Uma avaliação dos nossos riscos

Opinião|Continua sólida a desconfiança mútua entre Lula e os militares


Contornou-se um agravamento da crise, mas ficou um gosto ruim

Por William Waack
Atualização:

A natureza da relação entre Lula e os militares é de desconfiança mútua e a barbárie bolsonarista em Brasília serviu para aprofundá-la. É essa desconfiança que fez Lula eliminar de saída a opção de uma operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) quando informado da gravidade dos fatos.

Lula não queria correr o risco de ver os comandantes militares se recusando a cumprir ordens. Eles têm reiterado ser impensável uma conduta desse tipo, mas houve um momento no domingo que teria sugerido exatamente isso.

Convencido da 'contaminação' bolsonarista entre militares, Lula praticamente eliminou na primeira semana de governo o GSI sem colocar nada no lugar. Foto: Renato Alves/Agência Brasília - 27/12/2022
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Foi quando o governo federal quis desmontar já na noite do domingo o acampamento no QG do Exército, e no qual haviam se refugiado participantes dos ataques aos três Poderes. Ali os ministros da Defesa e da Justiça depararam-se com delicada situação: a presença no acampamento de familiares de oficiais, entre eles a esposa do general Villas Boas, ex-comandante do Exército e uma das figuras mais veneradas por colegas de farda na ativa e na reserva.

Pairava no ar entendimento não explicitado formalmente de que, se uma ordem de desocupação imediata fosse dada, não seria cumprida. Optou-se por uma solução de compromisso. O desmonte do acampamento ocorreu no dia seguinte, já sem os parentes de oficiais.

Contornou-se um agravamento da crise, mas ficou um gosto ruim. Lula tinha engolido a contragosto a conduta do ministro da Defesa, para o qual a “pacificação” implicava evitar um episódio de confronto aberto com os militares.

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José Múcio foi escolhido exatamente por isso para o cargo e, nesse sentido, vem cumprindo a missão. Ganhou como recompensa escancarada campanha dentro e fora do PT para demiti-lo. Que produziu até aqui resultado irônico: quanto mais apanha do PT, mais os comandantes o aprovam – os militares gostaram de Múcio pelas razões que o PT não gosta.

Convencido da “contaminação” bolsonarista entre militares, Lula praticamente eliminou na primeira semana de governo o GSI sem colocar nada no lugar. Os fatos do domingo demonstraram, porém, ter sido erro primário a inexistência de aparato próprio de inteligência.

A politização de contingentes militares, e de hierarquias, é um dos piores legados de Bolsonaro. Não é pequeno o número de oficiais-generais convencidos de que Lula só disputou a eleição por manobra do STF. E só venceu pela atuação do TSE.

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Importantes generais da ativa e da reserva não veem danos de imagem à instituição trazidos pela politização bolsonarista. Portanto, não julgam necessário nem adequado qualquer “mea-culpa”. Vão bater continência a instituições, mas sem a intenção de “sentar para conversar”.

A natureza da relação entre Lula e os militares é de desconfiança mútua e a barbárie bolsonarista em Brasília serviu para aprofundá-la. É essa desconfiança que fez Lula eliminar de saída a opção de uma operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) quando informado da gravidade dos fatos.

Lula não queria correr o risco de ver os comandantes militares se recusando a cumprir ordens. Eles têm reiterado ser impensável uma conduta desse tipo, mas houve um momento no domingo que teria sugerido exatamente isso.

Convencido da 'contaminação' bolsonarista entre militares, Lula praticamente eliminou na primeira semana de governo o GSI sem colocar nada no lugar. Foto: Renato Alves/Agência Brasília - 27/12/2022

Foi quando o governo federal quis desmontar já na noite do domingo o acampamento no QG do Exército, e no qual haviam se refugiado participantes dos ataques aos três Poderes. Ali os ministros da Defesa e da Justiça depararam-se com delicada situação: a presença no acampamento de familiares de oficiais, entre eles a esposa do general Villas Boas, ex-comandante do Exército e uma das figuras mais veneradas por colegas de farda na ativa e na reserva.

Pairava no ar entendimento não explicitado formalmente de que, se uma ordem de desocupação imediata fosse dada, não seria cumprida. Optou-se por uma solução de compromisso. O desmonte do acampamento ocorreu no dia seguinte, já sem os parentes de oficiais.

