PV-PR) para explicar por que a Força Naval se opõe à homenagem.

O governo concedeu anistia hoje, 24, ao principal líder da Revolta da Chibata (1910), João Cândido Felisberto, o Almirante Negro. O levante queria o fim do uso da chibata para os oficiais da Marinha Foto: Arquivo AE

De autoria do então senador Lindbergh Farias (PT-RJ), o projeto foi aprovado pelo senado em 2021 com a oposição da Marinha. Ele recebeu na Câmara o parecer favorável da relatora, a deputada Benedita da Silva (PT-RJ). Em sua carta, o almirante Olsen afirma que o episódio da Revolta da Chibata “constitui para a Marinha do Brasil, fato de opróbrio da história, cujo estopim se deu pela atuação violenta de abjetos marinheiros que, fendendo hierarquia e disciplina, utilizaram equipamentos militares para chantagear a Nação, disparando, a esmo, os canhões de grosso calibre dos apoderados encouraçados contra a então capital federal e uma população indefesa, ceifando a vida de duas crianças, atingidas no Morro do Castelo”.

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A carta do almirante afirma que entre as reivindicações dos revoltosos estavam o aumento de salários, a exclusão de oficiais considerados indignos e o “regime de trabalho menos exigente”. “Notável então, entender que, além do justo pleito pela revogação da prática repulsiva do açoite, buscavam, deliberadamente, vantagens corporativistas e ilegítimas.” De acordo com Olsen, “os castigos físicos levados a cabo nos navios, prática inaceitável, foram reconhecidos como equivocados e indignos e os insurgentes, inclusive, anistiados”.

BRASILIA DF NACIONAL 05-11-2021 JOAO CANDIDO CHIBATA O Senado aprovou a inscrição do nome do marinheiro João Cândido, líder da Revolta da Chibata, no livro de Heróis da Pátria. A Marinha, mais uma vez, emitiu uma nota em contrário dizendo que Cândido não pode ser considerado herói porque rompeu a hierarquia da força. Cândido liderou uma rebelião pelo fim dos castigos físicos na Marinha, em 1910. FOTO Acervo Edmar Morel da Biblioteca Nacional 

“Porém, resta notável diferença entre reconhecer um erro e enaltecer um heroísmo infundado. Para o almirante, incluir o nome de Cândido no Livro dos heróis da Pátria seria o mesmo que “transmitir à sociedade e, em particular, aos militares de hoje, a mensagem de que é lícito recorrer às armas que lhe foram confiadas para reivindicar suposto direito individual ou de classe”. Para a Marinha, a atuação de Cândido não foi patriótica nem heroica .

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Por fim, o almirante conclui: “Nos dias atuais, enaltecer passagens afamadas pela subversão, ruptura de preceitos constitucionais organizadores e basilares das Forças Armadas e pelo descomedido emprego da violência de militares contra a vida de civis brasileiros é exaltar atributos morais e profissionais, que nada contribuirá ao pleno estabelecimento e manutenção do verdadeiro Estado democrático de Direito.”

A revolta, ocorrida em 1910, nos navios da Armada na baía da Guanabara, atingiu os modernos encouraçados da Marinha. Os amotinados apontaram os navios para o Rio, então capital federal, para obrigar o governo a atender às suas reivindicações, como o fim dos castigos corporais aplicados aos marinheiros a bordo das embarcações.

O almirante Marcos Sampaio Olsen, comandante da Marinha, em cerimônia no Ministério da Defesa, em Brasília Foto: Marinha do Brasil
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O governo cedeu. Os castigos cessaram. Os revoltosos se entregaram após seis dias. Eles foram presos e expulsos da Marinha. Em 2008, 39 anos após a morte de Cândido, conhecido como Almirante Negro, o governo anistiou o líder da revolta e outros 600 marinheiros que participaram do movimento.

Desde então, Cândido se tornou herói do Rio de Janeiro, teve uma estátua inaugurada na cidade e virou enredo de escolas de samba, como a do Paraíso do TuiutiGlória ao Almirante Negro –, que ficou em 9º lugar neste ano no desfile das escolas do grupo especial do Rio. O Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria é um documento que preserva os nomes da história do Brasil. Ele fica no Panteão da Pátria, em Brasília.

No dia em que a Comissão de Cultura da Câmara dos deputados promoveu uma audiência para discutir o projeto que discutia o projeto que inscreve o nome do marinheiro João Cândido Felisberto, o líder da Revolta da Chibata, no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria, o comandante da Marinha, almirante Marcos Olsen, enviou uma carta ao presidente do colegiado, o deputado federal Aliel Machado (PV-PR) para explicar por que a Força Naval se opõe à homenagem.

