Como seria a relação da Câmara com Lula ou Bolsonaro? Centrão desafia próximo presidente eleito


Bloco vai ocupar 47% das cadeiras da Casa e será decisivo para a governabilidade; eleito precisará dialogar para garantir apoio

Por Marcela Villar e Gustavo Queiroz

Cobiçado pelo tamanho e poder acumulado no Congresso, o Centrão manteve a força política na Câmara nesta eleição e deve iniciar a próxima legislatura ocupando mais de 240 cadeiras na Casa, ou 47% dela. Com uma bancada de maioria pró-governo, a nova composição indica cenário vantajoso para o presidente Jair Bolsonaro (PL), mas especialistas ouvidos pelo Estadão apontam que a atuação deste bloco nos próximos quatro anos pode modular de acordo com o presidente que for eleito.

No governo Bolsonaro, essa frente ganhou ainda mais força ao se tornar não apenas o fiel da balança nas negociações com o Executivo, mas tomar para si o poder decisório sobre o Orçamento Público.

De 2019 para cá, o grupo passou a atuar de forma mais coesa e se estabilizou principalmente após o embarque de Bolsonaro no PL. A base do núcleo se formou ao redor de PL, Republicanos e PP. Outros partidos também votaram com o governo em diversas ocasiões, como Patriota, PTB, PSC e PSD - todos contabilizados no levantamento feito pelo Estadão e que atuam como um Centrão ampliado.

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Em 2018, Bolsonaro havia sido eleito com uma base mais enxuta, de 112 deputados, com discurso contrário a este grupo de parlamentares.

Em um novo governo Bolsonaro, o Centrão pode se tornar mais autofágico e acumular poder a partir da relação que já estabeleceu com o presidente, apontam os especialistas. Além disso, a reeleição “zera as contas” dos conflitos com o União Brasil, legenda que abriga o PSL, de antigos aliados do presidente. Por isso, o diálogo e apoio dessas legendas será decisivo para a governabilidade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ou do atual presidente em um próximo mandato.

No caso de um novo governo petista, o grupo vira um desafio, mas não deve entrar na oposição de forma automática. A federação PT, PCdoB e PV - que atua junto no Congresso - conta com 19 cadeiras a menos que o PL, que agora tem 99. A dificuldade será maior para o petista se a fusão entre o União Brasil e o PP se confirmar, movimento já indicado pelo presidente da Casa, Arthur Lira (PP). Isso deixaria o Centrão com 300 cadeiras.

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Jair Bolsonaro e Arthur Lira articularam pacote de bondades no Congresso  Foto: Wilton Junior/Estadão - 06/06/2022

A coligação petista, porém, soma 121 parlamentares eleitos por partidos de sua coligação. Lula tem repetido em sua campanha que quer dialogar com todos os partidos. O PSD, por exemplo, pode desembarcar da proximidade que criou com o bolsonarismo em um eventual governo do PT.

O PT também tenta ampliar alianças dentro do MDB e do próprio União Brasil, além de abrir diálogo com o PSDB e Cidadania. A ideia de Lula é fechar alianças para reverter a hostilidade contra seu nome. A aposta é que a governabilidade não ficaria comprometida se houver embarques no que chama de frente ampla.

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DESAFIOS

A cientista política Graziella Testa, professora da Escola de Políticas Públicas e Governo da Fundação Getúlio Vargas Questiona se, na eventualidade de Lula ser eleito, o PL vai conseguir uma coesão perfeita entre toda a sua bancada de 100 parlamentares para formar uma oposição.

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Já Bolsonaro, por não ter construído uma coalizão com bases partidárias sólidas no atual governo, também pode ter uma governabilidade custosa. “A bancada eleita do PT também foi muito relevante. Ele (Bolsonaro) vai precisar despender mais recursos para manter essa governabilidade, que é uma governabilidade cara, por meio do orçamento secreto”, afirma Graziella.

De toda maneira, é de interesse do Centrão manter-se aliado com o governo. “O Centrão quer ser governo, quer estar próximo do recurso e levar o recurso para suas bases, sobretudo”, completa.

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“Sempre vão existir partidos políticos fisiológicos. Arthur Lira, como presidente da Câmara, teve atuação de aglutinar e aprovar todas as ideias, projetos e arranjos do presidente Bolsonaro em troca de regalias como o orçamento secreto vem nessa linha”, diz a cientista política e professora da PUC-SP Vera Chaia.

