Qualquer análise sobre as "eleições 2016" impõe que olhemos, ainda que rapidamente, para as novidades trazidas pela minirreforma eleitoral de 2015, de modo especial a drástica redução do tempo de propaganda eleitoral em televisão e rádio, redução nos dias da campanha e, claro, a proibição do recebimento de donativos de pessoas jurídicas pelos candidatos e partidos. Quem trabalha em campanhas tem ouvido com frequência que nunca se viu uma eleição feita basicamente a "pão e água" no país como a deste ano. O quanto disso é verdade ou não somente a prestação de contas e a validação das mesmas pelo TSE nos dirá. Por hora, o que temos percebido é um generalizado entusiasmo com a famosa "campanha nas redes sociais", seja por parte dos candidatos, que enxergam nelas a saída salvadora para fazer uma campanha barata, seja por parte da imprensa, que vê no universo online a explicação da "cabeça do eleitor" num cenário de crise política nacional. Mas até onde vai o poder das redes sociais?
A entrada de um candidato e/partido nas redes sociais é trabalho que exige planejamento e cuidado. Talvez seja um dos poucos locus, quando se pensa em campanha política, em que o uso do dinheiro não traz necessariamente dividendos imediatos. Ou seja, o alto investimento numa fan page, mesmo que feito por uma agência famosa, não significa que a mensagem irá circular - ainda que o candidato tenha muitos seguidores - e muito menos "bombar", termo tão perseguido e tão pouco significativo quando se almeja uma campanha sólida nas redes. Se trata de entender que a lógica da publicidade televisiva não pode ser aplicada nesse ambiente em que as relações são complexas, que é preciso olhar para o multifacetado universo de agentes que todos os dias são expostos às redes.
Não é necessário inventar a roda nem gastar uma fortuna para fazer uma campanha com engajamento nas redes sociais, mas sim utilizar daquilo que já conhecemos há tempos nas Ciências Sociais: entender os laços que unem as pessoas, que levam essas a prestarem mais ou menos atenção num assunto e/ou candidato, e fazer a mensagem circular através de canais. Em outras palavras, mais importante que produzir um conteúdo para "bombar" é compreender e cotidianizar o discurso político para que o cidadão/usuário das redes olhe aquilo, pare e pense: sim, isso me representa e posso, além de curtir, compartilhar com meus amigos e seguidores. E estes, talvez comentem, curtam e também compartilhem o conteúdo, gerando uma rede de engajamento que é o elemento-chave para se criar capilaridade na web.
A campanha para a prefeitura da cidade do Rio de Janeiro tem produzido um verdadeiro laboratório para os analistas das redes sociais. Exemplo disso foi o debate entre sete dos onze prefeitáveis realizado pela BAND no dia 25/08. A polêmica em torno do debate começou devido ao fato da emissora não convidar Marcelo Freixo (PSOL), um dos candidatos mais bem posicionado nas pesquisas de opinião, dado que uma das regras do TSE para a participação em debates é o número mínimo de 10 cadeiras do partido na Câmara dos Deputados. Impedido de participar do debate, Marcelo Freixo montou uma estrutura paralela em plena Cinelândia, no Centro do Rio de Janeiro, para responder as mesmas perguntas do debate. A militância do PSOL marcou presença, física e online, fazendo com que a #FreixoNoDebate disparasse no Twitter, assumindo a dianteira em volume de uso.
http://www.verticeinteligencia.com/blog/a-repercussao-do-debatebandrio-nas-redes
O que isso nos diz sobre o poder das redes sociais em eleições é o quanto essa "mídia de relacionamentos" pode abalar velhas estruturas sobre o exclusivo poder de agenda da mídia televisiva. Contudo, não é correto afirmar que tudo que conhecemos sobre campanhas eleitorais mudou e somente as redes sociais importam. Como o caso #FreixoNoDebate ilustra, o papel da antiga militância política, de rua, continua atual e relevante. Mas encontrou, nas mídias sociais um aliado para potencializar sua atuação. De modo especial, no que se refere à decisão do voto, ainda são os laços que conectam as pessoas no ambiente offline e no cotidiano que valem enquanto ponto de partida para entendermos a vida democrática online em tempos de redes sociais.
*Sócios da VÉRTICE INTELIGÊNCIA, startup incubada na UFF.