O governo concedeu anistia hoje, 24, ao principal líder da Revolta da Chibata (1910), João Cândido Felisberto, o Almirante Negro. O levante queria o fim do uso da chibata para os oficiais da Marinha Foto: Arquivo AE

De autoria do então senador Lindbergh Farias (PT-RJ), o projeto foi aprovado pelo senado em 2021 com a oposição da Marinha. Ele recebeu na Câmara o parecer favorável da relatora, a deputada Benedita da Silva (PT-RJ). Em sua carta, o almirante Olsen afirma que o episódio da Revolta da Chibata “constitui para a Marinha do Brasil, fato de opróbrio da história, cujo estopim se deu pela atuação violenta de abjetos marinheiros que, fendendo hierarquia e disciplina, utilizaram equipamentos militares para chantagear a Nação, disparando, a esmo, os canhões de grosso calibre dos apoderados encouraçados contra a então capital federal e uma população indefesa, ceifando a vida de duas crianças, atingidas no Morro do Castelo”.

A carta do almirante afirma que entre as reivindicações dos revoltosos estavam o aumento de salários, a exclusão de oficiais considerados indignos e o “regime de trabalho menos exigente”. “Notável então, entender que, além do justo pleito pela revogação da prática repulsiva do açoite, buscavam, deliberadamente, vantagens corporativistas e ilegítimas.” De acordo com Olsen, “os castigos físicos levados a cabo nos navios, prática inaceitável, foram reconhecidos como equivocados e indignos e os insurgentes, inclusive, anistiados”.

BRASILIA DF NACIONAL 05-11-2021 JOAO CANDIDO CHIBATA O Senado aprovou a inscrição do nome do marinheiro João Cândido, líder da Revolta da Chibata, no livro de Heróis da Pátria. A Marinha, mais uma vez, emitiu uma nota em contrário dizendo que Cândido não pode ser considerado herói porque rompeu a hierarquia da força. Cândido liderou uma rebelião pelo fim dos castigos físicos na Marinha, em 1910. FOTO Acervo Edmar Morel da Biblioteca Nacional 

“Porém, resta notável diferença entre reconhecer um erro e enaltecer um heroísmo infundado. Para o almirante, incluir o nome de Cândido no Livro dos heróis da Pátria seria o mesmo que “transmitir à sociedade e, em particular, aos militares de hoje, a mensagem de que é lícito recorrer às armas que lhe foram confiadas para reivindicar suposto direito individual ou de classe”. Para a Marinha, a atuação de Cândido não foi patriótica nem heroica .

Por fim, o almirante conclui: “Nos dias atuais, enaltecer passagens afamadas pela subversão, ruptura de preceitos constitucionais organizadores e basilares das Forças Armadas e pelo descomedido emprego da violência de militares contra a vida de civis brasileiros é exaltar atributos morais e profissionais, que nada contribuirá ao pleno estabelecimento e manutenção do verdadeiro Estado democrático de Direito.”

A revolta, ocorrida em 1910, nos navios da Armada na baía da Guanabara, atingiu os modernos encouraçados da Marinha. Os amotinados apontaram os navios para o Rio, então capital federal, para obrigar o governo a atender às suas reivindicações, como o fim dos castigos corporais aplicados aos marinheiros a bordo das embarcações.

O almirante Marcos Sampaio Olsen, comandante da Marinha, em cerimônia no Ministério da Defesa, em Brasília Foto: Marinha do Brasil

O governo cedeu. Os castigos cessaram. Os revoltosos se entregaram após seis dias. Eles foram presos e expulsos da Marinha. Em 2008, 39 anos após a morte de Cândido, conhecido como Almirante Negro, o governo anistiou o líder da revolta e outros 600 marinheiros que participaram do movimento.

Desde então, Cândido se tornou herói do Rio de Janeiro, teve uma estátua inaugurada na cidade e virou enredo de escolas de samba, como a do Paraíso do TuiutiGlória ao Almirante Negro –, que ficou em 9º lugar neste ano no desfile das escolas do grupo especial do Rio. O Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria é um documento que preserva os nomes da história do Brasil. Ele fica no Panteão da Pátria, em Brasília.