Composição

Com as novas regras eleitorais que sobem o sarrafo da cláusula de barreira, a Câmara passou de 30 partidos, em 2018, para 23, em 2023. Cinco siglas passaram por fusões ou incorporações. O Senado perdeu 6 legendas e agora tem 15.

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PL

A onda bolsonarista consolidou a maior bancada para o PL, com 99 cadeiras. A federação entre PT/PCdoB/PV, que vai atuar como um partido, ficou com 80. O PL também será a maior bancada do Senado, com 13 cadeiras.

Apoio

Com a terceira maior bancada, não está definido se o União Brasil apoiará Lula ou Bolsonaro. A aliança será crucial para garantir governabilidade a partir de 2023.

Queda

O PSB e o PSDB foram os partidos que mais perderam deputados (16 cada).

Histórico

O Centrão é um bloco informal na Câmara que reúne partidos de centro e centro-direita, que, dependendo da matéria, se articulam para votar da mesma maneira sobre determinado projeto. A origem do termo surgiu na Constituinte de 1986 a 1988 e se referia a um grupo de congressistas que formou uma maioria capaz de mudar o jogo no Congresso.

“De lá para cá, eles deram sustentação a todos os governos. Sofreram mudanças, houve rachas e fusões, mas, no fundamental, têm mantido uma posição de direita, defendendo pauats mais liberais, de interesse do grande capital, privatizações e quebra de direitos trabalhistas”, diz o cientista político e professora da Universidade Federal da Bahia (Ufba) Jorge Almeida.

O atual Centrão surgiu em 2014, sob o comando do então líder do MDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), preso por corrupção na Operação Lava Jato. O bloco deu apoio decisivo ao impeachment de Dilma Rousseff na Câmara em 2016. E também foi graças aos votos do Centrão que foram barradas as duas denúncias contra o então presidente Michel Temer, que poderiam desencadear em processos de impeachment.

Na linha de frente hoje estão o presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-PI), o ministro da Casa Civil Ciro Nogueira (PP-PI), e o ex-presidente da legenda Valdemar Costa Neto, condenado e preso no esquema do mensalão e uma das principais lideranças do partido.

Alguns personagens reeleitos também já deram sinais de um fisiologismo calculado. Ciro Nogueira (PP), atual ministro-chefe da Casa Civil, foi candidato em 2018 colado em Lula, antes de se tornar aliado de Bolsonaro. Outro quadro do PP, o líder do governo na Câmara Ricardo Barros, também foi aliado de primeira ordem do governo da ex-presidente Dilma Rousseff. Ele se junta também a Valdemar Costa Neto, presidente do PL, cujo partido compôs a coalizão petista na vice-presidência em 2002 . Ele foi condenado e preso no esquema do mensalão. Agora é a sigla que abriga bolsonaristas.

Cobiçado pelo tamanho e poder acumulado no Congresso, o Centrão manteve a força política na Câmara nesta eleição e deve iniciar a próxima legislatura ocupando mais de 240 cadeiras na Casa, ou 47% dela. Com uma bancada de maioria pró-governo, a nova composição indica cenário vantajoso para o presidente Jair Bolsonaro (PL), mas especialistas ouvidos pelo Estadão apontam que a atuação deste bloco nos próximos quatro anos pode modular de acordo com o presidente que for eleito.

No governo Bolsonaro, essa frente ganhou ainda mais força ao se tornar não apenas o fiel da balança nas negociações com o Executivo, mas tomar para si o poder decisório sobre o Orçamento Público.

De 2019 para cá, o grupo passou a atuar de forma mais coesa e se estabilizou principalmente após o embarque de Bolsonaro no PL. A base do núcleo se formou ao redor de PL, Republicanos e PP. Outros partidos também votaram com o governo em diversas ocasiões, como Patriota, PTB, PSC e PSD - todos contabilizados no levantamento feito pelo Estadão e que atuam como um Centrão ampliado.

Em 2018, Bolsonaro havia sido eleito com uma base mais enxuta, de 112 deputados, com discurso contrário a este grupo de parlamentares.

Em um novo governo Bolsonaro, o Centrão pode se tornar mais autofágico e acumular poder a partir da relação que já estabeleceu com o presidente, apontam os especialistas. Além disso, a reeleição “zera as contas” dos conflitos com o União Brasil, legenda que abriga o PSL, de antigos aliados do presidente. Por isso, o diálogo e apoio dessas legendas será decisivo para a governabilidade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ou do atual presidente em um próximo mandato.

