BRASÍLIA – Uma semana depois de aplicar uma censura em Ricardo Salles, ex-ministro da gestão Bolsonaro, a Comissão de Ética Pública (CEP) da Presidência da República arquivou nesta segunda-feira, 31, a apuração feita sobre o uso de aeronave da Força Aérea Brasileira (FAB) pelo ministro das Comunicações, Juscelino Filho (União Brasil), para ir a São Paulo e participar de leilões de cavalos de raça. O caso foi revelado pelo Estadão, em uma série de reportagens que mostrou o mau uso de dinheiro público pelo chefe da pasta do governo Lula.
Salles fora punido pela comissão por ter feito uma série de viagens que fez a São Paulo, seu reduto eleitoral, com dinheiro público. Ministro do Meio Ambiente entre janeiro de 2019 e junho de 2021, o atual deputado federal realizou mais de 130 viagens nacionais. Dessas, 90 foram para São Paulo.
Já Juscelino viajou para São Paulo numa quinta-feira, dia 26 de janeiro. Ele participou de três curtas agendas no Estado e, a partir do meio dia de sexta-feira, 27, se dedicou a compromissos totalmente privados: assessorou compradores de cavalos, promoveu um dos animais dele, recebeu prêmio em um “Oscar” de vaqueiros e inaugurou praça em homenagem a um cavalo do sócio. Ele voltou à capital federal apenas na segunda-feira, dia 30, mais uma vez nas asas da FAB. O voo custou mais de R$ 130 mil aos cofres públicos, como mostrou o Estadão.
Para a Comissão de Ética Pública, Juscelino não usou o avião da maneira indevida. O processo foi arquivado por unanimidade.
Documentos do Ministério da Defesa revelam, por outro lado, que o ministro das Comunicações mentiu para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao afirmar que pegou uma carona na volta da viagem a São Paulo com o ministro do Trabalho, Luiz Marinho (PT). O presidente ameaçou o ministro de demissão caso não conseguisse se explicar. Os dados oficiais mostram que Juscelino solicitou o voo de volta de São Paulo para Brasília alegando “viagem a serviço”, ao contrário do que informou ao chefe.
Apesar da decisão desta segunda, Juscelino Filho ainda não se safou da Comissão de Ética Pública. O colegiado ainda investiga a atuação do sogro do ministro das Comunicações no gabinete do genro em Brasília. Conforme revelou o Estadão, Fernando Fialho, pai da esposa de Juscelino, recebe empresários no Ministério das Comunicações até mesmo quando o genro está fora da capital federal. O sogro, contudo, opera irregularmente, uma vez que não está nomeado na pasta.
Aliados de Bolsonaro são investigados por caso das joias sauditas
Nesta segunda-feira, a Comissão de Ética também abriu um Processo de Apuração Ética (PAE) contra aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) que estavam envolvidos no caso das joias sauditas, também revelado pelo Estadão. O governo passado tentou trazer ao Brasil, de forma ilegal, um conjunto de colar, anel, relógio e um par de brincos de diamantes avaliados em mais de R$ 5 milhões.
Os alvos do processo são Julio Cesar Vieira Gomes, ex-secretário da Receita Federal; Bento Costa Lima Leite de Albuquerque Junior, ex-ministro de Minas e Energia; e Marcelo da Silva Vieira, ex-chefe de gabinete adjunto de documentação histórica. Eles terão 10 dias para apresentar a defesa. O processo estará sob relatoria do presidente da Comissão, Edson Leonardo.
Em documento obtido pelo Estadão, o colegiado também determinou a remessa dos autos para o Comando do Exército, para que, se for o caso, abra uma investigação contra o tenente-coronel Mauro Cid, então ajudante de ordens de Bolsonaro, que se envolveu na recuperação das joias trazidas ao Brasil. A Marinha e o Ministério de Minas e Energia também foram notificados, uma vez que o primeiro-sargento Jairo Moreira da Silva e os servidores José Roberto Bueno Júnior e Marcos André dos Santos Soeiro participaram do ato.