No dia em que a Comissão de Cultura da Câmara dos deputados promoveu uma audiência para discutir o projeto que discutia o projeto que inscreve o nome do marinheiro João Cândido Felisberto, o líder da Revolta da Chibata, no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria, o comandante da Marinha, almirante Marcos Olsen, enviou uma carta ao presidente do colegiado, o deputado federal Aliel Machado (PV-PR) para explicar por que a Força Naval se opõe à homenagem.

O governo concedeu anistia hoje, 24, ao principal líder da Revolta da Chibata (1910), João Cândido Felisberto, o Almirante Negro. O levante queria o fim do uso da chibata para os oficiais da Marinha Foto: Arquivo AE

De autoria do então senador Lindbergh Farias (PT-RJ), o projeto foi aprovado pelo senado em 2021 com a oposição da Marinha. Ele recebeu na Câmara o parecer favorável da relatora, a deputada Benedita da Silva (PT-RJ). Em sua carta, o almirante Olsen afirma que o episódio da Revolta da Chibata “constitui para a Marinha do Brasil, fato de opróbrio da história, cujo estopim se deu pela atuação violenta de abjetos marinheiros que, fendendo hierarquia e disciplina, utilizaram equipamentos militares para chantagear a Nação, disparando, a esmo, os canhões de grosso calibre dos apoderados encouraçados contra a então capital federal e uma população indefesa, ceifando a vida de duas crianças, atingidas no Morro do Castelo”.

A carta do almirante afirma que entre as reivindicações dos revoltosos estavam o aumento de salários, a exclusão de oficiais considerados indignos e o “regime de trabalho menos exigente”. “Notável então, entender que, além do justo pleito pela revogação da prática repulsiva do açoite, buscavam, deliberadamente, vantagens corporativistas e ilegítimas.” De acordo com Olsen, “os castigos físicos levados a cabo nos navios, prática inaceitável, foram reconhecidos como equivocados e indignos e os insurgentes, inclusive, anistiados”.

BRASILIA DF NACIONAL 05-11-2021 JOAO CANDIDO CHIBATA O Senado aprovou a inscrição do nome do marinheiro João Cândido, líder da Revolta da Chibata, no livro de Heróis da Pátria. A Marinha, mais uma vez, emitiu uma nota em contrário dizendo que Cândido não pode ser considerado herói porque rompeu a hierarquia da força. Cândido liderou uma rebelião pelo fim dos castigos físicos na Marinha, em 1910. FOTO Acervo Edmar Morel da Biblioteca Nacional 

“Porém, resta notável diferença entre reconhecer um erro e enaltecer um heroísmo infundado. Para o almirante, incluir o nome de Cândido no Livro dos heróis da Pátria seria o mesmo que “transmitir à sociedade e, em particular, aos militares de hoje, a mensagem de que é lícito recorrer às armas que lhe foram confiadas para reivindicar suposto direito individual ou de classe”. Para a Marinha, a atuação de Cândido não foi patriótica nem heroica .

Por fim, o almirante conclui: “Nos dias atuais, enaltecer passagens afamadas pela subversão, ruptura de preceitos constitucionais organizadores e basilares das Forças Armadas e pelo descomedido emprego da violência de militares contra a vida de civis brasileiros é exaltar atributos morais e profissionais, que nada contribuirá ao pleno estabelecimento e manutenção do verdadeiro Estado democrático de Direito.”

A revolta, ocorrida em 1910, nos navios da Armada na baía da Guanabara, atingiu os modernos encouraçados da Marinha. Os amotinados apontaram os navios para o Rio, então capital federal, para obrigar o governo a atender às suas reivindicações, como o fim dos castigos corporais aplicados aos marinheiros a bordo das embarcações.

O almirante Marcos Sampaio Olsen, comandante da Marinha, em cerimônia no Ministério da Defesa, em Brasília Foto: Marinha do Brasil

O governo cedeu. Os castigos cessaram. Os revoltosos se entregaram após seis dias. Eles foram presos e expulsos da Marinha. Em 2008, 39 anos após a morte de Cândido, conhecido como Almirante Negro, o governo anistiou o líder da revolta e outros 600 marinheiros que participaram do movimento.

Desde então, Cândido se tornou herói do Rio de Janeiro, teve uma estátua inaugurada na cidade e virou enredo de escolas de samba, como a do Paraíso do TuiutiGlória ao Almirante Negro –, que ficou em 9º lugar neste ano no desfile das escolas do grupo especial do Rio. O Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria é um documento que preserva os nomes da história do Brasil. Ele fica no Panteão da Pátria, em Brasília.