No caso de um novo governo petista, o grupo vira um desafio, mas não deve entrar na oposição de forma automática. A federação PT, PCdoB e PV - que atua junto no Congresso - conta com 19 cadeiras a menos que o PL, que agora tem 99. A dificuldade será maior para o petista se a fusão entre o União Brasil e o PP se confirmar, movimento já indicado pelo presidente da Casa, Arthur Lira (PP). Isso deixaria o Centrão com 300 cadeiras.

Jair Bolsonaro e Arthur Lira articularam pacote de bondades no Congresso  Foto: Wilton Junior/Estadão - 06/06/2022

A coligação petista, porém, soma 121 parlamentares eleitos por partidos de sua coligação. Lula tem repetido em sua campanha que quer dialogar com todos os partidos. O PSD, por exemplo, pode desembarcar da proximidade que criou com o bolsonarismo em um eventual governo do PT.

O PT também tenta ampliar alianças dentro do MDB e do próprio União Brasil, além de abrir diálogo com o PSDB e Cidadania. A ideia de Lula é fechar alianças para reverter a hostilidade contra seu nome. A aposta é que a governabilidade não ficaria comprometida se houver embarques no que chama de frente ampla.

DESAFIOS

A cientista política Graziella Testa, professora da Escola de Políticas Públicas e Governo da Fundação Getúlio Vargas Questiona se, na eventualidade de Lula ser eleito, o PL vai conseguir uma coesão perfeita entre toda a sua bancada de 100 parlamentares para formar uma oposição.

Já Bolsonaro, por não ter construído uma coalizão com bases partidárias sólidas no atual governo, também pode ter uma governabilidade custosa. “A bancada eleita do PT também foi muito relevante. Ele (Bolsonaro) vai precisar despender mais recursos para manter essa governabilidade, que é uma governabilidade cara, por meio do orçamento secreto”, afirma Graziella.

De toda maneira, é de interesse do Centrão manter-se aliado com o governo. “O Centrão quer ser governo, quer estar próximo do recurso e levar o recurso para suas bases, sobretudo”, completa.

“Sempre vão existir partidos políticos fisiológicos. Arthur Lira, como presidente da Câmara, teve atuação de aglutinar e aprovar todas as ideias, projetos e arranjos do presidente Bolsonaro em troca de regalias como o orçamento secreto vem nessa linha”, diz a cientista política e professora da PUC-SP Vera Chaia.

Composição

Com as novas regras eleitorais que sobem o sarrafo da cláusula de barreira, a Câmara passou de 30 partidos, em 2018, para 23, em 2023. Cinco siglas passaram por fusões ou incorporações. O Senado perdeu 6 legendas e agora tem 15.

PL

A onda bolsonarista consolidou a maior bancada para o PL, com 99 cadeiras. A federação entre PT/PCdoB/PV, que vai atuar como um partido, ficou com 80. O PL também será a maior bancada do Senado, com 13 cadeiras.

Apoio

Com a terceira maior bancada, não está definido se o União Brasil apoiará Lula ou Bolsonaro. A aliança será crucial para garantir governabilidade a partir de 2023.

Queda

O PSB e o PSDB foram os partidos que mais perderam deputados (16 cada).

Histórico

O Centrão é um bloco informal na Câmara que reúne partidos de centro e centro-direita, que, dependendo da matéria, se articulam para votar da mesma maneira sobre determinado projeto. A origem do termo surgiu na Constituinte de 1986 a 1988 e se referia a um grupo de congressistas que formou uma maioria capaz de mudar o jogo no Congresso.

“De lá para cá, eles deram sustentação a todos os governos. Sofreram mudanças, houve rachas e fusões, mas, no fundamental, têm mantido uma posição de direita, defendendo pauats mais liberais, de interesse do grande capital, privatizações e quebra de direitos trabalhistas”, diz o cientista político e professora da Universidade Federal da Bahia (Ufba) Jorge Almeida.

O atual Centrão surgiu em 2014, sob o comando do então líder do MDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), preso por corrupção na Operação Lava Jato. O bloco deu apoio decisivo ao impeachment de Dilma Rousseff na Câmara em 2016. E também foi graças aos votos do Centrão que foram barradas as duas denúncias contra o então presidente Michel Temer, que poderiam desencadear em processos de impeachment.