Contornou-se um agravamento da crise, mas ficou um gosto ruim. Lula tinha engolido a contragosto a conduta do ministro da Defesa, para o qual a “pacificação” implicava evitar um episódio de confronto aberto com os militares.

José Múcio foi escolhido exatamente por isso para o cargo e, nesse sentido, vem cumprindo a missão. Ganhou como recompensa escancarada campanha dentro e fora do PT para demiti-lo. Que produziu até aqui resultado irônico: quanto mais apanha do PT, mais os comandantes o aprovam – os militares gostaram de Múcio pelas razões que o PT não gosta.

Convencido da “contaminação” bolsonarista entre militares, Lula praticamente eliminou na primeira semana de governo o GSI sem colocar nada no lugar. Os fatos do domingo demonstraram, porém, ter sido erro primário a inexistência de aparato próprio de inteligência.

A politização de contingentes militares, e de hierarquias, é um dos piores legados de Bolsonaro. Não é pequeno o número de oficiais-generais convencidos de que Lula só disputou a eleição por manobra do STF. E só venceu pela atuação do TSE.

Importantes generais da ativa e da reserva não veem danos de imagem à instituição trazidos pela politização bolsonarista. Portanto, não julgam necessário nem adequado qualquer “mea-culpa”. Vão bater continência a instituições, mas sem a intenção de “sentar para conversar”.

A natureza da relação entre Lula e os militares é de desconfiança mútua e a barbárie bolsonarista em Brasília serviu para aprofundá-la. É essa desconfiança que fez Lula eliminar de saída a opção de uma operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) quando informado da gravidade dos fatos.

Lula não queria correr o risco de ver os comandantes militares se recusando a cumprir ordens. Eles têm reiterado ser impensável uma conduta desse tipo, mas houve um momento no domingo que teria sugerido exatamente isso.

Convencido da 'contaminação' bolsonarista entre militares, Lula praticamente eliminou na primeira semana de governo o GSI sem colocar nada no lugar. Foto: Renato Alves/Agência Brasília - 27/12/2022

Foi quando o governo federal quis desmontar já na noite do domingo o acampamento no QG do Exército, e no qual haviam se refugiado participantes dos ataques aos três Poderes. Ali os ministros da Defesa e da Justiça depararam-se com delicada situação: a presença no acampamento de familiares de oficiais, entre eles a esposa do general Villas Boas, ex-comandante do Exército e uma das figuras mais veneradas por colegas de farda na ativa e na reserva.

Pairava no ar entendimento não explicitado formalmente de que, se uma ordem de desocupação imediata fosse dada, não seria cumprida. Optou-se por uma solução de compromisso. O desmonte do acampamento ocorreu no dia seguinte, já sem os parentes de oficiais.

Contornou-se um agravamento da crise, mas ficou um gosto ruim. Lula tinha engolido a contragosto a conduta do ministro da Defesa, para o qual a “pacificação” implicava evitar um episódio de confronto aberto com os militares.

José Múcio foi escolhido exatamente por isso para o cargo e, nesse sentido, vem cumprindo a missão. Ganhou como recompensa escancarada campanha dentro e fora do PT para demiti-lo. Que produziu até aqui resultado irônico: quanto mais apanha do PT, mais os comandantes o aprovam – os militares gostaram de Múcio pelas razões que o PT não gosta.

Convencido da “contaminação” bolsonarista entre militares, Lula praticamente eliminou na primeira semana de governo o GSI sem colocar nada no lugar. Os fatos do domingo demonstraram, porém, ter sido erro primário a inexistência de aparato próprio de inteligência.

A politização de contingentes militares, e de hierarquias, é um dos piores legados de Bolsonaro. Não é pequeno o número de oficiais-generais convencidos de que Lula só disputou a eleição por manobra do STF. E só venceu pela atuação do TSE.

Importantes generais da ativa e da reserva não veem danos de imagem à instituição trazidos pela politização bolsonarista. Portanto, não julgam necessário nem adequado qualquer “mea-culpa”. Vão bater continência a instituições, mas sem a intenção de “sentar para conversar”.

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