No dia em que a Comissão de Cultura da Câmara dos deputados promoveu uma audiência para discutir o projeto que discutia o projeto que inscreve o nome do marinheiro João Cândido Felisberto, o líder da Revolta da Chibata, no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria, o comandante da Marinha, almirante Marcos Olsen, enviou uma carta ao presidente do colegiado, o deputado federal Aliel Machado (PV-PR) para explicar por que a Força Naval se opõe à homenagem.

O governo concedeu anistia hoje, 24, ao principal líder da Revolta da Chibata (1910), João Cândido Felisberto, o Almirante Negro. O levante queria o fim do uso da chibata para os oficiais da Marinha Foto: Arquivo AE

De autoria do então senador Lindbergh Farias (PT-RJ), o projeto foi aprovado pelo senado em 2021 com a oposição da Marinha. Ele recebeu na Câmara o parecer favorável da relatora, a deputada Benedita da Silva (PT-RJ). Em sua carta, o almirante Olsen afirma que o episódio da Revolta da Chibata “constitui para a Marinha do Brasil, fato de opróbrio da história, cujo estopim se deu pela atuação violenta de abjetos marinheiros que, fendendo hierarquia e disciplina, utilizaram equipamentos militares para chantagear a Nação, disparando, a esmo, os canhões de grosso calibre dos apoderados encouraçados contra a então capital federal e uma população indefesa, ceifando a vida de duas crianças, atingidas no Morro do Castelo”.

A carta do almirante afirma que entre as reivindicações dos revoltosos estavam o aumento de salários, a exclusão de oficiais considerados indignos e o “regime de trabalho menos exigente”. “Notável então, entender que, além do justo pleito pela revogação da prática repulsiva do açoite, buscavam, deliberadamente, vantagens corporativistas e ilegítimas.” De acordo com Olsen, “os castigos físicos levados a cabo nos navios, prática inaceitável, foram reconhecidos como equivocados e indignos e os insurgentes, inclusive, anistiados”.

BRASILIA DF NACIONAL 05-11-2021 JOAO CANDIDO CHIBATA O Senado aprovou a inscrição do nome do marinheiro João Cândido, líder da Revolta da Chibata, no livro de Heróis da Pátria. A Marinha, mais uma vez, emitiu uma nota em contrário dizendo que Cândido não pode ser considerado herói porque rompeu a hierarquia da força. Cândido liderou uma rebelião pelo fim dos castigos físicos na Marinha, em 1910. FOTO Acervo Edmar Morel da Biblioteca Nacional 

“Porém, resta notável diferença entre reconhecer um erro e enaltecer um heroísmo infundado. Para o almirante, incluir o nome de Cândido no Livro dos heróis da Pátria seria o mesmo que “transmitir à sociedade e, em particular, aos militares de hoje, a mensagem de que é lícito recorrer às armas que lhe foram confiadas para reivindicar suposto direito individual ou de classe”. Para a Marinha, a atuação de Cândido não foi patriótica nem heroica .

Por fim, o almirante conclui: “Nos dias atuais, enaltecer passagens afamadas pela subversão, ruptura de preceitos constitucionais organizadores e basilares das Forças Armadas e pelo descomedido emprego da violência de militares contra a vida de civis brasileiros é exaltar atributos morais e profissionais, que nada contribuirá ao pleno estabelecimento e manutenção do verdadeiro Estado democrático de Direito.”

A revolta, ocorrida em 1910, nos navios da Armada na baía da Guanabara, atingiu os modernos encouraçados da Marinha. Os amotinados apontaram os navios para o Rio, então capital federal, para obrigar o governo a atender às suas reivindicações, como o fim dos castigos corporais aplicados aos marinheiros a bordo das embarcações.

O almirante Marcos Sampaio Olsen, comandante da Marinha, em cerimônia no Ministério da Defesa, em Brasília Foto: Marinha do Brasil

O governo cedeu. Os castigos cessaram. Os revoltosos se entregaram após seis dias. Eles foram presos e expulsos da Marinha. Em 2008, 39 anos após a morte de Cândido, conhecido como Almirante Negro, o governo anistiou o líder da revolta e outros 600 marinheiros que participaram do movimento.

Desde então, Cândido se tornou herói do Rio de Janeiro, teve uma estátua inaugurada na cidade e virou enredo de escolas de samba, como a do Paraíso do TuiutiGlória ao Almirante Negro –, que ficou em 9º lugar neste ano no desfile das escolas do grupo especial do Rio. O Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria é um documento que preserva os nomes da história do Brasil. Ele fica no Panteão da Pátria, em Brasília.