Na linha de frente hoje estão o presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-PI), o ministro da Casa Civil Ciro Nogueira (PP-PI), e o ex-presidente da legenda Valdemar Costa Neto, condenado e preso no esquema do mensalão e uma das principais lideranças do partido.

Alguns personagens reeleitos também já deram sinais de um fisiologismo calculado. Ciro Nogueira (PP), atual ministro-chefe da Casa Civil, foi candidato em 2018 colado em Lula, antes de se tornar aliado de Bolsonaro. Outro quadro do PP, o líder do governo na Câmara Ricardo Barros, também foi aliado de primeira ordem do governo da ex-presidente Dilma Rousseff. Ele se junta também a Valdemar Costa Neto, presidente do PL, cujo partido compôs a coalizão petista na vice-presidência em 2002 . Ele foi condenado e preso no esquema do mensalão. Agora é a sigla que abriga bolsonaristas.

Cobiçado pelo tamanho e poder acumulado no Congresso, o Centrão manteve a força política na Câmara nesta eleição e deve iniciar a próxima legislatura ocupando mais de 240 cadeiras na Casa, ou 47% dela. Com uma bancada de maioria pró-governo, a nova composição indica cenário vantajoso para o presidente Jair Bolsonaro (PL), mas especialistas ouvidos pelo Estadão apontam que a atuação deste bloco nos próximos quatro anos pode modular de acordo com o presidente que for eleito.

No governo Bolsonaro, essa frente ganhou ainda mais força ao se tornar não apenas o fiel da balança nas negociações com o Executivo, mas tomar para si o poder decisório sobre o Orçamento Público.

De 2019 para cá, o grupo passou a atuar de forma mais coesa e se estabilizou principalmente após o embarque de Bolsonaro no PL. A base do núcleo se formou ao redor de PL, Republicanos e PP. Outros partidos também votaram com o governo em diversas ocasiões, como Patriota, PTB, PSC e PSD - todos contabilizados no levantamento feito pelo Estadão e que atuam como um Centrão ampliado.

Em 2018, Bolsonaro havia sido eleito com uma base mais enxuta, de 112 deputados, com discurso contrário a este grupo de parlamentares.

Em um novo governo Bolsonaro, o Centrão pode se tornar mais autofágico e acumular poder a partir da relação que já estabeleceu com o presidente, apontam os especialistas. Além disso, a reeleição “zera as contas” dos conflitos com o União Brasil, legenda que abriga o PSL, de antigos aliados do presidente. Por isso, o diálogo e apoio dessas legendas será decisivo para a governabilidade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ou do atual presidente em um próximo mandato.

No caso de um novo governo petista, o grupo vira um desafio, mas não deve entrar na oposição de forma automática. A federação PT, PCdoB e PV - que atua junto no Congresso - conta com 19 cadeiras a menos que o PL, que agora tem 99. A dificuldade será maior para o petista se a fusão entre o União Brasil e o PP se confirmar, movimento já indicado pelo presidente da Casa, Arthur Lira (PP). Isso deixaria o Centrão com 300 cadeiras.

Jair Bolsonaro e Arthur Lira articularam pacote de bondades no Congresso  Foto: Wilton Junior/Estadão - 06/06/2022

A coligação petista, porém, soma 121 parlamentares eleitos por partidos de sua coligação. Lula tem repetido em sua campanha que quer dialogar com todos os partidos. O PSD, por exemplo, pode desembarcar da proximidade que criou com o bolsonarismo em um eventual governo do PT.

O PT também tenta ampliar alianças dentro do MDB e do próprio União Brasil, além de abrir diálogo com o PSDB e Cidadania. A ideia de Lula é fechar alianças para reverter a hostilidade contra seu nome. A aposta é que a governabilidade não ficaria comprometida se houver embarques no que chama de frente ampla.

DESAFIOS

A cientista política Graziella Testa, professora da Escola de Políticas Públicas e Governo da Fundação Getúlio Vargas Questiona se, na eventualidade de Lula ser eleito, o PL vai conseguir uma coesão perfeita entre toda a sua bancada de 100 parlamentares para formar uma oposição.

Já Bolsonaro, por não ter construído uma coalizão com bases partidárias sólidas no atual governo, também pode ter uma governabilidade custosa. “A bancada eleita do PT também foi muito relevante. Ele (Bolsonaro) vai precisar despender mais recursos para manter essa governabilidade, que é uma governabilidade cara, por meio do orçamento secreto”, afirma Graziella.

De toda maneira, é de interesse do Centrão manter-se aliado com o governo. “O Centrão quer ser governo, quer estar próximo do recurso e levar o recurso para suas bases, sobretudo”, completa.

“Sempre vão existir partidos políticos fisiológicos. Arthur Lira, como presidente da Câmara, teve atuação de aglutinar e aprovar todas as ideias, projetos e arranjos do presidente Bolsonaro em troca de regalias como o orçamento secreto vem nessa linha”, diz a cientista política e professora da PUC-SP Vera Chaia.

Composição

Com as novas regras eleitorais que sobem o sarrafo da cláusula de barreira, a Câmara passou de 30 partidos, em 2018, para 23, em 2023. Cinco siglas passaram por fusões ou incorporações. O Senado perdeu 6 legendas e agora tem 15.

PL

A onda bolsonarista consolidou a maior bancada para o PL, com 99 cadeiras. A federação entre PT/PCdoB/PV, que vai atuar como um partido, ficou com 80. O PL também será a maior bancada do Senado, com 13 cadeiras.

Apoio

Com a terceira maior bancada, não está definido se o União Brasil apoiará Lula ou Bolsonaro. A aliança será crucial para garantir governabilidade a partir de 2023.

Queda

O PSB e o PSDB foram os partidos que mais perderam deputados (16 cada).

Histórico

O Centrão é um bloco informal na Câmara que reúne partidos de centro e centro-direita, que, dependendo da matéria, se articulam para votar da mesma maneira sobre determinado projeto. A origem do termo surgiu na Constituinte de 1986 a 1988 e se referia a um grupo de congressistas que formou uma maioria capaz de mudar o jogo no Congresso.

“De lá para cá, eles deram sustentação a todos os governos. Sofreram mudanças, houve rachas e fusões, mas, no fundamental, têm mantido uma posição de direita, defendendo pauats mais liberais, de interesse do grande capital, privatizações e quebra de direitos trabalhistas”, diz o cientista político e professora da Universidade Federal da Bahia (Ufba) Jorge Almeida.

O atual Centrão surgiu em 2014, sob o comando do então líder do MDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), preso por corrupção na Operação Lava Jato. O bloco deu apoio decisivo ao impeachment de Dilma Rousseff na Câmara em 2016. E também foi graças aos votos do Centrão que foram barradas as duas denúncias contra o então presidente Michel Temer, que poderiam desencadear em processos de impeachment.

Na linha de frente hoje estão o presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-PI), o ministro da Casa Civil Ciro Nogueira (PP-PI), e o ex-presidente da legenda Valdemar Costa Neto, condenado e preso no esquema do mensalão e uma das principais lideranças do partido.

Alguns personagens reeleitos também já deram sinais de um fisiologismo calculado. Ciro Nogueira (PP), atual ministro-chefe da Casa Civil, foi candidato em 2018 colado em Lula, antes de se tornar aliado de Bolsonaro. Outro quadro do PP, o líder do governo na Câmara Ricardo Barros, também foi aliado de primeira ordem do governo da ex-presidente Dilma Rousseff. Ele se junta também a Valdemar Costa Neto, presidente do PL, cujo partido compôs a coalizão petista na vice-presidência em 2002 . Ele foi condenado e preso no esquema do mensalão. Agora é a sigla que abriga bolsonaristas.

Cobiçado pelo tamanho e poder acumulado no Congresso, o Centrão manteve a força política na Câmara nesta eleição e deve iniciar a próxima legislatura ocupando mais de 240 cadeiras na Casa, ou 47% dela. Com uma bancada de maioria pró-governo, a nova composição indica cenário vantajoso para o presidente Jair Bolsonaro (PL), mas especialistas ouvidos pelo Estadão apontam que a atuação deste bloco nos próximos quatro anos pode modular de acordo com o presidente que for eleito.

No governo Bolsonaro, essa frente ganhou ainda mais força ao se tornar não apenas o fiel da balança nas negociações com o Executivo, mas tomar para si o poder decisório sobre o Orçamento Público.