No dia em que a Comissão de Cultura da Câmara dos deputados promoveu uma audiência para discutir o projeto que discutia o projeto que inscreve o nome do marinheiro João Cândido Felisberto, o líder da Revolta da Chibata, no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria, o comandante da Marinha, almirante Marcos Olsen, enviou uma carta ao presidente do colegiado, o deputado federal Aliel Machado (PV-PR) para explicar por que a Força Naval se opõe à homenagem.

O governo concedeu anistia hoje, 24, ao principal líder da Revolta da Chibata (1910), João Cândido Felisberto, o Almirante Negro. O levante queria o fim do uso da chibata para os oficiais da Marinha Foto: Arquivo AE

De autoria do então senador Lindbergh Farias (PT-RJ), o projeto foi aprovado pelo senado em 2021 com a oposição da Marinha. Ele recebeu na Câmara o parecer favorável da relatora, a deputada Benedita da Silva (PT-RJ). Em sua carta, o almirante Olsen afirma que o episódio da Revolta da Chibata “constitui para a Marinha do Brasil, fato de opróbrio da história, cujo estopim se deu pela atuação violenta de abjetos marinheiros que, fendendo hierarquia e disciplina, utilizaram equipamentos militares para chantagear a Nação, disparando, a esmo, os canhões de grosso calibre dos apoderados encouraçados contra a então capital federal e uma população indefesa, ceifando a vida de duas crianças, atingidas no Morro do Castelo”.

A carta do almirante afirma que entre as reivindicações dos revoltosos estavam o aumento de salários, a exclusão de oficiais considerados indignos e o “regime de trabalho menos exigente”. “Notável então, entender que, além do justo pleito pela revogação da prática repulsiva do açoite, buscavam, deliberadamente, vantagens corporativistas e ilegítimas.” De acordo com Olsen, “os castigos físicos levados a cabo nos navios, prática inaceitável, foram reconhecidos como equivocados e indignos e os insurgentes, inclusive, anistiados”.

BRASILIA DF NACIONAL 05-11-2021 JOAO CANDIDO CHIBATA O Senado aprovou a inscrição do nome do marinheiro João Cândido, líder da Revolta da Chibata, no livro de Heróis da Pátria. A Marinha, mais uma vez, emitiu uma nota em contrário dizendo que Cândido não pode ser considerado herói porque rompeu a hierarquia da força. Cândido liderou uma rebelião pelo fim dos castigos físicos na Marinha, em 1910. FOTO Acervo Edmar Morel da Biblioteca Nacional 

“Porém, resta notável diferença entre reconhecer um erro e enaltecer um heroísmo infundado. Para o almirante, incluir o nome de Cândido no Livro dos heróis da Pátria seria o mesmo que “transmitir à sociedade e, em particular, aos militares de hoje, a mensagem de que é lícito recorrer às armas que lhe foram confiadas para reivindicar suposto direito individual ou de classe”. Para a Marinha, a atuação de Cândido não foi patriótica nem heroica .

Por fim, o almirante conclui: “Nos dias atuais, enaltecer passagens afamadas pela subversão, ruptura de preceitos constitucionais organizadores e basilares das Forças Armadas e pelo descomedido emprego da violência de militares contra a vida de civis brasileiros é exaltar atributos morais e profissionais, que nada contribuirá ao pleno estabelecimento e manutenção do verdadeiro Estado democrático de Direito.”

A revolta, ocorrida em 1910, nos navios da Armada na baía da Guanabara, atingiu os modernos encouraçados da Marinha. Os amotinados apontaram os navios para o Rio, então capital federal, para obrigar o governo a atender às suas reivindicações, como o fim dos castigos corporais aplicados aos marinheiros a bordo das embarcações.

O almirante Marcos Sampaio Olsen, comandante da Marinha, em cerimônia no Ministério da Defesa, em Brasília Foto: Marinha do Brasil

O governo cedeu. Os castigos cessaram. Os revoltosos se entregaram após seis dias. Eles foram presos e expulsos da Marinha. Em 2008, 39 anos após a morte de Cândido, conhecido como Almirante Negro, o governo anistiou o líder da revolta e outros 600 marinheiros que participaram do movimento.

Desde então, Cândido se tornou herói do Rio de Janeiro, teve uma estátua inaugurada na cidade e virou enredo de escolas de samba, como a do Paraíso do TuiutiGlória ao Almirante Negro –, que ficou em 9º lugar neste ano no desfile das escolas do grupo especial do Rio. O Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria é um documento que preserva os nomes da história do Brasil. Ele fica no Panteão da Pátria, em Brasília.

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