De 2019 para cá, o grupo passou a atuar de forma mais coesa e se estabilizou principalmente após o embarque de Bolsonaro no PL. A base do núcleo se formou ao redor de PL, Republicanos e PP. Outros partidos também votaram com o governo em diversas ocasiões, como Patriota, PTB, PSC e PSD - todos contabilizados no levantamento feito pelo Estadão e que atuam como um Centrão ampliado.

Em 2018, Bolsonaro havia sido eleito com uma base mais enxuta, de 112 deputados, com discurso contrário a este grupo de parlamentares.

Em um novo governo Bolsonaro, o Centrão pode se tornar mais autofágico e acumular poder a partir da relação que já estabeleceu com o presidente, apontam os especialistas. Além disso, a reeleição “zera as contas” dos conflitos com o União Brasil, legenda que abriga o PSL, de antigos aliados do presidente. Por isso, o diálogo e apoio dessas legendas será decisivo para a governabilidade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ou do atual presidente em um próximo mandato.

No caso de um novo governo petista, o grupo vira um desafio, mas não deve entrar na oposição de forma automática. A federação PT, PCdoB e PV - que atua junto no Congresso - conta com 19 cadeiras a menos que o PL, que agora tem 99. A dificuldade será maior para o petista se a fusão entre o União Brasil e o PP se confirmar, movimento já indicado pelo presidente da Casa, Arthur Lira (PP). Isso deixaria o Centrão com 300 cadeiras.

Jair Bolsonaro e Arthur Lira articularam pacote de bondades no Congresso  Foto: Wilton Junior/Estadão - 06/06/2022

A coligação petista, porém, soma 121 parlamentares eleitos por partidos de sua coligação. Lula tem repetido em sua campanha que quer dialogar com todos os partidos. O PSD, por exemplo, pode desembarcar da proximidade que criou com o bolsonarismo em um eventual governo do PT.

O PT também tenta ampliar alianças dentro do MDB e do próprio União Brasil, além de abrir diálogo com o PSDB e Cidadania. A ideia de Lula é fechar alianças para reverter a hostilidade contra seu nome. A aposta é que a governabilidade não ficaria comprometida se houver embarques no que chama de frente ampla.

DESAFIOS

A cientista política Graziella Testa, professora da Escola de Políticas Públicas e Governo da Fundação Getúlio Vargas Questiona se, na eventualidade de Lula ser eleito, o PL vai conseguir uma coesão perfeita entre toda a sua bancada de 100 parlamentares para formar uma oposição.

Já Bolsonaro, por não ter construído uma coalizão com bases partidárias sólidas no atual governo, também pode ter uma governabilidade custosa. “A bancada eleita do PT também foi muito relevante. Ele (Bolsonaro) vai precisar despender mais recursos para manter essa governabilidade, que é uma governabilidade cara, por meio do orçamento secreto”, afirma Graziella.

De toda maneira, é de interesse do Centrão manter-se aliado com o governo. “O Centrão quer ser governo, quer estar próximo do recurso e levar o recurso para suas bases, sobretudo”, completa.

“Sempre vão existir partidos políticos fisiológicos. Arthur Lira, como presidente da Câmara, teve atuação de aglutinar e aprovar todas as ideias, projetos e arranjos do presidente Bolsonaro em troca de regalias como o orçamento secreto vem nessa linha”, diz a cientista política e professora da PUC-SP Vera Chaia.

Composição

Com as novas regras eleitorais que sobem o sarrafo da cláusula de barreira, a Câmara passou de 30 partidos, em 2018, para 23, em 2023. Cinco siglas passaram por fusões ou incorporações. O Senado perdeu 6 legendas e agora tem 15.

PL

A onda bolsonarista consolidou a maior bancada para o PL, com 99 cadeiras. A federação entre PT/PCdoB/PV, que vai atuar como um partido, ficou com 80. O PL também será a maior bancada do Senado, com 13 cadeiras.

Apoio

Com a terceira maior bancada, não está definido se o União Brasil apoiará Lula ou Bolsonaro. A aliança será crucial para garantir governabilidade a partir de 2023.

Queda

O PSB e o PSDB foram os partidos que mais perderam deputados (16 cada).

Histórico

O Centrão é um bloco informal na Câmara que reúne partidos de centro e centro-direita, que, dependendo da matéria, se articulam para votar da mesma maneira sobre determinado projeto. A origem do termo surgiu na Constituinte de 1986 a 1988 e se referia a um grupo de congressistas que formou uma maioria capaz de mudar o jogo no Congresso.

“De lá para cá, eles deram sustentação a todos os governos. Sofreram mudanças, houve rachas e fusões, mas, no fundamental, têm mantido uma posição de direita, defendendo pauats mais liberais, de interesse do grande capital, privatizações e quebra de direitos trabalhistas”, diz o cientista político e professora da Universidade Federal da Bahia (Ufba) Jorge Almeida.

O atual Centrão surgiu em 2014, sob o comando do então líder do MDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), preso por corrupção na Operação Lava Jato. O bloco deu apoio decisivo ao impeachment de Dilma Rousseff na Câmara em 2016. E também foi graças aos votos do Centrão que foram barradas as duas denúncias contra o então presidente Michel Temer, que poderiam desencadear em processos de impeachment.

Na linha de frente hoje estão o presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-PI), o ministro da Casa Civil Ciro Nogueira (PP-PI), e o ex-presidente da legenda Valdemar Costa Neto, condenado e preso no esquema do mensalão e uma das principais lideranças do partido.

Alguns personagens reeleitos também já deram sinais de um fisiologismo calculado. Ciro Nogueira (PP), atual ministro-chefe da Casa Civil, foi candidato em 2018 colado em Lula, antes de se tornar aliado de Bolsonaro. Outro quadro do PP, o líder do governo na Câmara Ricardo Barros, também foi aliado de primeira ordem do governo da ex-presidente Dilma Rousseff. Ele se junta também a Valdemar Costa Neto, presidente do PL, cujo partido compôs a coalizão petista na vice-presidência em 2002 . Ele foi condenado e preso no esquema do mensalão. Agora é a sigla que abriga bolsonaristas.

Cobiçado pelo tamanho e poder acumulado no Congresso, o Centrão manteve a força política na Câmara nesta eleição e deve iniciar a próxima legislatura ocupando mais de 240 cadeiras na Casa, ou 47% dela. Com uma bancada de maioria pró-governo, a nova composição indica cenário vantajoso para o presidente Jair Bolsonaro (PL), mas especialistas ouvidos pelo Estadão apontam que a atuação deste bloco nos próximos quatro anos pode modular de acordo com o presidente que for eleito.

No governo Bolsonaro, essa frente ganhou ainda mais força ao se tornar não apenas o fiel da balança nas negociações com o Executivo, mas tomar para si o poder decisório sobre o Orçamento Público.

De 2019 para cá, o grupo passou a atuar de forma mais coesa e se estabilizou principalmente após o embarque de Bolsonaro no PL. A base do núcleo se formou ao redor de PL, Republicanos e PP. Outros partidos também votaram com o governo em diversas ocasiões, como Patriota, PTB, PSC e PSD - todos contabilizados no levantamento feito pelo Estadão e que atuam como um Centrão ampliado.

Em 2018, Bolsonaro havia sido eleito com uma base mais enxuta, de 112 deputados, com discurso contrário a este grupo de parlamentares.

Em um novo governo Bolsonaro, o Centrão pode se tornar mais autofágico e acumular poder a partir da relação que já estabeleceu com o presidente, apontam os especialistas. Além disso, a reeleição “zera as contas” dos conflitos com o União Brasil, legenda que abriga o PSL, de antigos aliados do presidente. Por isso, o diálogo e apoio dessas legendas será decisivo para a governabilidade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ou do atual presidente em um próximo mandato.

No caso de um novo governo petista, o grupo vira um desafio, mas não deve entrar na oposição de forma automática. A federação PT, PCdoB e PV - que atua junto no Congresso - conta com 19 cadeiras a menos que o PL, que agora tem 99. A dificuldade será maior para o petista se a fusão entre o União Brasil e o PP se confirmar, movimento já indicado pelo presidente da Casa, Arthur Lira (PP). Isso deixaria o Centrão com 300 cadeiras.

Jair Bolsonaro e Arthur Lira articularam pacote de bondades no Congresso  Foto: Wilton Junior/Estadão - 06/06/2022

A coligação petista, porém, soma 121 parlamentares eleitos por partidos de sua coligação. Lula tem repetido em sua campanha que quer dialogar com todos os partidos. O PSD, por exemplo, pode desembarcar da proximidade que criou com o bolsonarismo em um eventual governo do PT.

O PT também tenta ampliar alianças dentro do MDB e do próprio União Brasil, além de abrir diálogo com o PSDB e Cidadania. A ideia de Lula é fechar alianças para reverter a hostilidade contra seu nome. A aposta é que a governabilidade não ficaria comprometida se houver embarques no que chama de frente ampla.

DESAFIOS

A cientista política Graziella Testa, professora da Escola de Políticas Públicas e Governo da Fundação Getúlio Vargas Questiona se, na eventualidade de Lula ser eleito, o PL vai conseguir uma coesão perfeita entre toda a sua bancada de 100 parlamentares para formar uma oposição.

Já Bolsonaro, por não ter construído uma coalizão com bases partidárias sólidas no atual governo, também pode ter uma governabilidade custosa. “A bancada eleita do PT também foi muito relevante. Ele (Bolsonaro) vai precisar despender mais recursos para manter essa governabilidade, que é uma governabilidade cara, por meio do orçamento secreto”, afirma Graziella.

De toda maneira, é de interesse do Centrão manter-se aliado com o governo. “O Centrão quer ser governo, quer estar próximo do recurso e levar o recurso para suas bases, sobretudo”, completa.

“Sempre vão existir partidos políticos fisiológicos. Arthur Lira, como presidente da Câmara, teve atuação de aglutinar e aprovar todas as ideias, projetos e arranjos do presidente Bolsonaro em troca de regalias como o orçamento secreto vem nessa linha”, diz a cientista política e professora da PUC-SP Vera Chaia.

Composição

Com as novas regras eleitorais que sobem o sarrafo da cláusula de barreira, a Câmara passou de 30 partidos, em 2018, para 23, em 2023. Cinco siglas passaram por fusões ou incorporações. O Senado perdeu 6 legendas e agora tem 15.

PL

A onda bolsonarista consolidou a maior bancada para o PL, com 99 cadeiras. A federação entre PT/PCdoB/PV, que vai atuar como um partido, ficou com 80. O PL também será a maior bancada do Senado, com 13 cadeiras.

Apoio

Com a terceira maior bancada, não está definido se o União Brasil apoiará Lula ou Bolsonaro. A aliança será crucial para garantir governabilidade a partir de 2023.

Queda

O PSB e o PSDB foram os partidos que mais perderam deputados (16 cada).

Histórico

O Centrão é um bloco informal na Câmara que reúne partidos de centro e centro-direita, que, dependendo da matéria, se articulam para votar da mesma maneira sobre determinado projeto. A origem do termo surgiu na Constituinte de 1986 a 1988 e se referia a um grupo de congressistas que formou uma maioria capaz de mudar o jogo no Congresso.

“De lá para cá, eles deram sustentação a todos os governos. Sofreram mudanças, houve rachas e fusões, mas, no fundamental, têm mantido uma posição de direita, defendendo pauats mais liberais, de interesse do grande capital, privatizações e quebra de direitos trabalhistas”, diz o cientista político e professora da Universidade Federal da Bahia (Ufba) Jorge Almeida.

O atual Centrão surgiu em 2014, sob o comando do então líder do MDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), preso por corrupção na Operação Lava Jato. O bloco deu apoio decisivo ao impeachment de Dilma Rousseff na Câmara em 2016. E também foi graças aos votos do Centrão que foram barradas as duas denúncias contra o então presidente Michel Temer, que poderiam desencadear em processos de impeachment.

Na linha de frente hoje estão o presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-PI), o ministro da Casa Civil Ciro Nogueira (PP-PI), e o ex-presidente da legenda Valdemar Costa Neto, condenado e preso no esquema do mensalão e uma das principais lideranças do partido.

Alguns personagens reeleitos também já deram sinais de um fisiologismo calculado. Ciro Nogueira (PP), atual ministro-chefe da Casa Civil, foi candidato em 2018 colado em Lula, antes de se tornar aliado de Bolsonaro. Outro quadro do PP, o líder do governo na Câmara Ricardo Barros, também foi aliado de primeira ordem do governo da ex-presidente Dilma Rousseff. Ele se junta também a Valdemar Costa Neto, presidente do PL, cujo partido compôs a coalizão petista na vice-presidência em 2002 . Ele foi condenado e preso no esquema do mensalão. Agora é a sigla que abriga bolsonaristas.

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